sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Trinity Blood

Olá, companheiros!
Postando hoje para comentar sobre uma série que admiro muito, originalmente desenvolvida como Light Novels, adaptada depois de muito tempo para um mangá fiel aos livros e uma animação com final alternativo. Estou falando de Trinity Blood, uma série de vampiros e muito mais. Vamos conhecer um pouco mais sobre a franquia.
Trinity Blood foi escrita por Sunao Yoshida e ilustrada por Thores Shibamoto e, como toda boa Light Novel, passou por uma serialização antes de ser transformada em livros. Por carregar a temática vampírica, e também devido às ilustrações impecáveis de Shibamoto, a série é bastante comparada com outra franquia de vampiros bem famosa, Castlevania, mas devo lhes garantir que as diferenças são enormes. Em Trinity Blood, os vampiros são uma ameaça, em termos. Além disso, há um predador para a raça dos sanguessugas: os Kresnik. Existiram apenas quatro dessa nova raça de predadores de vampiros, capazes de armazenar seus poderes até o momento em que forem necessários, e só então liberá-los, controlando-os com perfeição.
Os doze volumes da Light Novel de Trinity Blood foram publicados entre 2001 e 2005, mas infelizmente, antes do término da história, o autor faleceu. Usando de anotações sobre o final planejado por Yoshida, Kentaro Yasui (autor das Light Novels de Ragnarok) deu continuade à série, terminando-a de acordo com os desejos de seu amigo.


Em 2004, alguns meses antes da morte do autor original, foi iniciada a publicação do mangá, que hoje conta com 14 volumes, ainda sendo publicado em ritmo vagaroso. O traço de Kiyo Kyujyo é shoujo, mas seu detalhismo é impressionante, retratando com perfeição as vestimentas garbosas e elegantes dos personagens, assim como a luxúria de seus atos e de seus olhos. Foi aclamado pelo público por seguir bastante das Light Novels, diferente da animação, que possuiu apenas 26 episódios serializados em 2005 e contou com um final diferente do original. Ainda assim, o mangá é apontado por abusar das cenas de comédia, o que por vezes quebra o clima e a seriedade da história.
A trama nos leva até o Vaticano, uma organização especializada em combater os vampiros revoltados com os humanos, e seu eterno conflito contra a Rosenkreuz Orden (Ordem de Rosa Cruz), liderada por Contra Mundi. Lá, somos apresentados a uma série de personagens profundos e tocantes, entre eles o padre Abel Nightroad e a "freira" Esther Blanchett. Além destas duas forças, existe também a Inquisição, e uma série de personagens independentes, mas nem por isso pouco trabalhados.
Por fim, deixo minha recomendação a esta série gloriosa, nada menos do que um tesouro do Japão. Já asisti a animação, e adquiri recentemente os 13 volumes do mangá publicado no Brasil pela Panini (ainda que almejasse as Light Novels em inglês, mas enfim), logo devo resenhá-las aqui no blog, portanto, aguardem. Ou não, e confiram esta série para que possa tirar as suas próprias conclusões, não vão se arrepender.
Até a próxima!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sonic 4: Episode 2 e Manifesto Feminino Gamer

Olá, companheiros!
Passando rapidinho, apenas para deixar o link de dois vídeos recém-descobertos na internet.
O primeiro é o teaser trailer de Sonic 4: Episode 2, que você pode conferir AQUI. Será que a física melhorou, como todo mundo pediu? Quais serão as novas fases? Disso não sabemos, mas Tails e Metal Sonic estão confirmados, o que me deixa realmente instigado (ainda mais depois de Sonic Generations).

O segundo vídeo é uma manifestação das garotas que jogam, seja em consoles, computadores ou iphones, cansadas do sexismo barato dos jogadores que as menosprezam. O vídeo pode ser conferido AQUI, e carrega uma importa mensagem. Se você é um desses tolos que não respeita a opinião de uma garota, conscientize. Se admira essa opção, divulgue. Faz parte.

Até a próxima!

