quinta-feira, 19 de julho de 2012

Web Novela - A Melancolia de Raymond - 7


VII

Eu fui assaltado várias vezes, mas nunca tive medo.
A reação era uma escolha. Eu podia derrubar um criminoso com a magia, podia torturá-lo e furtar seus pertences; às vezes o fazia, às vezes não. Corria, me afastava, desaparecia na noite, ou era apanhado e golpeado até que o sangue escorresse, e então vasculhavam minhas roupas, constatavam que eu nada tinha e cuspiam em meu rosto, como despedida.
Agora, era diferente.
Atrás de mim havia um mago. Não um garoto em sua provocação, não um valentão disposto a ironizar-me; um mago de verdade. Ele me perseguia, ameaçava, jorrava sua feitiçaria nas paredes ao meu redor, e a mágica era real, era perigosa e persistente, explosiva e devastadora. Ao meu redor, restavam marcas da destruição, cicatrizes da desolação de seus desejos que tomavam formas e cores.
E eu fugia, com medo.
Foi quando cheguei a um beco sem saída. Encontrei o escuro, minha respiração estacou. Eu procurei uma saída, um jeito com o qual eu pudesse escapar, em vão. Ele surgiu, sorrindo com seus lábios partidos pelo frio, e eu me virei, despreparado, pois ninguém se prepara para a própria morte.
Ele poderia ter me matado naquele momento, mas não o fez.
Sua magia me derrubou, me fez contorcer, e eu agonizava mais a cada segundo, incapaz de resistir àquele castigo criado pela vontade de um homem poderoso. Enquanto eu sofria, ele me observava, examinando algo que eu falhei em deduzir. Girei no lugar, aos prantos e gritos, escorei-me numa das paredes para tentar esticar as pernas, tossi como cão sem dono enquanto sustentava um esforço abrupto para manter a consciência e, acima de tudo, a sanidade.
De súbito, ele parou. Riu alto, se virou e foi embora, deixando-me ali, como se nada fosse, pensando com meus botões no motivo incoerente que o impedira de me tirar a vida. Ele era mais forte, mais ágil; ele era mais.
Eu não era nada.
Ofegante, me pus em pé, limpando as roupas com os braços, e só então percebi que uma luz castanha e ferrosa se dissipava em meu torso. Levantei as roupas, encontrando um símbolo irreconhecível, sem significado algum, e só entendi a situação que me cercava: eu não fui alvejado para a morte.
Ele me marcou.
Agora sim eu seria um alvo.

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