quinta-feira, 3 de maio de 2012

Conto - O Caso das Sete Alices

Olá, companheiros.
Sei que o ritmo das postagens está bastante vagaroso, mas estou fazendo o que posso para dar andamento ao blog. Não pretendo abandoná-lo, sempre que tiver algo a ser compartilhado, podem ter certeza de que o texto estará aqui, mas também preciso garantir a escrita, a faculdade, o trabalho etc. A vida, em si.
Enfim, não estou aqui para dar desculpas sobre as postagens, mas sim para trazer até vocês um novo conto. Chama-se 'O Caso das Sete Alices', e cá entre nós, é um dos muitos textos que escrevi recentemente com base nos contos de fada. Estou num momento em que essas histórias voltaram a me cativar, desde os filmes antigos da Disney como em seriados, citando Grimm e Once Upon a Time como exemplos, e esse último acabou por se tornar a minha série favorita. É interessantíssimo ver os incontáveis modos de se contar as mesmas histórias; quando pensamos ter visto todos eles, surgem outros e mais outros, cada vez mais criativos e tocantes, seja no drama ou no terror psicológico.
Este conto que vos trago é um exemplo dele e, sinceramente, espero que gostem. Lembrando que O Caso das Sete Alices é uma das histórias que estará presente na nova antologia que logo mais disponibilizarei no PerSe, que se chamará 'Contos de Farsas'. Sem mais demoras, tenham uma boa leitura, e até a próxima!


O Caso das Sete Alices

—Me traga outra cerveja.
Aquela não era sua primeira dose, e possivelmente não seria a última. Lauren estava num péssimo dia, com pensamentos conturbados e dores por todo o corpo, frutos de um cansaço que ele jamais imaginou ter de enfrentar. Sentado naquele lugar estranho, cercado por outras tantas pessoas igualmente estranhas (ainda que suas definições parecessem cada vez mais impossíveis), tinha duas opções: admitir que enlouquecera ou beber para fingir que nada daquilo era real.
Escolheu a segunda, pois tudo se resolvia com uma boa embriaguez.
—Percebi que tem bebido bastante, meu caro —disse-lhe uma voz chamativa, tranquila e de efeito calmante. Ao seu lado havia um homem de olhos escuros, pele bastante clara e roupas negras, quase um objeto da paisagem daquela boate. Tinha um chapéu escuro sobre os cabelos cacheados, e um belo par de olheiras.
—E por acaso tem algo a ver com isso? —com indiferença, não estava para brincadeiras. Nunca esteve na realidade e, por um momento, pensava nisso com certo arrependimento.
—Obviamente não, mas muito me interesso pelos outros. —O misterioso homem puxou uma cadeira do balcão e sentou-se ao lado de Lauren. —Gosto de saber de tudo, ao menos de tudo o que posso saber. —Bateu no sino que se postava no vidro, chamando por uma garçonete com um aceno. Uma mulher de curvas estranhas e peso acima da média perguntou o que ele desejava. —Vinho tinto, por favor.
—Isso não faz diferença na minha vida.
—E se fizer?
Acenou outra vez para a mesma mulher, pedindo por duas doses ao invés de apenas uma.
—Não faz. Quem é você, para começo de conversa?
—Chame-me de Senhor Escuso, se é um nome o que procura. Entretanto, acredito que a minha história não lhe seja interessante, senhor Lauren. Por que não me imagina como um psicólogo? Sei o quanto você deseja conversar, o quanto há aprisionado em sua garganta. Desabafe comigo, conte-me o que aconteceu.
—Nada aconteceu —entre um gole e outro. —Eu nem mesmo sei quem é você.
—E isso faz diferença na minha vida?
—E se fizer? —com certa ironia.
O Sr. Escuso sorriu, revelando dentes exóticos e um hálito desagradável.
—Certamente que faz. —A mulher entregou dois copos de vinho para o homem, que ofereceu um deles para Lauren. —Termine sua cerveja e me acompanhe num vinho. É por minha conta, mas a história é sua responsabilidade.
