quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

[A Balada do Caçador] - 7. Para um Bem Maior

Olá, companheiros.
Postagem veloz, trazendo apenas o sétimo (e último) capítulo da Light Novel 'A Balada do Caçador', iniciada como um projeto para demonstrar este gênero tão famoso no Japão. Sem mais demoras, segue o Sumário dos capítulos anteriores e o capítulo propriamente dito, e logo mais trarei o Epílogo, o qual estou terminando neste exato momento.
O QUE SÃO LIGHT NOVELS?
PERSONAGENS
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6


VII

Para um Bem Maior

Estavam no mundo dos monstros, o Outro Lado da realidade. Ali, todo o poder era real, não tinha limites. Ali, tudo poderia existir de uma maneira diferente da Terra. Seria como espelhar a verdade; tudo estaria lá, mas por um novo ângulo, um novo ponto de vista. Diferente, ainda que similar.

Aquele era o Outro Lado, mas Eloy não sabia disso.

Não faria diferença. Tinha algo mais importante para se preocupar.

“A nossa história é um pouco diferente, meu querido e amado irmão”, Abel falava com a voz elevada, a sanidade lhe abandonava cada vez mais. “Na Bíblia, Cain matou Abel, se recorda? Mas fui eu quem te matou, Cain. Eloy. Não importa que nome use. Eu te matei uma vez, posso fazer de novo”.

“Deveria eu ter arrancado a sua língua naquele dia. Talvez assim você não falasse tantas bobagens”.

Abel sorriu.

Eloy sentia o poder dentro de si. A magia que obtivera em seu nascimento, o talento que o compunha, tudo estava lá. A Voz estava próxima e, naquele mundo, mesmo sua proximidade era capaz de oferecê-los poderes. Na verdade, ela o faria de qualquer maneira, pois aquele era seu desejo. A Voz queria existir e, para isso, precisava que ambos os irmãos se matassem. Oferecia a eles o poder necessário para isso, o que, no fim, traria recompensas incríveis.

Eloy sentia o poder, aquela força que circundava suas veias, que fervia seu sangue. Tinha de lutar, de vencer. Aquela era sua última luta.

Aurora.

Lembrava-se de sua esposa, as recordações eram dolorosas. Talvez a culpa fosse sua mesmo. Talvez fosse ele o responsável por todas aquelas mortes que, agora, ganhavam uma finalidade. Todo aquele sangue, todos aqueles inocentes, era tudo parte de algo maior, de um plano arquitetado por uma força maligna. Uma força que surgira de dentro de si e de Abel, dos irmãos que nasceram marcados para a grandeza, que nasceram com o orgulho e com a inveja.

Sentiu a dor de todas aquelas mortes, e isso quase o derrubou antes mesmo da batalha começar.

Abel avançou.

Não tinham armas. As espadas ficaram no mundo real, as metralhadoras foram dispensadas após a chacina no palco. Eram homens, e teriam de lutar como iguais. Tinham os punhos, as pernas, os dentes e os corpos.

E a magia.

Abel desenhou no ar com suas luzes, os lampejos trovoaram, o chão sob os pés de Eloy incendiou. Eloy saltou para longe, correu na direção de um prédio, se espantou ao descobrir que conhecia aquela construção em seu mundo. Estava em sua cidade, espelhada para uma realidade exótica. Acima dos terraços, monstros observavam, eram muitos, incontáveis. O solo queimou outra vez, crepitando pela magia de Abel, Eloy tropeçou, sentiu a pele queimar junto das roupas. Era perigoso.

“Não se desconcentre, irmão, ou vai facilitar as coisas. Essa é a última vez que lutamos. Faça valer a pena”.

Eloy arriscou, pensou em flechas, abriu os olhos e elas estavam lá, materializadas por sua vontade. Despejou uma saraivada de setas brilhosas contra Abel, que se protegeu com um escudo cintilante, continuando a correr. Eloy estranhava aquela sensação. Por tempos, caçara o sobrenatural, e agora sentia-se parte daquilo. Tinha a magia, tinha o conhecimento. Era estranho.

“Você pode fazer melhor do que isso”, ameaçou Abel, e fez um terremoto. Abriu os braços com presteza, o chão o acompanhou, rompeu-se num abismo tenebroso. “Venha, Eloy, venha me enfrentar!”

Para evitar a queda, Eloy imaginou-se preso num chicote, ele estava lá para lhe salvar. Pousou de maneira imprecisa, deixou-se rolar nos destroços daquele mundo irreal, levantou-se de imediato. Abel estava lá, tinha uma lâmina luminosa nos braços, Eloy fez o mesmo. As espadas mágicas se chocaram, faiscaram em todas as cores, as luzes perfuravam o solo como brocas.

“Abel, você vai nos matar! Vai dar à Voz o que ela quer, vai transformar essa coisa em realidade! É isso o que pretende? Fazer tudo o que tínhamos de ruim ser capaz de existir em apenas um corpo?!”

“Eu já disse que não pretendo morrer, Eloy, pense o que quiser pensar. Vou matá-lo, e assim terei todo seu poder para mim. Quando a Voz me contou aquela história, entendi nossa rivalidade, nossa disputa eterna pelas caças. Entendi que preciso derrotar você, custe o que custar!”

“Você é louco, Abel, tem que entender isso! Não está pensando nas consequências! A Voz está usando você, transformando-o num boneco como aqueles usados para a apresentação de teatro! É isso o que escolheu para sua vida? Ser uma marionete de um monstro qualquer?”

“O que você sabe sobre a minha vida?!”, gritou, e seu brado explodiu em magia, atirou Eloy para longe. As espadas se uniram outra vez, numa disputa de força. “O que sabe sobre o que passei, Eloy? Me diga, Cain?! O que sabe sobre os dias em que vivi em suas sombras, escondido no talento e no orgulho que você era? O que sabe sobre a inveja que me corroía, sobre o ódio que me destruía por dentro? VOCÊ NÃO SABE NADA!”

Eloy tropeçou pelo impacto, caiu de costas ao chão, a espada rasgou seu estômago. Cuspiu sangue, não seria derrotado daquela maneira. Tirou a lâmina de si, atacou com a sua, cortou o peitoral de maneira superficial, as vestes claras de Abel se rasgaram. Pisou à frente, empurrando seu oponente com sua pressão, atacava sem parar.

“Você me invejou, Abel, você sempre me invejou! Naqueles dias, durante as caças, você sempre pensava em me superar, em me vencer! Mesmo quando enfrentávamos monstros, você não se importava em vencê-los, queria apenas se mostrar superior! Isso é o que eu sei, Abel! Eu sei que você é um egoísta, que pensa apenas em si mesmo!”

“EGOÍSTA?!” A fúria se dispersou em seu grito, derrubou os arranha-céus mais próximos. Os monstros que observavam a luta recuaram, apenas uma silhueta restou sobre uma ponte, as asas abertas, auxiliavam no equilíbrio. “Acha que eu sou egoísta? Depois de tudo o que fez, de tudo o que eu passei, ainda se acha no direito de me chamar de egoísta?! Você me culpou por seus erros, me transformou em uma desgraça para nossa família! Seu maldito talento me assombrou em todos os sonhos, era capaz de me importunar até mesmo em pesadelos! Toda sua vida escondeu minhas oportunidades de sucesso, fizeram de mim um filho indesejado, apenas porque VOCÊ era o prodígio, o melhor! Ainda se acha no direito de me chamar de EGOÍSTA?!”

A Voz estava lá, observava sem ter olhos. Tudo estava de acordo com o planejado.

Abel atacou em frenesi, Eloy não conseguia se defender, resolveu atacar sem pensar. As espadas brilhosas eram afiadas, feriam com facilidade, derramavam sangue no solo sombrio. Cada choque das lâminas encantadas fazia aquele universo paralelo tremer, vidros trincavam, residências cediam ante ao poder oferecido pela Voz. Abel e Eloy lutavam, se enfrentavam como guerreiros, como caçadores, como irmãos. Atacavam para matar, sem medo, sem hesitação.

“Você não vai abrir os olhos, não é?”, Eloy arriscou uma última vez. “Nunca será capaz de entender o que está fazendo, nunca vai perceber o quão tolo está sendo neste momento! Você pretende mesmo seguir as palavras daquela coisa que NÓS criamos, não é, Abel?!”

“Eu vou seguir aquilo que EU MESMO decidi, Eloy! Vou matá-lo, vou reaver meu poder, vou roubar o seu talento! Tudo aquilo que os outros agraciavam, que eu tanto invejei. Eu terei tudo, Eloy, será tudo meu!”

Eloy parou. Abriu os braços, deixou que a espada caísse no chão, desaparecesse. Suspirou.

Abel hesitou.

“Tudo bem, então”, disse Eloy, “mas não quero participar disso. Não quero me sentir culpado por povoar o mundo com minha própria maldade. Não quero contribuir para esta sua loucura, não serei mais um boneco obedecendo às regras da Voz. Se nos enfrentarmos, ela será real, trará problemas para este mundo e para o nosso também. Se quer me matar, não serei um obstáculo, Abel. Vá em frente. Acabe com isso”.

“Não!”, a Voz se exaltou, mas ninguém foi capaz de escutá-la. Nunca mais ela seria ouvida.

“Você é um covarde, Eloy. Está se entregando porque tem medo de perder. No fundo você sabe que não pode me enfrentar, sabe que eu sempre serei superior. Prefere desistir do que ser derrotado. Grande orgulho o seu, irmão”.

“Asneiras. Como sempre, você só fala asneiras. Acabe logo com isso, Abel. Não é fácil abrir os braços como um suicida para evitar que o seu irmãozinho faça uma merda enorme capaz de afetar o mundo todo!”

Abel praguejou.

“Quem é você para falar assim, Eloy? Desde quando você se tornou o responsável, aquele que pensa no mundo todo antes de dar cada passo? Desde quando é capaz de ditar o que é melhor para cada um?”

“Cale a boca, Abel. Apenas faça”.

“E se eu me recusar, Eloy? E se eu preferir esperar que você deixe de se acovardar para te enfrentar como homem?”

“Mate-me, Abel, ou isso nunca vai acabar!”

“E SE EU ME RECUSAR?!”

Eloy baixou os braços.

Naquele momento, desistiu de si.

“Eu sempre serei mais forte do que você”.

Com agilidade sem igual, Eloy se atirou sobre Abel, desarmou-o e, com sua espada mágica em mãos, trespassou o próprio corpo.

Não podia ter medo.

Era a única solução.



Até a próxima!

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