quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fios de Prata, de Raphael Draccon

Recentemente adquiri um novo livro do nosso ilustríssimo Raphael Draccon, autor renomado pela trilogia Dragões de Éter. Trata-se de Fios de Prata - Reconstruindo Sandman, uma obra cuja temática me agradou de imediato, lidando com os deuses do sonho e os planos místicos de suas existências, ao mesmo tempo em que assistimos a empreitada de Allejo (que os mais atentos logo perceberão ser uma referência clara ao ídolo de mesmo nome, um jogador de futebol virtual que se tornou famoso no jogo International Super Star Soccer Deluxe, de Super Nintendo). Como podemos presumir ao ler o subtítulo, Draccon escolheu a mitologia grandiosa criada/alterada por Neil Gaiman na obra Sandman para ambientar seu cenário, o que, por si só, já é uma ousadia sem tamanho, e garante parcialmente o sucesso da obra, afinal de contas, a temática sombria e a fantasia criativa de Gaiman são fabulosos!
Fica a dica para quem curte esse tipo de leitura! Logo estarei lendo essa obra e postando uma resenha aqui no blog, certamente, mas não percam tempo, adquiram já os seus exemplares e mergulhem de cabeça nos planos do sonhar!

Confira a sinopse aqui:
“Tu inspiraste Rowling, e foi nas terras de Morpheus que se moldou Hogwarts. Tu inspiraste Tolkien, e foi nas terras de Phantasos que se anexaram as extensões de Terra-Média. Tu inspiraste Lovecraft e em minhas terras se fixou Miskatonic. Então eu te pergunto com sinceridade, anjo: até onde vai tua vontade de ser coadjuvante em um mundo de formas e pensamentos?”

Até a próxima!

One Piece - Jogo de Browser

Postagem curta, somente para divulgar um projeto que achei muito bacana! Trata-se do One Piece New World, um jogo de browser da série de maior sucesso de todos os tempos, onde você pode criar o seu personagem, seja pirata ou marinheiro, e desbravar os mares do imenso universo de One Piece, enfrentando adversários criados por outros jogadores e ampliando suas características, ao mesmo tempo em que faz viagens para outras ilhas e muito mais! É um jogo simples, um mero rpg jogado diretamente no site, mas muito valioso para os fãs da série que desejam desenvolver personagens nesse universo magnífico.
Fica a dica para quem curte esse tipo de diversão. Confiram agora mesmo no SITE OFICIAL do projeto, e encontre AQUI o guia para iniciantes.
Até a próxima!

Conto - Tão Perto, Tão Distante

Uma semana sem postagens, e peço desculpas pela falta de tempo e de inspiração para os textos aqui do blog. Em breve teremos mais novidades por aqui, mas por ora trago a vocês um novo conto, bem pequeno e modesto, chamado Tão Perto, Tão Distante. Ele é meu suspiro pelo grande tempo que se passou desde a última vez que escrevi algo medieval, e realmente gostei do resultado, ainda que ele seja muito mais filosófico do que heroico. Bom, vejam o resultado logo abaixo, e espero que apreciem a leitura!
Até a próxima!


Tão Perto, Tão Distante

Ele não recordava nem mesmo seu próprio nome.
Quando abriu os olhos, o mundo todo pareceu novo. A realidade tinha cores que ele conhecia, seja no azul do céu ou no marrom terroso do solo acidentado, e também no alvo das nuvens e no negro de seus fios. Era tudo familiar, ao mesmo tempo em que perversamente desconhecido. Onde ele estava? Era seu mundo, seu lar, sua morada, ou talvez não fosse nada daquilo. Tudo era estranho, mas poderia ele ser o estranho ali, um homem que não fazia parte do grupo de tantos outros homens que respiravam —ou tentavam com todas as forças —ao seu redor.
Quase todos mortos ou mutilados.
Estendia-se à sua frente um jardim de corpos e destroços, e a terra se tornava barrosa e escarlate na mistura asquerosa que se fazia do sangue e do solo, e ambos eram um só, algo sem nome, sem escrúpulos, sem pudor. Braços e pernas, torsos e cabeças, armas e armaduras estilhaçadas por uma guerra cujas limitações se perderam muito tempo antes do mísero início.
E ele ali, no meio de tudo, sem que se lembrasse de nada.
Caminhou, no silêncio pavoroso daquela paisagem melancólica e sombria, buscando no odor da morte, na visão fúnebre de infindáveis vidas perdidas, memórias do que ele fora ou era ou deveria ser, mas nada. Tudo era caos e desordem, resquícios de um louco embate entre duas nações, duas forças adversas e poderosas, dois estandartes distintos, cuja união parecia inimaginável, e assim seria pela eternidade, ainda que os ideais e as metas se tornassem similares.
Foi quando ele viu, com seus olhos de cor surreal, o rosto que lhe fez perder a noção da vida.
Ela era linda, mas linda seria uma palavra de pouco efeito se comparada á beleza daquela mulher. Seus olhos brilhavam numa existência angelical, e isso o homem sabia ao vê-la de olhos fechados, adormecida, gélida atrás de uma mágica substancial, uma feitiçaria capaz para poucos e valorosos encantadores, uma prisão cristalina que manteria seu corpo ali, fervoroso na mais fria das superfícies, rumando para um congelamento que não a permitiria envelhecer, sorrir ou morrer.
Trajada em vestimentas tão suaves quanto a própria brisa, a mulher abraçava o próprio corpo, tomada por uma carícia que lhe permitia sentir a vida dentro de si, o sangue circulando vagaroso e frio, quase que inerte nas trilhas de veias, e assim ela ficou por muito tempo, os lábios arroxeando pela sensação, e assim ficaria por anos sem caso um herói de valor não a salvasse, sacrificando a vida numa empreitada que lhe permitisse afrontar a mágica que a cercava e retirá-la dali, garantindo uma nova vida àquela princesa de beleza sem igual.
O homem, imerso num território caótico, esqueceu-se de toda a morte, de todas as atrocidades que o circundavam, e a admirou, parado à frente do imenso cristal que aprisionava seu corpo, golpeando vez ou outra para ter certeza de que aquilo era real, de que ela era real, de que ele e todo o resto não eram somente um sonho confuso.
—Quem seria capaz de fazer isso?
Ele ouviu a sua voz depois de tanto tempo e estranhou. Ela estava mais grossa. Avaliando seu corpo, seus braços longos e suas cicatrizes, ele teve certeza de que era um adulto, um guerreiro de valor, talvez, um dos cavaleiros dos exércitos que se afrontavam. Quem era ele?
Algo se moveu no horizonte.
Com olhos despreparados, o homem aguardou até que a silhueta se tornasse reconhecível, e ali viu um cavalo a carregar uma montaria atirada em seu corpanzil.
A primeira vontade lhe dizia para correr até lá, oferecer ajuda, verificar aquilo —ou aquele —trazido pela montaria, mas não foi isso o que fez. Não o fez porque, mesmo em silêncio, a garota lhe dizia para ficar ali, ao seu lado, para não deixá-la sozinha, não mais, porque a solidão era ruim, mais fria do que todo aquele gelo que a aprisionava.
—Você está bem?
O homem sobre o cavalo não estava bem. Ele estava morrendo, com cicatrizes espalhadas por todo o corpo, cortes tenebrosos trespassando a armadura em destroços e órgãos vomitados pelo corpo torneado. Não estava nada bem, era fácil perceber. Não montava o cavalo, mas sim escorava seu sofrimento no dorso daquele animal, deixando-se levar no movimento rítmico das patas de sua montaria, que talvez nem mesmo fosse sua e sim de um dos incontáveis corpos que jaziam naquele lugar.
Ele se aproximou o máximo que pôde, e só então o desmemoriado viu que, nas mãos de seu companheiro, uma espada era carregada sem força alguma.
—Como pôde?
A voz do outro soava branda, dotada de vontade, mas não de capacidade. Ele morria.
—Quem é você?
—Não zombe de mim. Eu não disse que desisti.
Quem era aquele cara? As hipóteses eram muitas, cada qual tão improvável quanto a anterior, senão mais. Ele tinha uma arma.
O homem olhou para suas mãos, sentindo o peso do metal incomodá-lo.
Ele também tinha armas. Duas espadas longas, lâminas banhadas por mágica, radiantes na benção que as aturdia em nome de alguma divindade que ele sequer era capaz de se lembrar.
—Eu não entendo.
O homem carregado pelo cavalo vomitou sangue, e cada espasmo em seu corpo parecia causar uma dor que os mais treinados exércitos não seriam capazes de suportar.
—Então eu lhe farei entender.
Ele rolou no lugar, e o cavalo partiu, deixando-o cair com um baque que fez o outro oscilar, tamanho impacto que o estrondo dos ossos pareceu causar. Com um esforço sem tamanho, o homem quedado se pôs em pé, escorando o corpo no cabo da espada longa, as pernas tremulando. O outro se aproximou, ofereceu apoio, esticou os braços e foi repreendido, alvejado por um golpe sem força, sem vida, mas cheio de determinação.
—Você poderia me matar agora. Por que não o faz?
Ele não entendia. Por que mataria aquele homem? Ele sequer se lembrava de quem era, de quem era aquele cavaleiro, de que lugar era aquele.
Suas armas tinham sangue, mas ele não percebeu, ou não quis perceber.
—Por que eu o mataria?
—Pelo mesmo motivo que matou todos os outros. Desde quando você se preocupa com razão?
Algo estava errado. Tantos corpos, tantas mortes. Eram obra dele? As armas em suas mãos tinham sangue, realmente, mas um sangue de muitos, de todos. Ele tinha marcas, tinha o cansaço de quem lutara uma guerra.
—Eu não fiz isso!
O homem deslizou no lugar, a espada tombou e ele a acompanhou, os ombros estrondando nas manoplas de tantas outras ruínas de guerreiros. Sem forças, tossiu sangue para longe de si, virou-se para encarar o sol, os olhos semicerrados.
—Você não se lembra, não é? Você falhou.
—Eu... falhei?
Engoliu em seco.
Voltou seu rosto para a garota congelada, e só então sentiu o suor frio escorrer em seu corpo.
Correu.
O gelo esfriou suas mãos, que até então estavam quentes pela pressão nas armas. Deslizando os braços pela mágica, ele sentiu aquele carinho, aquele amor que tanto lhe fez falta, aquele sentimento capaz de validar as emoções e transformá-las em força, em vontade, em uma determinação capaz de cegar diante dos erros, fazendo com que toda culpa fosse esquecida, deixada para trás.
Atrás do gelo, a mulher chorava, incapaz de se mover.
E ele então lembrou.
Lembrou de si mesmo, de sua jornada em busca de resposta, em busca da salvação daquela que ele amou, daquela que conquistou seu coração de maneira irremediável, espalhando aquele sentimento na forma de uma doença sem cura, de uma praga que o assolou e destruiu, fazendo de sua vontade ruína. Ele a viu ser alvejada pelo caos, e a magia a aprisionou pela eternidade, mantendo-a congelada para que o tempo não mais corresse, e ele não teria o relógio ao seu lado durante a caçada pelo resgate.
Com lágrimas nos olhos, ele reviveu todos os momentos que o levaram àquele lugar: o mundo que o recepcionou como única opção de cura, a força que adquirira de maneira impensável, o pacto que fizera sem medir escolhas ou consequências, sem nem mesmo pensar. Tudo o que lhe fora oferecido fora aceito, não eram escolhas, eram obrigações. Ele avançou, tornou-se inimigo do mundo na busca incomensurável por aquilo que deveria inexistir, matou e matou demais, sem hesitar nenhuma vez, pois vida nenhuma lhe importava num cenário onde o amor que encontrara naquele anjo não mais existia.
E ele matou hordas e exércitos, livrou-se de generais, venceu os maiores heróis do mundo, e agora estava ali, tendo todo o sacrifício que lhe fora cobrado ao seu redor na forma de um banho de sangue, e sua esposa, sua razão de viver, ainda congelada para todo o sempre.
—Eu... falhei.
O general se arrastou até os seus pés, sem se importar com armas, com proteções, com nada. Ele morria, e não se importava nem mesmo com a vida.
Tinha sua última arma ali, nas palavras.
—Você fraquejou.
O homem sentiu-se tremer.
Abraçado à cela de sua amada, deixou-se chorar como criança, tomado pela responsabilidade de tantas vidas destruídas, de tantas famílias tornadas cinzas. Quantos não foram os homens que perderam suas esposas diante daquele desejo inviável? Quantas não foram as esposas que viveram na solidão conforme seus maridos jaziam em combate? As crianças, as escolas, os doentes; tudo era culpa dele.
Ele fora um vilão, ainda que agindo pelos próprios instintos.
Chorou sem que conseguisse parar.
—Eu falhei, meu anjo. Eu falhei.
O general, aos seus pés, sentiu-se satisfeito. Seu mundo estava morto, mas ele salvara ao menos uma vida da perdição. Após tantas décadas de guerras e conflitos, ele finalmente deixou-se descansar, exausto.
E o homem chorou, mas de que adiantaria o choro? Ele se perdera numa vontade de remediar o irremediável, de consertar um erro tendo como base tantos outros erros, passando por cima de inocentes por ver apenas a cegueira do egoísmo de seu único desejo de ter de volta aquilo que ele mais amava na vida.
—Eu te amo.
A mulher, dentro do cristal, o escutava, como sempre escutara. Por dentro, ela chorava num sofrimento irreparável, torturada ao ter de assistir o amor de sua vida agir de maneira impensada, de fazer o possível e o impossível para tê-la de volta, e ela não poderia culpá-lo. A dor que sentia não era pelo fato de vê-lo fazer tanto por ela, ainda que tudo fosse errado. A dor que sentia era ainda mais aguda, por imaginar-se na situação inversa, estando ela do lado de fora, sabendo ser capaz de fazer tanto quanto, senão mais, por ele. Tornar-se-ia vilã, de malícia sem igual, caso fosse isso necessário para ter de volta o amor daquele que um dia se declarou para ela com uma sinceridade que não mais se encontra.
Pensando assim, mantinha-se ali, gélida, sem que força de vontade alguma pudesse lhe libertar do mais simples dos encantos, cujas proporções se extinguiriam caso a crença da prisioneira superasse o desejo do mago que a alvejou; ao mesmo tempo, do outro lado das paredes cristalina, o homem mostrava uma força sem igual, mas de que lhe adiantou senão na contribuição da extinção de um mundo?
Eles estavam ali, lado a lado, tão pertos, mas nunca antes estiveram tão distantes, e assim teriam de sobreviver até que os dias infinitos chegassem ao fim.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

22ª Bienal do Livro de São Paulo



Maravilhado.
Foi assim que eu me senti quando andei pelos corredores tomados por pessoas na 22ª Bienal do Livro de São Paulo. Eu nunca havia visitado um evento de livros daquele porte, e ainda tive a oportunidade de fazê-lo de maneira especial: autografando Ragnarok - O Crepúsculo dos Dragões, livro que publiquei pela Editora Oráculo, no Selo Tecno Fantasy, após vencer um concurso de adaptação do quadrinho de mesmo nome.
Quem acompanha o blog já deve saber sobre o Ragnarok e a editora, mas não é esse o verdadeiro assunto da postagem.
Escrevo agora para desabafar a imensa satisfação de admirar todas aquelas estandes montadas unicamente no propósito de espalhar a cultura da leitura no nosso país. Não é segredo para ninguém que o Brasil não é o palácio dos leitores: pouca gente realmente gosta de ler. Pensando assim, ao ver o fluxo da movimentação no Anhembi naquele domingo, senti-me maravilhado como não esperava me sentir.
A sensação era realmente incrível!
Estandes e mais estandes de conteúdo variado, com livros para todos os gostos, faixas etárias e tipos de pessoas. Quadrinhos, romances, novelas, coletâneas, enciclopédias, menores livros do mundo, mangás, tinha de tudo lá! Eu me perdia, não pelo mapa organizado do lugar, mas eu me perdia ao girar no lugar, sem saber para onde olhar, o que ver primeiro. Tomando cuidado para não perder meu horário na estande da Oráculo/Delicatta, viajei em infinitos mundos pelas capas de infindáveis livros, cada qual mais bonito e marcante, e soube de imediato que, se pudesse, compraria muitos deles, até que não mais coubessem em minha casa.
Lá, vi também crianças, e isso me deixou admirado demais. Muitas delas se sentavam para ler ali mesmo, nos corredores, sem atrapalhar a passagem dos transeuntes. Elas abriam os livros recém-comprados pelos pais, apontavam as páginas, liam algumas em voz alta ou somente no pensamento, mas liam, e gostavam de ler. Eu não sei explicar o que senti naquele momento, mas aquilo me irradiou, enchendo de inspiração e de vontade de escrever. Estar naquele lugar, naquele mundo, foi a melhor coisa que poderia me acontecer. O "cheiro" da cultura, das ideias, da criatividade e da imaginação, tudo aquilo era tão fantástico que fazia qualquer um desejar cada vez mais fazer parte daquele mundo.
Assim, entre autores renomados ou veteranos de guerra, já acostumados com a batida violenta de nosso país, e novatos (como eu), autores de pouca experiência e escritores cujas portas ainda não forma abertas, vi o anseio das palavras circular como mágica, desejos oprimidos liberados em páginas e mais páginas em branco, contos e histórias narradas com primor por pessoas que enxergam muito além do que o mundo mostra e, ao mesmo tempo, apoiam todos os demais a admirar o mesmo que ele foi capaz de ver.
Eu poderia falar sobre a boa organização do evento, sobre a simpatia dos integrantes das estandes de grandes editoras e dos autores com maior experiência, sobre a recepção calorosa de autores que distribuíam autógrafos e auxiliares responsáveis pela divulgação de grandes projetos, do mesmo modo que poderia criticar a demora da praça de alimentaçaõ e do preço de certos alimentos, mas aqui, nessa postagem, eu não sou um crítico. Não faço uma resenha, não faço uma análise do evento.
Eu desabafo, aqui, toda a magnificência que encontrei na Bienal do Livro nesta data.
Essa foi a primeira, mas certamente participarei de todas as próximas, mesmo que somente para circular nas estandes e ver, outra vez, toda essa paixão pelos livros. Aproveito a postagem para agradecer imensamente ao pessoal da Oráculo, Claudio Muniz, Mariana Travieso e Jussara Gonzo, pela simpatia que me ofereceram na estande durante o tempo em que permaneci por lá. Agradeço também a todos que passaram por lá e comentaram, fotografaram ou mesmo curtiram os exemplares de Ragnarok disponíveis sobre a mesa. Eu não atraio centenas de leitores, mas os poucos que cruzaram a estande me deixaram felizes demais, tendo certeza de que escrever foi a melhor escolha que eu já fiz.
Para os veteranos da escrita, meus sinceros agradecimentos. Vocês são espelhos, tanto para os novos autores quanto para as crianças que apreciavam o evento e os livros, por mais que algumas delas sequer soubessem ler com perfeição.
Para nós, novatos, o caminho pode parecer árduo, mas não há prazer maior do que ver que, no topo, há uma recompensa grandiosa esperando, e todos têm competência para alcançá-la. Que sejamos fortes para nunca desistir!
Até a próxima!

Resenha - O Coletor de Almas



Uma garota com poderes mágicos, que carrega consigo um artefato cujas habilidades ainda são um mistério; um homem que porta um remo e coleta almas, acompanhado de um fantasma que o auxilia em sua missão; um vulto noturno que executa reis e os decepa, guardando as cabeças como um troféu a ser ostentado.
O que tais estranhezas podem ter em comum?
É essa a história que O Coletor de Almas, o mais novo lançamento de Douglas MCT, autor da série Necrópolis e seu primeiro livro, A Fronteira das Almas, vai nos contar. Com um linguajar muito mais simples e um estilo gracioso de se narrar um conto tão sombrio quanto a franquia criada pelo autor, OCA (como foi simpaticamente abreviada) nos apresenta a Terra Oca, o primeiro ambiente a ser explorado nas páginas da trilogia As Viagens da Peregrina do Tempo e da Terra, à qual pertence este livro que aqui resenho.
E o que OCA tem de tão especial?

Ele é cativante, ainda que ríspido e chocante em certos momentos. Enquanto desbravamos o imenso e complexo mundo desenvolvido pelo autor, encontramos personalidades de passagens velozes, personagens que surgem como se saídos da terra, mas que se mostram tão importantes quanto nossos protagonistas. E por falar nos protagonistas, é impossível encontrar neles uma presença de maior importância, por mais que o título deste primeiro volume cite um dos integrantes da tríade. Cada um deles tem sua função, sua missão nesse mundo grandioso, e eles acabam por se encontrar num momento inoportuno, cuja situação parecia irremediavelmente improvável.
Deixando um pouco de lado os protagonistas, podemos encontrar o favoritismo nos personagens secundários, como citei anteriormente. Alguns surgem de súbito, outros com maior desenvolvimento, mas todos eles têm suas histórias, cada qual representando-a conforme a complexidade da região que reside ou daquilo que lhe ocorreu no passado, geralmente sujo e perverso. Entre todos os membros das "forças do mal", não encontramos um vilão em potencial, o que caracterizo como grande marco de uma obra de fantasia. Vilões são personalidades fracas, cujo sentido da vida se direciona às maldades contra aqueles que se dizem bonzinhos, mas todos nós sabemos que a vida não é bem assim. Antagonistas, estes sim são as verdadeiras lendas das páginas de um livro, e é isso o que encontramos em OCA: personagens com definições próprias de certo e errado, de justiça e caos, cujos ideais muitas vezes diferem daqueles em que os protagonistas acreditam.
E o cenário, ah, não poderia deixar de comentar sobre ele! Anteriormente, na resenha que fiz sobre Necrópolis, citei uma característica que muito admirei na escrita do Douglas: sua criatividade. Imerso num mundo de vida própria, a riqueza de detalhes que nos cercam faz com que acreditemos que tudo aquilo realmente existiu, ou existe em algum lugar por aí. Por mais que certas histórias tenham ficado para mais tarde, todas as localidades são apresentadas de maneira ágil e eficaz, cada qual com seus nomes e históricos, e os personagens que por ela passam se mostram familiares, ou dispersos, como quem reside ou explora pela primeira vez, caso em que o leitor também se encaixa.

Alguns podem apontar a falta de detalhes nas descrições como um defeito, o que eu julgaria tolice. Obviamente, em comparação com Necrópolis, OCA é mais veloz e simplório, mas isso é algo que eu acredito motivar mais leitores a se arriscar nas páginas. Alguém com tempo livre pode ler o livro em uma tarde, se motivado, no máximo dois dias. Mesmo eu, com trabalho, faculdade e textos para trabalhar, consegui terminar a obra em três dias, o que é um bom sinal. E ainda garanto, o desfecho é agradável, ainda que te deixe com um estranho gosto de curiosidade pela continuação.
Não poderia deixar de comentar sobre a capa também, um trabalho magnífico, cuja arte e o traço recordam bastante os quadrinhos de Hellboy. Fica aí minha recomendação, incitando todos aqueles que ainda não tiveram contato com o livro a adquiri-lo pela Editora Gutemberg, e assim terão uma leitura prazerosa e admirável.
Em breve estaremos recepcionando a chegada de A Batalha das Feras, o segundo volume da série Necrópolis, com data de lançamento marcada para setembro, na Fantasticon. Fico aqui na torcida pelo sucesso de mais essa obra do Douglas!
Até a próxima!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Animes - Hajime no Ippo New Challenger


Eu adoro boxe.
Sério, adoro mesmo, tanto que já pratiquei e agora pretendo voltar a praticar logo. Mas esse não é o assunto da postagem. O verdadeiro assunto é sobre um anime que até hoje julgo meu favorito, o qual abandonei tempos atrás na esperança de que saíssem vários episódios, mas me enganei. Hajime no Ippo foi uma série que me marcou por completo quando a vi, percorrendo a estrada de seus 76 episódios, um OVA e um filme na mesma velocidade dos punhos de Ippo, aprendendo muito do que sei hoje e admirando demais o trabalho do autor, que certamente precisou de uma enorme pesquisa para criar os personagens e seus estilos de luta, todos eles baseados em caracterizações reais, personalidades do boxe e golpes que marcaram época na história das lutas de ringue. Após o término dessa série, cinco anos se passaram antes que a segunda temporada (em termos, já que a primeira leva de episódios marcou três temporadas de 25-26 episódios) fosse criada, e esta é New Challenger, a continuação direta de Hajime no Ippo, agora apresentando uma nova fase dos personagens e alcançando até a luta pelo campeonato mundial de Takamura, o que, no mangá, é encontrado nos arredores do volume 40.

Ah, sim, o mangá de Hajime no Ippo sai até hoje, com cerca de 90 volumes publicados no total, chegando quase aos 1000 capítulos. A série não vende como antes, obviamente, mas ainda tem seus fãs fiéis e adeptos que a utilizaram como escada para se render à prática do esporte. É uma saga que tem muito o que contar, deixando de lado os fillers criados nas animações para que o mangá possa se distanciar do anime, e tudo é muito bem feito! As lutas são impressionantes, bem como o roteiro em si, com a história de vida de cada personagem sendo apresentada de maneira única e exclusiva, o que nos deixa sem saber o que é certo e errado, quem merece realmente a vitória e, antes do último gongo soar, quem será o vencedor.
Uma das coisas que mais me deixa feliz em Hajime no Ippo são as surpresas. As coisas acontecem de maneira inesperada, e muitas vezes o resultado é chocante! Os protagonistas, geralmente imbatíveis e inalcançáveis, perdem. Sim, eles perdem, como quaiquer humanos podem perder em qualquer esporte. Eles perdem e continuam a lutar, treinam e fazem o possível para superar os obstáculos, crescem como pessoa e como lutadores, e nós, espectadores dessas histórias, crescemos junto deles, tendo os personagens como exemplos de superação e determinação para todas as situações da vida, e não só para o treino de um determinado esporte ou estilo de luta.

Quando alcancei o 26º episódio de New Challenger, o último dessa temporada lançada em 2009, eu me decepcionei. Não pela qualidade, jamais, o anime continua no topo de minhas séries, liderando o meu favoritismo. Me decepcionei ao ver que essa série que tem tudo para ser a melhor série de todas e conquistar tantos outros fãs terminou ali, e até então não teve sua continuação anunciada, apesar de rumores dizerem respeito a uma terceira temporada que daria continuidade ao fim de New Challenger. Há muitas outras histórias para contar, muitos personagens para dar as caras e mostrarem os plots trabalhados pelo autor, mas ainda assim a animação é feita sem pressa ou ânimo. Ao menos a qualidade está lá, sempre, e tenho certeza que, quando a nova temporada chegar, ela vai surpreender e garantir arrepios como todos os demais episódios garantiram.

Hajime no Ippo é um marco das animações esportivas, e também um shonem de excelente qualidade, o que não deveria necessariamente afastar o público feminino. Acompanhamos o crescimento de Ippo e sua timidez, assistindo-o tentar conquistar a garota que ele gosta, chamar sua atenção, manter suas amizades e rivalidades e superar todos os desafios que lhe são impostos, tudo isso enquanto fulmina os sacos de pancada nos treinamentos da vida. Se você ainda não assistiu a série principal, não sabe o que está perdendo! São episódios que mostram tantos exemplos de vida que nós sequer sabemos o que fazer depois de assistir, e o fôlego até falta em diversas cenas. As lutas podem parecer óbvias, mas as reviravoltas são imensas, e muitas vezes eu me pegava torcendo para um personagem como se luta real fosse, cerrando os punhos junto dele na intenção de motivá-lo a vencer um combate cujo resultado fora decidido muito tempo antes pelas mãos de um incrível mangaká.
Recomendo com todas as minhas forças o boxe, seja no Hajime no Ippo, seja nos treinamentos para a vida. É um esporte que garante saúde, bom condicionamento físico e te livra do stress sem garantir aquela agressividade que alguns estilos de luta causam nos instruendos. Sou suspeito para falar, mas dê uma chance em uma aula gratuita, garanto que não vai se arrepender!
Até a próxima!

Filmes - Cada um tem a gêmea que merece



Adam Sandler é um dos atores de filmes de comédia que mais admiro atualmente. Depois dos marcantes 'Gente grande' e 'Esposa de Mentirinha', os roteiros que esse cara se envolve ganharam, ao menos para mim, ganharam diversos pontos de respeito. Seus filmes sempre garantem boas risadas de maneira ingênua, com piadas e comentários sem abuso, poucas apelações (ainda que elas existam) e cenas extremamente criativas, aquelas que você assiste e se impressiona, rindo mesmo depois que o filme acabou, quando você comenta com os amigos que também assistiram e todos caem na gargalhada.
Assim sendo, dei uma chance ao 'Cada um tem a gêmea que merece', também do Adam Sandler e, para minha surpresa, me decepcionei.
O filme não é ruim. Ele tem seus bons momentos, garante algumas risadas e apresenta uma situação que talvez sirva de lição de moral para uma grande quantidade de gente, mostrando a relação de irmãos que cresceram juntos, sempre felizes, e então se distanciaram devido ao crescimento forçado da fase adulta, o que realmente existe. O tema escolhido foi excelente, mas as cenas não são tão agradáveis quanto poderiam ser, e muitas situações ficam com um humor forçado demais, aquele que você assiste e, além de não rir, ainda fica pensando em que merda estão fazendo naquela produção.
É óbvio que nem tudo é perdido. Uma única passagem de cenas, onde a irmã do protagonista passa um dia num acampamento com seu candadidato a namorado, é suficiente para garantir muitas risadas. Além disso, temos a ilustre presença de Al Pacino e suas ironias com O Poderoso Chefão, e a participação especial (e rápida, durante uma única cena curta e ineficaz) de Johny Depp, um dos atores mais renomados da atualidade.
Cada um tem a gêmea que merece é um filme de comédia que traz mais cenas de drama pessoal do que risadas, mas é válido como experiência, ainda mais para aqueles têm situações de vida semelhantes, um bom (ou mau) relacionamento com irmãos ou, em especial, é gêmeo. Não vou deixar aqui a grande recomendação que tenho costume pelo fato de ter me decepcionado um pouco, mas isso pode ter sido causado pelo fato de ter esperado demais do filme após assistir às produções anteriores nas quais o Adam Sandler participou. É um bom filme, talvez, mas se você procura por uma comédia de nível elevado, procure por Gente Grande e terá garantia de muitas outras risadas.
Até a próxima!

WN - Baile de Espíritos - 8


VIII

Era um casal apaixonado.
Abraçados, unidos pelo grande desejo daquele abraço, apertando-se um contra o outro, alegres, felizes, temerosos. Os corpos estavam unidos, os lábios bem próximos, as respirações, quando existentes, sentidas na pele do outro. Não havia nada senão amor, nada além de um sentimento inexplicável, que tem nome mas não forma, que tem cor mas não razão. Sem sentido, somente impulsos, assim eram eles, únicos, amantes, viventes.
Cadáveres.
Eu os encontrei no terraço de um edifício baixo. Os fantasmas estavam próximos, as mãos unidas, os dedos entrelaçados, os olhos serenos. Os corpos amorfos e espectrais vivenciavam por vezes a fuga desajeitada, a corrida incomensurável pelas escadarias, a porta que impediu a liberdade imediata, o ar que os recepcionou quando alcançaram o terraço.
Eu vi, nos olhos daqueles fantasmas, a tenebrosidade do ato que deu fim à vida de ambos.
Ciúmes, ou nada mais. Inveja da felicidade dos dois, uma felicidade que não poderia existir em meio àquele mundo caótico. Pelos sorrisos, pela alegria, os amantes pagaram um preço que pessoa alguma poderia pagar.
Morreram juntos e, como amantes, amavam.
Ficariam assim, unidos e apaixonados, por toda a eternidade, até que o infinito tornasse-se finito. Ficariam ali para sempre, ou mesmo até que o para sempre chegasse a um fim. Os momentos se passavam, girando os ponteiros dos relógios de maneira descontrolada, e as horas voavam, os dias terminavam, mas eles ainda estavam ali, unidos, amantes, amáveis, amando.
Sentada sobre uma saída da tubulação de ar, pude vê-los se desesperar quando o céu negro fez ventar, e o vento era peculiar. A brisa ríspida tornou-se um sopro voraz, trouxe consigo a morte aos mortos, o extermínio, a última passagem pelos portões do deixar de existir. Eles gritaram seus nomes, mas não pediam por ajuda.
Queriam ser lembrados, apenas.
Não seria eu a lembrar, infelizmente. Eles gritaram seus nomes antes de desaparecer, então se foram, dessa vez para sempre, e nunca mais retornariam, nem vivos, nem mortos, mas esquecidos, deixados para trás, tornados passado e não futuro.
Eu os recordaria, ao menos por alguns segundos.
Em lágrimas, vi-os dissolver no vento fúnebre, despedindo-se com um silvo de lamúrias, e então os esqueci e parti, sem que nada daquilo alterasse meu viver.
E eles desapareceram para sempre e, como sempre, unidos. Apaixonados; amantes, amáveis, amados.
Amando.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

WN - Baile de Espíritos - 7


VII

Abri a porta da direita.
Crianças.
Eu não soube contá-las. Eram muitas, e eu sequer suportava aquela visão. Estiradas no solo, umas sobre as outras, todas mortas, carbonizadas, aos pedaços. Foi uma chacina. Quem quer que fosse o responsável por tal ato, tornara-se para mim o pior dos monstros, o que não era exatamente uma surpresa.
O pior dos monstros, em todas as ocasiões, é sempre o ser humano.
Eu as via ali, circundando os corpos numa brincadeira, e logo soube que era exatamente aquilo o que faziam antes da morte as exterminar. Seus espectros tinham as mãos unidas, saltitavam e cantavam uma melodia cômica, dançando no ritmo de suas vozes animadas. Elas sequer perceberam a morte chegar, ainda que a dor fosse imensa. O fogo as consumiu, destruiu seus corpos, mas não foi capaz de alcançar a felicidade que aquelas crianças resguardavam dentro de suas almas.
O cheiro de carne queimada ainda estava no lugar. Havia marcas de mãos enegrecidas nas paredes, ilustrando o desespero de uma morte vagarosa, retratando o sofrimento daquela juventude que respirou a fumaça da própria carne, fumegando da pele ao teto baixo, sentindo o aroma mortal do inferno que lhes aturdia.
Acima, com as mãos unidas, os fantasmas giravam e giravam, sem parar.
Percebi que eles choravam, mas era um choro de alegria. Sorrisos e lágrimas, lado a lado, e assim seria a eternidade. As formas verdejadas de seus corpos vivenciavam o que a malícia dos criminosos não permitiu que continuasse. Eu ouvia seus gritos, o pavor em suas vozes, mesmo que a sonoridade da alegria dos espectros fosse maior naquele momento. Eu pude ouvi-los morrer, gritar por suas vidas, chamar pelos professores que, no cômodo ao lado, também morriam, sem escolha.
A porta se abriu num baque, e a brincadeira cessou de uma vez por todas.
Eu não entendia aquilo que estava acontecendo. Não entendia quem era aquele caçador, o vento escuro que devorava os espectros, não entendia nada. Até então eu fugia, mas ele estava sempre por perto, se alimentando, devastando as inexistências. Até então, não senti raiva ou medo, apenas receio pelo desconhecido.
Naquele momento, enraiveci-me, pois o sorriso das crianças desapareceu de imediato, e o vento as carregou para longe, para o abismo, para o fim.
Eu queria ser útil, mas não era. Era somente mais um corpo, apenas outro cadáver.
Não era nem mesmo um espírito.
Eu as ouvi gritar e, em lágrimas, deixei-as desaparecer atrás de mim.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

WN - Baile de Espíritos - 6


VI

Encontrei uma creche por acaso.
Todos os seus cômodos estavam vazios, exceto por duas portas fechadas. Esquerda e direita, e eu temia ambas, sem entender. Toquei cada uma delas, sentindo a lamúria que jazia além da madeira, e não soube o que fazer.
Abri a porta da esquerda.
O quarto cheirava carniça. Havia sangue nas paredes e no chão, misturado aos pedaços das professoras, todas nuas e estripadas, revelando o abuso insano que ocorrera naquele local. As almas vagavam por sobre os corpos, deslizando pelo teto e debatendo-se contra as paredes, incapazes de raciocinar ou de fazer algo além de gritar pela dolorosa morte que receberam.
Entre os vultos brilhosos que me rodeavam, eu pude ver o ocorrido, e percebi-me chorando no mesmo instante.
Bandidos, magos e não-magos, todos eles sedentos pelo sexo que somente aquelas mulheres ingênuas poderiam lhes oferecer. Eles mataram, mas antes de matarem cortaram e abusaram, pois queriam ouvi-las gritar, chorar, gemer conforme o ato era feito, ganir como cadelas diante da penetração forçada. Amarraram seus braços, estupraram sem piedade alguma, forçaram suas virilidades contra os corpos inocentes das mulheres que só desejam ensinar.
Depois, mataram, e mataram sem temer, para que nenhum resquício das lembranças revoltadas daquelas mulheres pudesse compreender o que ocorrera antes de suas mortes. Os magos sabiam o que fazer. Sabiam que corpos mutilados significavam almas mutiladas, almas incapazes de buscar vingança, de se recordar do desastre, de reagir à malícia.
Por um momento, eu achei melhor que elas não pudessem se recordar.
Em lágrimas, assisti enquanto o vento negro invadia aquele cômodo, destrinchando as almas como se faz aos porcos no abate. Daquela vez, não tive medo do vento obscuro. O medo era fraco ante a dor. O medo era nada diante da tristeza.
Por dentro, eu queimava num pranto que meus olhos não poderiam despejar.
Assisti a um tufão de lamúrias, e ali havia sorrisos. Elas finalmente estavam livres do castigo de vagar sem nada saber, de existir somente pela dor, pela raiva, pela desgraça de suas vidas passadas. Ouvi algumas delas agradecerem, e essa foi a única coisa com sentido que pude extrair daquele amontoado de grunhidos desconexos.
Fechei os olhos, fechei a porta, fechei a mente, e deixei que tudo aquilo me abandonasse.

WN - Baile de Espíritos - 5


V

Encontrei, num beco escuro, um garoto sonhador.
Já era tarde para sonhar, no entanto. A mente que um dia trabalho tão veloz, tão criativa, agora estava perfurada por um disparo nada acidental. A arma em suas mãos ainda fumegava quando eu cheguei, mais pelo frio do que pelo ato. Quedado contra o solo, o garoto tinha saliva a escorrer de seus lábios, sangue de seu rosto e sonhos de seus pensamentos. Tudo jorrava ao mesmo tempo, tudo se perdia ao mesmo vento, tudo era levado numa única respiração.
Ele estava ali, com os braços cruzados, observando seu próprio corpo atirado ao solo. O espectro tinha, da mesma forma que o cadáver, uma grande perfuração na testa, o suicídio que preferira ante o afrontamento de seus problemas.
Pelo pranto de seus olhos atônitos, eu ouvi a razão de sua escolha.
Ele gostava de coisas simples, mas ela não era nada simples. Ela era complexa. Ela era linda, atraente, inteligente, e complexa. Nunca a entenderia, não precisava. Precisava dela como ela era: perfeita.
Uma noite, a única noite que tiveram inteiramente para si, ele a tomou como mulher. Perfeita, como sempre imaginou. Perfeita, como tinha certeza. A madrugada os assolava com sono, mas o sono não lhe privaria de tê-la ali, ao seu lado, na única oportunidade que ele teria na vida. Do céu negro à manhã clara, ele a fez mulher de verdade, sentiu-se homem, não garoto. Foi feliz, feliz por amar, pelo ato do amor, pelo amor em um ato.
Oito horas era o fim; eram sete e cinquenta e nove. Ele gostava de coisas simples. Gostava de relógios. Gostava dos ruídos que os relógios faziam ao mover os ponteiros. Naquele instante, tudo o que queria era que o tempo parasse, que voltasse às quatro da manhã, que nunca mais voltasse a correr. Queria parar de respirar, queria que o mundo parasse de girar.
Ele a amou demais. Sequer percebeu que ela não mais vivia, levada pela praga que escondeu de seu príncipe.
A necrofilia o abalou. O garoto sonhador não mais sonhava; tinha pesadelos. Ouvia os gritos apavorantes da donzela que amou, era monstruosa. Ele quis o fim, e o fim o teve.
Quando ouvi o vento escuro, me escondi, temerosa, mas o garoto não o fez. Ele aceitou com os braços abertos, sem sorrir, mas também sem chorar. Aceitou, de olhos fechados, de mente preparada; aceitou.
O silvo o carregou para longe, devorou-o sem deixar vestígios para o mundo.
Para mim, no entanto, aquela dor estaria presente para sempre, como a mais profunda das cicatrizes.

domingo, 12 de agosto de 2012

WN - Baile de Espíritos - 4


IV

Escutei as sonoras pancadas de um martelo gracioso.
Ninguém trabalhava, não mais, mas ali, tempos antes, um homem trabalhou. Seu corpo caía sobre o balcão, inerte, os olhos saltados em órbitas, o sangue fresco nos lábios. A mágica perfurar suas costas, deixando correr livre a brisa mórbida que ficara presa naquele estabelecimento.
O espectro do marceneiro batia um martelo contra a madeira.
Nunca mais poderia ele esculpir sua arte, criar as filhas que jamais tivera a oportunidade de gerar. Ali, ao lado do corpo e do fantasma, incontáveis imagens lapidadas na madeira ilustravam garotas sorridentes, meninos abraçados a seus brinquedos, filhos artificiais, incapazes de sorrir ou chorar, mas ainda assim merecedores de carinho.
Nas batidas do martelo preciso, escutei do marceneiro seu conto sofrido.
Ele se apaixonou, quando jovem. Amou, perdido nos beijos e nos desejos, tomado pelo anseio de uma paixão fervente. Amou, amou com todas as forças, e ela também o amava assim, ou talvez não. Eles queriam filhos. Não que fosse uma bela escolha, o mundo não os acolheria como deveria, mas eles os desejavam. Descobriram, tempos mais tarde, que o marceneiro era uma árvore sem frutos, e ele chorou, infeliz, e ela não o agraciou, e sim partiu, abandonando-o, deixando para trás o sofrimento, esquecendo-se do amor, livre da responsabilidade, da virtude, de tudo.
 Ele viveu, até então, fez o seu melhor para suas filhas de madeira. Era um pai solteiro, um pai sem crias, um pai infeliz, mas um pai.
E pais não sobrevivem à guerra.
O amor extinguiu a vontade daquele homem, e ele partiu sem dor, sem se incomodar. Perdera muito antes o que tinha de mais especial. O resto não lhe importava.
As portas da loja se abriram com um sopro sobrenatural, e o espírito do marceneiro deixou seu martelo cair, dissipando-o ainda no ar. A noite penetrou a loja de maneira áspera, fez cair todas as filhas do pai infértil, deixou-as partir no chão. Ele fugiu, se escondeu, mas viu seu sonho ruir e, assim, entregou-se, devorado pela sombra.
Eu senti o frio da morte daquele homem. Ouvi seu grito ao deixar de existir.
Ouvi o grito de milhões de almas.
Por último, ouvi o silêncio de meu medo.
Era alto demais.

sábado, 11 de agosto de 2012

WN - Baile de Espíritos - 3

Dois atos seguidos, para compensar os dias que fiquei sem postar.


