(Um grande obrigado à Senhorita Beatriz, que ouviu essa história antes de qualquer outra pessoa, numa madrugada cheia de Whatsapp. Espero que tenha gostado!)
Há muito tempo, quando os nomes sequer eram importantes, existiam dois
irmãos inseparáveis.
Eles eram gêmeos, um garoto e uma garotinha, quase nada parecidos.
Tinham seus dez anos quando, por ocasião do destino, se perderam dos pais e
foram parar numa floresta. Às vezes, se eles prestassem muita atenção,
escutavam os gritos dos pais os chamando. Mas, quanto mais eles andavam, mais
pareciam distantes das vozes... e próximos de risadas assustadoras.
Não era segredo para ninguém que, no meio daquela floresta, viviam
quatro bruxas risonhas. Elas eram malévolas, sombrias e assustadoras! Ficavam
ali, isoladas do mundo, arquitetando suas maldades. Algumas pessoas diziam que
elas devoravam crianças! Geralmente, elas percorriam as cidades em busca das
suas vítimas. Dessa vez foi diferente. Alguém bateu à porta, e as bruxas nunca
esperavam por visitas.
“Estamos perdidos”, diziam as crianças, batendo na porta. “Nos ajudem,
por favor!”
As vozes não enganavam. Crianças, fresquinhas, saborosas e suculentas!
As quatro bruxas gargalharam, e decidiram que pegariam as crianças dentro da
casa. Assim, abriram a porta e, quando os irmãos entraram, elas os trancaram
para dentro. Era impossível fugir! Os dois eram como ratinhos no meio de um balaio de gatos
famintos.
As quatro bruxas tinham um trato: quem pegasse as crianças primeiro,
ficaria com a menina. As meninas são sempre mais limpinhas, e ninguém gosta de
comer sujeira.
A casa era muito escura e fria. Os irmãos andavam abraçados. Estavam
com fome, com frio e com muito medo.
E foi aí que as bruxas começaram a brincar.
Sempre gargalhando, malignas.
Cada uma das irmãs bruxas tinha um poder diferente. A primeira delas
dominava a areia e o sal. Ela então envenenou tudo o que tinha de salgado na
casa. Distribuiu tortas e sanduíches por todo o lugar, deixou-os envenenados
para as crianças. Famintas, elas devoraram tudo o que encontraram pela
frente... mas só o que era doce! Os irmãos adoravam chocolate, e nada de
salgado era melhor do que as balas e os bolos. A primeira bruxa se viu, assim,
derrotada. Cansada, sentiu fome, e só se lembrou do veneno quando já tinha
comido mais da metade de uma torta.
A segunda bruxa era miudinha, e cega. Ela tinha o poder do frio, e fez
esfriar ainda mais o lugar. Ouvia o dente das crianças baterem, e ria. Mas os
irmãos encontraram um forno, e o fogo os esquentou, aconchegante. Eles fingiram
ter frio, e a bruxa esfriou mais, e mais e mais... Até que ela mesma se
congelou para sempre!
A terceira bruxa era a mais alta, e muda. Ela tinha o poder da
escuridão, e deixava tudo cada vez mais escuro. Os irmãos, carregando um
pedacinho da brasa do forno que até então os esquentava, encontraram um poço no
meio da casa. Quando viram que a bruxa estava por perto, se esconderam, pois adoravam
brincar de esconde-esconde e eram os campeões da brincadeira! Deram um susto na
bruxa, e ela, assim, caiu dentro do poço, incapaz de vê-lo por causa da
escuridão que ela mesma tinha criado. Muda, não pôde pedir ajuda a nenhuma de
suas irmãs...
A última bruxa era a mais perigosa: ela era linda! Diferente das irmãs
medonhas, ela era muito bonita mesmo! Seu poder era o de encantar, e ninguém
era capaz de resistir ao seu charme. Quando ela surgiu, a garota desejou ser
parecida com ela, e o garoto se apaixonou. Ela então jogou toda a sua magia
contra os irmãos, mas eles tinham algo que ela não esperava: um espelho. Quando
a bruxa viu seu reflexo, ficou apaixonada por si mesmo, e não conseguiu sair da
frente do espelho pelo resto de sua vida.
Derrotando as quatro bruxas, os irmãos fugiram. Sem as gargalhadas e a
magia negra daquela casa, conseguiram encontrar os pais e voltaram a salvo para
casa. As pessoas da cidade agradeceram aos dois por derrotarem as bruxas, coisa
que nem mesmo os mais valentes guerreiros tinham conseguido fazer.
Naquele dia, aprenderam uma valiosa lição: quando toda arma falha, só
a ingenuidade de uma criança pode vencer qualquer desafio.
Os irmãos cresceram, e cada um viveu sua vida. Eles até mesmo se
esqueceram das bruxas malvadas! Mas elas nunca se esqueceram deles. E dizem
que, se você passar pela floresta à meia-noite, ainda pode ouvir quatro
gargalhadas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário