sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Resenha ~ Dragões de Éter - Caçadores de Bruxas

Raphael Draccon é, para os leitores e escritores do Brasil, um mito. Não o único, claro, pois temos outros nomes de igual ou maior valor na literatura fantástica, mas ele certamente se destaca pelas produções e pelo enfoque nos trabalhos atípicos dos textos fantasiosos. Eu o respeito e agradeço por todo o envolvimento com o público, e acima de tudo por auxiliar no desenvolvimento fantástico no Brasil, que agora aceita muito melhor obras do gênero oriundas de seus próprios moradores, o que, anos atrás, parecia uma ideia bizarra e surreal.
Por que estou dizendo isso?

Porque, apesar de respeitá-lo tanto, e também de possuir a trilogia Dragões de Éter e o recente Fios de Prata no meu armário de leitura, eu nunca havia lido nenhum trabalho do Draccon. Já vi contos, claro, mas não um romance, não um livro. E foi isso o que resolvi fazer há algum tempo: ler Caçadores de Bruxas, o primeiro livro da saga Dragões de Éter, responsável por alavancar o nome de Draccon.

Caçadores de Bruxas se desenvolve de maneira gradativa, às vezes lento, às vezes rápido, mas sempre se desenvolve. A primeira coisa que tinha em mente ao iniciar a leitura de tal livro era que, por maior que fosse o renome do autor, aquela era a primeira obra de grande porte de sua carreira (tecnicamente falando), e obviamente ele melhoraria ao longo dos anos, pois é isso o que escritores fazem: eles melhoram. Seria o mesmo que se atirar sobre o primeiro livro da série Harry Potter, um fenômeno mundial praticamente inalcançável, e esperar que ele seja o melhor de todos. Deste modo, deparei-me com uma obra de qualidade, sim, mas que deixa a desejar se comparada às sequências, e isso é um ótimo sinal!
Deixando de lado tal argumento, sigamos ao livro em si.
Caçadores de Bruxas nos apresenta diversos personagens que, de uma forma ou de outra, influenciam no resultado final da trama principal. Temos os irmãos Hansom, a família do Rei Primo, a rainha (ou seria Rainha?) Terra, os príncipes, a mágica das Narin e muitos outros (incluindo um troll guardião e um mestre anão!). Essa mistura ocasiona diversas passagens atípicas e satisfatórias, certamente, mas tomar conta de tantos personagens assim não é algo simples. Draccon o fez, sim, mas talvez não tão bem quanto o faça atualmente, em seus trabalhos posteriores. É possível se perder em algumas trocas de capítulos, bem como se angustiar por uma passagem de um personagem ser tão pequena se comparada à de outro, logo em seguida. São dificuldades que ele sabia que enfrentaria, mas ainda assim não teve medo de arriscar.
Falemos então sobre a narrativa de Draccon. O estilo de escrita é agradável, aquela nobre arte de se narrar uma história como se o narrador fosse um personagem que não participa da mesma, mas a conta, como os avôs contaram histórias para você um dia, com comentários e similares. Acho esse tipo de escrita muito interessante, e nesse ponto Draccon se destaca: o narrador é bem vivo, participativo e interessante, por mais que sua faceta só nos seja revelada nas últimas páginas do livro (ou, para os que adquiriram as primeiras edições, na última página mesmo!). Sobre a escrita, podemos tratá-la como interessante, mas o ritmo muda bastante e, por vezes, isso pode te impulsionar a ler mais, mas também pode te impedir de continuar por aquele dia. Eu, particularmente falando, demorei um pouco para terminar de ler as mais de 400 páginas de Caçadores de Bruxas, o que é incomum. Não por desinteresse ou coisa do tipo, mas pelos altos e baixos, uma oscilação que pode parecer incômoda, mas é muito mais comum do que se imagina.

Tratando sobre os personagens, o cenário e os acontecimentos, tudo isso se mostra bastante agradável, com um planejamento grandioso por parte do autor. A interação dos grandes nomes com os pequenos heróis da trama é simplista, mas eficiente e precisa, e não deixa aquela impressão da 'reunião forçada que acontece numa taverna', famosa dos rpg's de cenários próximos a Nova Ether. Obviamente, alguns dos personagens se destacam entre os demais, e alguns ficam apagados. Exemplificando ambas situações, citaria Snail Galford, o ladrão negro, e Liriel, a ladra com certos dons mágicos, são personagens com sequências interessantíssimas, mas o próprio João Hansom parece um peso de papel para o enredo, sendo importante, claro, mas sem exercer grande participação nos fatos. Felizmente podemos apontar mais casos de destaques positivos do que de 'esquecimento' de personagens, o que prova que, mesmo em seu primeiro romance, Draccon tinha facilidade com o desenvolvimento de relações entre personagens de cenários fantásticos, mesmo que em grande quantidade.
Finalizando, é fato que Caçadores de Bruxas não seja o melhor de Raphael Draccon, mas é um livro agradável de se ler, com pontos positivos e negativos, como todos os outros. Confesso que não me impressionei muito com o final, que chegou a ser bastante previsível, inclusive, mas passagens anteriores foram impactantes e certas cenas causam um impressionismo bom, aquele que te faz admirar o autor por ousar, por ser quem é e não se importar com mais nada. Deixo a leitura como recomendação aos amantes do medievalismo que se perde no steampunk ou cenários típicos. Para terminar, classificando o livro numa nota de 0 a 10, acredito que um 7,5 expressaria bem minha opinião.
Até a próxima!

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