III

Havia um jardim repleto de flores.
Todas elas estavam murchas, sem vida e sem cor. Todas elas carregavam esperança, mas a esperança era inútil quando não se tinha mais nada.
Sobre as flores, jazia o corpo de uma bela criança.
Seus cachos foram louros, um dia. Agora, não mais brilhavam, não mais pareciam lisos. Eram cabelos de um cadáver, decompondo-se enquanto o corpo se preparava para se tornar cinzas. Os braços estavam abertos, as pernas manchadas pelo sangue negro. Eu pude ver seu sangue cintilar, um vislumbre da imagem que um dia existiu, os cortes que deixavam jorrar o sangue rubro por sobre as flores, contaminando-a, impregnando o mundo que já estava enojado de imundice.
Eu me aproximei, e então ouvi-la cantar.
Ela estava ali, sentada sobre a amurada daquele jardim, olhando para as flores e para a lua. Espectral, como fora o homem enforcado, desenhava com os dedos infantis figuras de constelações, pintava as flores em seus olhos foscos. Ela cantava com emoção, cantava uma canção belíssima, perdida nos agudos, desafinando; nem mesmo assim sua música se tornava ruim.
Era apaixonante.
Com os olhos, com a música, ela me contou sua história.
Eu a ouvi cantarolar sobre sua mãe, aquela que durante anos cultivara aquele jardim. Ali, nas cores, tinha ela a tola esperança de ver seu marido retornar, e a garota a auxiliava, escorando o sofrimento da mãe no perfume das últimas flores do mundo. Quando a mãe se foi, imersa na loucura da solidão, ela ficou ali, sozinha, e as flores então foram suas companheiras, a sua esperança, como antes foram de sua mãe.
A esperança não a ajudou quando foi necessário, no entanto. Diante do caos da guerra, da malícia do homem e da obscuridade da existência, a garota desfaleceu, usada como objeto, abandonada como um brinquedo.
O espectro parou de cantar.
A noite estava ali, acima de nós, mas também ao nosso redor.
A noite se movia, silvava.
O escuro se moveu trovoou sobre a amurada, como vento negro que era, levou consigo a garota sem vida. Tentou levar também sua esperança, mas essa já não existia.
Não na garota, não no jardim, sequer no mundo.
Talvez em mim ainda existisse até então, adormecida nos confins, hibernando na espera de que tudo voltasse ao normal, de que outra vez pudéssemos respirar o mesmo ar que antes fora tão puro.
Quando o vento negro se foi, levara consigo o espírito da garota, seu corpo, suas flores murchas e, também, o que restara de minha esperança.

WN - Baile de Espíritos - 2


II

Eu encontrei um homem enforcado.
Seus pés balançavam ao vento. A pele já estava cinzenta, rasgada pela fome de corvos e urubus. Cheirava a carniça, ou algo pior. A corrente em seu pescoço era um tormento, extinguindo sua vida sem dificuldade, deixando-o ali, dependurado num poste de iluminação, sacolejando ao vento.
Quando dei por mim, ele estava ao meu lado, translúcido e fúnebre. Tão morto quanto eu, tão morto quanto seu corpo abandonado, porém espectral, fantasmagórico e assombroso.
O homem enforcado choramingava sua história, e eu a escutei.
Ele era um trabalhador. Tinha uma família, uma esposa e uma filhinha adorável. Ele disse seus nomes, mas eu não pude compreender. A voz dos mortos é estranha. Nessa época de caos e catástrofes, o conflito tirava tudo de todos, e não foi diferente com ele. Em fuga, viu sua vida ser privada de alegrias quando a morte assolou sua mulher e sua prole. Vazio, tão vazio quanto o vento fúnebre que soprava na mesma noite, ele tornou-se um fantasma antes mesmo de morrer. Da alma nada restava; somente um corpo sem vontade, rastejando por escombros numa eternidade que durava poucos segundos.
Foi quando encontrou a corrente.
Na corrente, viu o problema, mas ela era a solução. Parecia chamá-lo. Prometera a ele a família de volta. Estariam juntos para sempre, felizes para sempre, como um conto de fadas. Ele aceitou, obviamente. Era tentador demais. Deixou que a corrente se enrolasse a seu pescoço, escalou, amarrou-a, e então saltou, balançando por minutos, por horas, por um tempo que o ar restante não lhe permitiu contar. Respirou a sujeira do mundo, tossiu, morreu várias vezes, mas aquilo não lhe causava dor.
Morrera muito tempo antes. Dor nenhuma seria como aquela.
Eu assisti o homem enforcado chorar. Tive a impressão de ver seu corpo, ali dependurado, derramar lágrimas também.
Do escuro, nasceu o silvo.
O homem se desesperou. Tentou fugir, escapar do que quer que fosse aquele ruído, mas a luz negra se movia em velocidade inatingível. O espectro se dissipou num lampejo, deixando para trás um grito que soava como música, a música tenebrosa de um baile ritmado em velório, uma valsa melodiosa, dramática, sem a possibilidade de um final feliz.
Do escuro veio, ao escuro retornou, e eu fiquei ali, sozinha.
Antes, fora eu, o fantasma e o corpo.
Agora, eu e o corpo.
Eu, o corpo e aqueles olhos que eu não via.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Novo Blazblue está chegando!


Recentemente foi anunciado um novo jogo para a franquia de luta Blazblue, os jogos que estouraram de sucesso graças ao roteiro bem trabalhado e aos personagens envolventes, bem como o traço diversificado e chamativo. Blazblue: Chronophantasma deve estrear ainda esse ano, e traz consigo três novos personagens (Bullet, Amane e Azrael) e novas roupas para alguns dos personagens antigos, os quais receberam novos golpes e diversas animações distintas.

Como muitos devem saber, Blazblue também conta com uma série de Light Novel, e a última delas, Phase Shift 3, foi lançada no primeiro semestre desse ano. Nenhum dos 4 volumes foi disponibilizado em inglês até agora, e só nos resta esperar a boa vontade da Arc System ou dos fãs tradutores.

Quem ainda não conhece a série não sabe o que está perdendo! Corra atrás e não deixe de conferir os perigos enfrentados por Ragna Bloodedge e pelos demais personagens dessa trama completa que envolve magia, tecnologia e lendas vivas.
Até a próxima!

Living Classic - O Jogo dos Clássicos da Literatura

Postagem mega-rápida, somente para divulgar uma coisa que encontrei por acaso e achei fantástica!
Living Classics é mais um daqueles jogos de facebook, criados na intenção de viciar as pessoas e fazê-las gastar horas (e rios de dinheiro) na frente do computador. A grande diferença é que, dessa vez, a Amazon, responsável pela produçaõ do jogo, resolveu utilizar imagens dos grandes clássicos da literatura para criar um jogo point-and-click onde seu objetivo é clicar nas movimentações ocorridas nos quadros, ganhando pontos, aumentando de nível e habilitando novas opções.
Confira algumas imagens dos quadros abaixo e, se você tem facebook, dê uma olhada no jogo, garanto que não vai se arrepender!




Até a próxima!

WN - Baile de Espíritos - 1

Retomando a escrita sem compromisso, trago-vos hoje uma nova Web Novela (a qual apelidei de WN, e essa será a abreviação oficial daqui para frente), tecnicamente ambientada no mesmo cenário de A Melancolia de Raymond, mas que não necessita da leitura de todos os atos anteriores para compreensão. É uma história paralela, com outros personagens e outros eventos, portanto podem ler sem medo de encontrar spoilers sobre a história anterior ou de não conhecer alguma coisa que deveriam saber. Obviamente, quem já leu A Melancolia de Raymond anteriormente encontrará similaridades, traços subliminares e pseudo-continuações, mas enfim, isso fica por conta de vocês.
Quem se interessar, pode encontrar os capítulos de A Melancolia de Raymond nesses links:

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Sem mais demoras, vamos ao primeiro ato de Baile de Espíritos. Espero que gostem e não deixem de comentar!


