quinta-feira, 23 de maio de 2013

Filme - Somos tão Jovens





Nunca fui um fã assíduo de Legião Urbana. Admiro a banda, sim, mas talvez meu fanatismo exacerbado pelos Engenheiros do Hawaii tenha diminuído e muito a paixão que eu tinha para dedicar às bandas nacionais. Entretanto, por esmero e curiosidade, assim que vi o trailer de Somos tão Jovens, senti-me imediatamente interessado na história. As crônicas de Renato Russo nunca me pareceram tão interessantes quanto da forma que me foram apresentadas naquela pequena exibição que, em seus 3 minutos de introdução, mostrou muito das músicas que marcaram a infância rebelde de todo mundo cuja idade se aproxima da minha (22 anos, até então). Sentei-me na sala de cinema sem saber muito bem o que esperar, e bem, na medida do possível, posso dizer que me surpreendi de maneira bastante positiva.


Em filmes nacionais, sempre espero encontrar duas coisas que me fazem criticar o filme após o término: cenas desnecessárias de sexo e piadas de gosto peculiar para com o próprio povo retratado no filme. Somos tão Jovens, por sua vez, é muito mais discreto do que o tradicionalismo do cinema nacional. A cena mais próxima de sexo é bastante tranquila, nada de abusiva, como vemos quando a cena é feita somente para ganhar ibope. De resto, como bem sabemos, encontramos assuntos polêmicos no filme, como homossexualidade, dúvidas e incertezas, juventude de época, drogas e álcool etc. A maneira como o roteiro cuida de tudo isso não pode ser considerada genial, mas é bastante agradável. Não temos a adaptação perfeita, pois realmente sou obrigado a acreditar que a vida de Renato Russo tenha sido muito mais aventureira do que o apresentado no filme, mas é suficiente para nos mostrar suas opções, escolhas e motivações. A dúvida entre a sexualidade, as amizades que avançam no contexto de sentimentos, tudo isso é caracterizado de maneira exemplar, certamente. Num roteiro curto (já que o filme não conta com o tempo desproporcional do cinema atual), conhecemos personalidades marcantes na vivência do tal professor de inglês Renato, entendendo assim como ele se relacionava e como se portava em devidos momentos.


Sentei-me diante da telona esperando por um filme que me mostraria até a morte de Renato Russo, mas a história encontra seu desfecho muito antes, diante do primeiro show da banda, em 1985. Essa não é uma característica de todo ruim. Talvez assim, comprimindo parte da história, o roteiro tenha evitado diversos empecilhos garantidos por ocasiões futuras da vida do cantor. A cena final, que mistura o encerramento do filme com gravações da apresentação real, no Rio de Janeiro, fascina, sem dúvida alguma, e mostra que o filme cumpriu tudo o que prometeu, ainda que tenha abusado de marketing para fazer um alarde desnecessário. Não é, de todo, o melhor filme nacional já visto na vida, mas tem seu chame, carregado pela essência de uma das bandas de maior sucesso que nosso país já conheceu. Ali, quem não tinha a oportunidade de saber sobre a vida de um ídolo nacional, encontrará uma história emocionante (dramatizada pelo roteiro, claro, mas nem por isso menos agradável aos espectadores), repleta de drama, complexidade, dificuldades e distúrbios de personalidade. O personagem jovial de Renato Russo se mostrou bastante interessante para retratar os problemas da adolescência, não só daquela época como até então. Afinal de contas, ainda existe a época da rebeldia, os traumas, as dificuldades, a situação caótica do cotidiano conturbado de pessoas que ainda não têm famílias para cuidar, mas se complicam da mesma forma.


Enfim, ao término dos créditos, é notável a admiração que se amplia diante da dramatização de um ícone da música brasileira. Continuo preferindo os Engenheiros, claro, mas Legião acabou de ganhar pontos entre meus favoritos, não pela história apresentada, mas sim pelos dramas da realidade que nos foram revelados. Não o filme mais perfeito, nem mesmo a história mais bonita, mas eu, como rascunho de escritor que sou, aprovo tal conceito por acreditar que toda história, seja simples ou fantasiosa, merece ser contada da maneira mais incrível que puder ser retratada.

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