segunda-feira, 2 de julho de 2012

Light Novel - Delirium - Caso 3 / Ato XV

Olá, companheiros.
Dando continuidade às postagens da Light Novel Delirium, e também em comemoração ao início do mês de julho, as tão esperadas férias dos estudantes (ou universitários como eu, que agora terão tempo disponível depois de seus trabalhos, haha). Trago-vos hoje o Ato XV, que nada mais é do que o primeiro ato do terceiro e último caso da LN. Vamos conferir?
Até a próxima!


Caso 3
Trevor Kraepelin

XV

Trevor ainda era inexperiente.
Estudando a psicologia e a psiquiatria, viajou por muitos lugares do mundo, mas a Alemanha o fez se apaixonar. Lá, obteve os melhores conhecimentos, o melhor aprendizado. Lá, cresceu como profissional, como homem, como humano.
Na Alemanha, Trevor Kraepelin descobriu a verdade sobre si mesmo, sobre os homens e sua natureza, e se descobriu como ceifador.
Estava em uma de suas andanças quando encontrou aquele pequeno fragmento do espelho da verdade. Os ceifadores são escolhidos, como descobriu algum tempo depois. No momento em que encontrou aquele simples pedaço de espelho, viu seu reflexo interno, seu verdadeiro eu.
Por um momento, pensou que enlouqueceria, mas não o fez. Pelo contrário, aceitou, pois assim tinha de ser feito. Poderia recusar, negar a verdade, fechar os olhos, espernear, mas de que adiantaria? Aquele ainda seria ele, de qualquer modo, e nada poderia mudar a realidade, então a aceitou.
Aceitando-a, tornou-se um ceifador.
Aprendeu devagar como unir sua profissão à sua mais nova habilidade. Entendeu, aos poucos, que os loucos não eram completos loucos. Muitos deles tinham transtornos, certamente, casos em que psiquiatras convencionais poderiam agir com seus estudos, como ele mesmo pensou um dia fazer. Entretanto, havia outro tipo de loucura: a loucura da verdade.
Quando um homem encontrava algo que abalava sua mente, algo que não conseguia explicar, tornava-se insano. Quando assombrado por uma criatura que não era capaz de entender, quando amaldiçoado por um espectro que sua visão de mortal não lhe permitia ver, enlouquecia de uma maneira diferente.
Muitos dos casos dados como perdidos pela psiquiatria eram responsabilidade de demônios, fantasmas e outras criaturas do tipo. Nestes, Trevor era a melhor opção.
Pois ele matava a loucura.
Assim, tornou-se um ceifador, um dos melhores, ainda que não conhecesse nenhum outro. Um ceifador era agraciado com a verdade, com a capacidade de entender e superar qualquer coisa, ao mesmo tempo em que era amaldiçoado pela solidão.
Conhecendo a existência do inferno e de todos os seus monstros, Trevor não poderia ter uma esposa, não poderia ter uma família. Ele era especial, diferente, e assim deveria ser tratado. Não conheceria outros ceifadores, não teria amizades ou laços.
Morreria sozinho.
Achou justo, e seguiu trilhando o caminho da purificação que muitos desconheciam.
Logo em seus primeiros casos, Trevor desenvolveu sua foice. Ela não era tão ameaçadora de início, logicamente, mas cumpria sua função. Matava sem pudor, sem hesitação. Nunca antes havia matado alguém, muito menos uma criatura, a menos que dissecar um sapo na escola pudesse entrar para a lista de assassinatos. Ainda assim, não teve dificuldade em aceitar esta nova verdade, pois aceitara algo muito pior, mostrado a ele no espelho da verdade.
Não tinha medo. O medo fora abandonado junto de sua inocência quanto ao mundo. Agora, era um guerreiro, um homem responsável pela sanidade dos ingênuos, por acabar com as criaturas que assombravam as pessoas. Não teria uma aposentadoria digna, mas sentir-se-ia bem, ainda assim.
De início, achou que jamais poderia se acostumar com tais situações. Cada caso que o alcançava era macabro, e a fama se espalhava por todo o território da Alemanha, citando seu nome como um psiquiatra que livrava da loucura que ninguém mais era capaz de livrar.
Por vezes, usava seu fragmento do espelho da verdade em seus tratamentos, o que nem sempre acabava bem. O fazia quando necessário, mas sabia que era arriscado. Perdeu muitos pacientes assim, mas era uma troca justa. Morriam, mas morriam livres, distantes dos tormentos que carregariam por toda a eternidade.
Morriam felizes.
Passados três anos, Trevor Kraepelin acreditou estar acostumado ao ato de ceifar a loucura monstruosa dos homens.
Até uma mulher bater em sua porta.

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