domingo, 30 de outubro de 2011

Starcraft - Final Metamorphosis

Olá, companheiros!
Segue abaixo o link para um vídeo incrível, feito pelos fãs foderosos da FreeSpace Films, em tributo à série Starcraft, uma das franquias que mais tem crescido ultimamente, acompanhando de perto o veterano Warcraft e, por vezes, surpreendendo com sua história e seu cenário fabulosos. A animação tem cerca de 7 minutos e prova que, definitivamente, temos tecnologia para fazer filmes absurdamente excelentes, se a equipe estiver disposta a trabalhar com a mesma dedicação que os produtores desta animação 'fan-made' trabalharam.
Sem mais demoras, segue abaixo o link para esse fantástico vídeo.

Starcraft - Final Metamorphosis

Até a próxima!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Editora Estronho - Nova Antologia e Novidades!


Olá, companheiros!

Venho através desta postagem trazer as novidades da Editora Estronho, uma das minhas favoritas na atualidade brasileira, com seus livros de diagramação sem igual e qualidade literária admirável! A Estronho sempre foi marcada como inovadora, garantindo oportunidade para novos autores, como a Draco e a Andross, mas trabalhando com uma motivação sem igual, oferecendo diversas coletâneas de temática bem trabalhada, como a já citada Suburbia, ou mesmo apresentando originais de autores novatos, mas dedicados à profissão que escolheram por gosto.
Para quem ainda não sabe, o site oficial da editora sofreu algumas mudanças, em suma no design, agora muito mais simplificado, limpo e bonito. Passando por lá, apenas para confirmar algumas informações sobre Suburbia, encontrei um novo projeto: TERRIR, a mais nova antologia da Editora Estronho, e sua proposta incrível.

TERRIR não é apenas uma antologia. Assim como VII Demônios, TERRIR será lançada em diversos livros, cada um deles com uma tema variado, mas sempre abusando das mesmas características: o bom humor e os clichês. Sim, isso mesmo, a Estronho está abrindo vagas para uma antologia onde o clichê e a comédia serão publicados, desde com qualidade literária. Não bastando a oportunidade única, a editora ainda dividiu os contos em diversos tipos, e logo de início temos a data de seis destes subgêneros, sendo eles: Zumbis e Assassinos (livros 1 e 2, Março de 2012); Monstros e Monstros Marinhos (livros 3 e 4, Maio de 2012); e Bruxas e Medievalismo (livros 5 e 6, Julho de 2012). Mais à frente, outros surgirão, como dinossauros, gatos e etc. O regulamento pode ser encontrado aqui.


Além dessa antologia, que já está aberta para o envio de contos, a editora divulgou na última postagem uma lista de diversos livros e coletâneas planejadas para o ano de 2012. Sinceridada? O material está excelente! Àqueles que pleiteiam uma vaga nas antologias, teremos diversos gêneros diferentes para trabalhar, sempre com os moldes rotineiros da Estronho, com um tamanho adequado para uma história bem trabalhada.


Quer mais novidades ainda?
A Estronho, assim como o Selo Fantas, parte da própria editora, estão abertos ao envio de originais para avaliação! Sim, é isso mesmo, o envio, que estava previsto para retornar em março de 2012, já está funcionando novamente! Fantas está recebendo textos infantis e juvenis, assim como fantasia, enquanto o Selo Estronho recebe as demais propostas literárias. Se você planeja publicar algo, não perca essa oportunidade, encontre aqui a Política de Publicações da Editora!


É isso aí, meus amigos, a Editora Estronho mais uma vez se mostra pronta para entrar com tudo na disputa de espaço, com um trabalho impecável na edição dos livros, ideias criativas e diversificadas para os concursos e uma equipe disposta a se dedicar, trabalhando da melhor maneira possível para que os livros alcancem a melhor qualidade com o menor preço. Estejam sempre de olho no site, pois novidades não param de surgir!
Até a próxima!

Pré-Venda - Ledd HQ


Olá, companheiros!
Postagem curta, apenas para lembrá-los sobre o mais novo (e foda) quadrinho nacional do momento, Ledd! Com roteiro de JM Trevisam e arte de Lobo Borges, Ledd conta a história do garoto de mesmo nome, que desperta numa das prisões de Yuden sem nada saber sobre seu passado. Agora, junto de Ripp, um mago desajeitado capaz de usar cabelos para produzir suas magias, Drikka, uma misteriosa garota que luta com uma "bola de tênis" (mas ainda é Poder de Fogo 5 :P), e Horlogh, um brutamontes tremendo que mal sabe gritar o próprio nome, Ledd terá de descobrir seu passado, e a única pista que tem até o presente momento é uma espada exótica, entregue a ele por um garoto que mais parecia um espelho diante do protagonista.
A série é de qualidade excelente, e pode ser acompanhada virtualmente, com média de 2 lançamentos mensais, no site oficial.
Além disso, reunindo um número certo de capítulos, Ledd será encadernada e vendida em livrarias, como uma coletânea dos capítulos online, e o primeiro dos volumes chega agora em novembro pela Jambô. A compra antecipada pode ser feita neste link, no valor inicial de R$19,90. Podem reclamar do preço elevado para um quadrinho nacional, mas a opção de ler pela internet está aí para aqueles que ainda acreditarem que o preço está absurdo para um mangá bem desenhado, com roteiro de primeira e, na versão encadernada, com páginas coloridas, partes do roteiro original do Trevisam, entre outros extras. Sem contar que dá um baile em muito mangá que sai por aí custando o dobro do preço.
Enfim, Ledd está aí, uma estratégia inicialmente ousada, mas que rendeu bons frutos e abriu um novo método de publicação em nosso país. Quem sabe não seja este o sucessor do saudosista Holy Avenger, ou mesmo do fantástico Victory? Só o tempo irá nos dizer...
Até a próxima!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Editora Estronho - Suburbia


Olá, companheiros!
Hoje venho trazer a vocês a mais nova antologia aberta pela Editora Estronho, Suburbia! A temática é muito original, abrindo uma infinidade de possibilidades, um leque de incontáveis gêneros de contos, que podem ser enviados até o dia 1º de junho de 2012, ou seja, tem muito tempo para pensar no seu texto. Aproveitem para participar dessa que é mais uma das excelentes coletâneas organizadas pela Estronho, que tem Ghad Arddhu como autor convidado.
De qualquer forma, não percam tempo! Confiram AQUI a apresentação do cenário e o regulamento da antologia, e não percam a chance de participar!

Até a próxima!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

RPG - Sistema Embla 3.0

Saudações, companheiros!
Hoje trago a vocês Embla 3.0, um sistema genérico que mistura as melhores regras que encontrei em diversos dos sistemas que já usei durante a vida. Tem uma pitada de D&D, um pouco de 3D&T, algumas coisas de Daemon, RPG Quest e Storyteller, etc. Não é um sistema completo, apenas um amontoado de regras, então o ideal é que o mestre a usar Embla seja um veterano. São regras fáceis de se aprender, mas por não se tratar de um livro completo, há muitas vantagens e perícias que não possuem descrição, já que seu uso é óbvio, mesmo para iniciantes.
Bom, vou postar as páginas de Embla junto desse texto, e aguardo pelos comentários. Como disse, não é um novo sistema, mas sim uma praticidade de regras somadas, tornando tudo rápido e de extrema personalização.
E agora, dêem as boas vindas ao sistema Embla, e comentem! Todas as críticas são bem-vindas!

Regras - Sistema Embla 3.0

Até a próxima!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

RPG - Sistema Embla

Olá, companheiros!
Passando rápido na postagem, apenas para avisar que logo mais postarei aqui o sistema de RPG Embla. Ele, na realidade, é um aglomerado de regras de diversos outros sistemas, apenas retirei-as de seus devidos jogos e usei o que achei de melhor em cada um, montando assim um sistema simples, rápido e prático.
Vou postar a versão 3.0, que estou renovando agora junto de um amigo com mais aptidão para as regras, hehe.
Não esperem por nada muito evoluído, como disse, é apenas uma junção de regras num sistema amplo e simples, ideal para aventuras com iniciantes, ou um grupo que deseje desbravar monstros épicos sem se preocupar se o peso da unha do pé esquerdo deles diminui a mobilidade.
Aguardem, logo trarei as regras de Embla 3.0! Não deixem de conferir!
Até a próxima!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Conto - Espetáculo do Fim

Olá, companheiros!
Venho por meio desta postagem trazer até vocês o último dos três contos escolhidos pela Antologia Dias Contados - Volume 2, da Editora Andross, que infelizmente não farão parte do livro. Este é o meu favorito, dentre os três, e se chama Espetáculo do Fim, uma dramatização do momento final. Espero que apreciem a leitura, e não deixem de comentar!
Até a próxima!


—Estás a desafiar-me para uma peleja? —ironizou o homem de lata, os braços cruzados sobre o peitoral amassado de um barril de alumínio, o rosto do garoto ruivo que o interpretava aparecendo entre as lacunas de um elmo improvisado de madeira e tinta prateada, a garganta tremulando pelo trabalho na voz.

—Não me venha com bravatas, latão! —bramiu o miúdo gnomo, papel dado a um jovem do primário, que mesmo assim era forçado a se ajoelhar. —Está se atirando num abismo sem volta, seu pobre coitado! O que pretende fazer se ela aceitar seu desafio?

—Derrotá-la, é claro! —exclamou, indignado.

O público assistia, em lágrimas, a última peça de nossa escola, de nome sem importância. Mulheres abraçavam seus pares, perdendo-se em beijos apaixonados, os últimos. Pais acariciavam seus filhos, acolhendo os derradeiros risos inocentes das crianças, que sequer entendiam o que estava para acontecer. Viúvas choravam nas fotos de seus maridos, ou mesmo em seus testamentos, vagos e pobretões. E o que mais me impressionava era que nossa peça não era um drama. Muito pelo contrário. O teatro era feliz, contente, um poço de alegria contagiante e calorosa.

Triste era aceitar o nosso fim.

