domingo, 19 de fevereiro de 2012

Textos - Odisseia de Valete

Olá, companheiros.
Trago agora um poema diferente, contando-nos a vida de um ladino conhecido como Valete. Um texto que, da mesma forma que Belo Colorado, é voltado para o medievalismo fantástico, uma área que gosto muito! Sem mais dermoras, vamos às palavras:


Odisseia de Valete

Nascido em montes foscos, onde o brilho do sol fraqueja

Criado no vale dos lobos, sobre o aroma das cerejas

Exibia tua valentia, predomina o uso do blefe

Chamado sem que tenha nome, ó respeitoso Valete

Bebê no abraço lupino, silvando junto da noite

Em uivos de um tosco albino, castigado pelo açoite

Crescera sem sentimentos, expurgado como algoz

Forçado por teus motivos, despediu-se sem uso da voz

Partindo pra terras distantes, entregou-se ao louvor

Matou, roubou, fez-se valer, encheu-se de valor

Ladino, larápio, gatuno sadio, pronto para morrer

Na teoria, pois prática muda, sequer deixava-se ver

Sempre nas sombras, o destemido Valete tornava-se rei

Mas seu domínio eram vielas, lar do silêncio de ser

Anos passaram, tornou-se homem, sem deixar de flertar

Loura, morena, pura indigente, até o amor encontrar

Cachos vermelhos pomposos e puros, seios de realeza

Veste elegante, olhos estreitos, pele de imensa beleza

Filha de nobres, dama garbosa, grande alteza no réu

Iris sonhava com aventuras, Valete encontrara o céu

Paixão fervente, mas proibida, evitada pelos seus

Não impedia todos encontros de Julieta e Romeu

Pelo orgulho, seu pai tirano, o rei teve a decisão

Pegou Valete com seu exército, montou a forca com as mãos

Capturado por cordas e lanças, Valete viu o desespero

Aprisionado, sonhava alto, liberdade um pesadelo

Nuvens cinzentas desenhavam o mais falso entardecer

Iris chorava nos braços longe do amado, desejava morrer

Bravos carrascos sem sentimentos despejaram palavras

Discurso tolo sem finalidade, tortura inusitada

Olhos vermelhos de sofrimento, Valete era impassível

No desencanto de seus momentos, encontrou o indizível

Tais fios ruivos de tua paixão, mostraram-lhe o caminho

Era ladino, era guerreiro, era um estranho no ninho

A liberdade era um dom herdado pelas feras dos sóis

Buscou nos lobos que o criaram, a valentia de heróis

Magro e franzino, fraco e fujão, Valente se livrou

Dos braços fortes de cinco homens para rever seu amor

Iris, rebelde, em seu frenesi, apunhalou o genitor

O rei tirano que à vida deve, morte a ambos ordenou

Fosse platônico ou respeitoso, era um amor infindável

Bem diferente do ódio errôneo, vindo de um rei deplorável

Sem se importar com a realidade, perderam-se na matança

O beijo tenro não foi possível, evitado pelas lanças

‘Ó, minha Iris, que os deuses a tenham, sempre terás meu amor.’

‘Em ti acredito, Valete querido, és meu grande protetor.’

Sangue jorrava, vidas perdiam todas as suas vontades

Sonhos e amores que se esvaíam, dores, mentiras, verdades

Crucificados na crueldade de um poderoso animal

Apedrejados por todo o povo, banalizando a moral

Um castelo sem bandeira alguma, homens de pouco ideal

Enquanto o rei era um ladino, mestre em disfarce teatral




Até a próxima!

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