sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Estranhos no Espelho - Parte 1 / Ato III


III


—O que aconteceu com ela?
A enfermeira gritava, e sua voz estrondava em minha cabeça, fazendo-a tremer como um sino.
—Ela caiu! Está ferida!
Ninguém acreditaria naquela história. Sofia tinha parte do crânio esmagada. Queda alguma seria capaz de deixar alguém daquele jeito.
Alguns médicos correram até nós, colocaram Sofia sobre uma maca e a carregaram para a sala de cirurgia. A enfermeira os acompanhou.
Lucius agarrou as roupas de Hector, sacudindo-o de maneira inconsequente.
—O que tá acontecendo aqui, cara?
—Eu não sei de nada, amigão.
—Não sabe de nada? Mas que porra é essa que tá acontecendo?!
Hector livrou-se dos braços de Lucius, recuando alguns passos. Abri os braços entre ambos, separando-os.
—Fiquem calmos! Isso não vai nos levar a lugar nenhum!
As pessoas na fila de espera nos olhavam assustadas, sem entender o que acontecia.
Suzan cambaleou no lugar, passando mal.
—Eu preciso de ar.
Corri até ela, colocando-a apoiada num dos braços.
—Nos estamos lá fora. Vocês dois, nada de trocarem socos aqui. Isso é um hospital, merda!
A enfermeira que há pouco resgatara Sofia surgiu outra vez.
—Os senhores não podem ficar gritando aqui dentro. É uma norma dos hospitais, de acordo com a lei —
Hector a interrompeu.
—Foda-se a lei, mocinha. Nem mesmo a lei da gravidade tem funcionado direito. Estamos esperando lá fora, se precisar de algo.
E saiu, acompanhado de Lucius.
Quando eu passei pelas portas de vidro do hospital, ouvi aplausos.
Havia um homem ali. Ele se vestia de maneira elegante, com um terno castanho, e tinha os cabelos penteados para trás, deixando as tatuagens que riscavam parte de seu rosto à mostra. Eram figuras coloridas, como símbolos de culturas indígenas representantes de um misticismo antepassado.
Ele nos aplaudia.
—Ainda falta uma.
—Quem é você?
Ele estreitou os olhos, estudando cada um de nós.
—Deveriam ser cinco, não?
Hector tomou a frente.
—Do que você tá falando, cara?
—Cinco pessoas. Onde está a outra mulher?
Hector saltou sobre ele, derrubando-o e o ameaçando com um soco preparado.
—Foi você, seu filho de uma puta! Foi você quem nos sequestrou, não foi? Você nos prendeu naquela merda de lugar!
O homem de tatuagens sorriu, e Hector o socou três vezes. Seu supercílio começou a sangrar, bem como seu lábio inferior, mas o sorriso continuou ali, vermelho e provocante.
—Não. Não fui eu. Mas eu estava esperando por vocês.
Outro soco, e então Hector o deixou livre.
—Quem é você?
O estranho se levantou, limpando as roupas com as mãos. Quando recomposto, pigarreou.
—Eu não tenho um nome, mas isso é comum. Muita coisa não tem nome por aqui. Algumas pessoas me dão apelidos, no entanto. Podem me chamar de Cigano.
Lucius esticou o braço, apontando o dedo para o rosto do estranho.
—Cigano, é? Pois é melhor que você explique logo o que está acontecendo aqui!
—Claro, claro, mas será que eu poderia saber o que houve com a quinta pessoa?
Suzan ainda estava fraca em meus braços, passando por uma tontura inoportuna. Sem tirar seu apoio, entrei na conversa dos demais.
—Ela está hospitalizada. Alguma coisa a feriu lá dentro... Naquele outro lugar, de onde saímos.
—Era um monstro, porra! Aquela coisa era a porra de um monstro, com corpo de macaco e cara de garota, e tinha a merda da força de um gorila!
O Cigano achou graça no pavor de Hector.
—Ah, entendo. Pobre alma a de sua companheira, meus caros. É possível que ela não resista à ferocidade dos golpes daquele ser.
—E o quê era aquela coisa?
—Nada que mereça nossa atenção, senhor Hector. Eu  tenho algo para lhes entregar.
Cigano fez um aceno de mão, e a porta de seu carro se abriu, deixando passar uma pequena garotinha de cabelos dourados. Ela tinha uma venda nos olhos, um tecido branco, da cor do vestido surrado que trajava. Caminhava com os pés descalços, deixando as unhas sem tintura à mostra.
A garota tinha nas mãos um pacote de doze gizes de cera e um bloquinho de desenho.
—Pode me soltar, Victor. Eu estou bem.
—Tem certeza?
Suzan fez que sim, e eu a deixei livre. Ela examinou a garota, e eu também o fiz. Parecia uma criança normal, uma linda garotinha saudável, exceto pelos olhos, que talvez carregassem alguma doença.
Como que em resposta aos meus pensamentos, o Cigano falou:
—Ela é cega.
—De nascença?
—Como vou saber?
Ela aparentava ter seus dez anos. Parou ao lado de Cigano, rabiscando uma folha como se fosse uma artista.
—Ela ficará com vocês, agora.
Hector parou bem perto de Cigano, encostando seu indicador nas tatuagens daquele misterioso homem.
—Nem pensar, cara. Você vai ficar com a gente, e vai explicar toda essa merda que tá acontecendo aqui, entendeu?
—Seria adorável me sentar com todos vocês para saborear xícaras e mais xícaras de chá quente ao fim de tarde, mas infelizmente tenho meus compromissos. Será que poderia afastar seu dedo de meu rosto, senhor Hector? A podridão de um assassino me enoja.
—Eu não sou um assassino!
O Cigano riu alto.
—É tão interessante o temor dos homens para com seus erros, não concordam?
Ele se virou, parando ao lado do carro de onde saíra a garota cega. Percebi que era um veículo bastante similar àquele que vira antes de desaparecer.
—Fique tranquilo, meu caro. Neste lado, você não é um assassino.
Ele entrou no carro e fechou a porta, mas não dirigiu. Não havia ninguém no banco de motorista, mas o carro ligou, entrou em primeira marcha e acelerou, desaparecendo numa esquina em poucos instantes.
A cega desenhava.
Lucius estava inconformado.
—Só faltava essa agora, teremos que ser babás!
—Eu não vou cuidar de ninguém. Nunca tive filhos para que não precisasse me preocupar com nada disso.
—Você nunca teve filhos porque matou sua esposa!
—Ora, seu filho da —
—Já chega, vocês dois.
Suzan se pronunciou, interrompendo a discussão que começaria entre Hector e Lucius, outra vez.
—Eu vou cuidar dela.
Suzan se aproximou da garotinha, que até então desenhava, como se nada estivesse acontecendo ao seu redor.
—Olá, queridinha.
—Olá.
—Qual é o seu nome?
Ela pensou por um tempo.
—Eu não tenho um nome. Pode me chamar de cega. É como ele me chamou por toda a vida.
—Seu pai?
—Eu também não tenho pai. Só o Cigano que cuidou de mim, mas ele me encontrou. Foi o que disse, pelo menos.
—E quantos anos você tem?
—O que são anos?
Pasmei. Como assim ela não sabia a própria medida de idade utilizada em todo o mundo?
—Eu completei dez invernos, se é isso o que quer saber. Querem ver meu desenho?
Ela fez um último risco, então mostrou a folha rabiscada para todos nós. Havia o desenho de uma criatura estranha, de pelugem escura e um rosto infantil, de garota, mas ao contrário. Seu queixo estava para cima, seus olhos para baixo, e sua língua ficava pendurada em seu nariz de maneira bizarra.
Hector se assustou. Recuou alguns passos, apontando o desenho feito pela garota.
—Foi isso! Foi essa coisa que atacou Sofia! Foi essa aberração que eu vi nos corredores!
