terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Resenha - Mortal Engines

Olá, companheiros!
Seguindo a trilha das resenha, hoje comento sobre o primeiro livro de uma série do Philip Reeve, pubicada aqui no Brasil pela Editora Novo Século. Para quem não conhece, Mortal Engines começou em 2001, quando seu primeiro livro foi publicado no exterior. Para nós, entretanto, demorou uma década para chegar, mas chegou num bom momento, no qual a literatura fantástica medieval está tomando conta dos leitores. Essa série, que de medieval não tem nada, veio para apresentar novos horizontes para nós, amantes da literatura. Vamos conhecer um pouco mais?

Mortal Engines conta a história de Tom Natsworthy e Hester Shaw que, a princípio, não se conhecem, mas terão incontáveis aventuras numa vida de perigos. Junto deles, somos apresentados a um cenário pós-apocalíptico onde uma tal Guerra dos Sessenta Minutos desvastou todo o mundo, restando assim poucas paisagens para se admirar. Agora, como não há muito o que se aproveitar no terreno emporcalhado de nosso planeta, as cidades foram tracionadas para que pudessem se mover, como veículos, e assim devorarem outras localidades, se aproveitando de suas riquezas e de seus mantimentos. A vida restante era assim, móvel e nômade, e mesmo o dia anterior era incerto. Criativo, não?
O primeiro livro, que carrega o nome da série, é intenso e emocionante, repleto de altos e baixos, onde somos apresentados a personagens e localidades antigas, que fazem referência a diversos nomes conhecidos em nosso mundo. Existem também muitas aeronaves nomeadas, o que nos leva a um certo ponto steampunk, por mais que o cenário já tenha passado pelo cyberpunk algum dia. Conforme o desenrolar da trama, os personagens acompanham o desenvolvimento, saídos de um ponto de partida, onde todos são jovens e tolos, até alcançar a maioridade mental, forçados pelos acontecimentos tenebrosos que os circundam. Por vezes, tudo parece uma simples jornada, mas há algo muito maior por trás de cada subtrama, e tudo está interligado no final, nos levando a um desfecho súbito e chocante.
Como ponto positivo, tenho de ressaltar a originalidade da história, que parece carregar pouca inspiração alheia em suas páginas. Mesmo a personalidade de seus personagens é variada, se afastando dos arquétipos tradicionais, por mais que haja infinitos destes. Não existe o 'mocinho sempre bom e risonho', nem mesmo a 'garota inteligente disposta a se sacrificar pelos outros'. Tudo é sujo, como uma ficção banhada pela realidade. As pessoas vivem por si só, como estamos acostumados a ver em nosso mundo. Matam pela ambição, fazem de tudo para que se mantenham acima dos problemas, para estarem sempre em elevadas posições sociais. Mesmo em tempos de caos e catástrofe, a disputa humana ainda existe, e o autor sabe retratá-la de maneira eficaz. Além disso, temos Hester como uma personagem atípica. Ao contrário das personagens do sexo feminino de 99% das histórias, Hester não é a 'linda e exuberante' guerreira, mas sim uma mulher marcada por cicatrizes e um passado tenebroso, que não tem medo de morrer por já se considerar morta. Desse modo, vemos que Philip Reeve não teve medo de sua ousadia, o que nos presenteou com uma obra de arte.
Como ponto negativo, retrato certas partes da escrita, erros que não sei se foram culpa da tradução ou do próprio autor, em que tudo parece um roteiro de teatro, um script de cinema. Parece uma jogada usada pelo escritor para diferenciar o ponto de vista da situação, mas não deu muito certo. Os trechos se tornaram chatos, cansativos e estranhos, mas por sorte ocupam pequenas partes do livro, o que não prejudica a leitura. De resto, o modo de escrita utilizado por Reeve é simples, mas ele tem total maestria sobre o que quer descrever, desde uma cena de carinho até uma sanguinolência sem tamanho.
Enfim, fica a recomendação para quem admira histórias steampunk e pós-apocalípticas, e também para aqueles que procuram um novo tipo de literatura fantástica. Não há monstros, não há mágica, mas há uma fantasia surreal e inquieta em cada página de Mortal Engines, o que torna o livro uma leitura agradável e saborosa.
E o segundo volume já está à venda pela Novo Século, e também já foi lido! Logo mais trarei uma resenha sobre este, que se chama O Ouro do Predador. Não deixem de conferir!

Até a próxima!

5 comentários:

  1. O primeiro livro é bacana, mas o segundo da série, o Ouro do Predador, me decepcionou um pouco.

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  2. Gostei do primeiro, mas ainda não li outros.
    Me lembra um pouco a trilogia "tripodes" de John Cristopher, mas não sei por que.
    Mas é totalmente "Setampunk, isso é verdade.

    Brega Presley

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  3. Eu já prefiro o segundo livro, pois achei que no primeiro o Philip Reeve ainda estava se descobrindo como um autor desse estilo, e no Ouro do Predador ele já tinha mais controle sobre a obra e tudo mais. Em breve trago a resenha para cá.
    Enquanto isso, esperamos pelo anúncio do terceiro volume pela Novo Século, mas até agora nada.

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  4. Ah, postei açgo sobre o tema uns meses atrás, mas tive de caçar.

    Se interessar:
    http://keeprollingrpg.blogspot.com/2011/08/trecos-que-dariam-bons-rpgs-1-mortal.html

    Braços

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  5. Legal a interação com rpg, mas bom mesmo seria um filme. Difícil que se torne adaptado ao cinema porque, como disse na resenha, a protagonista não é o arquétipo feminino adorado pelos cineastas. Ela é horrenda, e isso não chama a atenção, de acordo com a perspectiva deles. Além do mais, o responsável pela direção do filme (que já tem os direitos vendidos há tempos) é ninguém menos que Peter Jackson, o mesmo que está envolvido com outros dois filmes do TinTin e com as duas partes da adaptação de O Hobbit, então...

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