domingo, 19 de maio de 2013

Texto - Saudade do que Nunca Existiu


Estão todos ali, menos ele.
Ele já não tem um nome. Não deixou saudades, pois nunca existiu. Ele simplesmente falta. Ele não o conhece, nunca o viu, nunca o sentiu por perto. Em raras ocasiões, achou tê-lo visto ao seu redor, abraçado a suas falsas causas. Errara. Nunca esteve por perto. Ou, talvez, tenha estado por perto algum dia, mas ele não foi capaz de tocá-lo. Passou ao seu lado como um perfume despercebido, uma fragrância chamativa, atraente, mas nada além de uma brisa passageira. Aquele perfume que te toca, e que o vento leva a seguir, num só sopro, deixando somente o cheiro da solidão.
Houve, um dia, um nome, mas ele não se lembra. Hoje, diante de tantas pessoas, sente-se sozinho. Não há saudade, não há arrependimentos. Há a falta. Falta alguma coisa que ele nunca teve. Falta alguém que ele nunca conheceu. Falta algo que se constrói na areia da praia, algo que desaba com o mais singelo dos tremores. Assim, diante de tantas pessoas, ele se sente sozinho, já que ele não está ali. Sua mente divaga, voa longe, para nuvens e universos onde ele não existe. Mas ele ainda está ali, com todas as pessoas, com todos os amigos, mas sem aquele que não tem mais nome, sem aquilo que já não se recorda, se é que um dia soube nomear. Como se chamava mesmo?
Dorme, descansa, mas seu cansaço não é físico, e sono algum é capaz de curá-lo. Acorda, desperta para mais um dia, um dia como todos os outros, um dia sem aquilo que lhe faz falta. Tenta sentir saudades de alguém que já passou por sua vida, tenta procurar em suas memórias por alguma coisa que lhe mostre seus erros, não encontra. O erro não é o passado, mas o acerto é o futuro. Um futuro que pode estar próximo, ou pode estar muito distante. Ou pode sequer existir. E ele pode esperar, esperar por muito tempo, sem que haja a possibilidade de encontrar aquilo que mais precisa, aquela pessoa que mudará tudo, aquele toque que lhe aconchegará no meio de tantos falsos sorrisos que lhe cercam. E assim, só assim, estará livre da solidão que sente no meio de tantas pessoas, da saudade que sente de alguém que nunca existir, da vontade que tem de sentir aquilo que tanta gente sente, ou mente que sente.
Como se chamava mesmo?
Às vezes, ele se lembra do nome, mas só. O nome não é o suficiente. Ele faz falta, fascina. Ele faz falta, alucina. Sem ele, pouca gente sobrevive. Pouca gente é capaz de superar a frieza da rotina, o gélido cotidiano que nos estapeia o rosto. Sem ele, resta somente o vazio, a solidão, o vento frio e soturno de uma noite sem fim, de um dia escuro, de horas e mais horas de um breu sem resquícios de sol. Abrem-se os olhos, não há luz. Repouso sem sono, feridas sem dor, animal sem dono, verão sem calor; tudo assim, tão errôneo, pela falta dele.
Estão todos ali, menos ele.
Às vezes, ele se lembra do nome, mas de que isso adianta? Não há saudades, não há lembranças, não há verdades ou fragrâncias. Há o vazio, um vazio que assusta, que apavora. Um vazio que, sem amor, não irá embora.
E onde está o amor quando mais se precisa dele?

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