—Acalme-se, Hector, é só um desenho.
—Dane-se o desenho, cara, como ela pode desenhar o monstro que eu vi lá dentro?
Eu fiz sinal para que Lucius tentasse acalmar Hector, e ele compreendeu. Me ajoelhei ao lado de Suzan, mexendo nos cabelos da garota.
—Olá, pequenina. Meu nome é Victor Fulcanelli, e eu estou aqui para ajudar, ok?
—Olá, Victor.
Ela sorriu com tamanha ingenuidade que me fez lembrar Madeleine. Dentro de mim, algo ardeu.
—Essa ao seu lado é Suzan, também uma amiga, e aqueles dois são Hector e Lucius. Eles são assustadores, mas só querem o seu bem, tá bem?
Ela fez que sim.
—E você, Victor? Você quer o meu bem?
—É claro que sim!
—Que bom! Então seremos todos amigos.
Virando a folha em suas mãos, a garota começou a desenhar outra vez.
—Ei, cega, onde nós estamos?
Ela não me respondeu. Continuou a desenhar, trocando de giz algumas vezes, até terminar seu projeto de engenharia. Quando me mostrou, vi que havia duas cidades, uma embaixo, outra em cima da terra.
—Vocês estão na Terra de Baixo. É como a Terra de Cima, só que embaixo, por isso o nome.
Em seu desenho, Wyrestown parecia espelhada.
—Terra de Baixo?
Alguém gritou, e Suzan se assustou.
—O que foi isso?
—Ali!
Lucius foi o primeiro a notar, e apontou para todos nós. Havia um homem sobre um edifício imenso, e ele tinha os braços abertos. Sem hesitar, sem discurso ou coisa do tipo, saltou, uma corda sacolejando em seu pescoço, e ela o fisgou em seu limite, quebrando seu pescoço com um barulho terrível. Ele ficou ali, suspenso a quatro ou cinco metros do chão, balançando de um lado para o outro, como um pêndulo.
A cega sorriu, sem ver o que acontecia, e começou um novo desenho.
Suzan cobriu os olhos.
—Que horror!
—Vamos sair daqui. Sofia vai demorar para receber alta —
—Se receber.
—Claro, Hector, se receber. Até lá, vamos procurar pelas pessoas que conhecemos. Alguma coisa estranha está acontecendo aqui. Precisamos ir atrás de nossas famílias.
—Fale por você, que tem uma família.
Eu o ignorei.
—Caso tudo dê errado, voltamos a nos encontrar aqui, na frente do hospital, até o fim do dia.
—Eu vou levar a garota comigo.
—Tem certeza, Suzan?
—Tenho sim. Será que vocês poderiam nos acompanhar até minha casa? Depois disso, podem ir embora. Eu não estou passando muito bem, tenho medo de desmaiar em algum lugar.
—Por mim, tudo bem. Vocês vêm algum problema nisso?
Hector e Lucius disseram que não.
A casa de Suzan não era muito longe do hospital. Na verdade, em Wyrestown, nada era muito longe de nada. A cidade era pequena, e por isso era tranquila. Não tínhamos de percorrer quilômetros e mais quilômetros para atravessá-la. Era possível conhecer todas as ruas em um dia de caminhada, ainda que isso fosse exaustivo demais.
Quando chegamos, pude ver que Suzan tinha uma casa típica da região, com somente um andar espaçoso, telhas escuras e janelas retangulares.
Suzan pegou as chaves em seu bolso.
—Você mora sozinha?
—Sim. Vamos, cega. Vou te mostrar o quarto onde pode ficar. Muito obrigado, rapazes. Eu gostaria de dizer que foi bom conhecer vocês, mas foi muito estranho.
Ela começou a atravessar a rua quando a porta de sua casa se abriu, e por ela passou um homem. Suzan recuou, se escondeu atrás de um poste.
—Não deveria ter ninguém lá!
