OUTUBRO
Na vida, todo mundo
passa.
Tem gente que passa e se
vai, sem demora.
Tem gente que passa e
não vai, mas enrola.
Tem gente que passa e
estaca, se escora.
Tem gente que passa e
fica, pra nunca mais ir embora.
Se o amor contagia, não
deixa de ser doença.
Se a vida é feita de
equilíbrios, os dias ruins que já se foram são peso para as maravilhas que
ainda estão pra chegar.
Há uma imensa vontade de
mudar o mundo, mas não antes da miúda vontade de mudar a si mesmo.
Quando o caminho da
felicidade lhe trouxer sofrimento, lembre-se que as mais belas rosas têm no
caule sofríveis espinhos.
Sob as águas do
chuveiro, sob o conforto do travesseiro, nas janelas dos ônibus, nas esperas,
no silêncio, nos sonhos e pensamentos; você.
Pelo ardor da
existência, um mundo de violência só se cura com a inocência.
Ela esperou, e ele a fez
sofrer.
Ela esperou, e ele a
enganou, ludibriou, encheu a vida de mentiras.
Ela esperou, e ele se
foi sem se importar, sem deixar vestígios.
Ela esperou e, um dia,
ela cansou de esperar e decidiu viver.
E ele se arrependeu,
voltou atrás, ajoelhou-se onde ela sempre esperava, mas ela não mais estava
ali. Então ele decidiu esperar, mas já era tarde demais.
Ele esperou, mas ela
nunca mais voltaria.
Não se deixe enganar com
aparências: as mais belas prisões ainda lhe privam da liberdade.
Respostas para quem não
tem perguntas, perguntas para quem não tem respostas.
As mais belas cores
escurecem diante dos mais perversos sentimentos.
Ele ofereceu a ela um
pincel que faria um único desenho se tornar real, e assim lhe disse que
qualquer vontade, sonho ou anseio, por mais íntimo e egoísta que fosse, seria
concebido nos traços daquela arte.
E ela, na ingenuidade,
não tinha vontades, sonhos ou anseios por si mesmo.
Com o pincel mágico em
mãos, ela rabiscou a tela em branco e, sem pensar duas vezes, desenhou um novo
mundo, um mundo melhor.
Às vezes eu acho que
preciso deixar uns hábitos para trás e me tornar mais 'adulto'.
Somente as crianças se
preocupam com os outros. Os adultos se dão bem por egoísmo, porque sabem se
preocupar somente consigo mesmo, sabem fingir que nada está acontecendo e dar
de ombros quando algo de ruim acontece, sem procurar soluções por ter
preocupações maiores do que baboseiras.
Somente as crianças
acham graça em qualquer coisa. Os adultos levam a vida a sério, pouco
aproveitam do lazer e das companhias, sempre focados no trabalho e na rotina,
com miúdos momentos de piscadelas que lhes permitem esquecer o financeiro para
cultivar o social.
Somente as crianças
vivem a vida ao máximo. Os adultos não correm riscos, pois são muito adultos
para arriscar. Eles não podem se dar ao luxo de viver tudo o que a vida
garante, já que têm muito ao seu redor, muito nos seus bolsos e nas suas mãos,
muito na mente e na língua. Perder não é uma possibilidade, é apenas um
desleixo, um descuido, um problema. Vencer é o que importa, e não se vive ao
máximo por se viver para a vitória.
É, às vezes eu penso que
realmente deveria me tornar mais adulto.
Mas, ao pensar nisso
tudo, prefiro deixar meus pensamentos de lado e esquecer de tudo em algumas
horas de videogame com os amigos.
Eu gostava do tempo onde você era interessante pelo
que era, não pelo que tinha.
Quando a simplicidade se complica, a complexidade
simplifica o irremediável.
O ser humano é tão desacostumado à perfeição que,
quando algo está perfeito, ele estranha e se afoba.
Completo no incompleto, finito no infinito, relógio
circulando no encontro dos perdidos; voeja, desbrava, ajusta o “inajustável”,
recorre ao irrecorrível, faz alarde no amável; confunde o que é certo, confia
ao confundível, afoba no repouso e descontrola o inaudível; extremo, pacato,
mundano e ativista, calmo, desesperado, sereno, tão pessimista; seja realidade,
seja pura ilusão, pertence ao ser humano tão insana descrição.
Levanta a cabeça e
respira fundo, sem marra, sem medo, recrie seu mundo.
Não há compaixão por
quem vive sem glória
Somente uma chance de
seguir adiante
Em frente, avante, mudando
sua história
Pense em sua vida como
um jardim. Você tem que cuidar de todas as flores, pois a beleza está em tudo o
que o circunda. Ao se dedicar para somente uma flor, terá de se conformar com o
fato de que mesmo as mais belas flores um dia hão de murchar.
-Hoje eu vou falar com
ele.
Mas ela não falou.
Era um dia como todos os
outros, e ele estava lá, no mesmo banco, sentado, sozinho, paciente. E ela
também lá estava, não tão paciente, mas tão sozinha quanto. Em sua mente,
aqueles olhos, aquele perfume, aquele sorriso.
-Amanhã eu vou falar com
ele.
Mas ela não foi, e
também não foi na semana seguinte, nem no mês seguinte, nem no ano seguinte.
Até ele desaparecer, e
ela então se viu sozinha, e a solidão a consumiu.
Não era uma solidão
desgostosa, ácida e revoltante, como aquela dos deixados para trás, dos
abandonados, dos que ficam atirados no sofá enquanto a porta não se fecha pelo
vento.
Era a solidão do erro,
da insegurança, do medo de arriscar.
A solidão de quem tem
toda a cachoeira à frente dos olhos mas desiste ao ver a água escapar por entre
os dedos de suas mãos.
Não para sempre, pois o
sempre tarda e se extingue; não para sempre, mas para o meu sempre, para o meu
infinito, até que o finito extrapole e o fim nos leve, de mãos dadas, para o recomeço
do ciclo. Não para sempre, não pela eternidade, mas por todo o tempo que eu
quiser, que eu puder, que eu respirar.
Não para sempre, mas sim
até o fim.
Que eu tenha cem anos no
corpo, mas dez no espírito, pois não se move montanhas com os braços, somente
com a determinação.
Não há muro que segure a
força de um sonho.
Que esteja tudo em
pedaços, que vivam todos nas dores, ainda estarei aqui completo, cercado de
sonhos e cores.
Há quem foge dos medos e
tomba; há quem queda diante deles e, ao se levantar, já é forte o suficiente
para afrontá-los.
Desabe o mundo sobre
tudo e todos; atingidos são apenas aqueles que se entregam pois, aos
destemidos, tormenta alguma poderá fazer mal.
Antes molhar os pés na
chuva do que se afogar no pranto.
Largue tudo, largue o
mundo, largue os medos e receios, deixe apenas entre os braços quem lhe
importa, quem ama e é amado, e só assim entenderá o significado de viver, de
existir, e a complexidade de um simples beijo apaixonado.
Já era madrugada quando
o telefone tocou. Ela acordou assustada, o frio era intenso, as cobertas fora
de si. Atendeu, escutou chiados anormais, a ligação caiu. Praguejou e fechou os
olhos outra vez, suspirando, e só sentiu-se calma novamente quando os braços de
seu marido lhe envolveram num abraço quente e confortante.
Então, outro toque, e
desta vez, ao atender, ela pôde escutar alguém dizer: -Você pode abrir o portão
para mim? Esqueci as minhas chaves.
Era o seu marido, lá
fora.
Mas então quem se
deitava ao seu lado?
Nenhuma dor me impedirá
de alcançar o que almejo.
Ao temer perdê-la,
perdeu a si mesmo e, sem saber quem era, vagou na solidão até o fim de seus
dias.
Ele ligou para a mãe num
último instante de agonia, sem saber o que lhe perseguia, sem saber o que lhe
apavorava. Disse a ela que a amava, e que não mais sairia daquele túnel, abaixo
da ponte, mas não havia túnel algum. A mãe se desesperou e, ao som do último
grito, acompanhou a polícia em buscas que jamais teriam fundamento.
Afinal, se sequer foram
capazes de encontrar tal lugar, como pretendiam encontrar um rapaz
desaparecido?
Caminhando por entre as
árvores, o garoto encontrou uma criança perdida. A garotinha sorriu para ele e
correu, cantarolando, e ele a seguiu, procurando ao mesmo tempo pelos pais
desatentos que a deixaram vagar sozinha, em vão. Seguiu-a por horas e mais
horas, e suas pernas sequer lhe respondiam às vontades devido ao cansaço.
Quando parou, sentado num dos bancos de madeira cujo conforto era duvidoso,
viu-a acenar além das árvores, e ali ela se desfez em pétalas, subindo junto da
brisa para uma liberdade que homem algum jamais alcançaria.
E só então ele se
lembrou de que era impossível haver uma garota perdida e uma família entre
aquelas árvores.
Aquele era o seu jardim,
e não um parque público.
Ele estava sozinho, como
sempre esteve.
-Vai se esconder, mamãe!
E a mãe se escondeu, mas
a garota a encontrou sob as cobertas.
-Outra vez!
E mais uma vez ela o
fez, mas a garota era esperta, e logo a encontrou atrás das cortinas.
-É a última vez, mamãe,
eu prometo!
E ela se escondeu uma
terceira vez, alvejando o porão daquela residência que desconheciam. A garota
procurou, mas nada encontrou em lugar algum. Procurou por horas, por dias,
nada.
Arrependeu-se de dizer à
mãe que aquela seria a última vez, mas ela realmente fora.
-A mamãe está me
chamando.
A garotinha chorava. Seu
irmão, como sempre, olhava emburrado para ela, os braços cruzados, a cara
fechada.
-Não, ela não está.
A voz estava ali, além
da porta lacrada.
-É ela, é sim! Ela está
me chamando!
O garoto bufou,
impaciente, e a garota chorou, temerosa.
-Desista. Ela não vai
falar com você outra vez.
Com passos pesados ele
se foi, deixando para trás uma criança preocupada, sedenta por carinho e por
abraços.
-Ele não entende, mamãe,
ele não consegue ouvir. Mas eu consigo. Eu posso ouvi-la me chamar. Eu posso
ouvir a sua voz.
Ela se escorou à porta
que ninguém mais abriria, e ali ficou, sonhadora. As lágrimas secaram, mas o
pensamento não voejou: a voz estava ali, chamando por ela, clamando pela sua
presença, mas ela ainda precisava aceitar a morte da genitora.
Ela movia montanhas com
seus braços, enfrentava hordas com seus punhos e afrontava os maiores temores
com os olhos abertos, sem hesitar. Ela determinava suas vontades, ela escolhia
seus caminhos, ela passava por cima de todos os obstáculos sem ajuda, sem
ninguém.
Mas, quando estava
sozinha, ela chorava.
Chorava, não por ser
fraca, não por ser frágil. Chorava por ser humana. Chorava por ser uma deusa,
mas uma deusa tomada por emoções, violada por dificuldades, corrompida pela
fraqueza; uma deusa sem poderes, sem vitórias, uma deusa caída. Chorava por se
achar fraca, por não ver diante do espelho tantas quantas eram suas conquistas,
por não ver além dos montes todo o orgulho que esbanjava.
E ele, postado na
lonjura de tal momento, a viu.
Não como heroína, não
como deusa.
A viu como mulher, como
garota, como uma boneca de porcelana. Esteticamente perfeita,
indescritivelmente fragilizada.
Assim ele a viu, assim
ele a amou. Parte por ser imperfeita; parte por ser esta sua maior perfeição.
Sentado ao lado daquela
menina, daquela mulher, ele a abraçou, mas não era ninguém, e ela chorou em seu
ombro, desolada, incapaz sequer de esconder tua fraqueza. Sentado ao lado
daquela garota ele conheceu os mais belos sentimentos, entendeu que, mesmo que
nada fosse, tudo era para quem lhe importava.
E ela, imersa em seus
braços, compreendeu.
Ela movia montanhas,
enfrentava hordas, determinava suas vontades e escolhia seus caminhos, passando
por cima de quaisquer obstáculos sem ajuda, sem ninguém.
Às vezes ela caía; às
vezes ela chorava.
Ele estava sempre lá, de
braço abertos, pronto para reerguê-la com um sorriso.
Não há chave do sucesso
Quando fechadura não há
Não recue, olhe adiante
O que queres já está lá
Sincero é aquele que
mente
Mas mente pra preservar
A estética da semente
Que se preza a cultivar
Mentiroso aquele que
nega
A verdade que repugna
Que aceita o espelho e
despreza
A beldade que o ensina
Conheci uma cronista
E em mim algo despertou
Narrei junto dela, às
vistas
Um conto que se
prolongou
Hoje o romance despista
O amor que vivenciou
Entre chagas e espinhos
Um rumo há de se mostrar
Disperso em redemoinhos
Gritante, mudo, a bailar
Na valsa do amor
nascente
Só a paixão se destaca
E com paixão vivo
ardente
Sobrepondo em risos as
estacas
Dentre os mais gritantes
tempos
Um só ante a multidão
Cercado, sempre ao
relento
Temendo tal solidão
Na solidão dos unidos
Mãos dadas são o remédio
De um silêncio estampido
Que reprime todo tédio
Escuro, vento soturno
O vento em choque ao
muro
Brilhante manto noturno
Em nada além de um
segundo
Encontro-me abandonado
Sozinho, tão desprezado
Nos cantos, amordaçado
Sempre preso,
acorrentado
Nunca tive medo do
escuro
Mas o escuro me faz
tremer
Estendo as mãos,
inseguro
Procurando por você
Silêncio, balada fúnebre
De um mundo de puro caos
Onde vivos habitam
túmulos
E mortos são puro mal
Corro, tombo, me
afugento
Evito de acreditar
Abraço o vazio tormento
Respiro a tranquilizar
Salto e grito, acordo assustado
Suor frio de pesadelo
Mas cá, você, ao meu
lado
Afaga-me num só beijo
Eu dei as mãos para um
anjo.
E ela era tão linda que
eu sequer sei descrever. Fazia-me um bem fantasioso, conforme deslizava teus
braços em meu corpo, teus frágeis dedos em meu rosto. Afagando meus cabelos, vi
estrelas num mundo sem céu, e aquele era o paraíso.
Respirando com certa
dificuldade, pois o ar me faltava, escutei aquela voz de perfeição acentuada
cantarolar-me um amor infinito.
-Eu não quero acordar.
Meu pedido era impossível.
-Você não precisa.
Ela sorriu, angelical.
-Eu posso dormir para
sempre?
Então ela me beijou, e
eu a senti, quente e aconchegante, calorosa e apaixonante, e eu entendi antes
mesmo que ela me respondesse.
-Não. Você já está
acordado.
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