I
Ela
sonhava em ter filhos.
Assim
sendo, arrumou dois amantes. Um deles era bonito, o outro, inteligente. Eles
não gostaram da ideia, mas ela não se importou. Pediu para que ficassem ao lado
dela para sempre. Eles negaram. Pareciam ter medo. Pareciam querer fugir.
Então
ela os matou e guardou seus pedaços num baú, o qual acorrentou na sua lápide.
Dessa
forma, nenhum dos dois amantes poderia abandoná-la.
II
Ele
sempre gostou de tocar gaita.
A
música era agradável. Quando ele tocava, todo mundo parava para ouvir. Muita
gente dançava. Ele tinha talento. Tinha dinheiro. Tinha amigos, fama, renome.
Quando
morreu, seu enterro foi feito no completo silêncio, e ele não gostou disso.
Sentou-se nas proximidades, tirou a gaita do bolso, assistiu enquanto era
sepultado soprando a mais bela de suas melodias.
Ninguém
o ouviu.
E
só então ele se deu conta de que, quando não o escutavam, ele nada tinha.
III
A
menina terminou o seu namoro.
Ela
conheceu um garoto legal depois disso. Ele não tinha uma história, não tinha um
passado para contar, mas era divertido e amigável. Estava lá sempre que ela
precisava, seja pra rir ou pra chorar. Ele sempre estava lá.
Ela
se apaixonou por esse garoto, mas ele não pareceu notar ou se importar. Ainda
estava lá, mas não da forma que ela esperava.
Tempos
depois, ela se apaixonou por outro rapaz. O garoto então desapareceu. Sumiu, do
nada, mas ela não sentiu sua falta. Ela tinha outro alguém. Ela tinha alguém
especial, alguém para amar.
Assim,
ela aprendeu a sustentar o próprio vazio, a superar as perdas, a enfrentar as
dores.
Quando
ela terminou seu novo namoro, o garoto não mais apareceu.
IV
Ele
riu quando o amigo contou sobre a carta que recebera.
Quem
acredita em correntes? Fantasmas não perdem tempo digitando mensagens no
facebook. Eles têm mais o que fazer, era isso o que o garoto pensava. Então
riu, zombou de seu amigo, fez piada.
Mas
chorou quando ele morreu.
Coincidência,
talvez, mas ele ficou abalado. Ainda não acreditava em correntes. Ainda não
acreditava em fantasmas. Ainda não acreditava que estava sozinho.
Foi
quando recebeu uma carta.
V
A
plantação sempre dera bons frutos.
E
o espantalho estava lá, inerte.
Um
dia, os corvos o destruíram. O fazendeiro o consertou, prestativo. Na segunda
vez, ele não se importou. Deixou que o espantalho ficasse ali, ferido.
No
dia seguinte, a plantação estava destruída.
O
fazendeiro não entendeu. O espantalho estava lá, partido ao meio.
Sorria.
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