O homem vestia uma roupa casual, como se realmente habitasse aquele lugar. Ele saiu e regou as plantas, ajeitou a cerca de seu quintal e chutou a sujeira da grama para a calçada. Atrás dele, o rosto de uma mulher surgiu, com o cabelo ruivo desarrumado.
—Querido, volte para dentro! A empregada cuida disso amanhã!
Era outra Suzan, idêntica àquela que estava ao nosso lado, e isso sim era estranho.
—Mas quê —
Duas crianças correram para fora da casa, pulando e correndo ao redor do homem, que sorria.
—Papai, papai!
—Quero ver quem consegue comer mais chocolate do que eu!
Eles correram de volta para casa, e a outra Suzan fechou a porta atrás de si.
A cega terminou seu desenho.
Era um espelho quebrado.
—Às vezes o reflexo erra. Às vezes, muda.
Suzan estava assustada.
—O que está acontecendo nesse mundo?
—Eu acho que é melhor nós continuarmos juntos. As coisas parecem estar fora do lugar... não sei como explicar. É como se esse fosse o nosso mundo, mas ao mesmo tempo —
—Cala a boca, Victor! Que porra de história é essa de nosso mundo? Só existe UM mundo, entendeu? Não tem essa coisa de paralelo, alternativo, dimensão, merda nenhuma!
—Ah, esqueci que você aprendeu tudo sobre o mundo na cadeia em que ficou enjaulado!
Ele avançou em minha direção, mas Lucius o segurou.
—Sabe o que eu aprendi lá, canalha? Sabe o que eu aprendi naquele lixo de lugar? Eu aprendi que os bonzinhos se fodem enquanto os malvados levam a melhor! Eu aprendi que, quanto mais trabalhar, mais vão me chicotear as costas! E aprendi a manter o controle em qualquer situação, e não ficar inventando essa bobeira de outro mundo!
Suzan cobria os ouvidos da cega, que sequer entendia o que acontecia ao seu redor.
—Não quero acreditar nisso também, mas tinha outra eu ali. Vocês todos viram. Eu vi. Não sei que mágica é essa, mas nenhuma pessoa pode existir duas vezes.
—Tem uma explicação para isso, senhor Ciência?
Hector bufou, livrando-se dos braços de Lucius.
—Vou provar para vocês que tudo está no seu devido lugar.
Ele saiu, disparado, guiando-nos pelas ruas até alcançar um açougue, no qual entrou com passos firmes.
—Ei, tio!
Um velho de barriga para fora da camiseta levantou os olhos.
—Posso ajudar, garoto?
—Qual é, tio Micael, não sentiu minha falta?
O dono do estabelecimento olhou com estranheza para Hector, erguendo seu cutelo, com o qual terminava de cortar uma peça de carne vermelha.
—Acho que você confundiu os gordos, rapaz.
—Tio, tio, olha só isso!
Um outro garoto descia as escadas atrás do balcão, carregando um pássaro com a asa quebrada. Ainda era uma criança, em seus sete ou oito anos.
—Muito bem, garotão! Cuide dele, agora. Quem sabe ele não te ensina a voar mais tarde.
Hector voltou para a rua, a expressão conformada.
—Tá legal. Seja qual for a droga que vocês usaram, eu também provei.
—Eu te disse, cara, as coisas estão fora de si! Nesse lugar, eu provavelmente não sou um agente bancário, do mesmo modo que Suzan não é solteira. Olhe, aquela ali não é a Sofia?
Apontei, e realmente era, porém outra Sofia. Ela estava acompanhada de uma mulher, e as duas formavam um casal, caminhando de mãos dadas conversando sobre as notícias do dia. Elas caminharam durante um bom trecho, e então se encontraram com uma mulher e sua filha, e as três começaram a conversar, mexendo no cabelo da criança, perguntando sobre o pai daquele anjinho.
Eu poderia ter reparado nos olhares minuciosos que a outra Sofia nos lançava, mas só tinha olhos para aquela família, aquela família que estava tão certa, ao mesmo tempo em que era tão errada.