—Eu não tenho uma história.
—Mas é claro que tem. Não quer me contar sobre as mulheres de sua vida, senhor Lauren?
Lauren engoliu em seco.
—Mulheres?
—Exato. Mulheres, ou Alices, quem sabe.
Ele terminou sua cerveja com um gole longo, e aproximou o copo de vinho de seu corpo.
—Como sabe disso? —perguntou.
—Ora! Eu sei apenas o que você me contar.
Lauren provou do vinho.
—Que seja.

Eu me casei com uma Alice, um dia. Estava apaixonado por ela. Amei-a como os homens do presente amam seus pertences, me entreguei de imediato ao seu amor, joguei-me nos seus braços como uma criança de destino pré-determinado. Tivemos dois lindos filhos, uma garota que herdou seu nome, um menino que chamei de Pablo.
Aquelas foram as duas primeiras Alices da minha vida. Meu sangue, minha família, meus amores.
Eu as matei.
Não sei lhe explicar o que senti, apenas repugnei suas existências quando abri a porta de minha moradia. Minha esposa vestia um baby-doll provocante, tentou me seduzir assim que cheguei. Disse que nossos filhos estavam dormindo como anjinhos, chamou-me para o sexo que nunca fui capaz de negar. Mas eu neguei. Empurrei-a para trás sem medir a força, vi quando ela caiu e se feriu no vidro de uma garrafa que estilhaçou. Ela não entendeu, e eu também não. Tirei o vidro debaixo de seu corpo, cortei a mão no movimento, vi meu sangue escorrer. Não era meu sangue, não somente meu. Havia algo a mais.
Aquele vidro se fez uma arma, e com ele degolei a mulher que, um dia, postou-se ao meu lado diante de um padre.
Então subi no quarto de meus filhos. Realmente, dormiam como anjinhos, o pequeno Pablo e a linda Alice.
Alice. Enojei-me daquele nome, daquela pessoa. Não era minha filha, não era meu sangue. Era um demônio na forma de uma garotinha. Abracei-a num travesseiro, disse que tudo ficaria bem, ela aceitou. Debateu-se conforme o ar lhe faltava, mas eu era mais forte, e assim ela morreu nos meus braços. Pablo assistiu, mas o que um garoto de sete anos poderia fazer contra mim? Choramingou, sozinho, e sozinho permaneceria por muito tempo.
—Eu sinto muito —disse a ele, e então parti sem olhar para trás.
A polícia demorou para chegar, convocada pelos vizinhos que escutaram o choro do meu filho. Não, não o meu filho. O filho daquele cara, daquele homem de nome Lauren. Naquele momento, eu era outra coisa, eu era outro alguém. Havia algo dentro de mim, algo que se tornava superior, que sobrepujava Lauren e toda sua existência.
Sentia vontade de gargalhar, mas não entendia o motivo.
A terceira Alice me surgiu num bar. As luzes ofuscavam meus pensamentos, a televisão exibia clipes com danças sensuais e mulheres de roupas curtíssimas. O balcão lotado servia bebidas para quem conseguisse gritar mais alto, eu apenas esperava. Ouvi alguém chamar uma Alice, virei-me de súbito. Aquele som fazia algo despertar dentro de mim. Sentia-me enfurecido, quase capaz de rugir. Terminei meu copo de vodca e me aproximei da garota. Coitada, era uma recém-formada do ensino médio, uma garota inocente que se borraria ao escutar quaisquer palavras românticas. Fui eu quem as disse. Fui eu quem a beijou, quem deixou seu corpo molhado pela excitação, quem a colocou dentro de um carro e a levou para um motel, ou disse que assim o faria.
Fui eu quem a matou.
Meses se passaram, eu era procurado, mas as mortes não tinham ligação alguma. Não vi Pablo, não soube como ele estava, e pouco me importava com isso. Tinha outras preocupações. Bebendo um café fervente numa padaria, escutei um senhor conversar com sua filha. Ele tinha seus setenta anos; ela tinha doze, talvez menos.
