domingo, 23 de junho de 2013

Folhas de Outono


Não será a vida toda como o outono?
No outono, as folhas caem. Talvez, junto delas, tudo caía, desmorone. É o mundo fraquejando, livrando-se de um peso que já não aguenta carregar, imaginando se, assim, poderá ele outra vez caminhar sem que as pernas oscilem. As folhas caem, circundando a árvore que, um dia, fora tão bela, verdejada ou colorida. Ficam ali, ao seu redor, e morrem, como morrem as esperanças de quem se livra do tal fardo que já não suporta. Exaustos, deixamos que, no eterno outono da vida, tudo aquilo caia ao nosso redor, disperso, perdidos, ilustrando o chão e embelezando-o, de forma a nos mostrar que, sim, era tudo tão belo, mas agora, está caído, perdido, distante demais para que possamos reaver.
E o que faria da vida bela, num eterno outono?
Se estamos destinados a uma eterna queda de folhas, como sorrir, como viver? Como manter-nos alegres com a mentalidade de que, numa tarde ventosa e tristonha, toda e qualquer folha de nossa árvore de sonhos pode voejar na brisa, carregada para longe ou, ainda pior, quedar aos nossos pés, visível, distante, impossível de se alcançar.
O outono, por mais eterno que seja, chega ao fim. Se as folhas caíram, talvez assim desejassem. Se os sonhos se perderam, talvez não fossem sonhos verdadeiros. Se as flores deixaram de nascer, talvez não fossem elas a embelezar nosso jardim.
O outono, por mais infinito que pareça, termina. E, ao terminar, as folhas nascem outra vez, límpidas, fortes, sonhadoras. É um processo doloroso, sim, uma dor que poucos sabem como afrontar, mas ao fim, somos outros de nós mesmos. Somos como uma árvore que choraminga ao perder todas suas folhas, e então sorri, recuperando-as, cada vez mais bela, ainda que saiba da dura realidade de que, um dia, tantas delas cairão outra vez, num ciclo eterno e penoso, mas gratificante.
Tal ciclo é o responsável por manter-nos livres de um peso desnecessário. É ele o responsável por afastar de nós sonhos falsos, vontades perdidas, sorrisos perversos. Assim, sacudindo o corpo numa dança primaveril, repleta de calor estivo e da brilhosa magnificência invernal, somos autunais, eternamente, mais leves, mais brandos, mais singelos e incompletos, porém, mais felizes. São nossos sonhos, em dura realidade, como as folhas de outono: eles sempre caem ao nosso redor. Mas, tal como as folhas de outono, eles sempre renascem, mais vigorosos, mais coloridos, mais bem dispostos a se realizar.


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