Não contei a ninguém, mas aquela era a minha filha, e a mulher que a acompanhava era minha mulher.
Isso do outro lado, claro.
—Vocês perceberam?
—Do que está falando, Lucius?
—Olhe esse lugar. As pessoas estão andando nas ruas como se nada estivesse acontecendo.
—E algo deveria estar acontecendo?
—Os desaparecimentos! Ninguém em Wyrestown estava andando com tranquilidade nas ruas por causa dos casos de sequestros sem explicação.
Foi então que tudo se encaixou em minha mente.
—É isso, cara, só pode ser! Nós também desaparecemos! É isso o que acontece com as pessoas que estavam sendo sequestradas em Wyrestown. Na nossa Wyrestown, pelo menos. E isso explica aquele cara que se suicidou mais cedo. Talvez tenha mais gente aqui, tão louca quanto nós, sem saber o que fazer.
Suzan cobriu a boca com as mãos.
—Faz sentido.
—Sentido?
Hector riu.
—Que sentido faz isso? Tem dois de nós nesse lugar, e eles fazem coisas diferentes da gente. Eu era um criminoso em condicional, e agora? Será que sou um jardineiro? Um professor?
—O que você tem contra professores?
—Nada, Lucius, viva com o seu salário medíocre, contanto que esqueçam o meu rosto! Só de pensar em um lugar onde eu não sou procurado por algo que eu não fiz eu —
Suzan o interrompeu. Ela examinava as paredes de uma construção, onde existia o cartaz com um retrato falado.
—As coisas estão trocadas. Você não está sendo procurado por matar sua mulher, Hector.
Ela me mostrou o rabisco do suspeito.
—É você, Victor.
Eu olhei, e era meu rosto, as minhas feições, acusado de estripar a mulher com uma face de açougueiro.
—Legal. Eu sou um assassino aqui, e nem sabia disso.
—É melhor você se esconder, então. A sua explicação não vai convencer a polícia de que você não é o Victor que eles estão procurando.
Eu baixei os olhos, preocupado. Quando olhei novamente, vi Marrie e Madeleine encontrarem um homem, um homem que não era eu. Ele abraçou minha filha, beijou minha esposa, ocupou o meu lugar naquele trio.
Era Jake, o meu melhor amigo.
—Vamos sair daqui. Eu ainda tenho algum dinheiro na carteira, posso alugar um quarto pra gente. Vamos sentar e beber alguma coisa. Se for pra viver na loucura, que seja bêbado.
Eu paguei dois quartos de um hotel barato, e eles comportaram a todos. Tentei retirar dinheiro no banco, meu cartão mostrou a conta de Jake Fulcanelli. Esse nome não deveria existir. Foi doloroso ler aquilo. Para descontar minha raiva, eu tirei todo o dinheiro da conta e guardei em minha carteira.
Lucius e Hector passaram pela delegacia naquela noite, perguntando sobre possíveis desaparecimentos, mas não havia nenhum. Descobriram, entretanto, que ocorreram vários outros casos de suicídio, como aquele que presenciamos. As pessoas desaparecidas na Terra de Cima estavam ali, perdendo a sanidade enquanto tentavam entender o que lhes acontecia, encontrando outras facetas de suas existências que, como a minha, poderiam ser perturbadoras.
Quando retornaram, trouxeram vodka e energético, então bebemos, só os três, pois Suzan era naturalista demais para isso. Ela ficou no outro quarto, cuidando da cega, que desenhou o tempo todo antes de dormir, mas nenhum de seus desenhos tinha algum significado real.
Já estávamos deitados quando me contaram que, na delegacia, receberam um papel com o meu rosto. O delegado disse que eu era perigoso demais para estar nas ruas. Um homem que mata sua própria esposa não deveria conhecer a liberdade jamais. Eu repetia para mim mesmo que aquilo era uma mentira, que não era eu, não de verdade.
Hector parecia realizado.
—Viu? Agora você sabe como eu me sinto.
Praguejei, e então adormeci.

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