As vozes, mesmo altas, eram abafadas pelos gritos histéricos das ruas, do povo em desespero, soltos em faniquitos pela cidade aberta, as luzes oscilantes, os carros desgovernados. Era o caos, e não havia lua ou sol para oferecer proteção às almas insanas daqueles que deixaram a noção junto das esperanças de viver. Pouco antes, a mídia, sempre delicada como um rinoceronte com as notícias pesadas, anunciou o fim da era do planeta Terra: estávamos na mira de um meteoro há anos, e tentamos de tudo, em vão. Era uma força suprema, acima de nossas armas e tecnologias, acima de nossa vontade de viver. A natureza nos virou as costas, como muito fizemos a ela quando tivemos oportunidade. O mundo se atirou num abismo de pânico e catástrofe, e os homens revoltaram-se, agindo feito animais nas ruas, abusando de mulheres e vandalizando o que foram ruas pacíficas.

—Não seja tolo —falei, a pele corando com a interpretação, a voz engrossando sobre a máscara de borboleta violeta, que contrasteava com os fios castanhos e cacheados dos meus cabelos. —Acreditas que é capaz de me derrotar, mortal? —Ergui-me em posição de luta, empurrando o nariz e os seios ainda miúdos para frente. Corei, tímida. Sempre fui um pouco complexada com eles, e nunca seria uma adulta para vê-los no limite do crescimento.

—A resposta vem da pergunta —provocou o homem-lata, e suas sardas cintilaram pela fraca iluminação, as lâmpadas vez ou outra fraquejando acima de nossos rostos. —O vencedor vem do duelo.

Quase sentia aquela presença acima de nós. Em 2012, a poluição judiava da Terra, e o céu era tão escuro quanto um vulto num dia claro. Olhando as nuvens, mal conseguíamos ver a lua ou o sol, por mais límpido que fossem os dias. Agora, mesmo a mais escura das noites não escondia a esfera flamejante que, às 23h48min, deixava todos os corpos transpirando à mercê dos mais de quarenta graus. Lá fora, o desespero se alastrava conforme a bola de fogo que nos destruiria surgia entre no topo, e era a prova definitiva de que não tínhamos chance de sobreviver.

Hesitei, e por pouco não me esqueci das falas. Via na plateia os rostos cultos escondendo a preocupação, aproveitando dos últimos momentos de suas vidas ao lado daqueles que amavam, ou sozinhos, e isso me doía. No meio da multidão de cadeiras, enxerguei os rostos serenos dos meus pais, e eles sorriam, mesmo entre as lágrimas. Minha irmã, muito mais jovem, dormia tranquila nos braços de nossa genitora, e seu rosto infantil e ingênuo me trouxe uma ardência tenebrosa no coração, e cheguei a pensar que aquele seria meu final precoce, antes de todos os outros, mas não foi.

—És deveras irracional, asno metálico —improvisei, sem fugir do contexto. Torci para que o público não notasse meu nervosismo. Mal sabia eu que eles estavam preocupados demais com os deles, e sequer se importariam se eu gaguejasse por toda a peça. —Puxei da bainha malfeita uma espada de papelão, e a sacudi no ar, pronta para o combate. —Em guarda!

—Pois venha! —sorriu ele, partindo para cima de mim, desajeitado, usando dos braços e da armadura frágil.

—Pelos deuses! —exclamava o gnomo, e o garoto parecia tão perdido quanto formigas no oceano.

A espada de lâmina mole e amassada se chocou contra a armadura de alumínio, mas os efeitos sonoros não contribuíram. Acima dos ruídos de pancadas e cortes, oriundos de um computador portátil carregado por nosso professor de teatro, estavam os gritos apavorados das pessoas. Sem deixar a cena, olhei um relógio afastado, e enxerguei 23h57min. Três minutos, de acordo com as previsões. Seja o meteoro que nos alcançaria, seja o final do calendário Maia, aquele era o fim. Três minutos.

Chorei.

Meus olhos lacrimejavam, e a maquiagem escorreu por meu rosto, manchando minha pele clara. O homem de lata se inundou de lágrimas, e o elmo encharcado começou a se rasgar, pedaços caindo pelo palco enquanto eu fingia golpeá-lo com a arma de mentira. Na plateia, todos se emocionavam, desconhecidos se cumprimentando com apertos de mão ou abraços apertados, parentes agarrados, trocando as lágrimas como quem troca figurinhas num domingo de sol. Chorei, e lá estavam meus pais, chorando feito crianças, soluçando pelos sentimentos, pela saudade, pelo desespero.

O primeiro estrondo veio de longe, e os gritos aumentaram ao redor do teatro, mas ninguém saiu. O espetáculo não chegara ao fim, e ninguém abandona a última cena. Afastei-me do homem-lata, e empunhei a espada, mas, na verdade, desejava apenas me despedir de meus pais. Meus olhos marejavam, vermelhos, mas eu acenei para eles, que retribuíram com um tchau doloroso. Procurei pelos pais do garoto ruivo, mas eles não pareciam estar ali, e ele me olhou com estranheza, me invejando por ter alguém de quem se despedir.

