VIII
Eu
tinha minhas dúvidas sobre o que era o amor.
Quando
eu estava ao lado de Camila, não me restava dúvida alguma. Ele falava coisas
sem nexo, divagando sobre tolices e frescuras, de pares de sapatos a cores de
vestidos, de efeitos de alucinógenos a sabores de bebidas alcóolicas, nada
útil, nada belo.
Só
ela.
Uma
vez, quando ela me pedira para andar de skate, o brinquedo traiçoeiro, como ela
chamava, a derrubou. Ela caiu por falta de prática, obviamente, mas jamais
aceitaria tal fato. O asfalto rústico lhe marcara os joelhos, deixando seu
sangue correr livre. Eu me ajoelhei aos eu lado e, com um pano não tão limpo
quanto deveria estar, comecei a limpá-los.
Não
era exatamente a coisa mais romântica, mas eu me senti diferente. Ela cheirava
a incenso mais do que a perfume. Incenso de ameixa, chutei. Me peguei
imaginando se o seu sangue teria o mesmo gosto do meu, metálico e intenso, e
achei isso bizarro. Ela me perguntou no que eu estava pensando, e eu disse a
verdade, preparado para escutá-la me chamar de nojento, mas ela riu. Disse que eu
era interessante. Diferente demais, estranho demais.
Nada
demais.
Eu
terminei de limpar seus joelhos e ela se levantou, pronta para ir embora. Deu
dois tapas no meu ombro e sorriu, uma despedida que achei masculina demais,
coisa que nunca diria a ela, claro. Perguntei se deveria acompanhá-la, por
motivos de segurança, nada além disso.
Então
ela me beijou.
Seu
beijo tinha gosto de ferro, mas eu acho que era somente minha imaginação.
Quando
ela terminou, me deu outros dois tapas nos ombros, sorriu, e disse que eu era
um merda. Eu não entendi, mas fiquei admirando seu rebolado magricela conforme
ela se afastava.
Naquela
noite, roubei oitenta dólares e gastei mais duas horas com outra prostituta.
Minha
primeira concepção de amor dizia que ele era uma babaquice sem tamanho, que nos
fazia gastar dinheiro e dava vontade de transar.
Descobri, muito depois, que
não estava tão errado assim.
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