sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

[A Balada do Caçador] - Prólogo

Olá, companheiros.
Para quem ainda não conhece, A Balada do Caçador é um projeto de Light Novel que estou organizando, iniciado com uma postagem temática do Diário do Escritor, que pode ser encontrada AQUI. A primeira postagem de A Balada do Caçador tinha os PERSONAGENS, agora resta-nos o prólogo, e é este que vos trago nesta nova postagem. Como disse anteriormente, não sou expert no assunto, portanto, dividam opiniões, vamos seguir essa jornada juntos! Comentem, critiquem, avaliem. É para isso que serve o blog Elhanor, obviamente.
Segue abaixo o Prólogo de A Balada do Caçador.

Prólogo

Havia uma plateia imensa, cercando o largo palco obscuro, sem luzes para iluminar. A cortina vermelha parecia sombria, frente ao jardim de olhos que aguardava, tomado por ansiedade, o início do espetáculo.

Quando a primeira luz se abriu, todos aplaudiram com vontade. Alguns se levantaram, outros assoviaram usando dos dedos entre os lábios.

“Vai começar”, era o que mais se ouvia, somado ao murmúrio irônico de “calem a boca”.

“Ouvi dizer que hoje temos o melhor pianista”, alguém comentou.

“Sempre tivemos a melhor orquestra”, veio uma voz distante.

“Não, desta vez é diferente”.

“Diferente como?”

“Ele não é daqui!”

“Não é?”, com insegurança. “Então de onde é?”

“De longe.”

“De muito longe.”

“Das terras além.”

A cortina começou a se abrir.

“E os outros?”

“O restante da orquestra?”

“É, o restante!”

“Os de sempre”, com desânimo. “Não me importo com eles. Me importo com o pianista”.

“Será que ele é um bom músico?”

“Quem se importa?”

Outras duas luzes se acenderam. O palco começava a surgir, ante a escuridão, a madeira sorria com timidez junto dos holofotes e dos cones de iluminação brilhosa e artificial.

“Eu me importo!”, uma velha, apoiada em sua bengala.

“Ele tem de tocar bem!”, resmungou seu marido, sequer conseguia olhar para o palco pela tremedeira de seu rosto.

“Ele vai, fiquem tranquilos”, assegurou um garoto de no máximo seis anos. “Há quanto tempo assistimos as apresentações daqui? Quantas foram ruins?”

Hesitantes, todos concordaram. Nunca uma apresentação daquele teatro fora ruim. Nunca antes a orquestra, sempre repetida, desonrou o valor absurdo que se cobravam das entradas. Nunca antes os músicos desencantaram, nunca foram ruis aos ouvidos.

Mas o pianista era novo. E era de longe.

A cortina continuou a se abrir, outras luzes surgiram. O primeiro músico foi iluminado. Era um velho de violoncelo.

“Boa noite”, disse ele, sorridente e cínico, como um artista deve ser.

Aplausos.

A cortina continuou, surgiu uma mulher de vestes curtas, cabelos negros, flauta na boca.

“Sejam bem-vindos”, se oferecendo, era bonita e atraente. Homens se excitaram, mulheres mantiveram a cordialidade.

Aplausos.

O terceiro músico na brecha das luzes era o saxofonista. Tinha um bigode curvo e uma careca cintilante.

“Espero que admirem nossa apresentação”, mantendo a elegância e a atuação nos olhos.

Aplausos.

A quarta era uma ruiva, tinha um violino. Ao seu lado, três gêmeos ruivos, sardentos e violinistas, como a mãe.

“Somos todos uma só família”, e sorria, os garotos pulavam de alegria.

Aplausos.

Então o quinto, o sexto e o vigésimo, e muitos outros, era uma orquestra. Enorme, intensa, unida. Músicos. Uma família.

E sempre os aplausos.

A cortina terminou de se abrir, o centro do palco ainda era escuro. Então, luz, holofotes centralizados, focados no mesmo local, no mesmo objeto.

Um piano.

A plateia se levantou.

Lá estava Eloy.

Ergueu-se, como maestro, como protagonista de uma apresentação conhecida. Era novidade, todos o admiravam sem saber. Era conhecido, mas ninguém sabia seu nome ou sua origem. Era famoso, mas ninguém sequer ouvira falar de seu talento.

Era Eloy.

“Saudações, meu belo público”, com desprezo. Soprava as palavras. Era frio, não apresentava um teatro como seus companheiros de profissão. Apresentava a música, não sorrisos. Cumprimentou-os, com educação, deu as costas aos aplausos embasbacados e sentou-se. Ergueu a madeira do teclado, afastou a poeira do piano com a respiração.

“Ele é estranho”, comentavam.

“De onde ele é?”

“Nunca o vi antes!”

“Quem é esse cara?”

“Será que ele é realmente bom?”

Eloy ouvia, sem se importar. Estava acostumado.

Seu show era outro.

Bateu palmas, duas vezes, silêncio reinou.

“Peço que se mantenham calados durante a apresentação“, disse sem temer. “Não desrespeitem os músicos. Obrigado.”

Esticou as luvas nas mãos.

“Que frescura!” alguns reclamavam.

Eloy fitou a plateia, todos emudeceram.

Ali, era rei. Apenas ali.

Os instrumentos entoaram suas melodias. Saxofones, violoncelos, flautas, violinos, bumbos, tambores, outros mais. O piano calado, estático.

“Ele não vai tocar”, alguém apontou.

“Fique quieta!”

