domingo, 18 de novembro de 2012

Resenha - Lugar Nenhum, de Neil Gaiman

Todo mundo sabe que eu não escondo uma paixão incomum pelos trabalhos do Neil Gaiman. Desde que conheci Sandman, incluindo as passagens velozes por Deuses Americanos, O Livro do Cemitério, Coraline e Mirror Mask (A Máscara de Ilusões), sempre admirei o trabalho do autor, e não poderia ser diferente na última obra que tive contato: Lugar Nenhum, um romance que se originou numa minissérie de 6 episódios, ampliando a trama e criando um cenário único na Londres de Baixo, onde as estações são representadas por formas de seus nomes, e tudo é diferente do que parece ser.

Lugar Nenhum nos conta a história de Richard, um homem que chegou a Londres a algum tempo (trecho apresentado no primeiro capítulo, que funciona como um prólogo para o restante da história) e tenta viver sua vida da melhor maneira ao lado de Jéssica, sua namorada, quase noiva, numa espécie de relacionamento distante do perfeito, mas útil para a finalidade que ambos buscam. Num dia como outro qualquer, enquanto Jess e Richard se dirigem a um jantar importante para a moça, Richard para para socorrer uma garota ferida, e isso faz com que Jess opte por terminar o compromisso que eles tinham. Não bastasse isso, a partir do dia seguinte, as pessoas que Richard conhecia começam a tratá-lo como se tivessem-no esquecido, e daí para frente as coisas só ficam piores e piores...
Com personagens marcantes e únicos, como as inexplicáveis lendas vivas, Senhor Croup e Senhor Vandemar, a estática Hunter e o cavaleiro mais Dom Quixote da história, Marques de Carabas, seguimos na viagem de Richard, que acaba se juntando com Door, uma garota oriunda de uma família com o Dom de abrir portas, na busca por respostas pela morte de seus pais. É lá que eles acabam encontrando pistas falsas, armações, traidores e similares, e o Anjo Inslington parece ser uma boa opção para resolver todo esse caso. Mas nada é o que parece ser na Londres de Baixo.
O fato de utilizar um lado espelhado de uma cidade existente para a fantasia negra já se tornou um clichê (o qual eu mesmo já utilizei, admito), mas nunca se torna massante. Cada autor o faz de uma maneira, e Gaiman conseguiu trabalhar a criatividade ao limite na elaboração dos cenários existentes sob cada estação. A 'Seven Sister' tem realmente sete irmãs, a Earl's Court é representada por uma Corte Real, a Black Friars tem seus Monges Negros e o Anjo Inslington também tem suas referências nas estações. Isso faz com que o leitor se ambiente a Londres de uma maneira inesperada, simétrica e, ouso dizer, mágica. Deste modo, conforme Door e seu grupo avançam pelos desafios e pelo Mercado que sempre muda de lugar, conhecemos personalidades, nomes importantes, lugares marcantes e coisas atípicas de outra Londres, a Londres do Neil, a Londres de Lugar Nenhum, e ela parece tão interessante, senão mais, do que a Londres de Cima, o lugar para onde Richard deseja voltar de qualquer modo.
Lugar Nenhum tem a narrativa típica de Gaiman, bastante próxima dos roteiros de quadrinhos, seu marco principal, portanto não espere nenhum enrosco nas descrições. As coisas acontecem rápido, rápido demais às vezes, mas isso nos livra de perdas de tempo desnecessárias. Eu, particularmente falando, acho bastante digna tal escrita, mas cada um tem seu gosto, sabemos disso, e resta somente a leitura para que tirem suas próprias conclusões. Posso adiantar, no entanto, que não perderão tempo algum na leitura de Lugar Nenhum; muito pelo contrário: ganharão uma experiência formidável por um cenário desenvolvido por uma das mentes mais fabulosas dentre os escritores.
Até a próxima!

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