Os professores se levantaram quando eu avancei, e aquele seria o fim. 23h59min, segundos tensos correndo nos relógios, o céu desabando sobre nós, vermelho feito magma. Chorava, um choro pesado e alto, e logo todo o teatro era um coro de pranto e pavor. Então veio o segundo estrondo, e o mundo tremeu. Até então, fingia ser mentira. Tentava colocar em minha mente que todas aquelas notícias eram falsas, brincadeiras de mau gosto para com o mundo. Aquele tremor acabou com as minhas esperanças.

—Esse será o fim —balbuciei, os braços tentando firmar a espada, mesmo tão leve, as pernas tremendo.

—O seu fim! —disse o homem de lata, e engoliu o choro.

Mas seria o nosso.

O teto desabou, e um bando de pessoas foi soterrado pelos destroços. O ar incinerou as poltronas, e a temperatura era absurda, encharcando minhas roupas em segundos. Corri, e meu oponente fez o mesmo, e precisamos nos equilibrar para não cair durante o terremoto que se seguiu. Outra parte do teto desabou, e vi meus pais sob as pedras, minha irmãzinha chorando, desesperada, sozinha, em seus últimos instantes.

Ataquei, e ele desviou, e suas garras de metal pintado me derrubaram, como era planejado. Deitei-me, os olhos fixos no ar, as lacunas no teto revelando a força avassaladora que descia sobre nosso mundo na forma de um globo de caos e morte. O céu estava vermelho, sem sol, sem lua. A Terra estava negra, sem chances, sem vida.

Latão caiu de joelhos.

—Eu venci... —murmurou, mas já não havia plateia.

Nossos professores aplaudiram, mas das palmas restaram apenas os ecos quando o teatro tombou. Entre a nuvem de poeira, ainda deitada, gritei, apavorada. Queria que tudo aquilo fosse um pesadelo. Queria acordar e beijar minha mãe, abraçar meu pai, acariciar minha irmã. Queria me levantar, abrir os olhos, viver.

Senti o mundo sobre mim, e meu corpo derretia vagarosamente. Despedi-me da personagem, do palco, dos amigos, dos parentes.

Fechei os olhos, e aceitei, me despedindo da vida.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Resenha - O Caçador de Apóstolos


Olá, companheiros!
Venho hoje, por meio desta postagem, resenhar um livro de um autor que admiro muito! Leonel Caldela nos banha com mais inspiração e criatividade em O Caçador de Apóstolos, o primeiro romance original do autor, que será continuado muito em breve, precisamente hoje, dia 17 de outubro de 2011, com o desfecho da história em Deus Máquina.
Mas qual a verdade por trás desse livro?

O Caçador de Apóstolos é um épico de medievalismo histórico que, em suma, não deixa respingar nada de fantasia, e aos poucos vai encantando com um cenário realístico, da época, em que os atos são banais, até mesmo absurdos. A fantasia existe, até mesmo a magia, mas é tão sugestiva que aprendemos a conviver em um mundo sem ela, onde apenas as espadas falam mais alto, e a Igreja é soberana.
E por falar em Igreja, a sorte do Leonel Caldela é que esse livro e brasileiro, ou teríamos um novo Dan Brown para ser crucificado pelos fanáticos religiosos. O tema é tratado da maneira mais ampla possível, mostrando com fidelidade muito do que realmente acontecia nas Cruzadas, entre outras guerras, onde a Igreja demonstrava um poder acima do povo, comandando guerras contra os infiéis, impuros ou filhos do diabo, em suma inocentes. O Caçador de Apóstolos mostra essa realidade, onde a Igreja cria o cenário em que predomina sobre os reis e suas nações, onde os cardeais são tratados como divindades, tão próximos de Urag, o nome utilizado para o deus do cenário, quanto a própria Voz de Urag, uma garota escolhida para falar com deus, em nome de todos aqueles do mundo, trazendo até o povo suas palavras e ensinamentos. Claro que, na realidade, a Voz é apenas mais uma marionete no teatro usado para a Igreja para manter-se no domínio do mundo. Além de forjar profecias e falsas escolhidas de Urag, a Igreja oprime os rebeldes usando de um punho doloroso, sem piedade alguma quando o assunto é ascender ao poder.
Em conjunto com a trama principal, temos os generais, os personagens mais interessantes, ouso afirmar, de toda a história. Atreu e Benedict são personagens marcantes, assim como Penélope e Oberon, entre muitos outros que conquistam espaços nas disputadas páginas dessa magnífica história. Iago, por sua vez, é apenas um escritor, e é ele quem nos narra todos os acontecimentos do cenário, usando de mentiras e figuras de linguagem para ilustrar os dias terríveis da caminhada de Jocasta, o passado sombrio e árduo de Atreu e mesmo o seu próprio passado, revelando o sentido de seu sofrimento e sua vontade de escrever peças de teatro, etc. São personagens, à primeira vista, muito vagos, mas que logo se mostram como buracos negros, com uma história tão planejada quanto qualquer outro, como é o caso de Prima Marco Segundo, um dos nomes que mais surpreende durante as reviravoltas do plot.
O cuidado com as cenas de ação e a descrição dos cenários e sentimentos é mantido impecável, qualidade que Leonel Caldela abusa. As sensações são reais, passadas de uma maneira incrível. Sentimos nojo junto de Jocasta, surpresa junto de Iago, ódio junto de Atreu, medo ao lado de Oberon, e muito mais. Cada personagem tem sua personalidade utilizada ao limite, criando nomes que se tornarão lendas para aqueles que apreciam a boa literatura. As batalhas e guerras do cenário, por sua vez, são de marejar os olhos, tamanha a precisão nos detalhes. Por vezes é possível escutar o tilintar dos escudos e das lâminas conforme Leonel nos mostra um filme com suas palavras, descrevendo as estratégias dos generais, a crueldade da Igreja e mesmo a loucura dos rebeldes.
Com pouco mais de 400 páginas, O Caçador de Apóstolos é um livro que exige atenção, o que pode tornar a leitura um pouco mais lenta. O nível de detalhamento é extremamente superior ao da Trilogia Tormenta, o que nos mostra o avanço como escritor, e também como pessoa, do Tolkien brasileiro. Para aqueles que acompanham Leonel desde os primórdios do lançamento de Inimigo do Mundo, verão como seus textos ganharam impacto, profundidade e emoção, e Deus Máquina nos mostrará a evolução ao completar a duologia do cenário original do autor. Por sorte, Leonel garantiu anteriormente que pretende produzir mais histórias nesse cenário, que tem um território amplo e extremamente trabalhado, passível de uma adaptação para algum sistema de RPG, futuramente.
E, mais do que nunca, acredito na literatura brasileira, no RPG e na criatividade dos escritores nacionais, que pouco a pouco garantem seu espaço nas livrarias e nas estantes de cada vez mais leitores. A fantasia se expande em níveis que, anos atrás, poucos acreditariam ser capazes de alcançar. Muito disso se deve ao Leonel Caldela, que nos ilustrou com histórias dignas de competir com as estrangeiras, e a muitos outros autores, assim como ao trio tormenta e aos editores das revistas de RPG, Dragão Brasil e Dragon Slayer, que sempre guiaram os fãs ao caminho de seus sonhos, seja na ilustração, seja na produção literária.
Àqueles que ainda não leram O Caçador de Apóstolos, não percam a oportunidade! É uma obra de arte, um aglomerado de enredos entrelaçados, personagens distintos que se unem numa trama gloriosa! Àqueles que já leram, façam como eu, e garantam já o seu exemplar de Deus-Máquina, ainda na pré-venda, para que então possam admirar o final dessa história, que de linda não tem nada, mas consegue empolgar como qualquer clássico medieval.
E que venham os próximos!

Até mais!

Conto - Prelúdio de Pesadelo

Olá, companheiros!
Segue nessa postagem o segundo conto que passou na seleção para a Dias Contados - Volume 2, da Editora Andross, chamado Prelúdio de Pesadelo. Como prometido, postarei todos os contos, e logo mais virá o terceiro, Espetáculo do Fim, que é o qual mais gostei. Bom, sem mais demoras, segue o conto, e espero que apreciem.
Até a próxima!

Naquela noite, eles vieram.

Esperamos pelo fim do mundo por diversas eras. Séculos atrás, profecias contavam sobre o fim dos dias, e todos os homens, tolos e enganados, imploraram por suas vidas sem necessidade. O mundo não acabou, e eles se recuperaram do trauma, as vidas seguindo indiferentes. Quase um milênio depois, o ano 2000 trouxe novas especulações, e a virada seria o fim. Mas não foi, e os homens, agora com inteligência o suficiente para formular suas próprias crenças, desacreditaram na história de que a Terra um dia deixaria de existir, e mergulharam em poços de ambição e desejos, maldades e impurezas. Voltaram às origens, podemos dizer.

Pela terceira vez, o caos se espalhou por boatos terríveis sobre um possível fim. O clima confuso, as catástrofes de aviso, tudo parecia ligar a um mundo sem futuro. Entretanto, dessa vez, a população não parou para esperar. Pelo contrário. 2012 fora um ano movimentado, de muitos afazeres. Jovens estudavam, pais trabalhavam, e a vida era aquela, um giro tedioso de dinheiro e gastos. Não se incomodaram com o terceiro anúncio de fim dos dias. Não pareciam preocupados com o final do calendário Maia. Os homens pensavam em poluir, mesmo enquanto a natureza implorava por piedade, mostrando sua fúria e suas lágrimas com terremotos e ondas gigantes.

E, quando ninguém esperava, eles vieram. Fui o primeiro a vê-los.

Comprava alguma coisa na loja de conveniência de um posto de Chicago, talvez cigarros ou preservativos. Não sou um bom exemplo de homem, logo isso não é importante. Meu dia, uma sexta-feira tradicional, fora repleto de algazarras e festejos. Às vezes, via alguma coisa correndo em minha frente, como vultos fantasmagóricos, e sorria. Via isso praticamente todos os finais de semana.

Mas, quando eu entrei no carro, foi diferente. Eu vi coisas que a vodca e a maconha nunca me fizeram ver.

Eu vi o céu brilhar.