I

Eu acordei em um cemitério.
O gosto de terra em minha boca era estranho, mas não incômodo. O paladar não estava tão aguçado quanto antigamente, por sorte. Talvez o vento estivesse mais frio do que podia perceber, pois meu corpo parecia esfriar mais do que a brisa gélida da madrugada.
No céu, nuvens e mais nuvens obscuras formavam figuras, e eu não as observava ainda assim. Rodeada por tumbas e mausoléus, o céu me parecia distante demais para que fosse importante. Havia muito ao meu lado e aos meus pés, muito do que antes seria assustador, mas que agora era paisagem, pintura de um quadro de gala. O céu teria de esperar um pouco mais por minha atenção.
Ao meu redor, havia corpos, todos eles já sem vida, arroxeados e tomados por vermes, como se mortos há tempos ou desenterrados. Cadáveres, e eu me sentia como eles, mórbida e de vida findada. Enquanto os homens inertes vestiam ternos e trajes elegantes, ainda que surrados, eu estava nua, tanto em vestes quando em memórias. Não sabia quem era, o quê era ou mesmo porquê era, algo que me abalava profundamente.
Naquele cemitério, o mundo todo parecia morto.
Levantei-me, só agora percebendo que estava jogada no solo barroso, os seios colados às ruínas de um túmulo. Minha virilha arranhou no movimento, uma dor que parecia tão fantasiosa e, assim, chegava a ser irreal. Eu sonhava com a dor, a imaginava, a desejava, pois assim me sentiria viva mais uma vez, mas ela não estava lá.
Ou talvez a dor estivesse, e eu não.
Os corpos eram incontáveis. Eu desejava ser somente mais um entre eles, em paz.
Imaginei se um dia teria paz.
Preferi abandonar a dúvida a sofrer na angústia.
Deixei o cemitério para trás na mesma noite, pensativa por sequer ser capaz de formular minha própria imagem. Como era mesmo meu rosto? Eu não sabia dizer. Será que eu era bonita? Dificilmente, naqueles tempos. Será que um dia eu fui bonita?
Os portões de metal rangeram quando eu passei, e um largo edifício me recepcionou com a figura aterradora de uma lince de olhos sem íris. Seu corpo todo era banhado por sangue, o mesmo sangue que estampava a frase abaixo de sua silhueta.
A morte é um presságio da guerra; a guerra é um destino de todos.
Preocupada com a criatura nas paredes, sequer notei os olhos estreitos que acompanhavam meus passos.

domingo, 5 de agosto de 2012

Filmes - Batman ~ O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Batman marcou minha infância.
Eu tive diversos quadrinhos do homem-morcego. Adorava suas histórias, admirando-o por sua falta de poderes, por vê-lo enfrentar coisas além da compreensão com tecnologia e inteligência, nada mais. Os filmes sempre retrataram um Batman pesado, sério demais, mas também humano demais, e isso é algo relativamente bom. Nessa nova trilogia, que se encerra com o recente Dark Knight Rises, vemos a transformação do Bruce Wayne na figura de defensor, ajudando e sendo caçado pela polícia, coisas do tipo. De qualquer forma, vemos Batman como ele é, retratado na seriedade e no realismo, em suma.
Quando saí do cinema hoje, após os créditos demorados e sem surpresas do desfecho de "Batman 3", não sabia exatamente o que pensar. Adorei o filme, adorei mesmo, mas o final me deixou desmotivado. Não me entendam mal, eu não achei ruim, muito pelo contrário, foi digno demais. Mas eu vi o fim de outra maneira, eu vi de uma maneira catastroficamente melhor, e eu esperei por ele, assistindo cada milésimo de segundo na certeza de que seria aquele o desfecho escolhido, surpreendente e previsível, mas épico e inesquecível e, bom, no fim, foi diferente. Muita gente esperava outra coisa, a fileira toda em que eu estava sentado se assustou com a escolha do roteiro, mas enfim, foi digno, certamente. Mesmo assim, me senti um pouco traído pela história, haha.

Esquecendo um pouco do desfecho para evitar spoilers, o filme como um todo é magnífico, as sequências de efeitos especiais, cenas de ação e os diálogos elaborados, tudo é muito bom MESMO. É claro que sempre sobram aquelas frases frias e sem graça do Batman, bem como aquela coisa embasbacada do Bane, mas o vilão cresce durante o filme, ganhando um papel renovado antes do término e surpreendendo por se tornar bem diferente do que o quadrinho retratava, o típico bárbaro pau-mandado e sem personalidade. Ele é um líder, tem seus objetivos e comanda homens, e isso o deixou ótimo! Senti falta de um cara imenso como ele era antes, mas o ator o interpretou muito bem, o que compensa a mudança do personagem.
Como pontos marcantes do filme, ressalto:
Melhor efeito: as rodas da motocicleta do Batman girando durante as curvas, na boa, ADOREI esse efeito, ficou fabuloso! haha
Melhor cena: Fico em dúvida, mas achei imensamente digna a primeira luta de Batman e Bane, a grande derrota do herói de Gothan.
Cena bizarra: Guerra de policiais e criminosos ao estilo de Senhor dos Anéis? hahaha
Personagem: o policial Blake se mostra mais importante do que realmente parecia.
Melhor frase: 'Senhor Wayne, a sua esposa disse que o senhor iria de táxi.'
Troféu: 'Se você quer sair daqui, não pode ter medo. Faça como o garoto: sem corda.'
Negativismo exacerbado: Morcego? Uma nave imensa que parece diminuir para passar por algumas lacunas com um terço do seu tamanho. Sem contar que a polícia monitora Batman quando ele está acelerando sua moto o tempo todo, mas não consegue encontrá-lo com uma aeronave de design futurístico NO CÉU? É no mínimo estranho, haha.
E é isso aí. Eu assisti Batman e gostei, gostei mesmo, mas não posso afirmar que me senti hiper-satisfeito com a adaptação, como no caso de Vingadores e O Espetacular Homem-Aranha, por exemplo. O segundo filme foi melhor, realmente. Tenho a estranha sensação de que tentaram dar realismo demais a uma obra realista, sim, mas que ainda assim trata de um super-herói, e isso acabou por pecar em certos aspectos. É um excelente filme, recomendo a todos os fãs do morcegão, mas aos velhos adeptos dos quadrinhos, alerto: preparem-se para algumas decepções.
Até a próxima!

Momentus - Recortes do Facebook ~ Julho

Chegando agora com mais uma coletânea de frases e minitextos postados no facebook em momentos aleatórios de julho, minhas férias, por sinal o mês com menos tempo para esse tipo de material, pouco mais de 1900 palavras, graças ao tempo utilizado para trabalhar com outros tipos de textos e trabalhos pessoais. Anyway, espero que aproveitem o material aqui disponibilizado.
Até a próxima!


Momentus
Recortes do Facebook

JULHO


Para resolver todos os seus problemas, deixe de procurar soluções.


Não há noite tão fria a ponto de amenizar um coração em êxtase.


Há um labirinto de erros circundando cada acerto.


Somos diminutos diante da imensidão de um universo, mas somos enormes quantos tantos universos quantos são os nossos sonhos.


Todo o tempo é nada quando se vive; todo o nada é pouco quando se existe; nada é tempo demais quando se espera a vida rolar.


Aquilo que almejamos, às vezes, já está presente em nossas vidas, além da cegueira que nós mesmos inventamos.


Não há paisagem tão bela quanto a paisagem que nos cerca quando numa lembrança sorridente.


Tudo o que se exibe em nossos dias é reflexo do que exibimos em tantas atitudes.


Quando se entende a vontade, não há o improvável, o impossível e o finito.


Tantos outros como nós, mais ou menos iguais, mais ou menos diferentes, com as mesmas virtudes, as mesmas fraquezas, os mesmos problemas, imersos no interior, onde se encontra nossa única diferença.


Sonhe com o irreal, pois tão real é somente teu sonho; há uma vida surreal a deslizar por entre os dedos, escapando pelo astral de suas angústias e seus medos, de maneira tão banal a afrontar os seus desejos.
Sonhe irrealidades, bárbaras atrocidades, sonhe muito, sonhe tudo, sonhe sua realidade.


Não há nada mais nobre que o céu, que sorri nublado, chora chuvoso e aplaude a vida no sol das manhãs.


Ao desprezar tais sentimentos, deixou voar de encontro ao vento, uma virtude, um só momento. Resta uma vida em arrependimento.


Antes de acreditar nos homens, acredito em cada herói que nasceu deles. São manifestações surreais dos justos, nobres como homem algum será.


Um mundo de sorrisos é um mundo de mentiras, pois a mais pura verdade é como um bosque de espinhos.


Há muitos sonhos para se sonhar e pouco tempo pra realizar.


O homem brincou de deus, fez, pensou, inventou e construiu; nada oriundo de suas mãos será tão perfeito quanto a mais simples cascata gerada pela natureza.


Tudo ao nosso redor é grandioso, mas jamais devemos temer o que nos cerca. Navegando sobre um mar de sonhos, conquistamos cada realização utilizando de remos tão eficazes quanto é nossa vontade.


Demoramos para perceber que todo o necessário está no ar que respiramos.


Não há espetáculo maior do que o nascer do dia, empolgante em seu desenrolar, entardecendo em cenas chocantes ou monótonas, desbravando tempos medonhos ou lindos, terras perfeitas ou grotescas, para então alcançar o mais desejado desfecho quando a lua sorri na noite.


Nunca se esqueça dos tons de sua vida, pois o mundo irradia com cores sem fim.


