quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Melancolia de Raymond - 6


VI

Um dia eu encontrei uma carteira abandonada.
Não estava bem abandonada, é claro. Ela estava no bolso de um cadáver. Eu sempre encontrava as coisas em cadáveres, corpos mutilados resultantes de um conflito ou de uma armação, mulheres violadas, estripadas ou simplesmente agredidas, outros similares. Geralmente eram coisas sem valor: pingentes, documentos, barras de cereais, nada de útil.
Naquele dia, encontrei cem dólares.
Decidi que compraria alguma coisa para minha mãe. Quando anoiteceu, saí com meu skate pelas ruas. As vitrines estavam acesas, propagandas enganosas de luxúrias que a guerra não permitia, que não eram úteis, mas que eram elegantes o suficiente para chamar atenção. Eu achava aquilo tudo enojado demais, mas era impossível negar que, por mais bizarros e inúteis que fossem, todos os produtos eram banhados num marketing que atrairia uma criança às lojas. Eu mesmo, um rato das cavernas, desprezível e fétido como tal, senti-me na tentação de comprar um perfume, uma roupa nova, qualquer baboseira que me fizesse sentir a vida outra vez.
A vontade passou rápido, por sorte.
Uma mulher me chamou. Ela tinha um sorriso de três dentes a menos, seios fartos e uma saia menor do que uma roupa costumava ser. Pensei que ela me perguntaria as horas, e eu não teria um relógio para saber, mas ela perguntou meu nome. Eu disse Raymond, e ela elogiou, disse que era um belo nome, que minha mãe soubera escolher, e eu fingi sorrir, mas sabia, bem no fundo, que o responsável por meu nome fora meu pai e não a minha mãe, apesar de não dizer isso a ela. Ela então ofereceu algo que eu não imaginava: sexo.
Sim, eu tinha dezesseis anos e era virgem.
Ela era uma prostituta, uma mulher com preço e sem razão. Disse que, em duas horas, poderia me transformar num homem totalmente diferente.
Eu era um garoto na puberdade, um verme de pensamentos escrotos e ereções involuntárias, alguém cujo braço direito poderia se fortalecer somente ao encontrar uma bela mulher de cachos louros-acinzentados. Eu era essa merda toda, e tinha cem dólares.
Aceitei sua oferta; aprendi com ela a foder. Ou talvez não tenha aprendido. Pelo preço, soube que ela me elogiaria, qualquer que fosse o resultado. Achei bom, talvez por ser a primeira vez. Estranhei somente o oral cujas lacunas nos dentes deixavam o vento circular, mas enfim, as escolhas eram poucas.
No final, ela voltou às ruas, e eu voltei para casa, sem presente nenhum para minha mãe.
Não me sentia um homem totalmente diferente.
Me sentia o mesmo verme, o mesmo merda, porém com oitenta dólares a menos.

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