terça-feira, 11 de junho de 2013

Resenha - O Código Élfico, de Leonel Caldela


E chegaram ao fim as 574 páginas de O Código Élfico, o mais novo livro de Leonel Caldela. Admito que, para mim, é um prazer enorme, bem como uma tristeza sem igual, quando um livro do Caldela chega ao fim. Já deixei bem claro minha admiração pelo autor, que é, até então, meu favorito dentre os escritores nacionais. Depois da Trilogia Tormenta e da Duologia Terra de Urag, eu não sabia como ele poderia me surpreender. Esperei por mais medievalismo, por mais cavaleiros e feitos heroicos, por mais magia e narrações fantasiosas de terras distantes. E o que encontrei? Fantasia urbana. Uma história de fantasia e amor, sim, mas, acima de tudo, de pessoas, como ele próprio gosta de chamar. Uma história da humanidade, ainda que o próprio nome referencie aos elfos.
Mas o que exatamente é O Código Élfico?
Neste novo romance, Caldela nos apresenta a fictícia cidade de Santo Ossário, localizada no Brasil e dotada de uma história que poderia muito bem ser verdadeira! E é em Santo Ossário que conhecemos Nicole Manzini, a princesa das conspirações, com quem todas as lendas urbanas e fatos míticos resolveram acontecer de uma vez. Filha de um assassino em série famoso e coberta por um histórico de abduções e tantas outras estranhezas, Nicole é uma pessoa que tenta levar uma vida normal, mas cuja vida verdadeira sequer conhece o significado dessa palavra. Ela até tentou, por algum tempo, escapar de Santo Ossário, mas sabem como é, todo mundo volta um dia. Quando ela voltou, pensou que as coisas estariam melhores ou, ao menos, em seu devido lugar.
E aí ela conheceu um elfo.
Astarte é o último elfo jovem. Filho da Rainha Titânia, ele nasceu e foi treinado para ser o herdeiro de toda uma raça, ao mesmo tempo em que nascia na Terra, através de experimentos em laboratórios, para servir como elo para a passagem de todos os demais elfos. Mas esse é apenas o começo para uma trama repleta de reviravoltas, acontecimentos marcantes e uma criatividade sem igual.
O Código Élfico não é a melhor obra de Caldela, certamente. É fato inegável que o maior talento do autor está nas obras medievais, fato comprovado com seus cinco romances anteriores, em suma com O Crânio e o Corvo e Deus-Máquina, os dois livros mais bem citados pela crítica. Em se tratando de fantasia urbana, Leonel fez um excelente trabalho, e mais: aproveitou-se da fantasia de Arcádia, a terra dos elfos, para narrar o medieval pitoresco misturado ao contemporâneo do nosso mundo. O resultado é simplesmente épico, criando uma história com personalidade, personagens repletos de defeitos humanos, como humanos têm de ser, e características marcantes em sequências de cenas incríveis. Não existe um mistério surpreendente para ser descoberto, nem mesmo um acontecimento explosivo que destrua todos os clichês, mas apesar de ser uma história em que o desfecho era esperado, tudo nas obras de Caldela impressiona. Sabemos como será o final, temos total compreensão sobre o que vai acontecer na próxima cena, e mesmo assim ele nos surpreende, se não com os acontecimentos, ao menos com a forma com que eles são narrados.
Um ponto crucial que faz dessa história ser o que ela realmente é são os personagens, obviamente. A alma dos livros do Leonel se forma com base nos protagonistas, antagonistas e mesmo nos personagens secundários e terciários. As localidades, a cidade em si, tudo ganha vida nas descrições e nas bravatas do autor. Felix, o delegado Dutra, Abel, os Strauss, o Dragão, Salomão, os caçadores... cada um deles deixa sua marca ao fim da leitura. Nas últimas páginas, é impossível não se pegar pensando em cada nome, nas memórias que eles deixarão, nas atitudes que tomaram em certas cenas, coisas assim. Da mesma forma como os locais, em suma o mosteiro e o Coração de Santo Ossário, mas também a Fortaleza de Aubeleine e a própria Arcádia. É tudo tão vivo, tão impressionante, que é quase viável acreditar que essa cidade realmente tenha existido, encaixando-se em algum lugar invisível do nosso imenso país!
Ao fim, resta apenas esperar pela próxima história de Caldela, e torcer para que, em seu sétimo romance, o nível continue assim, sempre a subir! Seja nos confins da Tormenta, seja nas profecias de Urag, seja na histórica e surreal cidade de Santo Ossário, sempre há novas histórias para serem contadas, e sempre, sempre mesmo, existirão leitores ansiosos esperando que elas apareçam de uma vez, como se criadas em laboratório, como se mágicas e eternas.
E você, já desvendou O Código Élfico?

Nenhum comentário:

Postar um comentário