domingo, 16 de setembro de 2012

Cinco Lendas Urbanas


I

Ela sonhava em ter filhos.
Assim sendo, arrumou dois amantes. Um deles era bonito, o outro, inteligente. Eles não gostaram da ideia, mas ela não se importou. Pediu para que ficassem ao lado dela para sempre. Eles negaram. Pareciam ter medo. Pareciam querer fugir.
Então ela os matou e guardou seus pedaços num baú, o qual acorrentou na sua lápide.
Dessa forma, nenhum dos dois amantes poderia abandoná-la.

II

Ele sempre gostou de tocar gaita.
A música era agradável. Quando ele tocava, todo mundo parava para ouvir. Muita gente dançava. Ele tinha talento. Tinha dinheiro. Tinha amigos, fama, renome.
Quando morreu, seu enterro foi feito no completo silêncio, e ele não gostou disso. Sentou-se nas proximidades, tirou a gaita do bolso, assistiu enquanto era sepultado soprando a mais bela de suas melodias.
Ninguém o ouviu.
E só então ele se deu conta de que, quando não o escutavam, ele nada tinha.

III

A menina terminou o seu namoro.
Ela conheceu um garoto legal depois disso. Ele não tinha uma história, não tinha um passado para contar, mas era divertido e amigável. Estava lá sempre que ela precisava, seja pra rir ou pra chorar. Ele sempre estava lá.
Ela se apaixonou por esse garoto, mas ele não pareceu notar ou se importar. Ainda estava lá, mas não da forma que ela esperava.
Tempos depois, ela se apaixonou por outro rapaz. O garoto então desapareceu. Sumiu, do nada, mas ela não sentiu sua falta. Ela tinha outro alguém. Ela tinha alguém especial, alguém para amar.
Assim, ela aprendeu a sustentar o próprio vazio, a superar as perdas, a enfrentar as dores.
Quando ela terminou seu novo namoro, o garoto não mais apareceu.

IV

Ele riu quando o amigo contou sobre a carta que recebera.
Quem acredita em correntes? Fantasmas não perdem tempo digitando mensagens no facebook. Eles têm mais o que fazer, era isso o que o garoto pensava. Então riu, zombou de seu amigo, fez piada.
Mas chorou quando ele morreu.
Coincidência, talvez, mas ele ficou abalado. Ainda não acreditava em correntes. Ainda não acreditava em fantasmas. Ainda não acreditava que estava sozinho.
Foi quando recebeu uma carta.

V

A plantação sempre dera bons frutos.
E o espantalho estava lá, inerte.
Um dia, os corvos o destruíram. O fazendeiro o consertou, prestativo. Na segunda vez, ele não se importou. Deixou que o espantalho ficasse ali, ferido.
No dia seguinte, a plantação estava destruída.
O fazendeiro não entendeu. O espantalho estava lá, partido ao meio.
Sorria.

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