sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Conto - O Pistoleiro e o Corvo

Salve companheiros de jornada!
Cá estou, em mais uma postagem de contos, que na verdade não é bem um conto. Foi um texto que desenvolvi como um trabalho escolar, tratando do Aquecimento Global, um tema quase nada comentado nas televisões. Deve ter uns 3 ou 4 anos, mais ou menos, portanto me perdoem pela linguagem simplória e tudo mais, hehe. De qualquer forma, está aí.
Até a próxima!


Estava o pistoleiro em mais uma de suas caças.

Buscava sua comida,

Seu alimento,

Sua diversão.

Pelo terreno maltratado e imundo, caminhava calmamente.

As solas do sapato velho arrastando no chão,

A poeira subindo e a areia remexendo-se.

As armas na cintura, presas.

Suas amigas, suas companheiras,

As únicas coisas em que certamente podia confiar.

Enquanto procurava por grandes animais no deserto, um corvo perseguia o pistoleiro.

Ao céu, ao longe, o corvo voava.

Batia as asas lentamente e mantinha sua distância.

Sabia que, na primeira oportunidade, o pistoleiro o mataria.

Sabia que o pistoleiro também sabia disso.

E o pistoleiro caminhava triste.

Não havia búfalos naquele chão.

Não havia cavalos,

Não havia camelos,

Não havia nada vivo.

Apenas o pistoleiro.

E o corvo.

O corvo baixava seu vôo vagaroso.

O pistoleiro percebeu.

O que deseja ao se aproximar, estranha criatura?, perguntou o homem sem hesitar.

Não quer me matar e me comer? Disse o corvo temeroso.

Porque iria querer? Sua carne não me enche a boca, muito menos a barriga.

É um alívio.

E você, não me atacará por comida?

Nunca. Humanos fedem. A carne de vocês é comparada a lixo.

É um alívio.

O pistoleiro voltou a caminhar.

O que fazes por aqui, corvo? Não deveria buscar comida em outros lugares?

Talvez. Mas aqui é meu lar. Foi o túmulo de meus pais, e será o mesmo pra mim.

Interessante.

E você? Você que tem pernas fortes e longas, porque não se afasta da praga chamada calor?

Eu um dia tive pernas fortes, caro corvo. Não mais. Assim como suas asas não são mais tão fortes como um dia foram.

Mas os humanos têm seus veículos!

Eu não tenho nem comida.

Mas vocês podem rastejar!

E por que eu faria isso? Aqui foi o lar da minha família, e o mesmo será meu. Aqui foi o túmulo deles, e o mesmo será meu. Nem que pudesse correr ou voar, nunca me afastaria daqui.

Entendo.

Não entende. Você tem o cérebro de um corvo...

E você o cérebro de um humano...

Humanos podem raciocinar, sabia?

Podem, mas não o fazem há muito tempo. Veja este lugar.

Eu o vejo, talvez melhor que você.

Há alguns anos este fora uma grande piscina natural. O que é hoje além de um cemitério de seres e um deserto do inanimado?

Você é sábio.

Quem sabe.

Os dois continuaram a caminhar por um tempo. Esqueletos eram vistos na paisagem, caídos.

Crânios, braços, pernas...

Morte.

Era a única coisa que se podia ver.

Difícil acreditar que isto foi causado por vocês, não? Perguntou o corvo friamente.

Nem tanto. Eu convivi com eles antes dessa crise.

Destruição Natural, certo? Não acho que fora tão natural assim...

Tudo tem um dedo humano no meio...

Como era mesmo o nome disso?

Aquecimento global.

Ah, sim. Aquecimento global.

Lembro-me de quando os jornais falavam sobre isso.

Eu também.

E desde quando corvos vêem jornais?

Desde o tempo em que humanos começaram a pensar.

O pistoleiro ignorou a ofensa.

Continuou.

Lembro-me de quando os homens começaram a tentar impedir a catástrofe.

E acabaram por iniciar mais uma guerra.

Quem diria não? Os mesmos homens que guerrearam por poder e dinheiro guerrearam por água. Terrível...

Humano...

O pistoleiro fraquejou em um passo. Cambaleou para o lado.

Está bem? Perguntou o corvo pairando.

Bem? Quem sabe. Faminto, sedento, cansado, desesperado, triste, aborrecido... Estou muitas coisas nesse momento.

Sei como é...

Você pode voar. Pode procurar comida quando desejar. Pode...

Posso morrer assim que deixar esse deserto.

O que dizes?

Que além desse cemitério, poucos humanos deixariam um corvo voar. A maioria deles está desesperado o suficiente para devorar qualquer coisa.

Por isso me observou de longe?

Exato.

Não pretendo te devorar.

E eu agradeço por isso.

Já aceitei a minha morte...

Cambaleou novamente.

O velho apoiou sua arma no chão e se ajoelhou.

Ofegava.

Escorria suor.

Sua barriga roncou alto.

Sua língua forçando a passagem para fora de sua boca.

Suas lágrimas forçando passagem pelos seus olhos.

Lágrimas?

Não, não existiam mais lágrimas.

Secaram a tempos...

Não acha melhor descansar, pistoleiro?

Se fechar os olhos, não os abrirei mais. Tenho que continuar a caminhar. Este não é o local onde quero morrer.

Então você tem um local para morrer?

Todos temos.

Levantou-se e recomeçou a caminhar.

Ritmo acelerando vagarosamente.

Como vivera, velho?

Matando.

Como morrerás?

Vivendo.

Um pistoleiro ou um poeta?

Um cadáver.

Teve mulher?

Tive muitas perdas e poucos ganhos.

Isso quer dizer que teve uma mulher?

Quem sabe...

Se quereres, eu me calarei...

Não! Sua voz me mantém acordado, me força a caminhar... Continue!

Como desejar. O que acha dos humanos?

Quer saber o que eu acho dos meus?

Você é um caso raro. O que acha dos humanos?

Criadores... E ao mesmo tempo, destruidores.

Terrível...

Humanos têm a síndrome da maioridade.

Síndrome da maioridade?

Sim. Eles desejaram criar mais que Deus criou. Falharam. Então destruíram mais do que ele destruiu.

Nisso tiveram sucesso.

Com certeza.

Caminhando por mais algum tempo, chegaram a um local repleto de rochas.

Cada rocha tinha um nome gravado.

O pistoleiro começou a ler cada uma das pedras.

É aqui. Parou em frente a uma delas.

Marcus Etoryous. Seu pai?

Talvez.

O pistoleiro sentou-se ao lado da pedra.

Lisandra Martinez. Essa era minha mãe.

Apontou para a pedra em sua frente.

Então é isso. Esse é o seu local de morrer?

Exato. Obrigado pela companhia nestes últimos minutos.

Agradece-me? Não fiz nada a não ser diminuir a paz que você poderia ter enquanto caminhava até a morte.

Engano seu. Você a aumentou.

O pistoleiro fechou os olhos.

A respiração parou devagar.

Em alguns segundos, não respirava mais.

Mais um cadáver na imensidão do deserto.

Do pó veio, ao pó voltarás. Não era isso o que vocês diziam?

O corvo levantou voo vagaroso.

E mais uma alma guiada com sucesso. Falta pouco, senhor.

Muito pouco...

E desapareceu no céu azul efervescido.

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