domingo, 5 de agosto de 2012

Web Novela - A Melancolia de Raymond - 17


Postagem dupla de A Melancolia de Raymond, marcando assim o desfecho dessa série de crônicas pequenas, o que guia Ray, nosso sofrido mago num cenário caótico, para o fim de sua história, com descobertas que podem lhe causar grandes problemas.
Não deixem de comentar!
Até a próxima!


XVII

Durante muito tempo, vaguei.
Vaguei sem rumo, sem trilha, sem destino, e assim era melhor. Tive de aceitar um fato que desconhecia, ao mesmo tempo em que conhecia bem demais. Tive de aceitar minha realidade mentirosa, minha falsidade real.
Caraway era eu.
No fundo, nos confins de minha mente, sempre soube. Difícil não era aceitar tal erro. Difícil era aceitar a morte de todos aqueles que amei um dia. De meu pai a Rob, de minha mãe a Camila, todos aqueles estranhos inoportunos, todos os conhecidos empoçados na inocência. Eu matei todos eles. Eu matei e gostei, matei e mataria outra vez, sem demora. Matei, e me apaixonei pela sensação, quis matar de novo, como naquele mesmo instante queria. Eu queria sangue, queria sentir o sabor de vidas alheias, de vidas que eram minhas sem que fossem minhas.
Eu vaguei no escuro. Tinha todas as luzes nos bolsos, nos olhos, mas vaguei no escuro por achar melhor assim. A vergonha estampada em meu rosto não seria vista por ninguém. Acima de tudo, não seria vista por mim mesmo, o maior dos pecadores.
Encontrei uma garota no caminho. Ela me pediu ajuda, dinheiro, comida, e eu lhe ofereci a morte como recompensa por sua ingenuidade. Vi seu sangue escorrer pelos becos, manchar as paredes, empoçar-se ao solo cinzento; o cheiro era admirável, e o sabor incomparável. Bebi-a por inteiro, sem parar para respirar. Enxuguei os lábios nas roupas, o rosto ainda vermelho, os olhos ainda trêmulos.
Queria mais.
Vaguei.
Não sei se por minutos, por horas ou por dias, mas continuei a andar. Senti saudades de meu skate, mas ele se perdera há tempos, em algum lugar que minha memória não me permitia lembrar. Senti saudades do vento e dos brinquedos, mas a mágica fragilizada de meu disfarce não mais era necessária. Eu era um feiticeiro de elite, um mago que não poderia ser desafiado, um sábio experiente no corpo aconchegante de um adolescente em recente puberdade.
Ou seria eu um adolescente preso na consciência de um velho feiticeiro?
Vaguei, e cheguei às montanhas, onde o vento me acolheu. Um vento fúnebre, melódico, assombroso, o vento negro dos ares, a brisa fétida de um mundo em guerra.
Ah, a guerra! Como eu a odiava, como eu repugnava tal banalidade!
Ali, no cume da mais alta colina, deixei que o mundo me cercasse de natureza, ruínas da pureza de um universo, agora dizimadas por nojeira e ambição. Pensei no que fizera, no que haveria de fazer. Não me arrependi. Muito pelo contrário.
Ansiei pelo que viria a seguir.
Eu odiava a guerra.
Meu pai morreu pela guerra. Meu melhor amigo e sua família, minha mãe, minha namorada, se é que assim podia chamá-la, todos foram levados pela guerra. A guerra varreu tudo, deixou-me em branco outra vez, limpo e inseguro. A guerra me destruiu, como destruía também ao mundo, aos homens e aos magos.
Eu odiava a guerra.
Mas a guerra era minha cria, minha prole e, como tal, tinha de crescer em minhas mãos.
Se a guerra que criei me tirara tudo, tiraria tudo de todos os demais também.

11 comentários:

  1. Ow, final bem interssante. Deixou um gostinho de "quero mais". Vai rolar uma continuação? Ou virão outros protagonistas além do Ray?