Alice.
Enforquei-a num quarto de motel algum tempo depois, após um sequestro bem planejado. Coitada, implorou tanto por sua vida, chorou, chamou por seu avô, por sua mãe. Perguntou-me o motivo de sua morte, e eu não soube responder. Por que estava matando aquela garota? Por que matei minha família?
Enquanto não tinha uma resposta, esperei que ela agonizasse até a morte.
Mudei de cidade quando os noticiários começaram a mostrar fotos minhas como desaparecido, suspeito pelo assassinato dos familiares e coisas típicas de situações como essas. Afastei-me, esgotei a gasolina do veículo três vezes, mudei o corte de cabelo e deixei a barba crescer. Era outra pessoa, não só na aparência. Mas, dentro de mim, Lauren estava adormecido. Sonhava, tinha seus pesadelos, mas estava lá, inquieto. Queria acordar, mas era fraco. Fraco perante aquela coisa que me dominava, aquela vontade incessante e raivosa que surgia ao pronunciamento daquele nome.
Alice.
A quinta não surgiu por acaso. Eu a procurei. Passaram-se alguns meses, comemorei meu aniversário sem companhia, arrumei um emprego de entregador de pizza. Sempre procurando, até que encontrei a vítima perfeita. Ela era viúva, tinha uma filha de dezessete anos, moravam sozinhas num apartamento de baixa segurança. Gastei algumas economias para esquematizar minha invasão, mas tudo correu bem, valendo o investimento. Subi as escadas com passos vagarosos, bati na porta no traje que sempre usava em meu trabalho de entregador.
—A senhora chamou uma pizza, amiga?
—Não me lembro de ter chamado.
—Então alguém quis lhe fazer uma surpresa.
E esse alguém era eu.
Assim que a porta foi aberta, lancei um veneno que derrubou a mulher e sua filha de imediato. Ela era uma mulher bonita, uma coroa próxima dos quarenta e cinco, talvez mais, mas com belas curvas e olhos azuis. A filha, no entanto, era narcisista, gastava suas horas vagas na academia e se entupia de cosméticos na necessidade de ser cada vez mais linda. Amarrei as duas, violentei-as também. Sabe como é, eu sou um homem, a carne era fraca. Não pude resistir à beleza daquelas duas. Por pouco não me apaixonei outra vez.
Esfaqueei a mãe e deixei a filha lá, inconsciente, banhada pelo sangue da genitora e pelo esperma de um desconhecido.
Esperei dois longos anos até que esse caso fosse esquecido. Novamente me tornei outro homem, o disfarce ainda prosseguia efetivo. Mudei minha localidade cerca de treze vezes, estava cansado de arrastar meus pertences, ainda que não tivesse muito o quê carregar. Estava mais calmo, aprendendo a controlar meus impulsos, minha sede de sangue.
Então encontrei a sexta Alice.
Essa era uma professora, tinha seios fartos e óculos que a garantiam o rosto de uma atriz pornô. Os cabelos tingidos de vermelho apenas realçavam tal aparência. Lecionava para crianças de um primário perturbado, mas conseguia o respeito de todos (principalmente os garotos) quando cantava suas melodias impressionantes, com uma voz invejável. Eu me tornei criança outra vez quando a encontrei, sabe? Adorava escutar suas canções, sentar-me na sala mais próxima, um quarto mofado onde se guardava o material de limpeza, e apoiar a orelha numa das paredes na intenção de apreciar sua linda voz. Uma vez ela contou a história da Chapeuzinho Vermelho, e eu quase alcançava o clímax ao escutar as ênfases distribuídas em cada situação problemática que a garota enfrentava. Desejei ser o Lobo Mau apenas para estar ali, despejado em seus lábios, conforme ela avançava no conto.
Tive dúvidas de como matá-la, mas escolhi um método de pouca sujeira. Não queria destruir aquele corpo tão precioso, tão admirado. Envenenei sua comida, assisti enquanto ela engasgou até morrer dentro de sua casa, nada além de um quarto, uma sala e uma cozinha rústica. Ali, ela se tornou meu brinquedo. Tive vontade de empalhá-la, caso fosse possível, fazer dela um troféu. Mas ela estava morta, e nada mudaria isso. Ela morta, e eu feliz. Fiz o que tinha de ser feito, a necrofilia nunca me pareceu tão agradável.
Então, a sétima.
Foram outros três anos de espera. Encontrei-a na minha cidade natal, e ali encontrei também tantas outras lembranças. Vi Pablo, e como ele estava bonito! Tornou-se um garoto inteligente, era bom nos estudos, esforçado e motivado pela sua babá.
E sua babá era a Alice que escolhi para ser minha sétima vítima.
Eu o seguia, meu próprio filho, para saber de suas coisas. Provavelmente não seria reconhecido, mas achei melhor não arriscar, de início. Alguns dias mais tarde, no entanto, decidi me aproximar. Parei ao seu lado enquanto ele brincava no parque, sua acompanhante lia um livro num banco distante.
—Ei, garoto —chamei. —Venha cá um minuto.
—Quem é você? —perguntou ele, e respirei aliviado por isso.
—Só estou de passagem. Diga-me, aquela mulher está com você?
Apontei Alice com os dedos trêmulos; Pablo sorriu.
—Sim. Ela toma conta de mim, porque eu não tenho pais.
—Entendi.
—Está interessado nela?
Não segurei o riso.
—O que te faz pensar isso?
—Aprendi na escola que os homens nunca perguntam sobre mulheres que não os deixam interessados.
—O que significa que a sua escola tem ensinado as coisas corretamente, mas fora do tempo —zombei. —Sim, talvez eu esteja interessado nela.
—Fale com ela!
—Acha que ela gostaria disso?
—Por que não tenta? Ela é uma boa pessoa. Tem o nome da minha mãe.
—Eu sei.
—Sabe?
—Agora sim, pois você me contou.
Acariciei seus cabelos e caminhei até o bando onde Alice se sentava. Postei-me ao seu lado, abri um jornal velho que tinha nas mãos, fingi uma leitura breve enquanto a examinava. Aquela tinha de ser uma vítima especial. Para vítimas especiais, eu tinha algo especial preparado.
—Está quente, não?
—Sim —com certa timidez. —Muito quente.
—Gostaria de tomar um sorvete comigo?
—Não, obrigada.
—Regime?
—Não.
—Que bobeira a minha perguntar isso. Você não precisa.
—Obrigada, eu acho.
Sorri.
—Estou encantado em conhecê-la, Alice.
Ela parou de ler seu livro.
—Sabe meu nome —afirmou.
—Sei de várias coisas.
—Como?
—Aquele garoto me contou —e apontei Pablo, que agora conversava com seus amigos próximo a uma árvore de folhas amarelas.
—Pablo?
—É um belo nome, não? Fui eu quem escolhi.
Ela engoliu em seco, mas eu cobri seus lábios antes que pudesse gritar.
—Sim, eu sou Lauren, o pai de Pablo, o marido que assassinou a família e desapareceu. Sei que já se passaram alguns anos, mas é interessante que você saiba que eu estive por aí, não fugindo. Tanto que estou aqui, outra vez. Vim visitar meu filho, ver como ele está.
—O que você —
—Não se exalte, querida Alice. Tenho uma enorme afeição por este nome, sabia? Me remete a várias sensações. Uma delas é a loucura.
—O que você —
Ela tentou se levantar, pensou em gritar, pensou em várias coisas naquele momento, mas sua voz não pôde trespassar o punhal que lhe penetrou a garganta com um único movimento, forçando-a a tossir sangue.
—Eu disse para não se exaltar.

—Foi isso.
—Incrível. É quase uma obra de arte, senhor Lauren. Me emociono ao pensar que alguém é capaz de coisas tão cruéis. Mas, após tudo isso, você não deveria estar numa cadeia?
O Senhor Escuso terminou seu vinho, e aguardou enquanto Lauren bebericava o que restou em seu copo.
—Acho que sim. Mas eu estou aqui, e sequer sei como cheguei nesse lugar. Na verdade, nem mesmo sei que lugar é esse.
—Ora, meu caro, esse é um ponto de encontro. É o Lar das Histórias, como alguns gostam de chamar. A Casa Cinzenta também é um bom nome, ainda que antigo e antiquado. Eu, particularmente, prefiro a nomenclatura de Última Dose.
—Como cheguei até aqui?
—Ainda não entendeu. Eu o trouxe até aqui. Naquele instante, quando você matou sua sétima Alice, eu o capturei. Não precisa mais fingir, felino. Você não consegue me enganar, nem mesmo nesse corpo. Suas loucuras vão acabar em breve, logo nada vai restar do monstro que impregna o solo da natureza com o sangue de inocentes.
Lauren riu, mas sua risada logo se tornou uma gargalhada sem tamanho. As pupilas dilataram, as narinas exibiram bigodes violáceos, a pele foi marcada por símbolos negros e anilares. Derrubando seu copo no chão, Lauren se contorceu em posições inimagináveis, vomitando todo o álcool que tinha ingerido durante aquela noite, juntamente com o corpo de um animal muito maior do que ele próprio. Ao fim, o corpo do homem tombou como uma casca vazia, deslizando sem força alguma para baixo dos assentos próximos ao balcão. Ao seu lado, afrontando os olhos atentos do Senhor Escuso, um felino se postava em apenas duas pernas, com membros malhados e uma pelugem arroxeada, repleta de tatuagens negras de formas desconhecidas.
—O Gato de Chesire —disse o misterioso homem. —Vejo que ainda se aproveita dos mais fracos para seus ideais, criatura. Mas preciso comentar, você já foi mais cauteloso. Foi fácil te encontrar dessa vez.
—Eu não sei me esconder, caçador —bradou o monstro, com uma voz amedrontadora e cavernosa. —Minha especialidade é fugir.
O Senhor Escuso brandiu uma pistola de suas vestes e disparou, mas foi atingido de imediato pelas garras do Gato de Chesire, tombando contra algumas mesas mais distantes. A pele ferida guardaria uma cicatriz para todo o sempre, mas isso não era assustador; assustador era o corte na pele do Senhor Escuso, que jorrava toda sua vida como uma cachoeira rubra.
—Essa é a parte que você faz a sua especialidade, não é? —perguntou o caçador, os lábios manchados pelo sangue.
O Gato de Chesire sorriu, então desapareceu na frente de todos.
—Ai meu Deus, você está bem? —perguntou uma das atendentes, correndo até o Senhor Escuso e postando-se de joelho ao seu lado.
—Eu nunca estive melhor, pequenina! —respondeu com certa ironia. —Pode me trazer outro copo de vinho?
Ainda hesitante, a mulher deixou o caçador em seu lugar, partindo para o balcão onde preparou-se para encher um copo com o vinho tinto costumeiro. O Senhor Escuso se levantou, ajeitou as roupas e observou o corte em seu peito. Não era nada superficial, mas enfim, ele sobreviveria. Sempre sobrevivia. Sentou-se no lugar de origem e tirou um celular do bolso.
—Resolvemos o caso das sete Alices —disse para o receptor, e então aguardou por suas informações. —O Gato está solto, mas está marcado. Eu o atingi. Agora só preciso de uma prisão que o comporte. —Escutou outra vez, e assentiu. —Está certo.
Desligou seu telefone e provou do vinho que a garçonete lhe serviu. Algumas gotas escorreram pelo ferimento de seu corpo, mas ele não se importou. Tinha outras preocupações.
Abaixo dos bancos, o corpo murcho de Lauren jazia, aberto como uma casca de ovo após o nascimento de um novo ser. Estava morto, mas morrera muito antes, anos antes, quando aquele ser o utilizou durante tanto tempo. O Senhor Escuso derrubou um gole de vinho nos lábios de Lauren, homenageando-o, e soube que aquela seria a última dose que ele poderia provar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário