domingo, 20 de maio de 2012

Trecho - Cinzas no Campo de Batalha

Olá, companheiros.
Comecei hoje um conto para a antologia Excalibur, da Editora Draco. Ainda não foi terminado, mas resolvi trazer um trecho para o blog, para atualizar as postagens que andam bem paradas. Espero que gostem!


Arthur estava atirado no solo, um dos ombros sangrava.
A armadura prateada tinha escoriações, marca de infinitos combates dos quais já participara naquele novo mundo. Apoiado num rochedo de forma bizarra, Arthur lembrava-se de seu tempo de rei, de Avalon, do medievalismo que deixara para trás. Estavam no holocausto, numa terra que desconheciam, levados até lá pela magia que jorrara do Santo Graal quando este fora encontrado.
Ali, em sua linha de visão, havia um mundo tecnológico.
Cidades e mais cidades se estendiam no horizonte, iluminadas por invenções que os cavaleiros sequer sonhavam entender. Postes com globos de luz, veículos movidos sem a necessidade de cavalos, água tratada por máquinas inteligentes, tudo era tão estranho, e ao mesmo tempo tão fascinante! Não havia tempo para admirar, no entanto. Estavam em guerra, uma guerra que possivelmente não teria fim sem causar dor para ambos os lados. Arthur tinha em mãos uma lenda, e com ela pretendia destruir o artefato sagrado que tanto procurara em sua vida.
Com essa escolha, fora traído por cinco de seus melhores homens, cavaleiros e amigos.
—Ainda pensa neles, não é? —era Lancelot. Aproximava-se com vagarosidade, acompanhado do velhaco feiticeiro Merlin, e ambos se sentaram ao lado do antigo rei. —Nos traidores, naqueles bastardos.
—Eles foram meus homens, Lancelot.
—Eles foram meus irmãos, também. Foram cavaleiros, guerreiros pelos quais eu ousaria sacrificar minha vida. Os salvei, e também fui salvo por eles, muitas e muitas vezes. Não mais. Agora, são vilões, são perversos. Querem nos impedir, Arthur, e isso eu não posso permitir.
Arthur suspirou. Não era mais rei, nem mesmo tinha o orgulho e a firmeza de uma realeza. Era um mortal, outra vez, e hesitava como um.
—Estamos do seu lado, meu amo —disse o feiticeiro.
—Você não é um servo, Merlin.
—Para mim, o senhor será sempre um rei. Tem em mãos uma das lendas, e ouso dizer que seu próprio nome é uma lenda em nossas terras. Com a destruição daquela maldição, teremos de volta nosso lar, nossas casas e famílias. Seremos livres dessa prisão, livres para comemorar pela eternidade.
—Não há o que comemorar. As perdas foram maiores do que vitória alguma pode ser. —Arthur se levantou. Tirou sua espada da bainha, a lâmina dourada cintilou junto da lua. Era linda, adornada com cristais e joias sem nome, tão brilhante quanto o próprio sol poderia ser. —Faremos valer todos os sacrifícios, e então baixaremos as armas. De volta ao nosso lar, hei de ser camponês, não mais cavaleiro. Esta vida me trouxe honra, mas carregou-me para um mar de incertezas e dores.
—O senhor é um —
—Não quero mais reinar, não quero comandar tropas. Quero viver aquilo que não pude até então. Quero ser um homem sem títulos garbosos, sem nomenclaturas especiais. Quero ser livre, livre da responsabilidade, livre das normas e das decisões, pois esta é a maior liberdade que se pode alcançar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário