segunda-feira, 13 de agosto de 2012

WN - Baile de Espíritos - 6


VI

Encontrei uma creche por acaso.
Todos os seus cômodos estavam vazios, exceto por duas portas fechadas. Esquerda e direita, e eu temia ambas, sem entender. Toquei cada uma delas, sentindo a lamúria que jazia além da madeira, e não soube o que fazer.
Abri a porta da esquerda.
O quarto cheirava carniça. Havia sangue nas paredes e no chão, misturado aos pedaços das professoras, todas nuas e estripadas, revelando o abuso insano que ocorrera naquele local. As almas vagavam por sobre os corpos, deslizando pelo teto e debatendo-se contra as paredes, incapazes de raciocinar ou de fazer algo além de gritar pela dolorosa morte que receberam.
Entre os vultos brilhosos que me rodeavam, eu pude ver o ocorrido, e percebi-me chorando no mesmo instante.
Bandidos, magos e não-magos, todos eles sedentos pelo sexo que somente aquelas mulheres ingênuas poderiam lhes oferecer. Eles mataram, mas antes de matarem cortaram e abusaram, pois queriam ouvi-las gritar, chorar, gemer conforme o ato era feito, ganir como cadelas diante da penetração forçada. Amarraram seus braços, estupraram sem piedade alguma, forçaram suas virilidades contra os corpos inocentes das mulheres que só desejam ensinar.
Depois, mataram, e mataram sem temer, para que nenhum resquício das lembranças revoltadas daquelas mulheres pudesse compreender o que ocorrera antes de suas mortes. Os magos sabiam o que fazer. Sabiam que corpos mutilados significavam almas mutiladas, almas incapazes de buscar vingança, de se recordar do desastre, de reagir à malícia.
Por um momento, eu achei melhor que elas não pudessem se recordar.
Em lágrimas, assisti enquanto o vento negro invadia aquele cômodo, destrinchando as almas como se faz aos porcos no abate. Daquela vez, não tive medo do vento obscuro. O medo era fraco ante a dor. O medo era nada diante da tristeza.
Por dentro, eu queimava num pranto que meus olhos não poderiam despejar.
Assisti a um tufão de lamúrias, e ali havia sorrisos. Elas finalmente estavam livres do castigo de vagar sem nada saber, de existir somente pela dor, pela raiva, pela desgraça de suas vidas passadas. Ouvi algumas delas agradecerem, e essa foi a única coisa com sentido que pude extrair daquele amontoado de grunhidos desconexos.
Fechei os olhos, fechei a porta, fechei a mente, e deixei que tudo aquilo me abandonasse.

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