quarta-feira, 12 de junho de 2013

Conto - A Lendas das Quatro Gargalhadas

Vamos embarcar em um conto de fadas?
(Um grande obrigado à Senhorita Beatriz, que ouviu essa história antes de qualquer outra pessoa, numa madrugada cheia de Whatsapp. Espero que tenha gostado!)



Há muito tempo, quando os nomes sequer eram importantes, existiam dois irmãos inseparáveis.
Eles eram gêmeos, um garoto e uma garotinha, quase nada parecidos. Tinham seus dez anos quando, por ocasião do destino, se perderam dos pais e foram parar numa floresta. Às vezes, se eles prestassem muita atenção, escutavam os gritos dos pais os chamando. Mas, quanto mais eles andavam, mais pareciam distantes das vozes... e próximos de risadas assustadoras.
Não era segredo para ninguém que, no meio daquela floresta, viviam quatro bruxas risonhas. Elas eram malévolas, sombrias e assustadoras! Ficavam ali, isoladas do mundo, arquitetando suas maldades. Algumas pessoas diziam que elas devoravam crianças! Geralmente, elas percorriam as cidades em busca das suas vítimas. Dessa vez foi diferente. Alguém bateu à porta, e as bruxas nunca esperavam por visitas.
“Estamos perdidos”, diziam as crianças, batendo na porta. “Nos ajudem, por favor!”
As vozes não enganavam. Crianças, fresquinhas, saborosas e suculentas! As quatro bruxas gargalharam, e decidiram que pegariam as crianças dentro da casa. Assim, abriram a porta e, quando os irmãos entraram, elas os trancaram para dentro. Era impossível fugir! Os dois eram como  ratinhos no meio de um balaio de gatos famintos.
As quatro bruxas tinham um trato: quem pegasse as crianças primeiro, ficaria com a menina. As meninas são sempre mais limpinhas, e ninguém gosta de comer sujeira.
A casa era muito escura e fria. Os irmãos andavam abraçados. Estavam com fome, com frio e com muito medo.
E foi aí que as bruxas começaram a brincar.
Sempre gargalhando, malignas.
Cada uma das irmãs bruxas tinha um poder diferente. A primeira delas dominava a areia e o sal. Ela então envenenou tudo o que tinha de salgado na casa. Distribuiu tortas e sanduíches por todo o lugar, deixou-os envenenados para as crianças. Famintas, elas devoraram tudo o que encontraram pela frente... mas só o que era doce! Os irmãos adoravam chocolate, e nada de salgado era melhor do que as balas e os bolos. A primeira bruxa se viu, assim, derrotada. Cansada, sentiu fome, e só se lembrou do veneno quando já tinha comido mais da metade de uma torta.
A segunda bruxa era miudinha, e cega. Ela tinha o poder do frio, e fez esfriar ainda mais o lugar. Ouvia o dente das crianças baterem, e ria. Mas os irmãos encontraram um forno, e o fogo os esquentou, aconchegante. Eles fingiram ter frio, e a bruxa esfriou mais, e mais e mais... Até que ela mesma se congelou para sempre!
A terceira bruxa era a mais alta, e muda. Ela tinha o poder da escuridão, e deixava tudo cada vez mais escuro. Os irmãos, carregando um pedacinho da brasa do forno que até então os esquentava, encontraram um poço no meio da casa. Quando viram que a bruxa estava por perto, se esconderam, pois adoravam brincar de esconde-esconde e eram os campeões da brincadeira! Deram um susto na bruxa, e ela, assim, caiu dentro do poço, incapaz de vê-lo por causa da escuridão que ela mesma tinha criado. Muda, não pôde pedir ajuda a nenhuma de suas irmãs...
A última bruxa era a mais perigosa: ela era linda! Diferente das irmãs medonhas, ela era muito bonita mesmo! Seu poder era o de encantar, e ninguém era capaz de resistir ao seu charme. Quando ela surgiu, a garota desejou ser parecida com ela, e o garoto se apaixonou. Ela então jogou toda a sua magia contra os irmãos, mas eles tinham algo que ela não esperava: um espelho. Quando a bruxa viu seu reflexo, ficou apaixonada por si mesmo, e não conseguiu sair da frente do espelho pelo resto de sua vida.
Derrotando as quatro bruxas, os irmãos fugiram. Sem as gargalhadas e a magia negra daquela casa, conseguiram encontrar os pais e voltaram a salvo para casa. As pessoas da cidade agradeceram aos dois por derrotarem as bruxas, coisa que nem mesmo os mais valentes guerreiros tinham conseguido fazer.
Naquele dia, aprenderam uma valiosa lição: quando toda arma falha, só a ingenuidade de uma criança pode vencer qualquer desafio.

Os irmãos cresceram, e cada um viveu sua vida. Eles até mesmo se esqueceram das bruxas malvadas! Mas elas nunca se esqueceram deles. E dizem que, se você passar pela floresta à meia-noite, ainda pode ouvir quatro gargalhadas...

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