—Alô? —chamou a garota em meu banco de carona, que eu sequer sabia o nome. —Está tudo bem? Você parece um pouco abatido!

Ela gargalhou, sozinha. Estava tão mal quanto eu. Provavelmente mais.

Não dei ouvidos a ela. Uma coisa mais estranha, mesmo que não mais bonita, chamou minha atenção. Bati a porta do carro e saí, deixando-a sozinha, gritando ofensas que eu não entendia. No céu, entre as nuvens escuras da noite, eclodiram relâmpagos. Relâmpagos peculiares, devo dizer. Eram vermelhos e intensos, rasgando o ar com silvos agudos de destruição. Ouvi explosões, e elas não pareciam distantes. Esfreguei os olhos, sacudi os braços. Talvez estivesse mesmo mal.

Mas eles vieram novamente e, dessa vez, um prédio em minha frente irrompeu em chamas, e todas as janelas explodiram de uma só vez, fazendo chover vidro estilhaçado no asfalto, derrubando dois postes de iluminação que carregavam um banner com os dizeres: curta o amor uma última vez antes do fim dos dias, com preços especiais no Motel Chicago Vulcan.

Caí ao chão, e quase me curei de imediato do efeito das drogas e do álcool. Meu carro foi empurrado alguns metros, e tombou, a carcaça caindo sobre o corpo da jovem, que tentara escapar. Pensei em ajudá-la, mas vi outro relâmpago vermelho arrebentar todo o posto em uma explosão absurda, jogando meu carro em uma cratera que antes não existia. Minhas roupas queimaram, e meu rosto ficaria marcado para sempre pelo fogo.

Se existisse um para sempre depois daquilo.

Levantei-me, machucado, mas o pavor era maior. A cidade toda tremia com os relâmpagos, e eles agora eram mais frequentes, dezenas ribombando de uma só vez, os estrondos vindo de todas as partes. Depois de todas aquelas cenas apavorantes, minha mente trabalhava tão rápido que só conseguia em coisas extremamente inteligentes, como puta que o pariu ou caralho, que merda! Então eu os vi. A partir desse momento, não pude mais pensar em nada além de morte.

O ser estava de costas para mim, e vi que seus olhos iluminavam o solo à sua frente, como lanternas de xênon. Era humanoide, ou algo similar a isso, já que caminhava em duas pernas raquíticas e carregava um carro com seus quatro braços cinzentos e ressecados, como pele em decomposição. A cabeça era fina e cumprida, com poucos fios verdes sacudindo conforme ele se movia. Um olhar mais atento me fez perceber que era líquido o que saía de suas cabeças, e não cabelos, como pensei. Sangue, talvez, mas isso não era importante. A realidade é que aquela criatura era assustadora, e guinchava como uma nuvem de morcegos a cada passo, destruindo o solo conforme arrastava uma pilha de veículos com sua força sobre-humana.

Uma mulher correu de seu esconderijo, e a luz dos olhos do monstro a encontraram, o que a fez gritar. Caiu, jogada ao chão, e se debateu como louca, arrancando os próprios cabelos louros enquanto fazia os braços sangrarem com suas unhas. Era uma cena horrível, e eu me espantei. Assustado, corri para longe, mas logo o alienígena me notou, e correu atrás de mim.

O filho de uma puta era rápido, e nada parecia um obstáculo. As luzes ainda estrondavam no céu, mas eu estava pouco me fodendo para elas naquele momento. Atrás de mim, as luzes do olhar de caçador da criatura destruíam o solo, explodiam carros e enlouqueciam pessoas que cruzavam seu caminho, por azar. Não queria experimentar aquela sensação, mesmo sem saber. Nunca fui curioso, por sorte.

Azarado, sim, sempre fui. Saltei por sobre um Fiesta, cruzei uma esquina e então tropecei, me segurando por um triz na beira de um penhasco que até pouco tempo não existia. No abismo, banhados pela escuridão, os mesmos guinchos de meu perseguidor. Mas havia mais deles. Chutei, pelo menos, cem mil vezes mais.

Ali caíra um dos relâmpagos, e a cratera agora era um covil para os alienígenas. Lembrei-me então da data: 21 de dezembro. O fim do calendário Maia. O fim do mundo. Será que eles sabiam? Será que os Maias realmente estavam além do que imaginávamos, como os documentários da tv por assinatura sempre diziam? Várias perguntas, mas eu só tinha uma resposta: foda-se. Eu ia morrer.

O ser se aproximou, mas seus olhos não me encontraram, e a luz não me enlouqueceu. Os guinchos aumentaram, se aproximando. Logo havia um milhão deles, todos horrendos e destrutivos, tanto quanto aquele que me perseguira. Um deles esbarrou, e eu caí na escuridão, batendo vez ou outra contra as pedras. Encontrei o chão, e minhas pernas arderam, quebradas. Usei dos braços para me arrastar, arranhando a pele nos restos de concreto e vidro que demarcavam o solo. Senti algo diferente. Era sólido, resistente, metálico. Então uma luz me mostrou o que era: uma nave.

Imensa, rubra e tenebrosa, coberta por camadas de pele fétida, como a das criaturas. Era um invasão, percebi. Vieram à Terra para nos destruir. Acima de mim, escutava os berros desesperados daqueles que seriam as primeiras vítimas do fim dos dias, somados a explosões e ranger de metal. Dois corpos caíram na cratera, e eu os vi, partidos ao meio, as tripas à mostra. Os terremotos aumentaram, o céu se iluminou. Mais deles estavam chegando. Não tinha salvação.

Algo guinchou atrás de mim, e me virei. Encontrei então os olhos de uma daqueles monstros, e...

Levantei-me assustado. Percebi que estava suando frio, o banco de meu carro encharcado pelas minhas costas. Estava parado em frente ao posto de gasolina, pronto para comprar alguma coisa que esqueci. Ao meu lado, a jovem sem nome me observava, perdendo um pouco da excitação que tinha para nossa transa.

—Está tudo bem? —perguntou ela. —Você estava na maior brisa! Acho melhor parar por hoje e...

—Eu estou bem —menti, pois minha cabeça me torturava. Abri a porta do carro e saí, deixando-a para trás. —Vou comprar... coisas. Aí podemos ir para a minha casa.

—Acabar com o mundo?

—Quem sabe? —sorri, falso.

Desci, e bati a porta atrás de mim. O céu estava sombrio. Parei para observá-lo. Tudo estava calmo, tranquilo.

Então, o primeiro relâmpago vermelho ribombou. Desejei não ter acordado para vivenciar aquilo que sonhara.

sábado, 15 de outubro de 2011

Conto - Do Estrondo ao Silêncio

Olá, companheiros!
Como disse anteriormente, vou postar uma série de três contos distintos, todos com temática sobre o fim do mundo, escolhidos para inclusão na antologia Dias Contados - Volume 2, da Editora Andross, convite que infelizmente tive de recusar. De qualquer forma, espero que aproveitem a leitura, e apreciem o conteúdo!
Até a próxima!


2012.

Depois de anos de argumentos, procissões, pastores pregando mentiras e barbaridades e rebeldes atacando igrejas, chamando avisos de blasfêmias, chegamos ao ano do fim. Ali, no último mês, teríamos os últimos dias de nossa existência. O calendário esgotou, assim como nossos dias. Isso era o que diziam os mais pavorosos, claro. Rezavam, pediam por visões, e alguns juravam enxergar. Do outro lado, muitos ignoravam, e dezembro chegou com esse impasse, trazendo consigo opiniões divididas e nações preparadas para um caos humano e não catastrófico.

Os últimos dias trouxeram consigo um silêncio mais mortal do que um provável fim do mundo. Pessoas trabalhavam, mais concentradas nos céus claros de um verão fervente do que em seus afazeres. Até mesmo os patrões perdiam um pouco da atenção, embora os menos crentes despedissem funcionários que mudaram de hábitos graças à preocupação. Entretanto, os dias passavam, e logo era 15 de dezembro, sem sinal algum de catástrofes climáticas, invasões alienígenas ou guerras nucleares. O silêncio continuou, e talvez fosse ele o que acabaria com a Terra, deixando o povo melancólico e desesperado.

Na noite do dia 20, muita gente se perdeu em pensamentos. O dia 21 seria o último, talvez. Religiosos mantiveram suas crenças, aguardando pelo término da existência e pelas portas do paraíso. Cientistas esperavam uma renovação, mudanças ainda desconhecidas que fariam de nosso mundo um novo lugar, e isso era o fim dos tempos em que acreditavam. Além deles, os menos céticos sequer se importavam. Os melhores deles mantinham-se em suas casa, transando com suas esposas como se nada estivesse para acontecer. Os piores, visitavam bordéis e zonas e gastavam seu dinheiro com vagabundas, pagando por um sexo imundo, que seria o último, antes do mundo acabar. A piada era infame, mas muito a usavam, e todos pareciam ter a mesma ideia, deixando a cidade com uma mistura de música eletrônica das casas de festa e gemidos dos quartos escuros.

E, à meia-noite, nada aconteceu. Além do silêncio, escutou-se um ribombar, como tambores, mas ninguém se incomodou. Talvez alguém comemorasse pelo mundo, que não acabara como esperado. Ninguém pensou no fato do estrondo ter sido escutado em todas as partes do mundo.

As ruas foram tomadas por multidões, homens e mulheres com as mentes insanas, perdidos no medo sem razão. O vandalismo destruiu as casas e lojas, e religiosos encontrados eram arrastados para os becos e espancados, ouvindo das provocações sobre um deus mentiroso e enganador. Um culto de esquina, que agradecia por mais um dia concedido pelo criador, foi invadido por alcóolatras e ateus tomados pelo efeito de drogas ilícitas, que rasgaram as roupas das mulheres e atiraram contra os padres, derramando sangue inocente pelo caos, sem motivo. A loucura se espalhava pelo mundo todo e, junto dela, o ribombar estrondoso, que aumentava gradativamente, causando tremores no solo e nas construções.

Então vieram as guerras.

Com as ruas caóticas do dia 21 de dezembro, o exército tomou a frente e defendeu o povo, rapidamente pronto para o embate, mas os civis os enfrentaram, as mentes destruídas pelo pavor de ver o mundo acabar. Os militares eram treinados, mas ainda eram homens, guiados pelo mesmo tipo de mente. Abusaram de suas armas de fogo, matando inocentes e crianças pelo caminho, e isso apenas piorou as coisas, forçando as organizações militares a defender regiões de força amiga, umas lutando contra as outras, comparando o poderio e o treinamento, enquanto as casas tremulavam com os misteriosos estrondos. Mísseis avançaram, imprecisos, e destruíram cidades inquietas, espalhando radiação e armas biológicas pelas redondezas, acabando com a paz daqueles que gemiam nas camas.

Então veio a natureza.

O caos biológico das armas afetou a natureza, e ela se rebelou. Todos os vulcões do mundo cuspiram chamas ao mesmo tempo, devastando ilhas e cidadelas próximas, explodindo furiosos e descontrolados. O vento carregou o veneno criado pelo homem, e as pessoas morriam por respirar, ou eram tomadas por doenças absurdas que as transformavam em aberrações. As águas se esqueceram da lua, e a brisa furiosa se tornou uma tempestade, lançando ondas do tamanho de prédios contra as cidades, destruindo arranha-céus com furacões tão fortes quanto bombas, derrubando sonhos com terremotos de escalas impossíveis de contar. Nos Estados Unidos, a estátua da liberdade tombou perante a força do mar e dos ventos, enquanto as pirâmides do Egito se partiam pelos tremores destrutivos.

Então veio a ciência.

O veneno espalhado no ar agia rápido, e logo homens devoravam homens, incapazes de pensar como pessoas que eram. Os corpos derrubavam pedaços, pútridos, e corriam em marcha frenética quando sentiam o cheiro de sangue fresco. De homens, passaram a demônios, com olhos sem órbitas e sangue sem circulação, movimentando-se unicamente pelo desejo de se alimentar, pela fome de carne dos seus, pela sede do sangue que um dia circulou em suas veias. Outros, talvez mais afetados, tornavam-se criaturas imensas, de braços grossos e pernas miúdas, dotados de uma força descomunal. Atiravam carros contra helicópteros no céu noturno, e resistiam a rajadas de armas de fogo, urrando raivosos conforme abriam caminho com seus corpos gigantescos.

E lá estava o caos, instalado em todos os cantos do planeta. O fim do mundo não viria, mas os homens o trouxeram, ansiosos por algo prometido eras atrás. Foram eles os responsáveis pela destruição do mundo, em todos os aspectos. Mas o ribombar aumentou, e pôde ser escutado acima das explosões e dos gritos. O solo se rompeu, e não pelos terremotos. Toda a insanidade que se espalhava pelas ruas acordou aquilo que permaneceria adormecido pela eternidade, e, acima de tudo, esse foi o fim. Era impossível imaginar uma situação pior do que aquela em que a Terra se encontrava.

Então vieram os deuses.

O ribombar cessou, como um despertador sem uso. Vieram de dentro da terra, debaixo dos mares e das profundezas das areias do deserto. Eram imensos, e infinitos, impiedosos e poderosos. Demônios, entidades, divindades. Deuses.

Alguns tinham asas de corvo, outros de morcego, e outros ainda de criaturas que não existiam. Seus corpos eram repletos de espinhos, de olhos e bocas com presas pontiagudas, salivando pela ira de ter sido incomodados. Vulcões, terremotos e ondas gigantes, tudo parecia um brinquedo de criança ao lado dos monstros que se erguiam nas cidades, pisoteando exércitos, destruindo as maiores construções da Terra com respirações devastadoras ou apenas pelo desejo de suas mentes tenebrosas. Homens enlouqueciam, e aqueles que não morriam buscavam a morte. O melhor agora era fechar os olhos para a realidade e abraçar o fim, muito mais atraente e indolor.

À sua vontade, bandos de homens caídos pelos desastres da natureza se erguiam, e seus corpos sofriam mutações absurdas, tornando-se criaturas demoníacas, com asas, garras e presas de feras encontradas na bíblia e nas histórias antigas, proibidas em bibliotecas secretas. Monstros rechonchudos explodiam por desejo, como homens-bombas, acabando com bairros e manchando ruas com um sangue verde e pegajoso, ácido e destrutivo, queimando a pele dos azarados que ainda circulavam nas proximidades. E o mundo se encheu de demônios, de mortes e de caos. Vitoriosos, os deuses se foram.

E então veio o fim.

Tudo acabou. O silêncio retornou, os monstros se esconderam, as armas cessaram. A luz do sol mostrou um novo dia, um dia que não deveria existir. Poucos viveram, e talvez aquela fosse a reviravolta esperada pelos cientistas. Pouco do mundo sobrou, e talvez aquilo fosse o esperado pelos fanáticos religiosos.

Àqueles que não esperavam por nada, restou o medo. E a morte.

O mundo conheceu uma realidade absurda, se tornou o palco de mortes e atrocidades. Acima de tudo, o silêncio não trouxe a paz. O silêncio trouxe o fim.

E o mundo acabou.