Resenha - Deus Máquina

Olá, companheiros.
Estava eu sem sono nesta madrugada. Pouco mais de 2 horas, o frio ainda era mediano, 65 páginas da mais pura ficção de Leonel Caldela me chamaram para terminar a aventura que tanto me agradara até então. Investi horas de meu descanso no fim deste livro, e sabe a que conclusão cheguei?
Valeu a pena, dude.
Deus Máquina é continuação direta de O Caçador de Apóstolos, ambos lançados por Leonel Caldela em parceria com a Jambô Editora. Em um cenário épico de fantasia imunda, Leonel retrara a vida dos generais e dos rebeldes, da Igreja e do escritor Iago que, mesmo após passar por diversos infortúnios em sua vida medíocre, acaba por se envolver na maior descoberta que seu povo poderia fazer, guiado por uma vontade incontestável dos homens que o acompanhavam.
Em Deus Máquina, conhecemos um pouco mais sobre aquele mundo sujo, que acaba por se revelar como muito mais fantasioso do que se esperava. A revelação surpreendente na última página de Caçador de Apóstolos nos deixa instigado a esperar pelo desfecho, e Leonel não decepciona. Está tudo lá, suas maiores características, a frieza com que retrata a "realidade fictícia", a personalidade marcante de cada um dos seus personagens. As estratégias de combate, as reviravoltas, tudo no maior estilo Bernard Corwell, ainda mais envolvente do que a Trilogia Tormenta. Os livros anteriores são meus favoritos pelo cenário empregado, mas foi nessa série que Leonel Caldela realmente se superou, sentindo-se livre para criar e destruir, pois o mundo era dele, sem limites, sem fronteiras. E assim o fez, carregando personalidades e rostos desconhecidos, mostrando o desenrolar de subtramas envoltas em passados tristonhos e atos banais, pois todos os homens guardam algo de mal dentro de si.
Uma marca que acho bastante impressionante nas histórias do Leonel é a sua crueldade de detalhes. São humanos (ou similares, em suma mortais), e como humanos erram, se desesperam, não medem esforços para sobreviver. Por mais que sejam heróis para seus homens, os generais ainda são simples guerreiros de armadura, podem sangrar, morrer ou coisa pior, como serem aleijados. Está tudo lá, num épico de confrontos colossais e inesperados e, como sempre, os últimos capítulos nos surpreendem por tirar o fôlego numa batalha de propriedades devastadoras e pensamentos dignos de um estrategista.
Deus Máquina é o primeiro livro de Caldela que não encerra com uma surpresa, uma reviravolta ou uma revelação bombástica. Acaba como começou, sem pressa, sem prometer nada além, mas acaba como as histórias verdadeiras terminam. Nem por isso perde o clima, muito pelo contrário, apenas realça a humanidade de seus personagens. Diferente de Tormenta, a ambientação criara para a série de Urag não tem poderes divinos, sequer possui deuses verdadeiros. Assim, era de se esperar que os sentimentos e as ações de seus personagens superassem as barreiras do impressionismo, pois nada poderiam fazer além do que os homens são capazes. As atitudes ainda espantam, entretanto, vemos pessoas comuns se tornarem assassinos e vice-versa, como a vida real. Tudo depende da situação, e Deus Máquina retrata com perfeição essa realidade.
O encerramento concluiu a saga de Atreu e os demais generais, narrada por Iago e suas fantasias. O escritor teve um papel bastante importante para a trama, ainda que não fosse o melhor dos guerreiros (mas talvez o pior), mostrou-se corajoso no fim, quando foi necessário. Retratou suas verdades e mentiras com maestria, agraciado por um background rico, por companheiros e inimigos, por lembranças dos tempos passados. E, por falar em tempos passados, conhecemos bastante sobre os antigos, o que nos deixa maravilhado. Vemos que, por trás de toda aquela selvageria bárbara, houve um tempo de máquinas, de tecnologia, de sucesso. Não vou lhes adiantar nada sobre os detalhes, mas garanto que vão admirar a escolha do plot do autor, que costuma abusar de sua criatividade quando se trata das ligações entre personagens/cenários/passado e futuro.
Enfim, Deus Máquina encerrou uma saga, mas talvez não seja o último livro deste cenário. Leonel Caldela deixou bem claro que gostaria de escrever outras histórias neste mundo, ainda que tenha alertado, nas últimas páginas deste épico, que seu próximo livro teria um novo cenário. Confio no autor, ele sempre consegue nos encantar com sua arte, mas que não deixe Urag esquecido. Seria muito interessante ver alguma história se desenrolar na terra dos antigos, por exemplo, no tempo steampunk pelo qual aquele mundo já passou. Deixo uma sugestão, enfim, mas só nos resta esperar.
No entanto, para aqueles que não desejam esperar, a Dragon Slayer lançou uma adaptação do cenário de Deus Máquina para RPG de mesa. Quer criar as suas próprias aventuras neste mundo vasto e brutal? Aproveite a chance que a revista oferece, o próprio autor ensina, com direito aos autômatos e aos tabletes místicos dos druidas!

Até a próxima!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Games - Blazblue

Olá, companheiros!
Trazendo hoje uma postagem sobre a série que mais se tornou especial para mim neste finalzinho de ano: Blazblue. Tive contato com os jogos anteriormente, mas nunca tinha dado uma chance ao modo Story, pois, geralmente, esses jogos de pancadaria pura não valorizam tanto o cenário utilizado. Acabei por engolir minhas palavras, ao encontrar em Blazblue um dos cenários mais bem trabalhados de todos os tempos e, sem dúvida alguma, o melhor em games do estilo.
A trama principal gira em torno de Ragna the Bloodedge, um criminoso de classe SS, procurado por invadir diversas instalações da NOL (uma organização correspondente à milícia, aos militares) para destruir os Cauldrons (caldeirões), artefatos de grande poder utilizados para finalidades nem sempre corretas. Ao dele nessa história, diversos outros personagens se deixam levar por motivações e objetivos diferentes, todos coesos num único universo de ações, como Jin Kisaragi, Noel Vermilion, Tsubaki, Makoto, Taokaka e Bang Shishigami. A trama é complexa, turbulenta graças a uma infinidade de subtramas, que giram em torno de vingança, descoberta, proteção e coisas do tipo.
O primeiro jogo da série, Calamity Trigger, usada do modo história para exemplificar incontáveis cenários diferentes. Cada personagem tinha uma linha de ação, e a cada jogatina você via um final totalmente diferente para aquele char, e mesmo para a série. Após concluir todas as histórias, é habilitado o True Ending, e apenas neste temos conhecimento dos fatos realmente ocorridos naquela parte da história, os quais são surpreendentes.
O segundo jogo, Continuum Shift, passou por duas revisões (2 e Extended, mas esta ainda não chegou à América), e é muito melhor trabalhado do que o primeiro. As histórias, agora, são mais voltadas ao próprio personagem, contando fatos do passado e acontecimentos relativos à sua personalidade. Ainda há aquela intromissão de acontecimentos, onde vemos cenários possíveis e impossíveis, inclusives alguns bônus cômicos deixados pelos criadores da série. Mas, em suma, mesmo os finais ruins de cada personagem são interessantes de se ver, explorando bastante da complexidade do roteiro que, como disse antes, é um dos melhores que já vi.


Com autômatos, experiências humanas, magia e ciência, Blazblue tem tudo para chamar atenção dos viciados em histórias de ação e reviravoltas. O jogo é de luta, certo, mas a apresentação das histórias se assemelha a uma Visual Novel, com imagens e descrições misturadas às batalhas épicas. O gráfico em 2D Anime pode parecer simples, mas dá um baile em muitos outros do tipo (King of Fighters que o diga!), e as artworks são fantásticas! Personagens carismáticos e envolventes, cenário criado para tremular as mentes dos fãs e atitudes capazes de deixar qualquer um boquiaberto, todas essas são características dessa série que surgiu do nada, mas veio para ficar!


Blazblue também conta com uma série de Light Novels, assunto bastante abordado aqui no blog. Tivemos, em agosto de 2010, o lançamento de Blazblue - Phase 0, que conta a história anterior à trama, da guerra contra a Black Beast. Depois disso, em abril de 2011, tivemos o lançamento da Phase Shift 1, e em janeiro de 2012 teremos a segunda edição dessa série. Não preciso comentar que as ilustrações e a qualidade do enredo são fantásticas, preciso? Infelizmente, esse tipo de material raramente sai do Japão, mas sempre existem algumas almas caridosas para traduzi-los, ao menos para o inglês. AQUI você encontra o Prólogo e os três primeiros capítulos do Phase 0 em inglês, e acredito que esse cara vá terminar a tradução, ainda que não possamos apressá-lo. As ilustrações são facilmente encontradas na internet, basta uma rápida busca no Google e tá tudo certo. Eu traduzi o Prólogo para o português, apenas enquanto lia, quem sabe não posto mais tarde? É, quem sabe.
Blazblue Continuum Shift Extended tem lançamento previsto para 14 de fevereiro no restante do mundo, contando agora com a presença jogável de Relius Clover, o Coronel que comanda a marionete Ignis, e 4 histórias extras! Vai deixar essa escapar?


Até a próxima!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A Balada do Caçador no RPG Vale!

Olá, companheiros!
Postagem rápida, apenas para comemorar o aparecimento da Light Novel 'A Balada do Caçador', de minha autoria, no site RPG Vale, o qual admiro muito. O capítulo 1 pode ser encontrado na postagem Canções da Meia-Noite #37, ou NESTE LINK.
Confiram no site a postagem, e façam uma visita sempre que puderem, o conteúdo do RPG Vale é muito bom! Essa área, a Canções da Meia-Noite, é periódica, ou seja, qualquer um pode enviar seu conto para o site e concorre a uma chance de aparecer por lá. Não perca essa oportunidade, participe você também!
Até a próxima!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Light Novel Project

Olá, companheiros.
Postagem rápida, apenas para divulgar um blog que acho muito interessante: o Light Novel Project.
O LNP é uma equipe de tradutores que trazem até os brasileiros algumas das light novels japonesas, as quais infelizmente têm poucas chances de serem traduzidas para o português (sendo que algumas sofrem para sair mesmo em inglês...). É possível encontrar diversas traduções no site deles, muitos projetos em andamentos e teaser que podem ser escolhidos para novos tradutores. A equipe está sempre aumentando portanto, se você tem conhecimento em inglês e bastante vontade de ajudar os leitores assíduos, faça parte do staffa da LNP! Una-se ao grupo e ajude-os com as traduções, garanto que elas serão sempre bem-vindas por aqueles que admiram esse tipo de trabalho. Lembrando que eles têm os teaser à mostra, mas os voluntários podem apresentar novos projetos, se assim desejarem. Vale a pena conferir.
O link para o site pode ser encontrado AQUI. Não perca tempo, confira agora mesmo as light novels disponíves, aproveitando o ritmo da matéria e da light novel de minha autoria, A Balada do Caçador, postada algum tempo atrás aqui no blog (onde você pode encontrar o Sumário Completo com facilidade).
Até a próxima!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

3º Desafio Literário - A Fera e a Fera

Olá, companheiros!
Recentemente, participei do 3º Desafio Literário do site A Irmandade, com o conto 'A Fera e a Fera'. A temática, como devem ter notado, era sobre os contos de fadas, reescrevendo-os de uma maneira atual, mudando certos conceitos e recontando uma história clássica. Usei A Bela e a Fera por que foi a primeira que me passou pela mente, e gostei do resultado. O conto está disponível para leitura AQUI, e logo mais será disponibilizada a votação, portanto, passem por lá e dêem uma ajuda, hehe.
Até a próxima!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Balada do Caçador - Sumário Completo

Saudações, companheiros!
Para quem não conhece, A Balada do Caçador foi uma Light Novel feita por mim, inicialmente um projeto para demonstrar o estilo de escrita ao modelo dos japoneses. Foi concluída recentemente e, para aqueles que chegarem agora, estou postando o sumário completo, que também pode ser encontrado na aba à esquerda do blog (ali <<<<), clicando em 'Contos'. Deixem seus comentários, critiquem, avaliem, ajudem a divulgar. Todo o apoio é bem-vindo.
Quem sabe não surgem outras histórias no blog, não é?

A Balada do Caçador
Sumário

Personagens

Prólogo

1. Harmonia que se Perde

2. Um Vulto no Crepúsculo

3. Medo e Fraqueza

4. Sempre Amáveis

5. Confronto

6. Irmão de Sangue Distinto

7. Para um Bem Maior

Epílogo


Até a próxima!

[A Balada do Caçador] - Epílogo

Saudações, companheiros!
Esta é a última parte da Light Novel 'A Balada do Caçador', iniciada após uma matéria sobre o gênero. Confesso que, apesar de se tratar de um projeto-demonstração, criado para demonstrar o estilo utilizado pelos japoneses, adorei bastante escrever essa história, que acabou bem diferente do planejado. Em se tratando de assuntos técnicos, planejei 6 capítulos (contando o Prólogo) e algo em torno de 20000 palavras, mas encerrei com 7 capítulos, um prólogo e um epílogo, e com apenas 14687 palavras. Na trama, por sua vez, as mudanças foram grandes, mas ainda consegui usar bastante do planejamento inicial, o que é bom. O estilo diferente de escrita é agradável, mas realmente peço desculpas pela falta de ilustrações, se conseguir um desenhista para me ajudar vou postá-las, mesmo que depois do epílogo!
Pretendo também, assim que concluir as ilustrações, organizar todo o texto e diagramá-lo, após uma revisão, para vender no site da PerSe, que trabalha com publicações independentes, como o Clube de Autores. Não vou retirá-la do site, entretanto. Vai ser uma espécie de publicação com Extras, hehe. Mas isso fica para depois.
Confiram agora o sumário e o Epílogo dessa Light Novel, a primeira escrita por mim, mas não a última. Gostei do estilo, encontrei admiradores, descobri novos horizontes. Quem sabe não conseguimos movimentar as coisas um pouco?
Espero também que tenham gostado, e que tenha sido um bom exemplo para aqueles que desejam se aventurar neste estilo agradável de novelas, retirado do Japão, muito agraciado no Estados Unidos mas, infelizmente, ainda desconhecido no Brasil. Ajudem a divulgar, comentem, critiquem. Estarão ajudando bastante!
Sem mais demoras, confira o final da história de Eloy!
O QUE SÃO LIGHT NOVELS?
PERSONAGENS
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7



Epílogo

“Vocês ouviram os boatos?”, era a voz de uma velha estranha. “Algumas pessoas disseram ter visto um anjo sobre os prédios!”

“Ora, não diga bobagens”, disse a outra das fofoqueiras.

“Só repito o que escuto!”

“Essas pessoas são loucas”.

Eloy também acharia.

Então, ele viu um par de enormes asas brancas e plumadas, aberta sobre o corpo angelical de um ser fabuloso. Não era estonteante, mas talvez tivesse sido, algum dia. Tinha olhos lindos, estreitos, hipnotizantes.

Violetas.

“Você sabia, Eloy, que cada família tem um anjo guardião?”

