Olá,
companheiros.
Um
mundo tomado por deuses de crenças e costumes. Criaturas sobrenaturais
coexistindo no mundo real, carregada por antigos residentes de culturas
distantes, atravessando mares com navios dentro da mente de tantos homens que
acreditavam em suas existências. Uma guerra entre deuses antigos e novos, cultuados
como mídia, internet e outros. Esse é o cenário criado por Neil Gaiman para a
trama de Deuses Americanos, um épico que terminei recentemente e, agora,
comento para vocês.
Acompanhamos
Shadow em sua vida, que passa da monotonia tenebrosa da prisão para uma empreitada
de mitologias diversas. Shadow foi condenado a anos de prisão por um crime que
desconsidera e, quando próximo de sua libertação, é convocado para saber que
sua mulher, Laura, morreu num acidente de carro junto de seu melhor amigo. A
situação seria trágica, mas Shadow não se abala. Liberado da prisão, vai até o
enterro, apenas para descobrir que ambos morreram por desatenção graças ao sexo
oral que executavam no momento.
Vagando
sem rumo, Shadow conhece um homem que se identifica como Wednesday, e é aí que
as coisas começam a acontecer. Conhecendo pessoas cada vez mais estranhas,
acaba por se envolver numa viagem de direções errôneas que, cada vez mais,
força-o a acreditar em coisas que até então pareciam baboseiras de livros.
A
narrativa de Neil Gaiman, um renomado roteirista de histórias em quadrinhos, é
tão simplória quanto um script de páginas que serão desenhadas. É simples, sem
descrições mirabolantes ou explosivas, mas extremamente funcional que, de tão
eficaz, acaba por exaurir o leitor como se ele próprio estivesse presente
durante as ações. O romance é enorme em termos de palavras, com um número
próximo de 200.000, mas suas 447 páginas, um número não tão absurdo, contam com
tantos acontecimentos sequenciados que é como ler um livro com mais de 1000
páginas. É tudo muito rápido e preciso, e o autor, sempre atento quanto aos
detalhes, não deixa nenhuma brecha passar antes do desfecho, resolvendo todas
as subtramas, resolvendo casos de personagens secundários e, ao mesmo tempo,
relacionando-os com os personagens mais importantes, utilizando de alguns
clichês, certamente, mas sempre com trechos carregados de originalidade e
criatividade.
E
por falar em originalidade, tenho de ressaltar a capacidade do autor de nos
surpreender com termos já batidos, usando-os de uma maneira inovadora e ousada.
Neil Gaiman não tem medo de ousar, como já foi provado em Sandman, Coraline e
outras obras de sua autoria, mas Deuses Americanos é um belo exemplo dessa
situação. Há casais homossexuais, relações sexuais, mortes sanguinolentas e
diálogos cobertos de palavrões, mas nada disso parece forçado no cenário
emporcalhado desenvolvido por ele. O cenário também é trabalhado com primor, apesar
de ser o próprio Estados Unidos na maior parte do tempo. A riqueza de acontecimentos
nos faz sentir o cheiro da ambientação, quase como se nós mesmos estivéssemos
ali.
É
claro que nem tudo são flores. Como em todas as obras, Deuses Americanos também
tem seus pontos fracos, e vale a pena ressaltar o maior dentre eles: a
confusão. Não é rotineira, mas acontece caso as páginas sejam lidas com
desatenção. Graças à velocidade em que as coisas se desenrolam, temos que realmente
nos concentrar na leitura para que não percamos detalhes importantes, o que
aumenta o tempo necessário para o término do livro. Eu mesmo, que geralmente
leio livros em tempo recorde, demorei bastante para terminar (ainda que parte
disso se deva ao fato das provas de faculdade e outros trabalhos, mas enfim).
Não é algo que atrapalhe, no entanto, já que a história é atrativa o suficiente
para impedir o leitor de se afastar por completo. Você pode demorar para
terminar, mas sempre vai querer voltar para Shadow e as loucuras que o
circundam, pode ter certeza disso.
Concluindo
essa análise, Deuses Americanos é um livro excelente. É bem diferente das
leituras que outras obras nos propiciam, sem aquelas descrições garbosas de
cenas e sentimentalismo exacerbado. Ali, todos são humanos e deuses, mas sempre
agem como uma pessoa agiria em tal situação, seja no desespero, seja no
aproveitamento do que lhe favorece. Ver tantos personagens entrarem e saírem de
cena deixando suas marcas é uma coisa que acho fabulosa nos livros, e Neil
Gaiman, renomado como é, se mostra um mestre na estruturação de enredos mais
uma vez, porém agora com um romance de proporções épicas, distante dos
quadrinhos costumeiros. Fica a dica para você que gosta de uma boa fantasia
urbana e seus traços sombrios e sujos.
Até
a próxima!
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