Quem se interessar, pode encontrar os capítulos de A Melancolia de Raymond nesses links:
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Sem mais demoras, vamos ao primeiro ato de Baile de Espíritos. Espero que gostem e não deixem de comentar!
I
Eu
acordei em um cemitério.
O
gosto de terra em minha boca era estranho, mas não incômodo. O paladar não
estava tão aguçado quanto antigamente, por sorte. Talvez o vento estivesse mais
frio do que podia perceber, pois meu corpo parecia esfriar mais do que a brisa
gélida da madrugada.
No
céu, nuvens e mais nuvens obscuras formavam figuras, e eu não as observava
ainda assim. Rodeada por tumbas e mausoléus, o céu me parecia distante demais
para que fosse importante. Havia muito ao meu lado e aos meus pés, muito do que
antes seria assustador, mas que agora era paisagem, pintura de um quadro de
gala. O céu teria de esperar um pouco mais por minha atenção.
Ao
meu redor, havia corpos, todos eles já sem vida, arroxeados e tomados por
vermes, como se mortos há tempos ou desenterrados. Cadáveres, e eu me sentia
como eles, mórbida e de vida findada. Enquanto os homens inertes vestiam ternos
e trajes elegantes, ainda que surrados, eu estava nua, tanto em vestes quando
em memórias. Não sabia quem era, o quê era ou mesmo porquê era, algo que me abalava profundamente.
Naquele
cemitério, o mundo todo parecia morto.
Levantei-me,
só agora percebendo que estava jogada no solo barroso, os seios colados às
ruínas de um túmulo. Minha virilha arranhou no movimento, uma dor que parecia
tão fantasiosa e, assim, chegava a ser irreal. Eu sonhava com a dor, a
imaginava, a desejava, pois assim me sentiria viva mais uma vez, mas ela não
estava lá.
Ou
talvez a dor estivesse, e eu não.
Os
corpos eram incontáveis. Eu desejava ser somente mais um entre eles, em paz.
Imaginei
se um dia teria paz.
Preferi
abandonar a dúvida a sofrer na angústia.
Deixei
o cemitério para trás na mesma noite, pensativa por sequer ser capaz de
formular minha própria imagem. Como era mesmo meu rosto? Eu não sabia dizer.
Será que eu era bonita? Dificilmente, naqueles tempos. Será que um dia eu fui bonita?
Os
portões de metal rangeram quando eu passei, e um largo edifício me recepcionou
com a figura aterradora de uma lince de olhos sem íris. Seu corpo todo era
banhado por sangue, o mesmo sangue que estampava a frase abaixo de sua
silhueta.
A morte é um presságio da guerra;
a guerra é um destino de todos.
Preocupada com a criatura nas
paredes, sequer notei os olhos estreitos que acompanhavam meus passos.
Que bom que vc deu continuidade para o cenário! Esse primeira parte, mesmo sendo curta, foi impressionante. To na espera dos outros atos.
ResponderExcluirBaile de Espíritos já estava meio que planejada, eu só a ambientei no cenário de Raymond, hehe. Tem uma terceira WN planejada, mas ela, até então, se passará em outro cenário. Valeu por comentar!
ExcluirLegal! Pelo visto as Web Novelas estão dando certo. Ainda bem, por que elas são bem envolventes, quando vc vai colocar no blog a terceira WN?
ResponderExcluirAh, primeiro tenho que acabar essa, haha. É bom escrever sem compromisso, mas nem sempre sobra esse tempo, e os outros projetos cobram demais. Logo mais Baile de Espíritos termina e a terceira WN dá o ar da graça, hehe. Continue com a sua também, Joel só teve duas cenas até então, não deixe ele esquecido!
ExcluirHehe, é bom escrever sem compromisso. Quento ao Joel já escrevi a terceira cena e já to pensando nas próximas. Valeu pelo apoio!
ExcluirNice Blog thanks for Sharing.
ResponderExcluirsales automation tools
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Este comentário foi removido pelo autor.
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