XIII
Eu
ainda não tinha superado a morte de Rob.
Não
cheguei a chorar. O grito que estava preso em mim manteve-se ali, acorrentado,
inerte sob as longas camadas de pesadelos, sonhos negros que sonhara acordado,
e só então concluí que os piores pesadelos são aqueles dos quais não podemos
acordar. Eu voltei para casa, me deitei, tentei sonhar e devanear, as lágrimas
que se prendiam em minha mente não me permitiram.
Saí
outra vez, encontrei Camila sentada sobre o monumento que um dia honrara um de
nossos presidentes, o qual sequer saberia nomear.
Ela
chorava em soluços, agarrada às pernas. Vestia um pijama simples, como se
também escapada de casa, fugitiva do que não poderia resolver. Quando perguntei,
ela mandou que eu me calasse, e então me beijou com intensidade, um beijo
doloroso com fundamento de álcool, para esquecer, superar, para deixar todos os
problemas para trás, um beijo em vão. Ela me beijou, então se afastou,
desabando em choro, gritando por sua mãe, por sua família, por sua solidão.
Estavam
todos mortos.
Não
quis saber dos detalhes. Na verdade, não queria saber de mais nada.
A
culpa era minha. O pesadelo era real. Eu estava marcado, mas nenhum deles veio
atrás de mim. Aqueles que estavam ao meu lado, no entanto, quedavam um a um,
deixando-me solitário, fazendo de mim uma lacuna de péssimos pensamentos,
ruindo cada memória, cada lembrança, cada sorriso. Eu sequer me lembrava como
era sorrir. Tentei forçar algo, os músculos reprimiram a vontade, ou talvez
vontade inexistisse em mim naquele momento.
Camila
se levantou. Disse que me desejava como companhia.
Fomos
para sua casa e, lá, vi os corpos de seus familiares. O sangue tomava todo o
lugar. Senti vontade de vomitar, mas a ânsia recuou ante o beijo que me fora
dado, e ela saltou sobre mim, me empurrou para seu quarto, me deitou. Eu
engasguei com sua saliva e sua língua, não hesitei. Postei-a sobre a cama, vi-a
chorar mais e mais, aquilo me tirava o tesão. Ela livrou-se das roupas, deixou-me
admirar sua nudez, suas curvas magricelas, me tentou e provocou, sem parar de
chorar.
O
sexo era um remédio, o único remédio, e nós estávamos doentes demais.
Perdi-me
em seu corpo, em seus ganidos, em seu prazer, e o seu prazer também era o meu.
Fomos só um, fomos muitos mais do que todos. Antes do clímax, não havia choro,
não havia dor, não restaram problemas para se discutir. As soluções estavam
ali, resumidas na fricção prazerosa da união, do ato de criar e procriar, na
fornicação, no coito, no desprazer de deleitar-se na atração carnal, somente
nisto e em mais nada.
O
desfecho veio em jorros e, depois dele, tudo parecia normal.
Estávamos
deitados lado a lado, vazios em roupas e vontades, vazios em tudo.
O
sexo era o único remédio, e ele não poderia curar a nossa dor.
Camila
chorou novamente, mas dessa vez, chorei junto dela.
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