domingo, 23 de junho de 2013

Como andar de bicicleta



Ali, num parque, bem próxima a mim, uma garota aprendia a andar de bicicleta.
A grama era um empecilho; o medo, outro. Mas seus pais estavam lá, ao seu lado, erguendo os braços e comemorando cada pedalada. Ela hesitava, como todos nós hesitamos, um dia. Eles vibravam como uma conquista metódica, como todos os pais vibraram, também. Não era nada de diferente; era bem simples, na verdade.
E, de tão simples, me encantou.
Ao fim da manhã, a garota não mais sentiu medo. Existiram quedas, não que eu as presenciasse, mas certamente elas existiram. Sempre há quedas quando se aprende a andar de bicicletas. E ali, quando crianças, quando pequenos, compreendemos uma verdade que, em grande parte dos casos, é esquecida pelos adultos: o chão é o limite de qualquer queda. Não há porque ter medo de cair. Você sempre vai poder se levantar e tentar outra vez.
Aquilo me fez pensar em tudo.
Um dia, muito antes, eu também aprendi a pedalar, da mesma forma. Caí, me machuquei, levantei e tentei outra vez, como muitos outros o fizeram. Hoje, já adulto, olho para trás, para todos aqueles instantes, e repenso: já que tudo na vida é tão similar, por que tal fato não funciona para a vida como um todo? A verdade é que nada muda, na vida propriamente dita, mas sim em nossos olhos, na nossa maneira de enxergar as coisas. São olhos de adulto, agora. E olhos de adulto falham. Enxergam menos, pior. Enxergam o que é possível enxergar, e não o que é possível ser. E olhos de adulto têm medo das quedas. Sabem, pela ciência estudada que somente os adultos possuem, que do chão não passarão, e ainda assim não arriscam. Uma queda, hoje, é uma humilhação desnecessária, não um aprendizado. Levantar-se, agora, não é tentar outra vez, mas admitir que, uma vez mais, você fracassou. E adulto nenhum deseja isso.
Mas as crianças, sim.
Elas sempre aprendem mais, com seus olhos de criança. Sempre se arriscam, sempre se machucam, mas sempre voltam e tentam outra vez, e outra, e mais outra, até que conseguem. A vida não é um obstáculo para suas vontades e seus sonhos; é, na verdade, um caminho, uma trilha divertida de seguir, que nos suja, nos rala os joelhos e nos rasgas as calças e meias, mas que, no fim, proporciona uma conquista admirável, e todo o restante terá valido a pena.
Ali, enquanto a garota aprendia a pedalar, enquanto seus pais comemoravam uma enorme vitória de um simples fato, peguei-me sorrindo, com olhos de criança. Orgulho, sim. Talvez, algo mais. E ali, naquele momento encantador, jurei para mim mesmo, como todo adulto deveria jurar para si, um dia, que toda queda me seria um aprendizado, e que me levantaria todas as vezes, quantas fossem necessárias, até alcançar quaisquer que fossem os meus sonhos.
E esse juramento é como andar de bicicleta: uma vez que se faça, você nunca mais esquece.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Show essas reflexões a partir de cenas simples. Belo texto camarada, continue assim o/

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    1. Fico feliz que tenha gostado Henrique, e pode ter certeza que logo mais outras reflexões chegarão ao blog! Agradeço pelo comentário!

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