Eloy estava atirado, o ferimento no peito vomitava sangue e entranhas. Morria, sem pressa, o Outro Lado permitiu que vivesse por mais alguns minutos. Abel teve o poder da Voz, não se viu feliz ainda assim. Não seria feliz de modo algum, talvez, este era seu destino. Ao menos a Voz não existiu, e Abel partiu para o mundo real, abandonando Eloy para morrer sozinho.

Mas ele não estava sozinho.

“Uma espécie de anjo da guarda?”, riu ele. Falava com dificuldade, arfando.

“Diferente disto. Um guardião, responsável por ouvir as preces, os pedidos, as rezas. Um anjo que se fortalece conforme a fé daquelas pessoas, a união, a bondade e a vontade de viver. Sabia disto, Eloy?”

“Nunca acreditei em anjos”.

“Nós existimos. Escondidos, fazemos a nossa parte sem que seja necessário aparecer. Às vezes, entretanto, precisamos nos arriscar no mundo real, ou mesmo em outros mundos, como agora. Às vezes, as preces são tão poderosas que são capazes de prender um anjo a uma pessoa, de forçá-lo a fazer o possível para que aquele desejo se torne realidade”.

Eloy tossiu sangue.

“Sua mãe tinha uma fé sem igual, Eloy. Por causa dela, você e seu irmão nasceram com dons especiais. Por causa dela, sua família cresceu protegida, repleta de bênçãos e de alegrias. Por causa dela, eu estive do seu lado, tentando te proteger”. Suspirou. “Eu falhei”.

Nerea se aproximou, ajoelhou-se ao lado de Eloy, tocou seu cabelo com as mãos delicadas. Suas asas começavam a se desmanchar.

“E o que vai acontecer agora?”

“O mesmo que acontece a todos os anjos que falham em suas missões. Eu era uma guardiã, tinha de lhe proteger, falhei. Vou deixar de ser guardiã, vou deixar de ser um anjo. Vou deixar de existir”.

“Eu sinto muito”.

“Não sinta. Não me importo com isso, não gostava das minhas tarefas. E, cá entre nós, sua família não era a mais unida, logo eu não era poderosa. Talvez seja melhor assim”.

“Você vai deixar de existir mesmo?”

“Não sei. Na verdade, acho que não. Seria algo bom, no fim. Acho que serei uma caída, um não-anjo. Que diferença isso faz?”

“Me desculpe. Eu deveria ter te escutado seus conselhos. Fui fraco e...”

Nerea tocou os lábios de Eloy com seu indicador, e então sorriu.

“Tudo bem. Eu apostei em você, mas na verdade, eu sempre perco. Era minha última chance”.

Levantou-se, e as últimas de suas penas foram pulverizadas. Nerea chorou.

“Nerea, eu... Eu agradeço por tudo. Mas preciso de um último favor”.

Os pés de Nerea começaram a cintilar. Ela desaparecia daquele mundo, do Outro Lado. Ficaria presa no mundo real, para sempre, não sendo anjo ou mortal. Seria um resto, uma sobra de seus erros, de sua falha. Viveria daquela maneira pela eternidade, pois assim era a vida dos anjos.

“Se apresse, eu não tenho muito tempo”.

“Só preciso que me responda uma coisa: fui eu?”

“Do que está falando?”

As luzes alcançavam sua cintura.

“Aquelas pessoas todas, aquelas mortes. Aurora. Fui eu quem os matou? Eu sou o responsável por todas aquelas atrocidades?”

O brilho alcançava o queixo de Nerea.

Por dentro, havia uma luta. Ela sabia a resposta. Vira Eloy ser tomado pela Voz, perder o controle, matar todas as pessoas que aquela entidade alvejava. Vira-o chegar em casa, cambalear, ferir Aurora como jamais seria capaz de fazer. Vira nos olhos de Aurora um amor incondicional, capaz de superar mesmo as fronteiras do sobrenatural, de entender que aquele que a matava não era seu marido, de perceber quando o verdadeiro Eloy ressurgira, de dizer a ele que o amava mesmo depois de todo o ocorrido.

Engoliu em seco.

O brilho alcançava os olhos anilares. O restante do corpo de Nerea já havia desaparecido.

“Me diga, Nerea. Me diga a verdade, eu preciso saber”. Eloy começava a fechar os olhos. Não tossia mais, não tinha forças nem mesmo para isso. “Me responda: eu matei aquelas pessoas?”

Nerea suspirou, então sorriu, mas seu sorriso não foi visto por Eloy.

“Não, Eloy. Você não é o responsável por aquelas mortes. Você não matou Aurora”.

Assim, Eloy agradeceu, e morreu com um sorriso.

Nerea se foi, partiu para o mundo real, onde ficaria presa por toda a eternidade por falhar em sua missão.

Naquela cidade barulhenta, subiu ao terraço mais alto, era apenas uma garotinha. Lá, viu os carros, ouviu as buzinas, admirou as estrelas e a lua cheia.

Mentira para Eloy. Sabia da verdade, e apenas ela e Abel sabiam. Mas foi preciso. Eloy não seria capaz de descansar em paz caso soubesse daquela verdade. Mentira, como nunca antes fizera, por achar que essa seria a melhor opção.

Deu de ombros. Não era mais um anjo.

Que diferença faria?



Espero que tenham gostado do desfecho. Agora, vamos para a próxima, hehe.
Até breve!

[A Balada do Caçador] - 7. Para um Bem Maior

Olá, companheiros.
Postagem veloz, trazendo apenas o sétimo (e último) capítulo da Light Novel 'A Balada do Caçador', iniciada como um projeto para demonstrar este gênero tão famoso no Japão. Sem mais demoras, segue o Sumário dos capítulos anteriores e o capítulo propriamente dito, e logo mais trarei o Epílogo, o qual estou terminando neste exato momento.
O QUE SÃO LIGHT NOVELS?
PERSONAGENS
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6


VII

Para um Bem Maior

Estavam no mundo dos monstros, o Outro Lado da realidade. Ali, todo o poder era real, não tinha limites. Ali, tudo poderia existir de uma maneira diferente da Terra. Seria como espelhar a verdade; tudo estaria lá, mas por um novo ângulo, um novo ponto de vista. Diferente, ainda que similar.

Aquele era o Outro Lado, mas Eloy não sabia disso.

Não faria diferença. Tinha algo mais importante para se preocupar.

“A nossa história é um pouco diferente, meu querido e amado irmão”, Abel falava com a voz elevada, a sanidade lhe abandonava cada vez mais. “Na Bíblia, Cain matou Abel, se recorda? Mas fui eu quem te matou, Cain. Eloy. Não importa que nome use. Eu te matei uma vez, posso fazer de novo”.

