terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Esqueleto e Estrutura de um Texto

Olá, companheiros!
Dando sequência à série Diário de Escritor, hoje vamos falar da proximidade dos trabalhos do escritor/roteirista e do desenhista/ilustrador. Está se perguntando o que pode ser similar nestas duas áreas? A resposta é simples: o preparo. Todo trabalho, em ambos os casos, tem de ser planejado anteriormente, arquitetado, com base na criatividade e no pensamento primário, "esculpido" na pedra rústica até que se torne completo e bom. Para isso, as duas profissões contam com uma ferramenta em comum: o esqueleto.
Nem todos usufruem desta técnica. É comum que, com a experiência dos anos e o profissionalismo, a pessoa se livre destes hábitos para economizar tempo, e ainda assim consiga manter a qualidade. Mas, para iniciantes (ou mesmo para veteranos, pois pode ser preciso um preparo maior antes de alguma obra específica), o esqueleto é fundamental, e facilita muito do que virá a seguir. O desenhista rabisca um esboço de sua arte, cria o cenário com riscos simplórios, os personagens em detalhe algum. Então, com paciência e carinho, traça todos os planos, modifica o que puder melhorar, desenvolve a estrutura inicial até que se torne um desenho completo, arte finalizado e, por vezes, colorido.
E o escritor?
Nós, que gostamos de escrever e desejamos isso para nossas vidas, temos sempre que recordar desta ferramenta. É ela quem faz de nossos personagens os mesmos em todas as páginas do livro, que marca suas atitudes, suas personalidades. É ela quem guarda o final planejado num primeiro momento, que pode (ou não) se modificar diversas vezes até alcançar seu ápice, sempre disposto a melhorar conforme se lapida a matéria-prima das palavras. Mas não podemos simplesmente jogar palavras numa folha em branco, riscar de qualquer modo e nos preparar para a arte final logo a seguir. Como é feita a estrutura de uma obra, então?
Vamos por partes. Primeiramente, você tem que decidir a temática de sua história, o gênero, o tipo de história que deseja contar, o tamanho, entre outros fatores. Será um conto ou uma novela? Um romance ou uma série de livros? Uma trilogia ou algo maior? Antes de começar qualquer palavra, você tem que ter em mente estas respostas, para que possa começar um projeto. Talvez, futuramente, aquilo planejado para ser uma simples noveleta se torne um romance, ou um romance abra espaço para outros livros de uma possível série. Isso é lucro. Você tem essa possibilidade, por ter se planejado anteriormente. É ideal começar da primeira opção (os contos), e só então aumentar suas capacidades, ampliar os horizontes, deixar-se levar pela escrita. Cá entre nós, começar a vida de escritor com uma série de 13 livros não é fácil. É preciso aprender primeiro, crescer profissionalmente, e nada melhor do que contos e mais contos para isso.
Pois bem, temos nossa resposta, desejamos produzir um conto. O que vem agora? O próximo passo é a temática, o gênero de sua história. Ela será fantasiosa ou baseada na realidade? Ficção científica ou medieval? Terá traços de horror ou de suspense? Lembrando que você nunca precisa ficar preso a um arquétipo de histórias, a criatividade está sempre presente nas pessoas que desejam trabalhar com os livros, filmes ou animações, e é um fator muito importante. Uma história medieval não tem que, necessariamente, lidar com princesas e castelos e dragões. Uma história de suspense policial não tem que nos apresentar um assassino em série com metodismo insano. Uma história de ficção científica não precisa ter alienígenas verdes com naves espaciais em forma de disco. Todos esses clichês são interessantes, parecem o óbvio por estarmos acostumados a ele. Ainda assim, você tem de escolher tudo o que importa para a sua obra, e isso não precisa seguir um modelo. Defina o estilo, o gênero, o tipo de história que quer contar. Só então teremos aquilo preciso para começar a desenvolver nosso roteiro.
Excelente, vamos fazer um conto de terror medieval. Não é algo tão costumeiro, ainda que já tenha sido usado anteriormente, mas esta foi a nossa escolha. Anotamos as primeiras ideias, assim como todas as outras que sempre estarão surgindo. A primeira LEI do escritor é sempre carregar um meio de anotar as coisas, seja o bloco de notas do celular, seja um pedaço de sulfite amassado no bolso, qualquer coisa. As ideias sempre aparecem do nada, e você não pode se dar ao luxo de perdê-las. Sem contar que, mesmo que não sejam utilizadas naquele momento, as ideias nunca são perdidas. Deixando os arquivos armazenados em sua pasta pessoal, pode encontrar referências para trabalhos posteriores em ideias do passado que, graças ao tempo de evolução aproveitado pelo escritor, podem ser novamente lapidadas e melhoradas pela experiência. Eu mesmo já fiz isso muitas vezes, usando ideias que tive a 2 ou 3 anos atrás em novas obras, evoluídas e detalhadas por um novo ponto de vista.
Certo, nosso conto de terror medieval terá as seguintes características: monstros conjurados por um feiticeiro maligno, que não é de todo maligno. Na verdade, ele tem uma motivação diferente, e seu objetivo é tão importante que o deixou cego para a vida alheia. Teremos uma gruta como seu lar, e um cavaleiro para desbravá-la. Ele será a vítima. O protagonista será o feiticeiro, pois os seus sentimentos serão importantes para a obra, o cavaleiro é um personagem descartável.
