segunda-feira, 16 de julho de 2012

Web Novela - A Melancolia de Raymond - 4


IV

Eu conheci uma garota numa noite qualquer.
Ela se chamava Camila. Não era americana, logo pude perceber. Disse ter nascido no Brasil, em alguma cidade do interior cujo nome eu não sabia repetir. Ela falava um inglês meio estranho, mas era aceitável, e eu me acostumei rapidamente, conseguindo entender sua dança de palavras. Mais do que tudo isso, ela era bonita, bonita demais, não que bonita demais fosse realmente a lindeza que alguém esperaria anteriormente. Em cenários apocalípticos como o nosso, dentes no lugar e olhos sem cicatrizes eram padrões de beleza que modelo algum poderia reproduzir.
Camila estava de passagem pela minha cidade. Ela andava nas ruas quando eu a encontrei, alvejada por um ladrão desarmado. Eu poderia tê-lo derrotado com uma magia qualquer, era só um garoto, mas achei melhor não.
Postei-me à sua frente, deixei que me desse dois socos e me roubasse os sete dólares que tinha no bolso. Ela estava bem, e era isso o que importava. Eu me levantei um pouco tonto, assistindo ao marginal que se afugentava com meu dinheiro, e ela me ajudou, perguntando se eu estava bem. Conversamos pouco, trocamos nomes, ela me contou que ficaria ali durante seis meses, numa espécie de intercâmbio para aprendizado.
Era uma mentira clara. Ninguém fazia intercâmbio naqueles dias. Ela se mudou para se esconder, seja qual for o motivo. Seis meses era o prazo limite até que ela fosse descoberta.
Na mesma noite, eu a ensinei como andar de skate, mas ela não demonstrou talento algum. Levei-a até sua casa como uma escolta. Era uma bela casa, se me permitem dizer. Dois cachorros latiram quando eu me aproximei, então resolvi ficar para trás. Cheiro de gato, sabem como é.
Me despedi com um aceno, então parti. Ouvi ela gritar se nos veríamos outra vez, mas eu não era um oráculo, então como responderia? Dei de ombros, um talvez inconsciente, sem pensar.
Ela era bonita, era inteligente, era agradável e cheirava a rosas. Eu era um bruxo vivente da rua, filho de mãe louca, sem pai e com um skate embaixo do braço.
Se aquele não era o casal mais perfeito do mundo, eu nunca poderia imaginar como ele seria.

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