“Deveria eu ter arrancado a sua língua naquele dia. Talvez assim você não falasse tantas bobagens”.

Abel sorriu.

Eloy sentia o poder dentro de si. A magia que obtivera em seu nascimento, o talento que o compunha, tudo estava lá. A Voz estava próxima e, naquele mundo, mesmo sua proximidade era capaz de oferecê-los poderes. Na verdade, ela o faria de qualquer maneira, pois aquele era seu desejo. A Voz queria existir e, para isso, precisava que ambos os irmãos se matassem. Oferecia a eles o poder necessário para isso, o que, no fim, traria recompensas incríveis.

Eloy sentia o poder, aquela força que circundava suas veias, que fervia seu sangue. Tinha de lutar, de vencer. Aquela era sua última luta.

Aurora.

Lembrava-se de sua esposa, as recordações eram dolorosas. Talvez a culpa fosse sua mesmo. Talvez fosse ele o responsável por todas aquelas mortes que, agora, ganhavam uma finalidade. Todo aquele sangue, todos aqueles inocentes, era tudo parte de algo maior, de um plano arquitetado por uma força maligna. Uma força que surgira de dentro de si e de Abel, dos irmãos que nasceram marcados para a grandeza, que nasceram com o orgulho e com a inveja.

Sentiu a dor de todas aquelas mortes, e isso quase o derrubou antes mesmo da batalha começar.

Abel avançou.

Não tinham armas. As espadas ficaram no mundo real, as metralhadoras foram dispensadas após a chacina no palco. Eram homens, e teriam de lutar como iguais. Tinham os punhos, as pernas, os dentes e os corpos.

E a magia.

Abel desenhou no ar com suas luzes, os lampejos trovoaram, o chão sob os pés de Eloy incendiou. Eloy saltou para longe, correu na direção de um prédio, se espantou ao descobrir que conhecia aquela construção em seu mundo. Estava em sua cidade, espelhada para uma realidade exótica. Acima dos terraços, monstros observavam, eram muitos, incontáveis. O solo queimou outra vez, crepitando pela magia de Abel, Eloy tropeçou, sentiu a pele queimar junto das roupas. Era perigoso.

“Não se desconcentre, irmão, ou vai facilitar as coisas. Essa é a última vez que lutamos. Faça valer a pena”.

Eloy arriscou, pensou em flechas, abriu os olhos e elas estavam lá, materializadas por sua vontade. Despejou uma saraivada de setas brilhosas contra Abel, que se protegeu com um escudo cintilante, continuando a correr. Eloy estranhava aquela sensação. Por tempos, caçara o sobrenatural, e agora sentia-se parte daquilo. Tinha a magia, tinha o conhecimento. Era estranho.

“Você pode fazer melhor do que isso”, ameaçou Abel, e fez um terremoto. Abriu os braços com presteza, o chão o acompanhou, rompeu-se num abismo tenebroso. “Venha, Eloy, venha me enfrentar!”

Para evitar a queda, Eloy imaginou-se preso num chicote, ele estava lá para lhe salvar. Pousou de maneira imprecisa, deixou-se rolar nos destroços daquele mundo irreal, levantou-se de imediato. Abel estava lá, tinha uma lâmina luminosa nos braços, Eloy fez o mesmo. As espadas mágicas se chocaram, faiscaram em todas as cores, as luzes perfuravam o solo como brocas.

“Abel, você vai nos matar! Vai dar à Voz o que ela quer, vai transformar essa coisa em realidade! É isso o que pretende? Fazer tudo o que tínhamos de ruim ser capaz de existir em apenas um corpo?!”

“Eu já disse que não pretendo morrer, Eloy, pense o que quiser pensar. Vou matá-lo, e assim terei todo seu poder para mim. Quando a Voz me contou aquela história, entendi nossa rivalidade, nossa disputa eterna pelas caças. Entendi que preciso derrotar você, custe o que custar!”

“Você é louco, Abel, tem que entender isso! Não está pensando nas consequências! A Voz está usando você, transformando-o num boneco como aqueles usados para a apresentação de teatro! É isso o que escolheu para sua vida? Ser uma marionete de um monstro qualquer?”

“O que você sabe sobre a minha vida?!”, gritou, e seu brado explodiu em magia, atirou Eloy para longe. As espadas se uniram outra vez, numa disputa de força. “O que sabe sobre o que passei, Eloy? Me diga, Cain?! O que sabe sobre os dias em que vivi em suas sombras, escondido no talento e no orgulho que você era? O que sabe sobre a inveja que me corroía, sobre o ódio que me destruía por dentro? VOCÊ NÃO SABE NADA!”

Eloy tropeçou pelo impacto, caiu de costas ao chão, a espada rasgou seu estômago. Cuspiu sangue, não seria derrotado daquela maneira. Tirou a lâmina de si, atacou com a sua, cortou o peitoral de maneira superficial, as vestes claras de Abel se rasgaram. Pisou à frente, empurrando seu oponente com sua pressão, atacava sem parar.

“Você me invejou, Abel, você sempre me invejou! Naqueles dias, durante as caças, você sempre pensava em me superar, em me vencer! Mesmo quando enfrentávamos monstros, você não se importava em vencê-los, queria apenas se mostrar superior! Isso é o que eu sei, Abel! Eu sei que você é um egoísta, que pensa apenas em si mesmo!”

“EGOÍSTA?!” A fúria se dispersou em seu grito, derrubou os arranha-céus mais próximos. Os monstros que observavam a luta recuaram, apenas uma silhueta restou sobre uma ponte, as asas abertas, auxiliavam no equilíbrio. “Acha que eu sou egoísta? Depois de tudo o que fez, de tudo o que eu passei, ainda se acha no direito de me chamar de egoísta?! Você me culpou por seus erros, me transformou em uma desgraça para nossa família! Seu maldito talento me assombrou em todos os sonhos, era capaz de me importunar até mesmo em pesadelos! Toda sua vida escondeu minhas oportunidades de sucesso, fizeram de mim um filho indesejado, apenas porque VOCÊ era o prodígio, o melhor! Ainda se acha no direito de me chamar de EGOÍSTA?!”

A Voz estava lá, observava sem ter olhos. Tudo estava de acordo com o planejado.

