Trago-vos hoje o texto que, provisoriamente, tornou-se o Prefácio desta nova história.
Prefácio
Há máscaras por toda parte.
Na realidade que nos circunda em tempos
modernos, tudo é mascarado, tudo tem suas facetas. O amor se disfarça na
atração, a amizade no interesse, princípios se perdem em desfechos, não mais
existem meios. Presenciamos —e tomo por direito acreditar que alguém além de
mim tenha notado tal fato —as alterações desenfreadas na estética da vida, que
agora se torna mais importante do que a estrutura familiar, e tais mudanças
deixaram rastros, cicatrizes que o mundo se mostra incapaz de restaurar.
E, neste exato momento, você talvez
esteja se perguntando o porquê de tais palavras.
Persona, para os gregos, nada mais é do
que uma máscara. Mas o que é uma máscara para os demais? Um simples equipamento
que cumpre a mísera finalidade de esconder o rosto, cobrir os olhos e os
lábios, mascarar a verdade? Uma máscara é mais do que isso. Uma máscara é um
esconderijo, é um abrigo para as mais falsas realidades, para as mais reais
mentiras, é um canto escuro que luz alguma pode iluminar. Uma máscara é o breu
que nos impede de enxergar o que amamos e que, por vezes, está ali, abaixo das
nossas narinas avantajadas, colado em nossos olhos inseguros e falhos.
Uma máscara é isso: uma máscara.
Tendo em mente as mudanças que os anos
causaram no mundo, entendamos que há mascaras por toda parte, sim, e elas
cumprem suas funções. Infelizmente, ao menos para mim, cumprem suas funções
melhor do que muitas pessoas o fazem. Mascarando, é fácil fingir que tudo está
bem, que eu não fiz nada de errado àquela garota, que aquele choro que ouvi não
foi minha culpa, que palavras e atitudes não mudaram a vida daquele amigo que
se afastou. Mascarando, é muito simples afastar adoráveis presenças por
dinheiro e ambições, é muito fácil ignorar as perdas do caminho, os tropeços,
as hesitações.
Mas assim é a vida, toda de Persona. Este texto que tem em mãos,
agora, é nada além de uma crítica, uma revolta, uma filosofia, arrisco dizer.
Enquanto refletimos sobre as máscaras que nos cercam, viajamos numa fantasia
delicada, urbana e sugestiva, onde as coisas podem parecer simples, mas nada é
o que parece ser. Enquanto viajamos num mundo que não é o nosso, desbravamos as
fronteiras do irreal, afrontando o incomum e o mundano de maneira a compreender
o incompreensível, ou não. A viagem é a mesma para todos, mas, para cada um,
distintos são os ensinamentos.
Cá estou eu, como somente mais um
mascarado, oferecendo-lhe a mão para guiá-lo por um passeio que talvez mude sua
vida, ou talvez não mude nada.
Ah, sim, eu também sou um mascarado. Mas
qual o problema disso?
Há máscaras por toda parte,
de qualquer forma.
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