quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dia do Escritor


Eu sempre gostei de escrever.
Desde pequeno, quando mal sabia contar as primaveras de minha vida, eu amei as palavras. Admirava as letras que se uniam para compô-las, entoando uma canção sem ritmo, certas vezes rítmica demais, declamando poemas de rimas ou sem elas, e eu as admirava ali, sentado com um livro aberto nas mãos, ainda com dificuldade para ler todos aqueles universos. Era tão maravilhoso imaginar, deixar a mente correr solta, livre e desimpedida, alcançar limites muito além dos meus, limites nascidos da imaginação de outros, de infindáveis autores cujos esforços permitiram nobres proezas que me guiavam ao infinito, em ida e volta, em puro êxtase.
Um dia, decidi me aventurar. As palavras ainda eram inimigas, obviamente, mas eu já as riscava em folhas brancas, dobradas ao meio, contava meus clichês em tantos pontos e vírgulas que mal se podia ler, mas eram minhas histórias, meus dizeres, vidas e mais vidas saídas de minha imaginação, dobradas numa boneca de livreto, tão falsa e tola, tão linda e amável. Eu não era bom, não era nada, mas era feliz, feliz demais, e mais feliz me tornava a cada nova história, a cada nova folha dobrada, a cada caneta que se acabava.
Foi quando me aventurei, de uma vez por todas, num mundo só meu. Era uma terra grandiosa, grande até demais, e ela abrigou dezoito meses de emoções, garantindo-me adrenalina num roteiro sem estrutura, que me surpreendia a cada novo capítulo, e lá estava ele, tomando forma num manuscrito que, hoje, é mais do que um tesouro, algo que guardo em minhas gavetas como a maior riqueza que hei de possuir. Oitocentas páginas mostraram-me que sim, eu poderia ser como eles, poderia ser um deus em meu próprio mundo, e então eu o fiz, e continuei a fazer, e decidi que para sempre o faria.
Escrevi mais e mais, escrevi muito, por mais que poucos lessem. Amigos críticos, companheiros virtuais, leitores em sites de postagens digitais, eu fiz o possível, eu fiz mais que o possível, eu fiz  o que tinha vontade de fazer, e fiz por gostar, não por esperar nada em troca, e decidi que sempre seria assim e que, por ser assim, seria melhor. Escrevi e escrevi até os braços doerem, os dedos latejarem, a mente pulsar pelo clímax de desfechos e brechas soltas, de pontas de livre continuidade e introduções melancólicas, por situações aterrorizantes e por amores correspondidos, ou não correspondidos, ou deixados ao vento pela perda iminente.
Eles morreram, eles viveram felizes para sempre, eles encontraram ou desencontraram aquilo que mais procuravam, mas eu sempre encontrava o que procurava, pois procurava por eles, por personagens, por companheiros, por vidas que inexistiam, mas para mim sempre existiriam, nobres e impuras, tão vívidas quanto o mais real dos reais seria incapaz de ser. Enquanto eles morriam e viviam, eu sorria e chorava, com eles, por eles, por todos, e os via chorar e sorrir, como um filme, como uma peça de teatro, como um amontoado de letras, palavras, frases e parágrafos.
Eu era um pai, mas um pai de filhos incontáveis, um pai de deuses e guerreiros e de seres mais velhos que eu, um pai realizado e orgulhoso de todas as suas proles. Eles não me agradeciam, não viviam por mim, mas eu vivia por eles e os agradecia por cada conquista, por cada vitória, por cada plano maquiavélico; agradecia-os por respirar quando as páginas eram viradas. A cada final de dia, quando meus olhos se fecham no repouso, ainda os vejo, vivos e mortos, felizes e tristonhos, realizados ou sem esperança, cada qual em seu mundo, em sua localidade, com culturas variadas, manias peculiares e vestimentas atípicas, cada qual com sua existência inexistente, com seus amores e ódios, com suas revoltas e glórias.
Por essas e outras —por filhos, por mundos, por problemas e soluções de tantos universos —eu amo o que faço, e o faço por amar, mais do que tudo, a liberdade que somente as palavras podem garantir. Por essas e outras, por tudo aquilo que realizei e hei de realizar na vida, mantenho-me na trilha do escritor, no rumo dos contadores de história, no caminho imaginativo daqueles que sonham acordados, que deslumbram o irreal em suas realidades, que fazem do surreal o existente, material nas mãos de cada leitor, estampados virtualmente nas páginas de um blog ou site, sólidos, rígidos, densos, tão leves quanto uma pluma carregada pela brisa.
Por essas e outras, por todas essas e por todas outras, que os incito e motivo a escrever, a ler, a viver a fantasia de fantasiar a vida. Sejam escritores ou leitores, tenham sonhos ou vontades, parabenizo a todos pelas letras, pelas frases, pelas criações, e aplaudo de pé cada nova cena, cada nova alegria e tristeza em nossas crias, cada vingança completa, cada amor encontrado. Aplaudo o fantástico, a ficção, pois somente assim toda a sua irrealidade se torna real, vive ao nosso lado, inspira, respira e transpira por mundos e universos que, por mais distantes que sejam, vivem abaixo de um mesmo céu.
Parabéns a todos pelo dia do escritor.

Taubaté, 25 de julho de 2012.
Rodolfo Santos

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