terça-feira, 27 de setembro de 2011

Resenha - Crônicas de Tormenta

Como prometido no twitter, faria uma resenha sobre o livro Crônicas de Tormenta logo após terminar de ler, e cá estou! Encerrei agora mesmo a leitura de O Cerco, último conto do livro, e minha impressão final foi: por que não pensaram em algo assim antes?

Crônicas de Tormenta é um excelente livro, obviamente, como 99% daquilo que a Jambô publica. Todos, e falo sem hesitar, TODOS os contos carregam alguma coisa de especial, seja uma mensagem, uma cena ou mesmo o próprio plot, mesmo que existam histórias que impressionem mais do que outras. Em suas 288 páginas, a antologia nos apresenta 14 contos, sendo alguns deles retirados das antigas revistas Tormenta, Dragão Brasil, etc.

Nosso grupo de aventureiros é composto por Marcelo Cassaro, JM Trevisan e Rogerio Saladino (os três responsáveis pelo alarde que foi o cenário de Arton desde os primórdios), Leonel Caldela (Tolkien BR, autor da trilogia Tormenta, simplesmente imperdível), Douglas MCT (autor de Necrópolis, com seus temas mais dark), Leandro Reis/Radrak (autor da Trilogia Goldshine e pai da bela feiticeira Iallanara), Raphael Draccon (eterno bajulado pela ótima trilogia Dragões de Éter), Remo Disconzi (possuidor de um excelente vocabulário para quem trabalha de ilustrador), Ana Cristina Rodrigues (coordenadora do selo de Literatura Fantástica Llyr Editorial), Antonio Augusto Shaftiel (conhecido por diversos romances publicados na antiga Editora Daemon), Cláudio Villa (um dos criadores dos Mundos de Mirr) e Marlon Teske (um dos criadores de Meliny, cenário medieval de RPG).

Com um time desses, alguém ainda duvida da qualidade do material apresentado?
Poderia falar de cada conto individualmente, mas diversos outros blogs já o fizeram, então falemos do livro como um todo. De início, somos agraciados com a escrita fabulosa de Leonel Caldela, dono de dois dos contos da coletânea. Seus heróis, como sempre, carregados de uma "realidade fantasiosa" absurdamente rica, com descrições maravilhosas e um palavreado sem igual. Eram contos que, antes mesmo de ler, sabia que gostaria, e só comprovei quando terminei a leitura.
Muitos outros passaram pela mesma situação: Revés, de Douglas MCT, me chamou a atenção por ser uma pausa na antologia. Após uma série de ação e aventura, pausa para um suspense básico, com uma escrita misteriosa e propositalmente confusa, que nos deixa voando junto de sua personagem, sem entender. O final força o leitor a refletir, e só então compreender que as lacunas do texto não são falhas, e sim espaços para pensamentos.
Confesso que esperava mais do texto de Raphael Draccon, enfim. A história de seu conto é ótima, uma aventura recomendada principalmente aos mestres de RPG, mas é uma leitura um pouco massante, cansativa. É um ótimo conto, mas sofreu bastante na passagem da ideia ao papel. Ainda assim, nos mostra bastante da criatividade do autor, consagrado pela trilogia épica.
Leandro Reis nos mostra um ladino interessante, contador de histórias, em termos. A surpresa do final não foi tão surpresa, mas o desenrolar prende o leitor e a narração é muito boa, agradável de se ler.
Remo Disconzi também fez o milagre de conseguir espaço para dois contos no livro, e nos humilha com um palavreado ímpar, incomparável. São os contos mais ricos em vocabulário dentre todos da antologia, certamente, e nos mostram histórias atraentes e impressionantes. A desvantagem fica inclusa em seu vocabulário, que pode afastar muitos dos leitores menos conhecedores desse tipo de palavras, ou mesmo preguiçosos que fogem de dicionários.
Ana Cristina Rodrigues me surpreendeu, sério. Não me leve a mal, mas juro que li o conto pensando se tratar de um romance bobo, como Crepúsculo. Me maravilhei com as descrições, a história ganhando profundidade a cada palavra, e o fim garante um baque, deixando o leitor incrédulo e até mesmo incomodado com a situação. Aquilo que parecia romancinho de garotinha se transformou numa história linda de se narrar, e com certeza é um dos melhores contos do livro.
É desnecessário comentar sobre o Trio Tormenta, claro. Todos os três contos dos criadores são magníficos, em especial O Cerco, de JM Trevisan, que trabalha com os personagens de uma maneira especial. A aparição de Abdullah no conto do Saladino me encheu de nostalgia, lembrando-me das revistas Só Aventuras, da época antepassada da Dragão Brasil. Cassaro nos conta outra vez a história do Dragão-de-Aço, um clássico que nunca será cansativo de se ler.
E, por fim, temos Marlon Teske. Dentre todos os autores, sou fã extremo de Leonel Caldela, sério, seus livros são os melhores que vi na vida toda! Quando comprei Crônicas de Tormenta, sabia que me impressionaria com seus contos, e estava certo. Apenas uma história me impressionou mais do que os contos do Leonel.
Ária Noturna nos retrata os piratas de Tormenta. Piratas garantem excelentes histórias, fato, mas Marlon nos provou que uma escrita fabulosa e bucaneiros destemidos, somados a um cenário idolatrado e uma cultura até então inexplorada, podem garantir uma história épica e incrível. Abusou de todos os conhecimentos de Arton para nos levar até os mares desconhecidos, e cada parte de seu conto é magnífica, inclusive o desfecho, que arrepia.

Crônicas de Tormenta garante boas horas de uma leitura de altíssimo nível, com histórias para todos os gostos. Tem seus pontos baixos, como pouquíssimas falhas de revisão, mas a qualidade do livro é absurda, marca registrada da Editora Jambô, e, sinceridade, já estou esperando pelo segundo (e inclusive já perturbei o Trevisan no twitter, hehe). Tormenta tem muito o que contar, seja na mão dos mestres, seja na dos iniciantes, famintos por um cenário rico e atraente. Parabenizo à editora pela publicação, ao organizador e aos autores pelo excelente trabalho, e ao nosso público de rpgistas, que é o grande responsável pelo espaço aberto no país para essa nerdice toda. E, àqueles que ainda não leram a antologia: leiam! Mesmo que precisem sacrificar as almas para Tenebra depois disso!
E que venha o segundo volume!

3 comentários:

  1. Valeu Rodolfo, fico feliz que tenha gostado do conto =)

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  2. "com uma escrita misteriosa e propositalmente confusa, que nos deixa voando junto de sua personagem, sem entender. O final força o leitor a refletir, e só então compreender que as lacunas do texto não são falhas, e sim espaços para pensamentos."

    Oi? Confuso é esse trecho aí.

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  3. Nós é que temos de agradecer, Marlon! o/

    Seja bem-vinda, Mari.
    Quis dizer que essa escrita usada pelo Douglas no conto Revés deixa brechas propositais para que o leitor tenha sua própria opinião quanto ao destino dos personagens e o rumo de suas ações. Peço desculpas se houve confusão quanto a isso.
    De qualquer forma, agradeço pela visita e pelo comentário. :)

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