Viram o que foi feito aqui? Jogamos as ideias de qualquer maneira, sem nos importar com parágrafos de descrição ou detalhismo na explicação das cenas. Vamos trabalhar com isso mais tarde. Aproveitando esse mesmo texto, podemos avançar para o próximo passo: os personagens. Eles são a coisa mais importante de seu texto, seja um conto, um script ou um romance. Sem eles, ninguém vai se aventurar na caverna do mago, ninguém vai se apaixonar por uma garota que sofre de algum trauma. Assim, anotaremos nossos personagens, vamos nomeá-los, dar a cada um deles uma personalidade. Detalhando nossos personagens, teremos facilidade em "encaixá-los" nas cenas posteriores, pois saberemos bem como lidariam com elas. Um filho de ricos não seria um bom sobrevivente numa expedição a uma floresta, assim como uma índia da selva não saberia lidar bem com a civilização. Com os detalhes anotados, temos em nossas mãos todos os pontos mais importantes da história. Precisamos então da trama.
Decidimos que, em nosso conto de terror medieval, o feiticeiro se chamará Jucão (prevejo uma nova postagem de Diário de Escritor para auxiliar na criação dos nomes... enfim...). Ele é prepotente, mas amável, e faria de tudo por sua esposa, que se chama Belinda. Belinda foi amaldiçoada por demônios, e Jucão precisa de infindáveis sacrifícios para curá-la de sua maldição, por isso se tornou o vilão aparente que todos desprezam. Belinda é ingênua, puritana e pregadora da paz, portanto jamais aceitaria as atitudes tomadas por seu amado para alcançar sua cura. O cavaleiro, que vai se chamar Ferdinand, é orgulhoso, um príncipe de renome e beleza estonteante, que se deixou levar pelo status. Acostumado a conquistar tudo o que desejasse com sua espada e sua fortuna, Ferdinand prometeu se aventurar na gruta, disse que voltaria com a cabeça do feiticeiro. Seu orgulho não o deixaria voltar sem ela.
Além desses detalhes, você pode descrever como é seu personagem fisicamente, como ele foi na infância, quem são seus familiares. Em um conto, não precisamos de tantos detalhes assim, mas é um bom exercicio. Às vezes, personagens criados para uma simples sessão de RPG (ou uma crônica leve) se tornam marcantes por sua personalidade, e você acaba se apaixonando por eles, desejando revê-los em novas histórias. Aí está o mérito de trabalhar bastante cada personagem de suas histórias.
Então, a trama. Como organizar a parte mais importante de seu texto?
Um conto é organizado por cenas. Existem contos diretos, curtos ou longos, mas que se passam em apenas uma cena, uma batalha épica, uma guerra de reinos, uma invasão alienígena. Em suma, entretanto, temos divisões de cenas, várias situações ocorrendo em horários e lugares diferentes. Contos e noveletas são divididos dessa maneira: cenas. Você marca o número de cenas desejado, então detalha cada uma delas antes de escrever, para que possa se situar durante o trabalho.
Um romance é organizado por capítulos. Você não precisa saber exatamente, com todos os detalhes, o que vai acontecer em cada capítulo de seu livro. Mas é essencial que tenha conhecimento dos capítulos-chave, onde acontecem as coisas mais importantes, e das partes em que planeja revelar algum segredo importante para a trama. O esqueleto perfeito traria o nome de cada capítulo, seguido de uma breve descrição dos acontecimentos narrados nesta área. Provavelmente, muitos deles vão mudar, mas as suas ideias vão estar lá, sempre disponíveis para serem reaproveitadas.
Uma série, por fim, é organizada em livros. Cada livro tem um acontecimento mais importante, uma cena que vai marcar espaço na série toda. Assim, temos a preocupação do que acontecerá em cada livro, para que o desfecho seja alcançado de maneira gloriosa na última página. O esqueleto fica mais complexo, mas funciona da mesma maneira. Tendo em mãos o número de livros planejado para a série, detalhamos cada um deles com um resumo simplório, e então dividmos cada um dos romances em capítulos, descrevendo por cima os acontecimentos de cada capítulo. É um trabalho árduo, mas recompensado. Desse modo, você não ficará perdido nos mistérios e nas intrigas da sua própria série.
E agora, o que nos resta? O que mais precisamos para que Jucão enfrente o orgulho de Ferdinand e salve Belinda, ou entenda que ele está fazendo as coisas da maneira errada?
Com tudo planejado, precisamos do último passo: o esforço.
Sente-se e escreva. Escreva, reescreva, escreva quantas vezes forem necessárias. Crie um horário, uma rotina, mantenha-se disciplinado. Tenha músicas para inspirar, desenhos, filmes, tudo ao alcance das mãos. Com o tempo isso se tornará um hábito e, quando menos perceber, estará sentado em sua cadeira com o notebook / caderno em mãos. E, se tiver com o esqueleto / estrutura preparado, vai notar como o ritmo de produção vai aumentar, graças à facilidade que as anotações providenciam.

Enfim, termino por aqui mais um Diário de Escritor, espero que tenham realmente gostado! Como sempre digo, não sou um profissional, apenas desabafo aqui as coisas que me ajudam, e que talvez possam ajudar outras pessoas. Sintam-se à vontade para comentar, criticar e opinar no tema, ou em qualquer assunto que se relacione com a matéria. Logo mais trarei outros textos do tipo, fiquem na espera, Elhanor não vai parar tão cedo!
Até a próxima!

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