Agora, sem mais demoras, vamos ao que interessa:
XVI
Aplausos
fraternos, maternos, subalternos e eternos, emudecidos e estrondosos, pancadas
manhosas de carícias estonteantes. Aplausos.
Eu
alucinava.
O
mundo girava ao meu redor, mal deixando-me notar se estava em pé ou caído em
desajeito, sentado na amargura ou quedado por lamúrias sem fim. O mundo girava,
e eu via olhos, via lábios, via sorrisos destrutivos e enganosos, e os sorrisos
eram meus, eram deles, eram de ambos.
Caraway.
Caraway
estava ali, em algum lugar, eu sabia. Ele estava lá, escondido, mais revelado
do que cores no fundo escuro, submerso na falta d’água, enterrado, tão à mostra
quanto estava eu. Eu o busquei com os olhos turvos, esticando os braços e
caçando-o de maneira mortífera, entrelaçando os dedos que tanto formigavam na espera de tocar o seu corpo, sua imundice,
e então poderia me vingar por tudo, por mim e por todos, agora pelo nada que me
restara. Procurei, cacei-o em desespero, mas ele estava distante, mesmo que
próximo, distante de minha fúria, perto de minha loucura.
Ele
gargalhava.
Eu
olhei ao redor, via rostos. Eram tantas as faces, tantos os olhos sobre mim,
tantos os pavores que eu me descontrolava, me sentia livre ao ser observado,
sentia vontade de gritar. Não a guardei para mim, gritei. Gritei e ouvi
estalos, o crepitar de almas ao meu redor, os rostos se partiram e eu não
entendia.
Era
Caraway. Era ele ali, aqui, cá e lá, em todo lugar. Eram muitos de um só homem,
muitos rostos e temores, muitos risos e louvores, muita sede de sangue, vontade
de matar, angústia, fúria, ódio, ira, malevolência. Era tudo num só lugar, nada
em lugar nenhum, mas era ele, e por ser ele eu não era eu, eu era mais.
Eu
era o ódio, a vingança, a vontade de provar que tudo o que perdi me fez ganhar
muito mais.
Eu
gritei, e o mundo se partiu ao meu redor, a mágica em frenesi, o estrondo
misturado às gargalhadas. Gritei, e os gritos se encolheram até o silêncio, e
mesmo o silêncio era colossal, estilhaçando a existência que me circundava.
Tudo
mudava e voltava, girava e estacava, eu ainda alucinando. Via formas
irregulares, geometria desconexa, sombras e cores, vultos e flores, criaturas
adocicadas e pesadelos de pontas mórbidas, tudo ali, ao mesmo tempo, em tempo
algum. Tudo era errado no acerto, tudo era irreal e surreal, realidade
conturbada e proveitosa.
Gritei
uma última vez, e tudo se foi, deixou de existir, se é que antes mesmo existia.
Caraway
estava lá, mas eu estava sozinho.
Ao
meu redor, espelhos quebrados, trincados, em ruínas.
A
casa dos espelhos me mostrava uma tortura sem igual, um castigo errôneo e
imperfeito, chagas que eu jamais seria capaz de suportar sem que a insanidade
me consumisse.
A
casa dos espelhos me mostrava Caraway, revelava sua imagem para mim como um
tapa no rosto, como um baque de verdade inconsequente.
Caraway
estava lá, mas eu estava sozinho, porque Caraway inexistia.
Só
eu existia ali.
E
eu era Caraway.
Simplesmente demais! Pena que já ta acabando, to louco pra saber o desenrolar dessa historia e o final que o nosso anti-heroi vai tomar.
ResponderExcluirOpa, fico feliz que esteja gostando, e o final já está aí, não deixe de conferir!
ResponderExcluirValeu pelo apoio e pela leitura, fique na espreita que sempre surgem novos projetos pelo blog!
Sucesso!