Não é de hoje que conhecemos Raphael
Draccon por sua criatividade e seus trabalhos fantásticos. Desde que se uniu à
Leya, a editora cresceu bastante, seja pelo sucesso iminente da trilogia
Dragões de Éter, seja pelas vendas elevadas de Game of Thrones. Entretanto, até
então, nenhum dos trabalhos do autor tinha me chamado tanta atenção quanto este
último, disponibilizado na Bienal do Livro de 2012, com o título chamativo de
Fios de Prata – Reconstruindo Sandman.
O novo romance de Draccon trata de um
tema impossível de se tornar clichê: sonhos. Muita gente já narrou histórias
sobre sonhos, inclusive Neil Gaiman, com o grande trabalho de Sandman, o
quadrinho adulto mais badalado do mundo, mas todas essas histórias sempre têm
sua originalidade. Quando tratamos de sonhos, podemos ser o que quisermos,
escrever sobre tudo e sobre todos. Nada é fantasia o suficiente para o Sonhar,
e foi assim que Draccon fez de Alejjo, o jogador mais caro do mundo, um
guerreiro sonhador conhecido como O Santo, portador de uma Masamune e da luz
que ilumina o inferno, sem que isso parecesse impossível ou inviável.
Acompanhando Mikael Santiago, um jogador
brasileiro prestes a fechar negócio com um clube francês no que pode ser a
transição futebolística mais cara do mundo, vemos o nascimento de sua paixão
platônica por Ariana, a nova Daiane dos Santos da ginástica olímpica, capaz de
saltos ainda mais incríveis. Enquanto os dois se envolvem, os Planos dos Sonhos
desenrolam uma guerra de proporções épicas pelo Sonhar, onde três deuses e o
Anjo dos Sonhos têm de defender seus domínios, cada qual à sua maneira, para
evitar o caos.
Neste cenário fantástico, Draccon abusa
das referências e citações, deixando transparecer diversas similaridades com
enredos de outros autores, famosos ou não, e citando-os muitas vezes em
diálogos e passagens no sequenciamento das descrições. O cenário se prova
pensado para apresentar-nos uma visão artística dos sonhos e até mesmo do
Inferno, e muito agrada nas apresentações. Ainda existem descrições grandes
demais e paradas cinematográficas que, em primeiros instantes, agradam, mas
logo se tornam exaustivas, porém nada disso tira o gracejo e o agrado que o
romance tem.
Para aqueles que admiram tais histórias,
em especial o famosíssimo Sandman de Gaiman, Fios de Prata é um livro que muito
agradará. Ele tem o seu modo de narrar os sonhos e os acontecimentos
desencadeados por estes, numa nova apresentação, num novo mundo imaginário, com
deuses e criaturas incríveis! A leitura anima, mesmo que os mistérios não sejam
grandes o suficiente para lhe deixar empolgados com as revelações, e as cenas
de batalha são bem descritas, bem como as passagens de diversas pessoas em
situações cotidianas (atípicas ou não) ao redor do mundo, passagens essas que
se alteram (ou não) de acordo com os acontecimentos da guerra que ocorre no
Sonhar. Fica a dica para os amantes da fantasia urbana e medieval, e também
para aqueles que deleitam-se nos roteiros sonhadores e sem limites. Com tantos
personagens marcantes e uma história de planejamento ímpar, Draccon consegue,
nas 350 páginas de Fios de Prata, nos cativar com uma história tão bela, senão
ainda mais bela (no que eu carinhosamente aposto), que sua série anterior,
Dragões de Éter.
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