sexta-feira, 13 de julho de 2012

Crônica - Futuro ou Loucura?


Futuro ou Loucura?
                                                              
Ela me perguntou se eu podia ver o futuro.

Eu talvez pudesse, talvez não. Aquela mulher, no entanto, me ironizava. E, por me ironizar, tinha um anseio mais que inoportuno por me tirar do sério, para assim deslumbrar-se com minha raiva descontrolada, que seria descontada em sua pessoa de maneira desordenada, mal-educada, e assim seria eu o vilão, não ela. Eu falaria mal de suas palavras, ela se defenderia dizendo agir com ingenuidade. Então eu falaria que ela estava zombando de mim, e ela diria que não, e nós discutiríamos. A discussão atrairia muita gente, e essa gente toda me olharia com desaprovação, criando assim uma divergência sem tamanho e, possivelmente, forte o bastante para que durasse eternidades, por mais eternas que as eternidades pudessem ser. Aí então eu tentaria me desculpar, mas já seria tarde demais, e eu perceberia a armação quando a coisa toda estivesse contra mim, rolando numa avalanche caótica, e o sorriso daquela mulher ficaria ali, irônico em sua zombaria, e eu não teria mais sorriso algum. Todos aqueles cuja curiosidade ordenou que ficassem para assistir virariam as costas para mim, sem motivo justo ou razão de nexo aceitável, e eu então ficaria sozinho, eu e aquela mulher, e ela daria de ombros, provocante, deixando-me a controlar a vontade incomensurável de saltar sobre ela e esmagar a sua inocência malévola com os meus punhos, coisa que jamais faria, obviamente, por mais que, em todo meu devaneio de tirania, muitos agora pensassem que eu seria capaz. Aí eu iria embora, mas logo precisaria de alguém, mas esse alguém não estaria ali, pois ninguém mais estaria, já que eu havia me tornado um vilão em potencial, pois quem tem coragem para agredir verbalmente uma mulher cuja pergunta não foi respondida é capaz de fazer pior, de usar a força, de agir com brutalidade enfadonha de uma fera tão medonha como somente o homem pode ser, e esse homem seria eu, alvejado por todas as críticas, com dedos que miravam minha descrença e música melodiando as infindáveis ofensas que me quedariam. E eu vi mais, vi além, vi aquela mulher se fazer de vítima, se aproveitar de meu insucesso, discursar abertamente sobre o homem que a humilhou, mas o homem que a humilhou podia ser humilhado, e era, e eu seria por tantos anos, até que me esquecessem, ela mesmo me esqueceria, ela e todos os outros, e então eu deixaria de ser lembrado e apontado e alvejado por mentiras, me esconderia numa máscara da realidade fantasiosa e voltaria a viver, sem rumo, sem trilha, sem vontade de existir, e nunca mais ver o futuro, pois futuro algum existir na mente de alguém cuja finalidade é apenas ser esquecido e relembrado.

Ela me olhava sem entender, e eu disse que não, senhorita, eu não posso ver o futuro. Mas tome cuidado com o seu.
E fui embora.

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