Abel atacou em frenesi, Eloy não conseguia se defender, resolveu atacar sem pensar. As espadas brilhosas eram afiadas, feriam com facilidade, derramavam sangue no solo sombrio. Cada choque das lâminas encantadas fazia aquele universo paralelo tremer, vidros trincavam, residências cediam ante ao poder oferecido pela Voz. Abel e Eloy lutavam, se enfrentavam como guerreiros, como caçadores, como irmãos. Atacavam para matar, sem medo, sem hesitação.

“Você não vai abrir os olhos, não é?”, Eloy arriscou uma última vez. “Nunca será capaz de entender o que está fazendo, nunca vai perceber o quão tolo está sendo neste momento! Você pretende mesmo seguir as palavras daquela coisa que NÓS criamos, não é, Abel?!”

“Eu vou seguir aquilo que EU MESMO decidi, Eloy! Vou matá-lo, vou reaver meu poder, vou roubar o seu talento! Tudo aquilo que os outros agraciavam, que eu tanto invejei. Eu terei tudo, Eloy, será tudo meu!”

Eloy parou. Abriu os braços, deixou que a espada caísse no chão, desaparecesse. Suspirou.

Abel hesitou.

“Tudo bem, então”, disse Eloy, “mas não quero participar disso. Não quero me sentir culpado por povoar o mundo com minha própria maldade. Não quero contribuir para esta sua loucura, não serei mais um boneco obedecendo às regras da Voz. Se nos enfrentarmos, ela será real, trará problemas para este mundo e para o nosso também. Se quer me matar, não serei um obstáculo, Abel. Vá em frente. Acabe com isso”.

“Não!”, a Voz se exaltou, mas ninguém foi capaz de escutá-la. Nunca mais ela seria ouvida.

“Você é um covarde, Eloy. Está se entregando porque tem medo de perder. No fundo você sabe que não pode me enfrentar, sabe que eu sempre serei superior. Prefere desistir do que ser derrotado. Grande orgulho o seu, irmão”.

“Asneiras. Como sempre, você só fala asneiras. Acabe logo com isso, Abel. Não é fácil abrir os braços como um suicida para evitar que o seu irmãozinho faça uma merda enorme capaz de afetar o mundo todo!”

Abel praguejou.

“Quem é você para falar assim, Eloy? Desde quando você se tornou o responsável, aquele que pensa no mundo todo antes de dar cada passo? Desde quando é capaz de ditar o que é melhor para cada um?”

“Cale a boca, Abel. Apenas faça”.

“E se eu me recusar, Eloy? E se eu preferir esperar que você deixe de se acovardar para te enfrentar como homem?”

“Mate-me, Abel, ou isso nunca vai acabar!”

“E SE EU ME RECUSAR?!”

Eloy baixou os braços.

Naquele momento, desistiu de si.

“Eu sempre serei mais forte do que você”.

Com agilidade sem igual, Eloy se atirou sobre Abel, desarmou-o e, com sua espada mágica em mãos, trespassou o próprio corpo.

Não podia ter medo.

Era a única solução.



Até a próxima!

Editora Draco - Imaginários em Quadrinhos


Olá, companheiros.
Postagem curta e rápida, apenas para divulgar mais um excelente projeto da Editora Draco! Como muitos devem saber, a série Imaginários é composta por antologias com contos de diversos autores, sempre tratando de temas variados, circundando entre fantasia, terror e ficção científica. Pois bem, desta vez ela extrapolou de vex: em 2012 teremos Imaginários em quadrinhos, coletâneas com o trabalho de quadrinistas, roteiristas e ilustradores, tudo reunido na qualidade impecável da editora! Confiram as palavras da própria Editora Draco logo abaixo, ou veja no próprio Blog da Editora.

2012 é o ano do Dragão.

Para começar esse que tem tudo para ser um ano simbólico cheio de realizações e mudanças para o nosso mercado de literatura fantástica, a Editora Draco está ampliando a sua franquia de maior sucesso, a coleção Imaginários.

Sendo o principal intuito da coleção reunir os veteranos e revelar novos talentos da literatura, agora também teremos um novo espaço para quadrinistas, roteiristas e ilustradores brasileiros -- a coleção Imaginários em quadrinhos.

As regras de submissão são muito simples e já valem a partir de agora.

Cada volume terá 128 páginas, com 6 histórias de 20 páginas. Em breve divulgaremos os selecionados para os primeiros números, que serão publicações em formato de álbuns para livrarias, ou seja, a ideia não é a distribuição em bancas, mas nas grandes redes de livrarias ou casas especializadas.

Envie a sua submissão por e-mail editoradraco[arroba]gmail.com em PDF ou imagens em JPG com o assunto [IMAGINÁRIOS HQ].

No seu e-mail deve conter:

Sinopse e resumo da história (contando tudo o que acontece, não um texto que instigue a leitura).

O roteiro completo e com exatas 20 páginas (nem mais, nem menos), mas para as artes em preto e branco (ou uma cor, se preferir) poderão ser apresentadas apenas 3 páginas finalizadas acompanhadas de um link de portifólio atualizado do artista responsável.

A história deve ser de algum dos gêneros de fantasia, ficção científica e terror, ou juntar tudo! A imaginação é o principal quesito e estamos ansiosos a conhecer os mais diversos enredos.

Não há estilo correto. Queremos misturas que vão desde os traços étnicos que resgatam a nossa cultura popular até desenhos que bebem em fontes longínquas! Dos mangás aos europeus aos heroicos comics estadunidenses. Ou nada disso, uma proposta única e típica dos brasileiros que conquistam o mundo das artes sequenciais.

Poderão participar quadrinistas (roteiro + arte), ou duplas de criação (roteiristas + ilustradores). No caso de duplas, os autores dividirão os direitos autorais.

Participe já da coleção Imaginários em quadrinhos e faça parte dos artistas que constroem o imaginário de quadrinhos fantásticos brasileiros.


Até a próxima!

[A Balada do Caçador] - 6. Irmão de Sangue Distinto

Olá, companheiros!
Chegamos ao sexto capítulo de 'A Balada do Caçador', meu projeto de Light Novel iniciado após a postagem sobre essas novelas de origem japonesa, com descrições simplificadas e auxiliadas por ilustrações. Àqueles que ainda não leram os capítulos anteriores, pulem diretamente para eles usando o sumário logo abaixo, ou encontrarão spoilers fatídicos! Espero que estejam gostando da história. Falta pouco para acabar, o que a deixará abaixo da média de palavras, que circunda a faixa das 20000 (este capítulo acabou por meados de 12300). Enfim, é apenas o primeiro projeto de muitos outros, portanto, espero que gostem bastante.
Sumário das Postagens Anteriores
O QUE SÃO LIGHT NOVELS?
PERSONAGENS
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5



VI

Irmão de Sangue Distinto

Eloy matou todos.

Alguém aplaudiu. Era Abel.

O ferimento em seu rosto estava grotesco, mas o sangue parara de escorrer. Secava rapidamente, escurecendo e espalhando seu odor fétido por toda a plateia vazia.

“O que você está fazendo?”, perguntou Eloy.

As palmas cessaram.

“Estou te aplaudindo, não é óbvio? Depois desta performance fabulosa, merece mais do que aplausos, meu caro Eloy. Você é um pianista sem igual, sabia? Um pianista que sequer precisa usar seu piano para oferecer ao seu público uma excitação sem igual”.

Ao lado de seu assento, infindáveis corpos jaziam, todos mortos pela fúria de Eloy. Ninguém se movia. Era possível escutar a respiração dos caçadores.

“Onde estamos?”

“Não consegue definir?”

“Este não é o inferno. Saberia dizer se fosse”.

“Certamente, companheiro, deve ser fácil entender quando se está no inferno. Será que tudo é um mar de chamas e magma, como os livros dizem? Será que os demônios que caçamos realmente são fugitivos de uma prisão de torturas sem fim, sobreviventes de castigos impensáveis? Como seria o inferno para você, Eloy?”

Eloy pensou.

“Talvez eu já esteja no inferno. Sua presença me enoja, Abel”.

Risos.

“Adoro sua ironia”.

“Onde estamos?”

O sorriso desapareceu.

“Desça daí. Sua chance de brilhar já terminou. Seus quinze minutos de fama estão esgotados. Agora, temos outro espetáculo para assistir”.

“Do que está falando?”

“Saia do palco, Eloy. A nova atração já vai começar”.

Eloy obedeceu, mas não por acatar a ordem de Abel. Algo se movia próximo a ele, não esperou para saber o que era. As cortinas se fecharam mais uma vez, algo grunhia atrás delas. Eloy se afastou, sentou-se distante de Abel, livrando os assentos da pilha de corpos que formada por sua tirania.

“Não precisa ter medo de mim”, zombou Abel. “Você não é o mais forte? Não me superou há muito tempo?”

“O que está acontecendo aqui, Abel?”

“Vamos ver uma história, apenas nós dois”.

“Que história?”

“Você gosta da Bíblia, Eloy?”

Eloy não era religioso. Aurora estava sempre lendo algum trecho do livro divino, sempre memorizando passagens, capítulos e versículos, mas não ele. Escutava, por vezes assentia, concordando com os ensinamentos, mas nunca se interessou por uma religião. Não duvidava da existência de Deus, muito pelo contrário. Torcia para que fosse real, pois muita coisa pior do que Deus existia nos becos escuros. Achava graça, entretanto, ao ver as pessoas se apoiarem em Deus para todas as suas coisas. Fanatismo, proveniente de aproveitadores, que transformavam a religião ingênua e sincera numa fábrica de fortunas. Isto sim era uma tolice.

Mas a Bíblia era interessante, no mínimo. Não por transmitir a imagem de Deus, suas histórias e suas palavras. Era interessante por mostrar como os homens pensavam, como deveriam pensar. Por mostrar exemplos a serem seguidos, arquétipos presentes em todas as sociedades. Sua finalidade, de ensinar, fora esquecida. Era pouco mais do que um livro de normas, um amontoado de regras que os santos tinham de seguir para trilhar o caminho de Deus.

Eloy não gostava da Bíblia.

“Não a admiro. Os homens a usam como uma arma”.

“Talvez. Ainda assim, conhece algumas de suas histórias?”

“Aurora era religiosa”.

“Entendo. Acredita nessas histórias, Eloy?”

Pensou.

“Não sei. Acho que não”.

“Algumas são reais”.

“Como sabe? Estava do lado de Jesus quando ele veio à Terra, Abel?”

O comentário não foi intencional, mas Eloy não pôde evitar a ironia.

“Sei porque a Voz me contou, Eloy. Já parou para escutá-la?”

“Não. Eu a odeio”.

“Você odeia a Voz, Eloy?”

“Sim. Eu a odeio”.

Abel gargalhou.

“Temos aqui a maior prova de sua tolice. A Voz é real, é poderosa. A Voz é onipresente. Você, acima de todos, deveria acreditar na Voz, cultuá-la, escutá-la a todo momento. Mas não o fez, pois a odeia! Eloy, meu querido caçador, você causou todo o sofrimento que o assola. Você é o verdadeiro responsável por toda essa confusão que martiriza sua mente”.

As palavras não faziam sentido.

“Está sugerindo que eu chame essa Voz de Deus?”

“Não seja idiota. Esqueçamos Deus, por ora. A Voz é a Voz, e você deveria acreditar nela. Você não acredita em mim, Eloy? Não em minhas palavras, tenho certeza, mas em minha existência? Pode negar que eu existo?”

“Não, infelizmente”.

“Pois assim é a Voz, Eloy. Ela está relacionada. Faz parte de você. E você a odeia”.

“Também odeio você, Abel, e mesmo assim sei que você existe”.

“Me odeia por outro motivo, Eloy. Sabe o por quê?”

Fez que não com a cabeça.

“Você me odeia porque eu te matei”.

Sem sentido.

“Está falando asneiras”.

“Eu sempre falo asneiras, não é? Você nunca me escuta. Ainda pior, você nunca escuta a si mesmo, nem mesmo à Voz”.

“Asneiras”.

“Seu nome era uma asneira, Eloy? Por isso o esqueceu? Por isso o abominou, extinguiu de sua existência, chamou a si próprio de um modo diferente do que sua mãe decidiu?”

A cabeça doía, confusa.

“Asneiras”.

“Você desrespeitou sua mãe, Eloy. A nossa mãe”.

As cortinas começaram a se abrir.

“Eu também não me lembrava, mas ouvi a Voz. Ela me lembrou. Agora, ela vai te lembrar também”.

Apontou para o palco, Eloy se virou.

Havia dois bonecos de madeira. Um vestia preto, o outro, branco. Um tinha uma coroa, o outro, cabelos desajeitados. Um tinha um brinquedo, o outro, nada.

A Voz estava lá, em todo lugar.

“Uma família teve dois filhos”, narrou ela. “Gêmeos, ainda que diferentes entre si. Ambos especiais, ambos nascidos para brilhar. Ambos com olhos capazes de enxergar o que ninguém mais enxergava. Um era valente, o outro, temeroso. Chamaram o valente de Cain, por sua coragem. Chamaram o irmão de Abel, por seu temor”.

