XI
Era
uma noite como outra qualquer, grotesca, fedorenta, silenciosa e escura.
Mas
era o meu aniversário, e eu ali completava dezessete anos, o que não era tão
importante. Minha mãe não mais se recordava disso. Eu não poderia culpá-la, de
fato, ela tivera a mente destruída pela podridão dos atos que ruíram minha
família. Nunca senti falta, no entanto. Um parabéns não era algo que me faria
sorrir, que me deixaria feliz.
Eu
caí quando o skate deslizou, e isso era algo raro. Percebi que estava desconcentrado,
fora de mim. Meus olhos vagavam nas estrelas, no céu escuro, no irreal. Eu
quase pude sentir um abraço confortável em meus ombros. Estranhei aquela
sensação.
Foi
quando eles apareceram.
Havia
fogo em suas mãos.
Não
fogo de fogaréu, um fogo miúdo e singelo. O fogo de velas. Duas delas, dezena e
unidade, formando a idade que eu completava naquela noite. Camila carregava um
bolo apresentável, Robert aplaudia num ritmo exótico. Eles cantaram uma velha
canção de aniversário com meu nome, fizeram rimas toscas, me desejaram
felicidades e mandaram que eu assoprasse as velas, mas não sem antes fazer um
pedido. Eu fechei o rosto, mas estava feliz. Por dentro, estava feliz demais, até. Nunca imaginei que algo
assim pudesse acontecer, nunca em minha vida acreditei que algo tão simples
fosse capaz de me satisfazer de tal maneira a ponto de quaisquer problemas
parecerem apenas riscos de grafite numa folha em branco.
Anda
logo, faça seu desejo! Eles me apressavam com graciosidade.
Eu
não sabia o que pedir. Tinha tanta coisa, ao mesmo tempo em que não tinha nada
para desejar. Qual era a minha maior vontade? Qual era o meu maior sonho?
Pensando dessa maneira, percebi que me conhecia tão mal quanto os dois que
sorriam enquanto me esperavam escolher.
Pensei
no quanto desejei que as coisas ficassem assim, mascaradas de maneira alegre,
como se a guerra inexistisse, como se o mundo fosse um bom lugar. Decidi que o
meu desejo seria o de sempre, o tradicional, aquele que todo mundo pede, mas
que ninguém recebe.
Pedi para ser feliz, para que
tudo ficasse bem, então soprei as velas, assistindo a fumaça carregar para as
nuvens as esperanças que eu tinha daquela baboseira interferir em minha vida.
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