quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Resenha - Deus Máquina

Olá, companheiros.
Estava eu sem sono nesta madrugada. Pouco mais de 2 horas, o frio ainda era mediano, 65 páginas da mais pura ficção de Leonel Caldela me chamaram para terminar a aventura que tanto me agradara até então. Investi horas de meu descanso no fim deste livro, e sabe a que conclusão cheguei?
Valeu a pena, dude.
Deus Máquina é continuação direta de O Caçador de Apóstolos, ambos lançados por Leonel Caldela em parceria com a Jambô Editora. Em um cenário épico de fantasia imunda, Leonel retrara a vida dos generais e dos rebeldes, da Igreja e do escritor Iago que, mesmo após passar por diversos infortúnios em sua vida medíocre, acaba por se envolver na maior descoberta que seu povo poderia fazer, guiado por uma vontade incontestável dos homens que o acompanhavam.
Em Deus Máquina, conhecemos um pouco mais sobre aquele mundo sujo, que acaba por se revelar como muito mais fantasioso do que se esperava. A revelação surpreendente na última página de Caçador de Apóstolos nos deixa instigado a esperar pelo desfecho, e Leonel não decepciona. Está tudo lá, suas maiores características, a frieza com que retrata a "realidade fictícia", a personalidade marcante de cada um dos seus personagens. As estratégias de combate, as reviravoltas, tudo no maior estilo Bernard Corwell, ainda mais envolvente do que a Trilogia Tormenta. Os livros anteriores são meus favoritos pelo cenário empregado, mas foi nessa série que Leonel Caldela realmente se superou, sentindo-se livre para criar e destruir, pois o mundo era dele, sem limites, sem fronteiras. E assim o fez, carregando personalidades e rostos desconhecidos, mostrando o desenrolar de subtramas envoltas em passados tristonhos e atos banais, pois todos os homens guardam algo de mal dentro de si.
Uma marca que acho bastante impressionante nas histórias do Leonel é a sua crueldade de detalhes. São humanos (ou similares, em suma mortais), e como humanos erram, se desesperam, não medem esforços para sobreviver. Por mais que sejam heróis para seus homens, os generais ainda são simples guerreiros de armadura, podem sangrar, morrer ou coisa pior, como serem aleijados. Está tudo lá, num épico de confrontos colossais e inesperados e, como sempre, os últimos capítulos nos surpreendem por tirar o fôlego numa batalha de propriedades devastadoras e pensamentos dignos de um estrategista.
Deus Máquina é o primeiro livro de Caldela que não encerra com uma surpresa, uma reviravolta ou uma revelação bombástica. Acaba como começou, sem pressa, sem prometer nada além, mas acaba como as histórias verdadeiras terminam. Nem por isso perde o clima, muito pelo contrário, apenas realça a humanidade de seus personagens. Diferente de Tormenta, a ambientação criara para a série de Urag não tem poderes divinos, sequer possui deuses verdadeiros. Assim, era de se esperar que os sentimentos e as ações de seus personagens superassem as barreiras do impressionismo, pois nada poderiam fazer além do que os homens são capazes. As atitudes ainda espantam, entretanto, vemos pessoas comuns se tornarem assassinos e vice-versa, como a vida real. Tudo depende da situação, e Deus Máquina retrata com perfeição essa realidade.
O encerramento concluiu a saga de Atreu e os demais generais, narrada por Iago e suas fantasias. O escritor teve um papel bastante importante para a trama, ainda que não fosse o melhor dos guerreiros (mas talvez o pior), mostrou-se corajoso no fim, quando foi necessário. Retratou suas verdades e mentiras com maestria, agraciado por um background rico, por companheiros e inimigos, por lembranças dos tempos passados. E, por falar em tempos passados, conhecemos bastante sobre os antigos, o que nos deixa maravilhado. Vemos que, por trás de toda aquela selvageria bárbara, houve um tempo de máquinas, de tecnologia, de sucesso. Não vou lhes adiantar nada sobre os detalhes, mas garanto que vão admirar a escolha do plot do autor, que costuma abusar de sua criatividade quando se trata das ligações entre personagens/cenários/passado e futuro.
Enfim, Deus Máquina encerrou uma saga, mas talvez não seja o último livro deste cenário. Leonel Caldela deixou bem claro que gostaria de escrever outras histórias neste mundo, ainda que tenha alertado, nas últimas páginas deste épico, que seu próximo livro teria um novo cenário. Confio no autor, ele sempre consegue nos encantar com sua arte, mas que não deixe Urag esquecido. Seria muito interessante ver alguma história se desenrolar na terra dos antigos, por exemplo, no tempo steampunk pelo qual aquele mundo já passou. Deixo uma sugestão, enfim, mas só nos resta esperar.
No entanto, para aqueles que não desejam esperar, a Dragon Slayer lançou uma adaptação do cenário de Deus Máquina para RPG de mesa. Quer criar as suas próprias aventuras neste mundo vasto e brutal? Aproveite a chance que a revista oferece, o próprio autor ensina, com direito aos autômatos e aos tabletes místicos dos druidas!

Até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário