quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Como Surpreender com um Texto

Olá, companheiros.
Uma postagem um pouco diferente das costumeiras. Desta vez, não trago uma resenha, uma dica de música, de jogos ou de filmes, nada do tipo. Venho comentar, na posição de escritor amador e de leitor assíduo, sobre algo que me chama atenção em livros, roteiros de quadrinhos ou filmes, entre outros: as surpresas. Sim, surpresas, literalmente. Não as reviravoltas, é algo diferente. Não é o caso de Darth Vader se revelar como pai de Luke Skywalker, uma tremenda reviravolta para a série Star Wars, que pode ser considerado uma surpresa. É um tanto quanto clichê o fato do vilão ter algum relacionamento com alguns dos protagonistas, ou mesmo algum personagem secundário mais chamativo. É algo que se pode esperar, vamos dizer assim. Reviravoltas. Surpresas são diferentes.
Mas como podemo diferenciá-las?
Vamos ao meu exemplo mais recente de surpresa: Madoka Magika. Um anime de 12 episódios criado diretamente como animação, sem um roteiro-base oriundo de mangá ou de light novel. Foi simplesmente um projeto de mahou shoujo (garotas mágicas, gênero popular no Japão, e até mesmo no Brasil, com Sailor Moon e Sakura Card Captors) transformado numa série de animação, nos levando ao mundo da Madoka. Fiz uma postagem anteriormente com a resenha da série, sem spoiler algum, para quem se interessar. Quando se começa a assistir Madoka, temos aquela impressão de que tudo é rosinha, como sugere a abertura, e realmente somos enganados por esta sensação de amizade dócil e poderes meigos. Então, do nada, uma reviravolta. Mas não é só isso. É uma reviravolta atípica, algo que jamais seríamos capazes de imaginar encontrar numa animação de garotas com poderes mágicos. É algo ousado, que poderia afastar muitos dos telespectadores caso fosse encarado de maneira errônea, ou ganhar um público tremendamente grande caso desse certo. Isso é uma surpresa.
Para surpreender, um roteirista/escritor não pode ter medo de ousar. Toda trama que se preze carrega ao menos uma reviravolta, seja o caso antigo do marido, a irmã gêmea escondida da família, o aborto acolhido pelo avô, o assassinato de um personagem importante, etc. Poucas, entretanto, são ousadas o suficiente para tentar criar algo novo, surpreender, assustar o leitor/telespectador de maneira chocante. Stephen King é um autor que tende a surpreender. Seus livros têm reviravoltas a cada página, em suma, mas ele sempre reserva uma surpresa para o final. É o caso do Nevoeiro (The Mist), onde (SPOILER) a principal chance de fuga do protagonista e seu filho, junto de um casal de velhos e de sua mais nova "namorada", acaba se tornando uma chacina integral e insana, devido ao desespero da situação (/SPOILER). É uma cena chocante, e pode deixar muita gente indignada, furiosa com o autor, mas esse é o jeito dele de retratar a realidade. E, cá entre nós, não é muito diferente do que realmente aconteceria nuam situação similar. King é o mestre das surpresas.
O Senhor dos Anéis tem suas reviravoltas, mas não surpresas. Não existe nenhum momento em que olhamos para uma cena horrorizados, realmente sem esperar que aquilo acontecesse. Harry Potter, entretanto, tem cenas do tipo, como a cena entre Snape e Dumbledore no sexto livro, ou mesmo a revelação do professor de poções sobre a mãe de Harry. São surpresas, pois conseguem nos tocar de mandeira diferente do restante da história, o que é uma coisa diferente. Ainda assim, as surpresas de Harry Potter são muito mais leves se comparadas ao terror de Stephen King, mais por se tratarem de contextos e cenários diferentes, obviamente.
Poderia citar diversos outros momentos de surpresa em histórias famosas, como o tal episódio final de Caverna do Dragão (e de Lost, que acabou plagiando essa ideia antiga de maneira tosca), algumas cenas trágicas de Full Metal Alchemist, os momentos insanos presentes na Trilogia Tormenta, do Leonel Caldela (que, aliás, é um grande mestre em surpreender; quem ler Caçador de Apóstolos e Deus Máquina vai ter a prova do que falo), entre outros.

E para quem escreve? Como fazer uma surpresa?
Como disse anteriormente, as surpresas são boas, mas são atos de ousadia. Podem dar incrivelmente certo, assim como podem dar estupidamente erradas. É a famosa expressão 'ou tudo ou nada', pois o autor tem de estar certo do que fazer. Para chocar seu leitor, você tem de modificar, abusar da criatividade, mudar uma cena aparentemente típica para uma versão grotesca da mesma, deformar aquela situação repetitiva em incontáveis outras histórias e recriá-la de maneira única, mesmo que retratando o absurdo do inesperado.
Por exemplo, uma história que mostre um cavaleiro seguindo uma princesa sequestrada pode, no fim, revelar o protagonista como o verdadeiro vilão, e o "sequestrador" como o princípe que estava, na verdade, tentando proteger sua amada. A personagem principal pode acreditar ter poderes divinos, mas acabar violada por infinitos seres malignos quando descobre que, na verdade, a maior esperança do mundo já está morta há anos. O Deus que todos acreditam nunca existiu, foi uma invenção do próprio homem para dominar sua raça, fazendo-os pensar que existe algo realmente superior à própria existência. São apenas alguns exemplos leves, nada tão irracional como o mestre Stephen King seria capaz de fazer. Em todos estes, há uma característica que tenho dificuldade em me livrar, mas que também consta bastante no esforço de surpreender: a piedade para com os personagens.
Conforme o escritor descreve as passagens de suas histórias, acaba por desenvolver certa afeição por seus personagens, alguns mais do que os outros. Deixando isso acontecer, ele pode acabar se perdendo na hora da reviravolta para "ajudar" um dos seus favoritos a se dar bem, quando poderia criar uma cena marcante e épica se retratasse de maneira real e suja o que realmente deveria ter acontecido. Uma alpinista presa no gelo do Everest dificilmente seria capaz de sobreviver sem ajuda, mas o "criador" poderia oferecer um "empurrãozinho" a ela para que encontrasse comida, animais para caçar ou mesmo um outro grupo de alpinismo. E assim caminha a humanidade.

Enfim, esta postagem é apenas a primeira de uma série que chamei de Diário de Escritor. Ela será composta por reflexões similares a esta, tratanto de temas com os quais me deparei, ou ainda irei me deparar, nas tentativas e falhas da escrita. Sintam-se à vontade para comentar, dividir experiências e opiniões, pois todo diálogo é válido em todas as ocasiões.
Até a próxima!

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