quarta-feira, 4 de julho de 2012

Resenha - Deuses Americanos


Olá, companheiros.

Um mundo tomado por deuses de crenças e costumes. Criaturas sobrenaturais coexistindo no mundo real, carregada por antigos residentes de culturas distantes, atravessando mares com navios dentro da mente de tantos homens que acreditavam em suas existências. Uma guerra entre deuses antigos e novos, cultuados como mídia, internet e outros. Esse é o cenário criado por Neil Gaiman para a trama de Deuses Americanos, um épico que terminei recentemente e, agora, comento para vocês.
Acompanhamos Shadow em sua vida, que passa da monotonia tenebrosa da prisão para uma empreitada de mitologias diversas. Shadow foi condenado a anos de prisão por um crime que desconsidera e, quando próximo de sua libertação, é convocado para saber que sua mulher, Laura, morreu num acidente de carro junto de seu melhor amigo. A situação seria trágica, mas Shadow não se abala. Liberado da prisão, vai até o enterro, apenas para descobrir que ambos morreram por desatenção graças ao sexo oral que executavam no momento.
Vagando sem rumo, Shadow conhece um homem que se identifica como Wednesday, e é aí que as coisas começam a acontecer. Conhecendo pessoas cada vez mais estranhas, acaba por se envolver numa viagem de direções errôneas que, cada vez mais, força-o a acreditar em coisas que até então pareciam baboseiras de livros.
A narrativa de Neil Gaiman, um renomado roteirista de histórias em quadrinhos, é tão simplória quanto um script de páginas que serão desenhadas. É simples, sem descrições mirabolantes ou explosivas, mas extremamente funcional que, de tão eficaz, acaba por exaurir o leitor como se ele próprio estivesse presente durante as ações. O romance é enorme em termos de palavras, com um número próximo de 200.000, mas suas 447 páginas, um número não tão absurdo, contam com tantos acontecimentos sequenciados que é como ler um livro com mais de 1000 páginas. É tudo muito rápido e preciso, e o autor, sempre atento quanto aos detalhes, não deixa nenhuma brecha passar antes do desfecho, resolvendo todas as subtramas, resolvendo casos de personagens secundários e, ao mesmo tempo, relacionando-os com os personagens mais importantes, utilizando de alguns clichês, certamente, mas sempre com trechos carregados de originalidade e criatividade.
E por falar em originalidade, tenho de ressaltar a capacidade do autor de nos surpreender com termos já batidos, usando-os de uma maneira inovadora e ousada. Neil Gaiman não tem medo de ousar, como já foi provado em Sandman, Coraline e outras obras de sua autoria, mas Deuses Americanos é um belo exemplo dessa situação. Há casais homossexuais, relações sexuais, mortes sanguinolentas e diálogos cobertos de palavrões, mas nada disso parece forçado no cenário emporcalhado desenvolvido por ele. O cenário também é trabalhado com primor, apesar de ser o próprio Estados Unidos na maior parte do tempo. A riqueza de acontecimentos nos faz sentir o cheiro da ambientação, quase como se nós mesmos estivéssemos ali.
É claro que nem tudo são flores. Como em todas as obras, Deuses Americanos também tem seus pontos fracos, e vale a pena ressaltar o maior dentre eles: a confusão. Não é rotineira, mas acontece caso as páginas sejam lidas com desatenção. Graças à velocidade em que as coisas se desenrolam, temos que realmente nos concentrar na leitura para que não percamos detalhes importantes, o que aumenta o tempo necessário para o término do livro. Eu mesmo, que geralmente leio livros em tempo recorde, demorei bastante para terminar (ainda que parte disso se deva ao fato das provas de faculdade e outros trabalhos, mas enfim). Não é algo que atrapalhe, no entanto, já que a história é atrativa o suficiente para impedir o leitor de se afastar por completo. Você pode demorar para terminar, mas sempre vai querer voltar para Shadow e as loucuras que o circundam, pode ter certeza disso.
Concluindo essa análise, Deuses Americanos é um livro excelente. É bem diferente das leituras que outras obras nos propiciam, sem aquelas descrições garbosas de cenas e sentimentalismo exacerbado. Ali, todos são humanos e deuses, mas sempre agem como uma pessoa agiria em tal situação, seja no desespero, seja no aproveitamento do que lhe favorece. Ver tantos personagens entrarem e saírem de cena deixando suas marcas é uma coisa que acho fabulosa nos livros, e Neil Gaiman, renomado como é, se mostra um mestre na estruturação de enredos mais uma vez, porém agora com um romance de proporções épicas, distante dos quadrinhos costumeiros. Fica a dica para você que gosta de uma boa fantasia urbana e seus traços sombrios e sujos.
Até a próxima!

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