Realizado o sonho de voar, temos a opção de fugir e desaparecer no céu, mas é o céu o mais convidativo dos prazeres que nos agracia com tantas beldades quantas são as nuvens.


No calor das manhãs ou no frio gélido das noites, o mundo jorrará a mais pura água para lhe saciar.


Quando o azul do céu se mistura ao branco da neve, não há homem que possa deixar de crer no quão perfeita é a terra que lhe acolhe.


É infinito, é tão bonito, o mais puro dos paraísos; é além-mar, outro lugar, somente lá onde quero estar; é rarefeito, mas tão perfeito, que mal consigo acreditar; é derradeiro, tão verdadeiro, um sonho que eu posso tocar.


Ninguém além de nós pode ditar nossos limites.


Importe-se com o que vê no espelho, e admita o que for, sejam os olhos opacos pelas mentiras ou brilhosos pela sinceridade.



Seja indiferente para com as diferenças.


Com quantos erros se compra um acerto?


Saiba que você pode ser sempre o melhor de si, mas nunca será o suficiente para quem não se importa em dar o seu melhor.


Hoje entendo que, ao cair da noite, quem desmerece se esquece, quem se complica hesita, quem se mascara dispara, e quem fica triste inexiste.


Meu sonho atual é que os sonhos das pessoas sejam respeitados.


Um mundo sem intrigas, sem debates, sem divergências, é uma mentira.


Sou um andarilho da realidade, imerso no total realismo de um sonho.


Às vezes a gente se arrepende de algumas coisas, mas isso não muda o fato de que elas eram as melhores escolhas para nossas vidas.


E quem precisa ser filmando pra sorrir?


Há tanto para se fazer, tanta vida para se viver, tantos risos para seu prazer, mas não há tempo para perder.


Aquilo que tua mente canta, teu corpo dança.


Existem tantas infinidades num instante tão minúsculo, tantos pesadelos num sonho diminuto; há curvas no percurso que nos levam para emocionantes erros e tediosos acertos, por um breve repouso que, sonho a sonho, nos levará até o maior desejo de nossas vidas.


Sonhamos uma vida de mentiras, mas a pior verdade é despertar, encontrar um terra onde máscaras reinam e, afrontando os maiores pesadelos, quedar diante daqueles que lhe prometeram auxílio.


De tantas as vidas a serem vividas, somente uma lhe sustentará; a todas as demais, as quais serão deslumbradas em sonhos, acene e se despeça, vislumbrando cada escolha que lhe guiou ao caminho que hoje trilha.


Sonhos tão reais, realidade tão sonhadora.


Há um tipo de sinceridade que ninguém está preparado para ouvir: aquela que se livra das máscaras.


Todo mundo tem seu tempo de criança, e ele tem de perdurar até o fim de seus dias.


Há tantos imortais entre os mortos, há tantos mortais entre os vivos. Basta que deixe sua marca, que cative e impressione; que seja você mesmo.


A arte nada mais é do que botar para fora aquilo que você filmou dentro de si, seja num quadro, num livro ou num filme com outros atores.


Escutemos o som de nossas vontades.


Não perca tempo com o que de nada serve, há todo um universo pra se admirar.


Enquanto ao meu redor há podridão em demasia, mantenho o coração domado pela fantasia.


Percamos nossos olhos em imensas vistas lindas, deixando para trás tantos problemas pormenores.


De cores e pudores vivem os valentes, exilados do descuido e portadores da vontade, tão firmes, tão seguros que deslize algum pode afastá-los de seus sonhos.


Não há hora melhor do que agora para realizar aquilo que um dia já sonhou.


E quando eu estiver ali, no oceano que me separa da certeza do meu ser, hei de remar e remar, mais do que meus braços possam suportar, e só deixarei que descansem quando os olhos marejarem no deserto açucarado de tais ambições.


Feche os olhos e escute aquela melodia que somente o silêncio pode lhe compor; esta é uma balada em tua homenagem, narrando seus feitos e defeitos, rudes, cheios de virtudes, tão serenos, pouco ingênuos, de pavores tão vazios, medos de um desconhecido, aventuras de um destino que há de chegar ao fim.


Passe o tempo que for, passe o vento e a tempestade, passe o corte da saudade; nada levará de mim os dias que um dia vivi.


Sonho com sonhos melhores, pois de pesadelo já me basta o despertar.


Quando o sopro da indecisão me assolar, hei de me postar em frenesi, e de meu lugar vento algum me tirará; quando a brisa do viver surgir, manhosa em sua carícia, deixarei que ela me carregue para onde o destino sugerir.


Viveremos em luto quando a esperança se for pela última vez.


Dentro do tudo há nada, dentro do nada, tudo; dentro de nós, confundem-se ambos, num espaço disputado por vivências indizíveis.


Encontras tua verdade em meus olhos, enquanto encontro tal mentira em teus lábios.


Ser o que quiser, e não o que os outros quiserem.


"E se lhe oferecessem a oportunidade de ser outra pessoa? Se você pudesse se tornar uma rainha, uma dama de beleza e riqueza incomparável, uma líder diante de todo um reino. O que você diria?"
"Eu sorriria amigavelmente e diria não. Eu posso ser o que quiser aqui, do meu jeito, pra mim mesmo. Posso me olhar no espelho e ser uma princesa, uma rainha, até uma deusa se assim desejar. Posso fazer isso por mim, sem mudar quem sou, sem ter de me incomodar com o que pensam ou falam sobre mim."


'Eu estarei aqui para sempre. Eu sempre vou estar do seu lado, disposto a te abraçar, a chorar com você, a rir da vida que levamos juntos. Quando você cair, eu vou te levantar, pois sei que fará o mesmo. Quando você vencer, eu vou te aplaudir, pois é uma vitória de ambos. Quando você mais precisar, ou quando menos esperar, eu vou estar ali, pois estarei ali para sempre, sempre mesmo, e o sempre é tão pouco que eu nem sei como explicar.'
Ela cerrou os punhos, insegura.
Ainda lhe doía o peito olhar para trás e, em tristes lágrimas, lembrar-se de tantas mentiras.


Quando o amor falha, a amizade é o único pilar a nos sustentar em queda livre.


Muito do impossível se torna fácil quando se arriscam dois sorrisos.


Aquela abraço sincero, eterno e sereno, que pausa o universo para te confortar.


A paisagem mais simplória se torna um monumento a se admirar quando nossa companhia faz os dias mais alegres.


É quem me sustenta, me suspende, me faz vivo, me respira e me alimenta. É quem me abraça, me transforma em palhaça, me alegra ao fazer graça, faz de um arbusto uma praça, faz do mundo tão tedioso um adorável lugar para se viver.
É tudo, é pouco mais que sei dizer, é muito mais que mereço.
É um amigo.


Deixaremos nossas marcas, pois o mundo é de tristezas, e de alegrias são somente os momentos com os quais recordarei cada sorriso que me foi agraciado.


Amigo é aquele que lhe faria de tudo, por quem você faria de tudo. Aquele que é somente um mas, dentro de ti, é mais que um exército, tão forte e tão valente que medo algum pode afrontá-lo.


Há muito mais a se ver com quatro olhares, e muito mais beleza em dois sorrisos.


Vou do simples ao perfeito num sorriso.


Eu aprendi a ver a verdade nos olhos das pessoas, e desde então eu me permito desviar olhares.


Eu me divido, eu me supero, jamais suplico e o faço com esmero.


Procuro-me em teus olhos, mas só me encontro ao deixar de procurar.


Livros são máquinas de sonhos, incapazes da verdade, mas capazes o suficiente para tornar real os maiores desejos num ímpeto de se esforçar, ir atrás e alcançar os objetivos.


Ao meu redor, as cores e valores que admiro se exacerbam; os fracos de atitude me obsequiam, fraquejando diante daquele que não posterga suas vontades por desconhecer o verbo desistir.


Não há pedra em meu caminho que eu não possa afrontar.


Desenho nas estrelas meus desejos, na espera de que o mundo seja o espelho do céu.


Desaba sobre mim tuas carícias, deságua de teu leito a pureza, desfaz do meu redor a malícia, derriba de minha vida a fraqueza.


Eu sou da cor que ao mundo falta.


Convivo numa indiferente diferença.


Se há algo que me entristece é somente o como as pessoas se deixam entristecer sem razão alguma.
Levantem seus olhos, encarem a vida. Tem tanta coisa pela frente e, se você puder aceitar isso, vai conseguir sorrir mesmo nos piores momentos.


O segredo de um sorriso é sorrir sem se preocupar com segredos.


Você percebe que já viu de tudo quando o surpreendente é o que menos surpreende.


Estar sozinho numa multidão não é tão ruim quanto ver-se sozinho quando na verdade estão todos ali, oprimidos pela insuficiência.


Aprender a ser feliz é aceitar ser criança mesmo quando a idade não lhe permitir caminhar.