Roteirização a Quadros

Olá, companheiros.
Nosso terceiro Diário de Escritor é um pouco mais prático, sem tanta teoria quanto os demais. Quero ressaltar, antes de mais nada, que nunca trabalhei com quadrinhos. Nunca fiz roteiro para mangás independentes nem nada do tipo, portanto, não tenho experiência alguma na área. Ainda assim, é algo que me envolve, que me impressiona, uma coisa com a qual, um dia, quero trabalhar, ao menos uma vez. Assim sendo, não vou falar sobre a técnica do roteiro, não hoje, pois não me sinto seguro para falar sobre isso. Vou apenas demonstrar um trabalho que fiz, seguindo os moldes de roteiristas profissionais, baseado num roteiro de mangá em que o roteirista é responsável pelos quadros, facilitando (ou não, depende do ponto de vista) assim o trabalho do ilustrador.
Sem mais demoras, vamos ao roteiro propriamente dito:

ROTEIRO PARA QUADRINIZAÇÃO

UM DEUS NA GUERRA

LEGENDA

PÁGINA X

QUADRO X

Descrição do cenário, ou da situação.

Narração da cena, do pensamento, do cenário, etc.

PERSONAGEM X

Fala.

PERSONAGEM Y

Fala.

PERSONAGEM Y CONT’D (balão seguinte, no mesmo quadro)

Fala.

UM DEUS NA GUERRA

PÁGINA 1

QUADRO 1

Campo aberto com árvores, pássaros voando, tranquilidade.

QUADRO 2

Espadas se chocando

A guerra nos alcançou.

QUADRO 3

Corpos Empilhados, sangue no solo, armas e armaduras caídas.

Veio sem aviso. Não estávamos preparados.

QUADRO 4

Olhos abaixo de um elmo cerrado.

Ainda assim, decidi que lutaria. E o fiz.

PÁGINA 2

QUADRO 1 / DUPLO

Campo aberto, diversos guerreiros lutando, magia explodindo no ar, sangue jorrando de corpos cortados por espadas e machados. Leorio no centro, montado, espada em riste.

Defendi o meu povo. Liderei.

QUADRO 2

Leorio à frente de uma tropa, mirando à frente.

LEORIO

Carga!

QUADRO 3

Cavalos avançando, montados por guerreiros de armadura.

PÁGINA 3

QUADRO 1

Leorio atacando, o corte despejando sangue de um inimigo, um orc.

Matei muitos.

QUADRO 2

O exército bloqueando com os escudos, os orcs devastando, pisoteando.

Perdi muitos.

QUADRO 3 / DUPLO

Uma fileira de cavaleiros ultrapassada pela horda, a seguinte temerosa, as expressões de pânico no rosto dos soldados.

Defendi aqueles que podia. Os outros morreram.

QUADRO 4

Dois canhões preparados pelos orcs, sobre carruagens mecânicas.

Eles tinham armas que sequer sonhávamos.

QUADRO 5

Canhões disparando, as munições explodindo contra os cavaleiros, lançando os corpos para o ar.

Uma tecnologia distante, mortal.

PÁGINA 4

QUADRO 1 (LONGO À ESQUERDA)

Hordas de goblinoides salivando, as armas banhadas por sangue, os corpos sujos.

Eram filhos da guerra.

QUADRO 2 (LONGO À DIREITA)

Trolls destruindo barricadas, ogros golpeando as armaduras, as expressões demoníacas.

Demônios das profundezas.

QUADRO 3 (TIRA NO CENTRO)

Leorio, o elmo nas mãos, os cabelos soltos ao vento, desmontado de seu cavalo, a espada em mãos.

Nós éramos crianças.

PÁGINAS 5 e 6

QUADRO 1

Leorio degolando um dos orcs enquanto chuta um goblin. A guerra furiosa atrás de si.

Achei que tudo estava acabado.

QUADRO 2

Leorio olhando para cima, surpreso, o rosto sombreado por algo maior.

Estava enganado.

QUADRO 3 (ENORME, DUAS PÁGINAS)

Uma fera enorme, de asas com espinhos e cauda escamosa, pelos cobrindo a garganta e as patas miúdas. Acima de suas costas, couro de montaria, dezenas de goblins e orcs montados, portando bestas de setas flamejantes e arcos maiores que seus corpos, disparando no exército abaixo. A fera de bocarra semiaberta, deixando fogo escapar. Leorio à sua frente, a espada entre as duas mãos, o elmo caído ao chão. O cavalo fugindo, os cavaleiros mais próximos caindo, desesperados, largando as armas para fugir. A fera é como um dragão, mas não é um. Tem seis chifres curvos na testa, e um olho central e felino.

Era só o começo.

PÁGINAS 7

QUADRO 1

Os guerreiros fugindo da fera, as chamas engolindo cavaleiros, Leorio se esquivando do sopro.

Meus homens não estavam preparados.

QUADRO 2

Leorio em investida, a espada estocando na carne da fera, brilhosa, o sangue jorrando pelo ferimento.

Talvez nem mesmo eu estivesse.

QUADRO 3

A criatura abocanhando a espada, duas presas se partindo, a lâmina se trincando.

Mas uma coisa era certa.

QUADRO 4

Leorio, desarmado, o estômago aberto pela marca da mordida, arremessado para longe. Uma marca em seu pescoço brilhava, abaixo dos cabelos.

Descobri, naquele dia, que era diferente.

QUADRO 5

A fera rugindo, o fogo escapando por entre sua boca e suas narinas, os goblinoides acima dela gargalhando, alguns com medo.

Alguns morriam na guerra.

QUADRO 6

Leorio, agachado, um dos joelhos no chão, o corpo coberto por uma aura violenta, os olhos num brilho de fogo, a energia escapando pelas chamas brilhosas.

Eu nasci.

Aproveitando, gostaria de alertar que esse estilo de roteiro foi baseado no estilo utilizado pelo JM Trevisan em Ledd, trabalho em conjunto com o talentoso ilustrador Lobo Borges. Como disse, não sou profissional, mas gosto de dividir as experiências, demonstrando assim um trabalho que pode (e deve) melhorar muito. Sintam-se livres para comentar e criticar, estou aqui para isso.
É importante ressaltar também que, ao mostrar esse roteiro para um desenhista que conheço, ele disse que preferia cuidar dos quadros. É algo mais complicado para o desenhista, realmente, e muito mais simples para o roteirista, portanto não se acostumem. Se desejam trabalhar com isso um dia, busquem o conhecimento de ambas as áres, tomem responsabilidade pelos quadros, aprendam como funciona a distribuição de uma página, a diagramação, todo o trabalho do ilustrador. Desenhar é uma arte, por vezes um hobby, mas não dificulte as coisas para o profissional. O trabalho em conjunto é a peça mais importante para o sucesso de uma obra!
Até a próxima!