“Não gostei desse homem!”

Eloy fechou os olhos. Dedilhou seis notas, acompanhou a sinfonia. Era rei. Jogou as mãos enluvadas para dentro das vestes. As luzes dançaram no palco, a escuridão acobertava a plateia. O piano inerte, sem som.

Vaiaram.

“Suma daí se não sabe tocar!”

“Onde está o outro pianista?”

“Ele era centenas de vezes melhor que você!”

Eloy não se preocupou em responder. Era rei.

Tinha um plano. Tirou algo das vestes, todos perceberam, sem deduzir o quê.

“O que ele vai fazer?”

“Tocar piano é que não vai!”

“Pianista de merda!”

“De onde esse homem veio?”

“Morra, seu inútil!”

Eloy ouvia, sem nada dizer. Levantou-se. A música não parou. Os músicos estranharam, mas não deixaram de tocar.

“Hoje teremos uma apresentação diferente”, disse ele, como o rei que era. Ajeitou os óculos no rosto com o ombro, tinha algo escuro nas mãos. As luzes enganavam. “A orquestra é a mesma. O pianista não. Nem a música.”

“Cale a boca!”

“O que você sabe sobre música?”

“Por que não toca seu piano?!”

A plateia enraivecia-se.

Eloy ergueu as mãos: empunhava um casal de metralhadoras gêmeas.

Suspiros. Pavor.

Eloy suava, excitado, ansioso. O suor estragou seu penteado, não que se importasse. As luvas deixavam as armas escorregarem, segurava-as com firmeza. Seus bebês. Naquela noite, seus instrumentos.

Estava sedento.

“A música de hoje se chama...”

Refletiu. Algumas pessoas começavam a se levantar, empurrar as outras.

Estava faminto.

Mélodie du chasseur”.

A melodia do caçador.

Disparou, descarregou as armas, fuzilou seu público. Era insano, o sangue jorrava, choveu vermelho dentro da apresentação da orquestra. Os músicos pararam, as armas se moveram velozes, nenhum deles conseguiu fugir. O metal que rugia voltou-se para o povo, não permitia que ninguém escapasse. Estrondos, gritos, medo e pânico, morte e sangue. O rubro jorrou, cobriu as roupas de Eloy, não o deteve. As poltronas se partiam, as pessoas perdiam as vidas e os corpos nas rajadas incessantes das metralhadoras.

Para Eloy, aquilo era música.

O melhor de todos os sons.

Sangue, sangue e mais sangue, sangue sem parar, sangue para todos os lados. As pessoas despejavam suas vidas para cima, para os cantos, sobre os assentos, formavam córregos nas escadarias. Tentavam correr, tropeçavam em mortos, empilhavam-se sem que fosse necessário arrastar corpos. Gritaria, estrondo.

Música.

As cortinas se fecharam, se abriram outra vez, rasgaram-se perante os disparos. A madeira do palco se cobriu de vermelho do sangue, o tecido da cortina já o era, apenas se borrou. Gritos, morte.

Música.

Então, silêncio. As armas fumegaram, calaram-se, sem mais vida. A plateia também. Alguns sobreviveram, urinados pelo medo. Fugiram, Eloy deu de ombros. Não eram importantes. Ali, ninguém era.

Silêncio. A música acabou. A apresentação também.

Todos estavam mortos. A orquestra nunca mais tocaria. Nem Eloy.

Merci”.

Jogou as armas para longe, tilintaram na madeira, então silêncio outra vez. Estava feito.

Achou ‘melodia do caçador’ um pouco sem graça. Balada. É, balada era melhor.

Balada do caçador.

Que diferença fazia?

Estavam todos mortos. Logo ele também estaria. Logo seria mais um, apenas mais um, ou menos um, talvez.

Merci”, repetiu.

Alguém aplaudiu no caos, sem pressa.

Merci”.


E agora, o que estão achando da história?
Como podem perceber, há descrição, mas ela é muito mais simples do que um romance verdadeiro, o que facilita bastante o entendimento. A presença das figuras (que ainda são inexistentes, hehe) facilitaria ainda mais o processo de envolvimento com personagens e cenários, mas enfim, vamos da maneira que podemos. Deixem suas opiniões sobre A Balada do Caçador, e ajudem esta light novel a chegar ao seu final que, apesar de estar planejado, pode mudar a qualquer momento.
Até a próxima!

2 comentários:

  1. Caraca, que trabalho maneiro hein =D

    Só tenho um adendo: dar um pouco mais de atenção à descrição dos cenários. Ajuda bastante na hora de fazer a perspectiva da cena. Mas fora isso, achei muito promissora, vou acompanhar ^^

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  2. Obrigado pelo comentário e pelo apoio, Willian, fico feliz que esteja gostando.
    Então, eu geralmente costumo dar uma atenção massante e intensa quanto a descrição dos fatos e cenários, mas o gênero das Light Novels orientais (e algumas americanas, chamadas mais precisamente de Novellas) simplifica bastante das descrições, o que é bom, mas também tem seus lados ruins. No exemplo citado por você, de montar a perspectiva da cena, varia de caso a caso. Para o leitor, pode auxiliar sua imaginação a montar a cena da maneira que lhe for mais apropriada. Para um ilustrador, entretanto, há todo um processo de planejamento antes das figuras, assim como descrições mais precisas dos personagens, cenários e das próprias cenas.
    Que bom que gostou, ela já está completa aqui no blog. Espero que acompahe até o final! :)

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