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Um
dia Robert me disse que queria escrever uma história sobre a minha vida.
Como
assim?, eu perguntei. Não há história em minha vida. São dias desolados, sem
emoção alguma. Quem leria uma obra tão catastrófica e bizarra?
Ele
deu de ombros, indiferente, e disse que escreveria ainda assim. Me perguntou se
eu leria, e eu confirmei, obviamente. Não por vontade. Por educação, por
admirá-lo como pessoa, não como escritor, por ser seu amigo. E por se tratar de
uma coisa sobre mim, é claro, o maior de todos os fatores. Eu pensei tudo
aquilo, mas disse a ele apenas que sim, eu leria, e ele me disse que, nos
tempos atuais, já seria o suficiente.
Às
vezes, quando eu me sentia sozinho (o que, em suma, era a minha realidade na
maior parte do tempo), contava a Robert sobre Camila. Ele a viu uma vez, quando
eu a ensinava algumas manobras básicas de skate. Disse que ela parecia uma
patricinha sem rumo e sem personalidade, mas eu a defendi, erroneamente. Era
isso o que ela era: uma filha de ricos fujões, movida por um modismo que a
levou até o abismo, já que nada da estética e da moda sobrevivera ao caos do
conflito. Mas eu a defendi mesmo assim.
Então
ele riu, babaca. Disse que eu estava apaixonado, e eu respondi com o dedo médio
em riste. Eu não estava apaixonado! Ela era somente uma garota magricela! Eu
tinha sexo quando tinha vontade, encontrava alguns dólares na rua e alugava uma
prostituta ou comprava uma revista pornográfica de um mendigo qualquer, sei lá.
Quem precisa de uma mulher? Quem precisa de uma companheira fixa?
Refletindo
sobre isso, vi o quanto ela me fazia bem. Ela estava lá, ao meu lado,
conversando sobre as coisas que eu mais gostava, ou o que sobrara delas. Como
Robert, que era meu amigo, meu melhor
amigo. Como ele, porém em menos tempo, em meses, como ele fazia há anos. Seria
verdade? Eu estava mesmo sentindo algo por ela?
Disse
a mim mesmo que não, e então me virei, mas não sem antes escutar a piadinha
infame sobre o livro da minha vida se tornar um belo romance dramático de
merda. Acenei um foda-se para Rob, e
então parti, vagando pensativo no quão sofrível poderia ser a vida de meus
amigos, ingênuos quanto à mágica que habitava minha existência, se a caçada que
marcou meu corpo fosse guiada de modo a ferir aqueles que me circundavam.
Eu
precisava ser forte.
Precisava
defendê-los, como não pude fazer ao meu pai e à minha mãe.
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