VI
Um
dia eu encontrei uma carteira abandonada.
Não
estava bem abandonada, é claro. Ela
estava no bolso de um cadáver. Eu sempre encontrava as coisas em cadáveres,
corpos mutilados resultantes de um conflito ou de uma armação, mulheres
violadas, estripadas ou simplesmente agredidas, outros similares. Geralmente
eram coisas sem valor: pingentes, documentos, barras de cereais, nada de útil.
Naquele
dia, encontrei cem dólares.
Decidi
que compraria alguma coisa para minha mãe. Quando anoiteceu, saí com meu skate
pelas ruas. As vitrines estavam acesas, propagandas enganosas de luxúrias que a
guerra não permitia, que não eram úteis, mas que eram elegantes o suficiente
para chamar atenção. Eu achava aquilo tudo enojado demais, mas era impossível
negar que, por mais bizarros e inúteis que fossem, todos os produtos eram
banhados num marketing que atrairia uma criança às lojas. Eu mesmo, um rato das
cavernas, desprezível e fétido como tal, senti-me na tentação de comprar um
perfume, uma roupa nova, qualquer baboseira que me fizesse sentir a vida outra
vez.
A
vontade passou rápido, por sorte.
Uma
mulher me chamou. Ela tinha um sorriso de três dentes a menos, seios fartos e
uma saia menor do que uma roupa costumava ser. Pensei que ela me perguntaria as
horas, e eu não teria um relógio para saber, mas ela perguntou meu nome. Eu
disse Raymond, e ela elogiou, disse
que era um belo nome, que minha mãe soubera escolher, e eu fingi sorrir, mas
sabia, bem no fundo, que o responsável por meu nome fora meu pai e não a minha
mãe, apesar de não dizer isso a ela. Ela então ofereceu algo que eu não
imaginava: sexo.
Sim,
eu tinha dezesseis anos e era virgem.
Ela
era uma prostituta, uma mulher com preço e sem razão. Disse que, em duas horas,
poderia me transformar num homem totalmente diferente.
Eu
era um garoto na puberdade, um verme de pensamentos escrotos e ereções
involuntárias, alguém cujo braço direito poderia se fortalecer somente ao
encontrar uma bela mulher de cachos louros-acinzentados. Eu era essa merda
toda, e tinha cem dólares.
Aceitei
sua oferta; aprendi com ela a foder. Ou talvez não tenha aprendido. Pelo preço,
soube que ela me elogiaria, qualquer que fosse o resultado. Achei bom, talvez
por ser a primeira vez. Estranhei somente o oral cujas lacunas nos dentes
deixavam o vento circular, mas enfim, as escolhas eram poucas.
No
final, ela voltou às ruas, e eu voltei para casa, sem presente nenhum para
minha mãe.
Não
me sentia um homem totalmente diferente.
Me
sentia o mesmo verme, o mesmo merda, porém com oitenta dólares a menos.
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