Eloy se espantou. Ao longe, Abel mostrava-se frio.

“Cain era talentoso. Falou, andou, demonstrou sua arte, tudo isso muito antes de Abel ser chamado de gente. Cain era o orgulho, Abel, a desgraça. Assim, Cain trouxe riqueza àquela família. Abel trouxe a doença”.

Os bonecos correspondiam à narração, dançando com movimentos vagarosos, sem música alguma para acompanhá-los.

“Cain era mágico. Abel também era, mas não sabia usar sua magia. A família se maravilhou com o filho prodígio, deu a ele tudo o que tinha. Ao outro, deram apenas o nome, e nada mais era necessário. Assim, Cain e Abel cresceram, juntos, mas separados pelo talento e pela inveja”.

“Cain não era bom, mas sabia atuar. Às vezes, errava. Jogava a culpa em Abel, e tudo estava bem. Ele era castigado, recebia as pancadas destinadas ao seu irmão, chorava trancado em seu quarto. Cain recebia abraços, gratificações. Cain era tudo. Abel, nada”.

“Isso está diferente da Bíblia”, disse Eloy, horrorizado com aquela história, que tanto lhe era familiar.

“Você mesmo disse que não gostava da Bíblia, Eloy, por que se importa com isso agora?” Abel era bom com as palavras, usava-as como agulhas. “Escute a história, não vai se arrepender”.

A Voz continuou.

“Um dia, Abel se revoltou. Tinha a magia, sabia dela, mas nunca soubera como usar. Cain era poderoso, entretanto, mas isso não abalou a vontade do irmão rejeitado. Enquanto Cain dormia, Abel rastejou até seu quarto. Jogou-se sobre ele, cortou sua língua para que não pudesse mais falar mentiras. Suprimiu seus gritos com a magia; deu certo, para sua surpresa. Cain cuspia sangue, Abel cuspia ofensas. Golpeou, sem piedade, fincou sua estaca no coração do irmão, sugou dele toda a vida, a vontade, o talento. Este era seu plano. Algo deu errado”.

Os bonecos de madeira lutavam no palco, rolavam de um lado para o outro, trocavam golpes. Eloy se virou para Abel, na plateia, encontrou seu único olho focado em si. Abel tinha um sorriso diferente do convencional. Um sorriso malicioso. Um sorriso verdadeiro.

“Sugou tudo o que havia de bom, mas também de ruim. Tirou de Cain o sangue de sua família, o sofrimento, a dor, a morte. Tirou tudo. Então, a magia tirou tudo do próprio Abel, e sua raiva o consumiu. Ali, Cain morreu, mas voltou a viver, pois Abel roubou até mesmo a morte de seu irmão. Tinha de oferecer algo em troca, mas não tinha nada. Tinha ódio e descontrole, os perdeu. Perdeu também a morte, não conseguia controlar aquele poder. Os pais batiam à porta, apavorados. Abel gritava, Cain não conseguia”.

Eloy sentia o corpo tremer, tinha medo. Abel, entretanto, parecia excitado. Aquela história era terrível, mas parecia real, assustadoramente real. Os bonecos de madeira se destrinchavam; a Voz não parava de narrar.

“Tudo aquilo se uniu, era mais poderoso do que ambos, do que todos. Era irreal, não tinha forma, ainda assim era forte. E aquilo fugiu, escapou pela janela, deixou que os irmãos, que sequer tinham o mesmo sangue naquele momento, sofressem pela vida que escolheram. E os pais arrombaram a porta, entraram em desespero ao ver a desgraça de suas famílias. Castigaram Abel, jogaram-no para morrer num rio, mas Abel não era capaz de morrer. Rezaram por Cain, esperando que ele morresse em sua cama, mas Cain também não morreria”.

“Assim, separados, entenderam o que tinham feito para suas vidas. Abel foi tomado pelo ódio, Cain retribuiu. Entenderam que, enquanto aquilo que fugiu de seus corpos não retornasse, estariam incompletos, incapazes de seguir em frente. A mãe entregou sua vida aos deuses, pediu para que o céu lhe ajudasse, sacrificou tudo o que tinha em nome de sua crença. Morreu, e nada estava resolvido”.

Os bonecos terminaram seu confronto, ambos mutilados pela fúria. Caíram, inertes, rolaram pelo chão. O palco estava vazio.

“E aquilo que fugira também estava incompleto. Era poderoso, era maligno, mas nada poderia fazer enquanto suas facetas coexistissem. Precisava que morressem, que deixassem de existir, só assim se tornaria real. Tinha toda a ambição de Cain, toda a inveja de Abel, a maldade e o poder de ambos. Queria ser real. Precisava de sangue, de vida, de morte. Precisava reunir os irmãos de sangue distinto, que um dia foram gêmeos, fazer com que ambos se enfrentassem uma última vez. Precisava que a morte reinasse onde um dia reinou, que aquele que matou voltasse a matar. Eles tinham de morrer”.

Abel se levantou e aplaudiu.

As cortinas se fecharam.

“Entende agora, Eloy, o que a Voz esteve tentando lhe dizer todo esse tempo? Ou será que deveria chamá-lo de Cain?”

“Essa história não é verdadeira”, disse Eloy, mas hesitava. “Isso não pode ser verdade!”

“Vai fugir até mesmo disso, irmão? Vai negar a própria essência, os próprios erros de seu passado nojento?”

“E você, o que pretende? Vai dar a ele o que deseja, entregar nossas vidas para que essa coisa se torne poderosa?! Vai se entregar assim?!”

Abel gargalhou, estava completamente insano.

“Você não entendeu, não é? A Voz é poderosa porque NÓS fomos poderosos, Eloy. Ela precisa que nós dois estejamos mortos para que possa existir. Precisa de nossas vidas para se tornar real”.

“O que quer dizer?”

“O que eu quero dizer é que, caso apenas um de nós morra, ela nunca mais poderá existir. Aquele que sobreviver terá o poder de ambos, será o verdadeiro rei. Quer saber o que eu pretendo, Eloy?”

Eloy se horrorizou.

Abel abriu os braços, ergueu-os com violência. Todo o teatro se suspendeu do solo, pulverizado por uma força maior, atirado para o céu com uma explosão sem cor e sem forma.

“Eu pretendo matar você, irmão, e ter aquilo que você tirou de mim: a vida”.



Até a próxima!