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  2. É provável, sim, quem sabe? Continuação é um termo bem forte, mas histórias ambientadas no mesmo cenário podem surgir, com outros protagonistas e antagonistas, sempre carregadas do emblema de anti-herói, afinal, no caos desse mundo, não há espaços para benevolência e atitudes meigas.
    De qualquer forma, obrigado por acompanhar até o fim e pelos comentários, são muito importantes para o prosseguimento do blog! :)

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    1. Concordo plenamente. Sempre fui fan de estórias com protagonistas "não-convencionais" (acho que isso é culpa do Mundo das Trevas, joguei no Storytelling por muitos anos). Seria ótimo se você desse continuação ao cenário, explicando mais sobre a Guerra e os Magos.

      Achei o máximo esse estilo de Web Novela, é bem prático e instigante. Talvez eu fassa algo assim para o meu blog. No mais, parabens pelas histórias e pelo blog!

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    2. Pois é, a culpa sempre é do Storyteller, haha. Eu comecei A Melancolia de Raymond após jogar uma versão bem dark de Harry Potter. Ray era meu protagonista lá, mas acabei dando outros ares para ele nessa história.
      É uma boa ideia. A guerra e os magos dariam uma história legal, possivelmente, e Web Novela realmente é bom, facilita para escrever por serem crônicas curtas, na maior parte do tempo individuais, e ajudam também no sequenciamento dos fatos.
      Faça sim, eu recomendo!
      Valeu mesmo!

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  3. Harry Potter Dark... Hehe deve ter sido bem interessante. E seri bem legal outras crônicas ambientdas nesse cenário. O Raymond me lembrou um pouco o David Rice da serie Jumper (os livros não o filme), com esses conflitos emocionais e o despertar de poderes incriveis.

    Quanto a Web Novela do blog já pensando como vai ser, gosto de Lobisomens então acho que vai ser algo nesse estilo.

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    1. Foi sim, apesar de não ter sido terminada. Como não conheço os livros, não posso opinar, mas eu tive leves doses de inspiração no Tim Hunter, de Os Livros da Magia, do Neil Gaiman, e num cenário catastrófico que desenvolvi um romance no ano passado, desolado pela proximidade do fim do mundo e tal. A mistura até que ficou boa, hehe.
      Lobisomens são sempre uma boa escolha. Eu gosto do estilo, mas não me dou bem em escrever algo sobre eles. Geralmente prefiro uma temática no estilo de Anjos da Noite, focando mais em vampiros etc.
      Quando iniciar avise para que eu possa divulgar aqui no blog!

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  4. Aviso sim! O livros da Magia é bem interessante (apesar de eu preferir Sandman - Noites sem fim). E realmente deu super certo essa mistura que você fez. Vou ver se escrevo algo hoje e posto amanha no blog (ou hoje mesmo) sobre minha web novela.

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    1. Ah, com certeza, Sandman é ainda melhor, haha. Neil Gaiman é um dos meus autores favoritos, dos quadrinhos aos livros, ele domina demais!
      Fico na espera das suas postagens, boa sorte com a novela!

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    2. Cara, terminei a primeira cena da minha novela. Foi um pouco mis dificil do que eu pensava mas acho que ficou bom. Tente fazer como você fez em "A Melancolia de Raymond", colocando poucas informações no começo para apresentar mais sobre o personagem nas outras partes.

      O titulo é "A Jornada de Joel" e é uma referencia ao sua históri, fiz assim por que acho que nesse estilo de titulo da uma abrangência para a história. Assim não preciso me ater só a fatos novos, posso escrever sobre coisas do passado e até futuros da personagem. Da uma passada no blog pra com ficou.

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    3. Bem legal Lukas, dei uma olhada no blog e você se saiu bem, parabéns!
      O gênero é legal porque facilita as nossas atualizações, dá pra escrever com um pouco de tempo livre e sem ter de planejar muito os acontecimentos, eles fluem sem que precisemos de uma estrutura trabalhada. Eu recomendaria a extinção dos diálogos com travessão, o que deixa o texto ainda mais rápido e polido, apesar de cortar detalhes que podem ser importantes ou emoções de certos momentos. Mas vai ser bom acompanhar a sua história se utilizando de outra maneira para a conversação, assim dá para se ter uma ideia de estilos variados seguindo o mesmo gênero de postagem.
      Enfim, fico feliz que tenha te motivado a começar uma Web Novel também, e espero que siga com ela até o fim! Estarei acompanhando Joel em suas andanças, haha. Sucesso!

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    4. Valeu cara, quanto ao travessão é só coisa de costume, nas próximas postagens vou extingui-lo. Abs.

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