III
Eu
tinha um amigo que gostava de escrever.
Seu
nome era Robert Pattinson. Ele não era um mago. Era um homem comum, um garoto
de pouca sociabilidade, um rapaz cujos vultos de um passado de tormentos ainda
assolavam. Ele não era um mago, mas tinha sua magia, e ela estava ali, nas
palavras. Descarregando canetas tinteiros, desafiando as cargas de suas
lapiseiras, ele encantava mundos e mundos com um talento fora do comum.
Sem
pai ou mãe, Rob tinha um cão alegre, ao qual deu o nome de Tomo.
Quando
eu olhava para toda aquela pilha de papéis em sua casa, folhas e mais folhas
que carregavam consigo uma infinidade de nomes, personalidades, amores e
fantasias, eu só conseguia pensar que tudo aquilo era uma tremenda merda.
Não
que desrespeitasse sua escolha, seu hobby, mas o mundo o desrespeitava como um
todo. Para ele, cada palavra era mágica; para o mundo, e para mim, era merda.
Rob
sempre me dizia que seu sonho era espalhar suas histórias pelo mundo todo.
Quando algo se espalha, quando todos concordam, as coisas mudam. É claro que
alguém sempre vai discordar. Se todos pensarem a mesma coisa, quer dizer que
ninguém está pensando. Mas as palavras contaminam, são ingeridas e digeridas e
respiradas, viajam como praga ao vento. Era isso o que Rob queria: que suas
palavras infectassem o universo, que elas pudessem ajudá-lo a repensar no que
lhe acontecia, a entender que tudo aquilo era um erro, que a guerra era um erro!
Assim, Rob escreveu sobre amores, sobre conquistas, sobre princesas e reis,
sobre ensinamentos de velhos sábios e cânticos de belos bardos, e esperou que
aquela semente crescesse como uma árvore grandiosa, mas ela não fez.
Na
hora de adubar, talvez, alguém tenha defecado em sua semente, e ela morreu ali
mesmo, no lugar onde fora deixada.
Naquela
tarde, eu estava ao lado de Rob. Ele não chorava, mas eu sentia o cheiro da sua
tristeza. Eu podia vê-la, senti-la ali, tão presente, por mais que não houvesse
lágrima alguma. Ele chorava por dentro, pois nunca se permitiria demonstrar a
fraqueza que eu sabia que ele tinha. Era tipo um orgulho de escritor, algo
assim.
Junto
de todas as suas folhas, eram mais merda.
Naquela
tarde, nós enterramos Tomo. Ele foi atropelado por um cara alcoolizado. Eu não
estava nem aí, mas Rob sim. Aquele cachorro não era um animal de estimação. Era
sua família. E agora ele estava sozinho, sem ninguém, sem nem mesmo eu.
Eu
o abracei, dei dois tapas em suas costas e fui embora.
A
magia não poderia ajudá-lo, e eu nunca fui bom com as palavras.
Se
o escritor estava sem vontade de viver, não seriam as minhas baboseiras que o
fariam se recobrar.
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