sábado, 25 de fevereiro de 2012

Textos - Resolução de Problemas

Resolução dos Problemas

Eu estava sentado numa mesa de boate, assistindo as luzes espancarem meus olhos, quando ele se sentou. Era um aproveitador, fácil perceber. Vestia-se de maneira luxuosa, diferente dos trajes descolados ao nosso redor. Atirou três cartas na minha direção, e só depois se apresentou.

Seu nome era Ravnos, mas eu não queria saber. Fiquei quieto, olhei minhas cartas: 3, 9, Ás. O jogo era simples, comparações de valores. As apostas eram inacreditáveis.

—Sua vida de volta se vencer; sua alma, caso perca.

Quis rir, mas não encontrei a senhorita graça, portanto o desprezei com os olhos. De qualquer forma, seria bom ter minha vida de volta, por mais impossível que parecesse.

—Podemos começar?

Fiz que sim, lancei meu Ás. Ele tinha um 4, mas eu já esperava por isso.

—Belo início. Acredita em folclore, senhor Thompson?

Neguei, sem perceber que o velho usara o nome que eu nunca disse.

—O que acha das lendas?

E jogou sua carta. Ensaiei, lancei meu 3, guardei o melhor resultado para o final. Um calafrio me abateu; empatamos, e só então respirei aliviado.

—Tem sorte, mas eu tenho mais.

Coloquei o 9 na mesa.

—Acha que um conto de fadas pode te salvar agora?

Provoquei sem perceber, deixando um sorriso ilustrar minha expressão. Ele, impassível, o que congelou minha alma.

—Não. E a sua?

Franzi os olhos.

Ele tinha um coringa.

—Ninguém vence um apostador.

Sorriu com seus caninos afiados e se foi, sem acenos ou mesuras. Bebi o último gole de minha vodka e parti. O vento estava frio; abracei-me. Virei-me em vielas errôneas, o sono me alucinava junto da embriaguez.

À frente, Ravnos.

—Perceba como a vida pode nos surpreender.

Num piscar de olhos, ele estava sobre mim, e suas presas em minha carne. Senti o sangue jorrar, a dor era na alma.

—Vai me matar?

Não perguntei, mas ele me ouviu, e apenas sorriu.

—Fácil resolver sua vida, meu amigo. Basta que morra.

E morri.

Mas não era o fim.

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