segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Conto - Uma Noite Sufocante

Postando hoje o conto vencedor do Concurso Nacional de Roteiro do Anime Dreams 2008, Uma Noite Sufocante. Não foi revisado desde sua época, portanto perdoem possíveis erros! :)
Espero que gostem!




Dia 26 de janeiro de 2008. Era uma noite quente, desesperadora, ainda mais para Nana. Nana era uma garota delicada, de longos cabelos loiros e olhos incrivelmente azulados. Sempre calma e risonha, escondia uma paixão incontrolável pelo universo otaku, não apoiada pelos pais. Adorava animes e mangás, adorava as roupas que eles usavam, tudo da cultura japonesa. Brincava de técnicas no seu quarto (Meteoro de Pégasus!), corria com os braços para trás como ninjas, até mesmo já tinha tentado voar (o que lhe custara 1 dente). Só havia uma única coisa que ela ainda não havia feito, e era justamente o que ela mais queria: visitar um evento de anime. E era justamente isso que ela faria na manhã seguinte.

Caminhava veloz para a casa. Tinha acabado de sair do seu cansativo curso de informática, que era usado mais para assistir episódios novos de animes do que aprender programação. Carregava consigo sua bolsa rosada e chamativa, e sobre ela seu boneco favorito, um macaco de fraudas e asas de morcego, carinhosamente apelidado de Snoof. Ele estava com ela todo tempo, sendo considerado seu principal companheiro, seu “pet”, seu pokémon, ou como quer que chamem nos dias atuais.

Em uma das inúmeras ruas da sua cidade, ela corria como uma profissional de atletismo. Segurava sua bolsa para não derrubar nenhuma moeda do suado dinheiro que ela havia reunido para levar ao evento. Já imaginava tudo o que desejava comprar. E infelizmente seu dinheiro não daria para tudo isso, mas ela seria feliz da mesma maneira. Afinal, estaria em um evento de anime. Veria pessoas de cosplay, as famosas fantasias dos personagens favoritos. Faria seu próprio cosplay, uma personagem que ela mesma desenhou em um dos seus inúmeros fanzines, denominada Misty. Era uma roupa meio estranha para as pessoas comuns, mas ela não era mesmo uma pessoa comum. Estava guardada em sua casa, debaixo de todas as cobertas, em um lugar onde cão nenhum encontraria (nem mesmo seu irmão), onde ninguém poderia bagunçar. Estava protegia com sua própria vida.

O pobre Snoof balançava freneticamente no ar, chocando-se diversas vezes contra as costas de Nana, que parecia nem mesmo sentir o boneco. A garota suava por causa do calor, mas isso não a incomodava. O evento estava a apenas algumas horas dela. Nada poderia a incomodar naquele dia.

Quando Nana chegou ao ponto de ônibus, já havia perdido sua condução. Teria de esperar pela próxima, que demoraria cerca de 30 minutos. Como não tinha escolha, abriu seu exemplar raro do mangá “Eyeshield 21” e começou a ler. Era a 134ª vez que ela leria aquela história, mas não conseguia enjoar. É claro, se pudesse comprar mais mangás, seria muito melhor. Mas isso era algo que ela pensaria no dia seguinte.

Viajou sentada pelos campos de um jogo de futebol americano. Parecia que era ela que estava correndo a todo vapor de um cão raivoso.

Espere um pouco... Era ela!

Nana olhou para trás e viu um cão furioso correr em sua direção. “Deve ser apenas um sonho”, disse ela, “basta eu me beliscar e...” Mas quando ela tentou beliscar seu rosto macio, sentiu algo resistente pela frente. Era um capacete de proteção vermelho, como o dos jogadores do time. Só então percebeu a viseira verde em frente aos seus olhos. Não era um sonho? Ela estaria mesmo dentro do universo de um mangá?

—Ei, o que você está fazendo? —disse uma voz estranha que parecia desesperada. —Você tem que correr, aquele cão raivoso vai nos alcançar em pouco tempo.

—Quem é você? —perguntou Nana.

—Não temos tempo, —disse a voz —você tem que correr!

Nana juntou toda sua força nas pernas e correu o máximo que conseguiu. Durante a corrida, olhava para trás tentando encontrar o dono da estranha voz que a avisara, mas via apenas um cachorro furioso pronto para morder sua batata da perna quando a alcançasse.

—Por que está olhando para trás? —perguntou a voz. —Preocupe-se apenas em correr!

—Quem é você? —perguntou novamente a garota, sem diminuir o passo.

—Quanta consideração! Primeiro me dá um nome, depois diz que me ama, depois nem mesmo sabe quem eu sou!

—Snoof? É você?

—Quem mais poderia ser?

O estranho macaco de fraudas balançou suas asas “vampirescas” no ar e parou em frente à viseira verde de Nana. Agora não era mais um boneco. Era uma criatura viva, um macaco voador que usava fraudas! O que as pessoas pensariam disso?

—Como você pode falar? Você era apenas um boneco?

—E você era apenas uma estudante de informática e agora está dentro do universo de um mangá! O que acha que é mais improvável?

—Não faça perguntas difíceis!

Nana fez uma curva fechada e o cão não conseguiu acompanha-la, chocando de frente com uma parede. Mesmo assim, a garota continuou correndo até chegar em um campo de futebol americano.

—Será que já o despistamos?—perguntou ao macaco enquanto olhava para trás para se assegurar de que o cachorro não a perseguia mais.

—Talvez o cão sim, mas olhe para frente! —berrou o macaco voador, mas já era tarde. Uma bola de futebol americano bateu em cheio no rosto de Nana, que caiu no chão.

—Depois vocês ainda dizem que os seres humanos vieram dos macacos... —resmungou Snoof arrumando seu chapéu vermelho, que lembrava e muito aquele chapéu de festas de aniversário. —Está bem minha senhora?

—Acho que sim —disse Nana, abrindo os olhos vagarosamente e tentando acalmar sua tontura. Quando tentou limpar sua roupa de futebol americano, viu que não a tinha mais. Seu traje agora era mais leve, como se viajasse em alto mar. E era realmente estranho, era como se ela pudesse sentir o cheiro da água oceânica no ar. Era como se ela pudesse sentir o balanço do navio navegando pelos sete mares.

Navio?!?!?!

Quando Nana se recobrou da tontura, viu que estava em um navio em pleno oceano. Snoof flutuava ao lado de sua cabeça, com uma expressão de “isso que dá beber demais...”. Olhou para os lados para tentar reconhecer o local, o que não demorou muito a ser feito. A bandeira negra com um esqueleto usando chapéu de palha não deixava dúvidas: estava no Going Merry, o famoso navio de One Piece.

—Hei, Ruffy, —disse uma voz feminina vinda de uma sala fechada no centro do navio —será que você pode parar de comer um pouco e voltar a comandar o navio?

—Ah Nami, não enche —disse uma voz ainda mais estranha do que a de seu macaco-boneco-com-asas-de-morcego. —Já faz quase dez minutos que eu almocei, me deixe manter minha dieta saudável!

—Saudável... Sei...

A mulher abriu a porta da pequena sala e Nana tentou se esconder, mas descobriu que era melhor ter permanecido parada. Esbarrou em uma pessoa alta, um homem de curtos cabelos verdes. Zoro.

—Que estranho... —disse ele em tom irônico, tirando uma de suas espadas da bainha. —Não me lembro de ter uma garotinha e um macaco na tripulação.

—AH MEU DEUS, agora a gente ta frito!!! —berrou Snoof tentando voar para fora do barco, mas Zoro o segurou com uma das mãos.

—Calma, podemos explicar —mentiu Nana. —Mas solte Snoof, ele não fez nada para vocês!

—Claro que fez —disse uma outra voz, quase tão estranha quanto a do capitão. Um homem de nariz longo e cabelo negro (que lembrava e muito uma grande quantidade de palha de aço) saltou do mastro, caindo de cara no chão. Levantou-se veloz e apontou para o macaco voador. —Ele roubou nossa comida, nosso ouro e nossas lembranças antigas!

—Claro que não, Usoop! —disse uma pequena rena bípede. —Quem fez isso foi a Nami!

—Nem pense em falar mal da Nami! —bradou um homem loiro de terno negro, saltando sobre a pequena rena e iniciando uma briga de socos e chutes.

—Será que vocês dois podiam ser mais maduros! —disse Nami. —Quem são vocês dois?

—Eu sou Nana, e este é Snoof —respondeu a garota. —E vocês são a tripulação do Going Merry, liderados pelo capitão Ruffy que está buscando o lendário One Piece, certo?

—Como sabe disso? —perguntou Zoro surpreso.

—Bruxa! —bradou Usoop. —Eu sabia que você era uma bruxa mal... —Não conseguiu terminar sua frase, pois foi arremessado longe por um soco de Nami.

—AAAAHHHHHH!!! —berrou a voz do capitão de dentro da pequena sala.

—Meu Deus, Ruffy, o que aconteceu?!?! —perguntou Nami desesperada.

Ruffy abriu a porta da pequena sala, revelando seu corpo magro e desproporcional, coberto por uma camiseta regata vermelha e uma bermuda jeans.

—Sanji, aconteceu uma desgraça, algo que pode acabar com nossa tripulação!!! —disse ele em desespero. —Isso é o fim do mundo!

—O que aconteceu? —perguntou o homem loiro.

—Acabou a comida...

Todos do navio caíram, inclusive Nana, que por um momento ficou desesperada.

Logo em seguida, houve um tremor repentino. Ruffy, mesmo parecendo impossível, ficou sério. Sanji e Zoro também. Nami subiu no mastro para tentar ver o que era e a pequena rena a seguiu. Usoop saltou para dentro da pequena sala rapidamente, tremendo de medo.

—O que foi isso? —perguntou Zoro.

—Um navio inimigo —disse Nami. —Estão nos atacando.

Uma grande bola de fogo cruzou o ar na direção do Going Merry, errando o alvo por pouco. Uma terceira bola de fogo foi arremessada, acertando a água ao lado do navio, que começou a virar.

—O navio vai virar! —berrou Nana.

—Temos que sair daqui! —disse Snoof. —Agarre minha bota azul!

A garota fez o que o macaco ordenou e ele tentou voar, mas mesmo fazendo o máximo de força que conseguia não moveu um centímetro a garota.

—Não acredito que você não pode voar! —disse Nana.

—A culpa é sua por ser gorda! —resmungou Snoof, sendo arremessado ao chão logo em seguida por um soco da garota.

—Vou ajudar vocês! —disse Ruffy. Então seu braço se esticou a níveis sobre-humanos e enrolou a garota e o macaco voador. Depois ele girou no lugar e pronunciou: —GOMU GOMU NO... TORNADO!!!

Nana e Snoof escaparam dos braços de Ruffy e foram arremessados a uma enorme distância. Ainda tiveram tempo de ouvir o capitão gritar “Vai ser mais seguro na água do que com a gente!”, antes de afundarem no mar.

—Eu não sei nadar! —bradou Nana, mas estava seca. Levantou-se e percebeu que sua roupa estava muito diferente de antes: trajava agora um kimono negro, bastante largo em seu corpo. Seu cabelo estava preso e ela tinha uma pequena espada nas mãos.

—Está feliz agora? —perguntou Snoof. —Você é uma shinigami!

—Eu sou o que? —perguntou Nana, então ouviu uma explosão. Viu uma nuvem de fumaça se levantar ao seu lado quando uma grande criatura surgiu. Parecia um rinoceronte preto, mas usava uma espécie de máscara branca.

Só então percebeu onde estava. Era uma anime que ela começou a acompanhar recentemente, indicado por todos os garotos da sua escola. Chamava-se Bleach.

“Bom”, pensou ela, “se eu estou no mundo de Bleach devo encontrar...”

—ICHIGO!!! —berrou uma irritante voz quando um ursinho amarelo surgiu correndo de mais seis daquelas criaturas.

—Eu... Eu não sou Ichigo! —disse Nana. —Eu sou...

—Se você não é Ichigo então saia da minha frente!!! —disse o urso, que passou correndo pela garota.

—O que vamos fazer? —perguntou ela.

—Que tal corrermos atrás daquele urso? —disse Snoof, tentando encontrar uma saída para fugir das criaturas também. —Ele pode saber alguma coisa importante não é?

—Seu covarde! Eu vou ficar e lutar!

—Vai?

Os sete hollows pararam em frente a Nana e a fitaram. Pareciam famintos, pois escorria saliva de seus enormes dentes.

—Eu não vou fugir! —disse Nana, pressionando as mãos contra o cabo da pequena espada. —Desperte, Snoof!

—Mas eu nem estou dormindo! —disse o macaco sem entender.

—Não estou falando de você seu idiota, estou tentando descobrir o nome da minha zanpakutou.

—Sua quem?

—Lata, PiraPiru! Dizime, Nightroad! Corte tudo, Articuno! Queime, Agumon! Chute com força, Tsubasa!

—Dá pra você ser mais criativa? —perguntou Snoof.

—Fique quieto! —As criaturas se aproximavam cada vez mais de Nana, e ela não sabia mais o que fazer. Não sabia mais que nome dar a sua zanpakutou. —Alegre-nos, Mickey?

—Getsuga Tenshou!!! —berrou alguém do outro lado da rua.

Uma luz azul poderosa cortou o chão e, ao mesmo tempo, os 7 hollows que a pouco encaravam Nana. Ela se virou rapidamente e viu um garoto de cabelo laranja, coisa estranha para ela, se não fosse acostumada com as cores estranhas dos cabelos de animes.

—Você está bem garota? —perguntou Ichigo.

—Sim, sim, estou! —respondeu Nana, encantada por ver Ichigo de frente.

—Que bom. Olha, nunca te vi por esses lados, e espero nunca mais vê-la. Aqui está ficando cada vez mais perigoso, e você parece não estar preparada para lutar.

—Você poderia me treinar um pouco? —pediu ela, pois era sua única chance de ficar um pouco mais perto de Ichigo.

—Treinar? Não sei se seria uma boa escolha eu te treinar... Mas eu sei quem pode!

Mais tarde, naquele dia mesmo, Nana estava iniciando seu treinamento com Renji, um homem de cabelos longos e vermelhos que parecia um hippie. Não era a mesma coisa que treinar com Ichigo, é claro, mas...

—Bom, então vamos começar! —disse Renji. —Lata, Zabimaru!

A espada dele se tornou uma lâmina dividida em vários pedaços esticáveis. Nana não estava surpresa.

—Sua vez, chame sua espada! —disse ele.

—Eu... Bem... Minha espada ainda não tem nome... —balbuciou a garota.

—O QUE? E você ainda quer ser shinigami? Ah faça-me o favor...

—Na verdade, eu também não sou shinigami... Eu vim parar aqui por engano!

—Então você não é um shinigami? E ainda quer usar essa roupa e essa espada? Já entendi. Você é um Arrankar!

—Não eu não...

—Muito bem, então eu irei te destruir! BANKAI!

No lugar da espada Renji agora tinha uma espécie de serpente de madeira. Ele mexeu o braço freneticamente e ela atacou Nana, que não conseguiu se defender. Fechou os olhos para aceitar seu destino...

Mas não sentiu dor. Então abriu seus olhos novamente e viu que agora estava em um vasto campo gramado. Olhou para os lados e viu algumas pessoas olhando para ela. Só então percebeu que trajava uma roupa diferente. Era uma camisa azulada com um estranho símbolo nas costas, e uma saia cinzenta e curta.

—O último Uchiha não era aquele garoto, Sasuke? —perguntou um garoto gordo de cabelo castanho.

—Vai saber... —disse seu companheiro, um garoto de cabelo cumprido e negro.

—Agora sim está começando a ficar bom —disse Snoof. —Imagina só quando encontrarmos aquela Quinta Hokage... Ouvi dizer que ela tem um belo par de...

—De? —perguntou uma mulher alta e loira, de curvas avantajadas, com uma cara de poucos amigos.

—DE OLHOS!!! —berrou Snoof assustado com a presença da mulher. —Um belo par de olhos! —sorriu ele tentando disfarçar.

—Claro que tenho —disse a mulher. —Meu nome é...

—Tsunade! —exclamou Nana, excitada pela presença de uma autoridade tão bela e forte. —A mulher que pode lançar alguém a 1 quilômetro de distância. Sou uma enorme fã de suas habilidades!

—Então já ouviu sobre mim? —perguntou Tsunade. —Isso torna as coisas mais fáceis. Como chegaram aqui e o que querem?

—Boa pergunta! —disse Nana se levantando. —Pena que não sei responder!

—Por que está usando uma camisa dos Uchiha? —perguntou um garoto estranho, de cabelos negros, que usava uma camiseta igual à de Nana, com o mesmo símbolo.

—SASUKE!!! —berrou ela, saltando sobre o pescoço do garoto, desesperada. Ele não entendeu nada quando Nana o agarrou.

—Sasuke, você conhece essa garota? —perguntou um ninja de cabelos brancos que usava uma máscara, o único de lá que realmente parecia um ninja.

—Não que me lembre —respondeu o garoto. —Você me conhece de algum lugar garota?

—Sim, sim, sim!!! Eu te amo Sasuke!!! Sempre te acompanho pelas páginas do mangá! Sempre torço por você! Sempre...

—Chega da sessão “De volta para a minha terra” —disse uma garota de cabelos rosados, puxando Nana para longe de Sasuke.

—Páginas do mangá? —Sasuke não entendeu.

—Pode nos explicar como veio até aqui? —perguntou a garota de cabelo rosado.

—Bom, eu estava no ponto de ônibus quando...

Nana realmente pensou em contar a história real para os ninjas, mas eles a olharam com desconfiança, então parou. Tentou imaginar alguma desculpa melhor, mas não conseguiu. Então contou toda a história, com todos os detalhes.

—Essa é a história —disse enfim. —Tudo o que me aconteceu, desde o início.

Tsunade olhou bem no fundo dos olhos de Nana, como se entendesse a história. Mas pelo jeito, não entendera nada. Gargalhou.

—Então você realmente acha que pode enganar os ninjas de Konoha com essa história? —zombou Tsunade. —Nós somos experientes em táticas ninjas! Somos experientes em estratégias! Acha que uma história assim pode nos enganar?

—Não! —disse Nana, assustada pelos ninjas não acreditarem em sua história. —Não estou mentindo! Foi isso o que aconteceu co...

—Chega! —disse Tsunade. —Ainda não desistiu de nos enganar?

—Tsunade! —disse uma voz ainda não apresentada. Um garoto loiro de roupa laranja se aproximou de Nana. Sua expressão era pacífica, calma, mas era possível perceber que ele guardava uma enorme força. —Acho que ela não está mentindo.Não parece estar mentindo.

—Eu agradeço —disse Nana.

—E o que você sabe sobre isso Naruto? —perguntou a Hokage.

—Nada. Apenas disse o que acho.

Tsunade olhou fundo nos olhos de Naruto.

—Pois bem. Você ficará encarregado por essa menina agora. Qualquer coisa que acontecer a nossa vila após isso, é culpa sua! Entendeu?

—Claro que sim, mas não precisa se preocupar —disse o garoto. —Eu sou o homem que vai se tornar hokage um dia! Nada vai acontecer!

—Assim espero! —disse Tsunade, e partiu junto à maioria dos ninjas.

Apenas 3 ninjas ficaram no campo gramado. Naruto, Sakura e Sasuke. Todos se aproximaram de Nana calados.

—Olha, você não precisa contar nada pra gente —começou Sasuke. —Isso só nos deixa sem poder confiar em você. Tem certeza que quer assim?

—Mas eu já contei o que aconteceu!—exclamou Nana.

—Que assim seja —disse Sasuke, e se afastou. Sakura observou Nana por alguns instantes e saiu correndo atrás de Sasuke logo em seguida.

Apenas Naruto ficou.

—Você deve estar com fome —disse ele. —Vou te levar para comer a melhor comida da cidade!

Naruto sorriu e Nana retribuiu o sorriso. Então foram ambos para o ramem do Ichiraku. Depois de uma refeição saborosa, Nana refletia sobre estar no mundo do seu mangá favorito. Era tudo muito bom, mas ainda sim era ruim. Se continuasse lá,perderia a hora para o seu evento. Então começou a pensar em todos os mangás que gostava e que iria ver no dia seguinte. Isso a desesperou.

—Eu quero ir embora, Snoof —disse ela. —Não quero me atrasar para o evento amanhã!

—E como pretende sair daqui? —perguntou o macaco voador.

—Não sei! Esse é o problema!

Nana estava começando a se desesperar. Que horas seriam no seu mundo? Estaria atrasada para o evento? Sua mãe estaria preocupada? Todos os animes e mangás que ela gostava começaram a passar por sua cabeça naquele instante. Era uma enorme confusão. Só parou quando ouviu uma explosão vinda da entrada da cidade.

—O que foi isso? —perguntou ela.

—Não sei —disse Snoof. —Vamos ver!

Enquanto corria, Nana viu Naruto voltar desesperado em direção ao prédio da Hokage. Quando passou por ela, antes que ela pudesse perguntar, disse friamente:

—Confiamos em você, e olha o que aconteceu!

Então virou o rosto e continuou a correr.

Desesperada, Nana correu na direção da saída da vila da folha. Algo acontecera e a culpa caíra sobre ela. Teve medo quando notou uma incomum agitação no grande portão.

—Meu Deus... —murmurou para si mesma. —O que é isso?

Era como uma guerra. Diversas explosões aconteciam em todo o local. Todos os elementos pareciam se chocar no ar e no chão enquanto as pessoas batalhavam. Tudo o que ela tinha imaginado havia se tornado realidade. Guerreiros Z voavam pelo céu disparando esferas de energia para todas as direções, ou mesmo lutando entre si com seqüências velozes de socos e chutes. Cavaleiros do Zodíaco corriam em todas as direções, disparando suas técnicas fortes e rápidas, com suas brilhantes armaduras. Aviões passavam pelo céu como na segunda guerra mundial, porém com a tecnologia dos animes, que era muito mais grotesca do que a real, com o uso de mísseis e disparos de lasers. Outros veículos estranhos percorriam o chão e o mar, com seu armamento pesado sendo usado como nunca.

Shinigamis flutuavam pelo ar ou corriam, brandindo suas espadas contra Hollows ou Arrankars que lutavam furiosamente na planície do gramado. O melhor time de futebol japonês duelava epicamente contra o melhor time de basquete, todos dentro de uma enorme quadra de tênis onde os príncipes jogavam com suas técnicas perfeitas. Ao fundo, a banda Beck cantava sua trilha sonora, mas logo isso parou pois o palco foi quebrado por rajadas flamejantes de alguma coisa que não se pôde ver.

Agentes secretos usavam seus ternos colantes e suas pistolas silenciosas para fazer estragos pequenos, mas ainda sim estragos. Pokémons discutiam suas diferenças com os Digimons, enquanto Tai caia no soco com Ash pelo título de domador protagonista. Mais ao lado, Genki e seus monstros de rancho observavam abismados a batalha épica que acontecia entre os pets.

Na água os navios piratas se enfrentavam com raiva, atacando com bolas de canhão e poderes de frutas do diabo, um mais estranho que o outro. Monstros marinhos levantavam-se, cada vez maiores e mais poderosos, para atacar os barcos, mas nada parecia afetar aqueles piratas. Era uma batalha sem fim: pra cada criatura que caía, duas se levantavam, maiores e mais cruéis que as anteriores.

Nana observava tudo sem saber o que fazer. Seria ela a culpada de tudo aquilo? Seria ela quem estava controlando aqueles mundos e causando desarmonia? Mas como? Tudo o que ela queria era voltar para o seu mundo, ter uma noite tranqüila de sono e vencer o concurso de cosplay do dia seguinte, nada mais(não que seja pouca coisa, pensava ela, mas...).

—Não acho que você seja a culpada por isso tudo —disse Snoof, observando a guerra cruel que acontecia em sua frente com os olhos bem abertos. —Mas de certa forma, é você quem deve acabar com isso. Afinal, foi você quem começou...

—Você não acabou de dizer que eu não era a culpada? —perguntou Nana, assistindo alguns magos de Harry Potter duelarem com Lina Inverse, de Slayers, e tentando entender o que Harry Potter tinha a ver com animes e mangás.

—Bom... De certa forma...

—Ah, deixa pra lá! Vamos tentar resolver isso!

Quando Nana pensou em avançar para o meio da guerra, alguém segurou seu ombro. Ela se virou vagarosamente e viu Naruto. Sua expressão era fria, difícil de se compreender.

—Acha que vai fugir tão fácil? —perguntou ele. —Foi você quem causou tudo isso não foi?

—Não seu —respondeu Nana fechando os olhos e se concentrando. —Mas serei eu quem irá parar!

Quando ela abriu os olhos, Naruto se assustou. Em cada olho de Nana haviam mais 3 esferas negras, que lembravam o número 6 em formato. Seus olhos azuis agora eram vermelhos como sangue. Sasuke, que estava um pouco afastado do local, correu até perto dela e olhou fundo nos seus olhos.

—Sharingam! —exclamou assustado. —Sem dúvida alguma!

—Está do nosso lado? —perguntou Naruto, ainda espantado com o novo poder de Nana.

—Até onde eu sei, estou neutra —respondeu a garota, virando as costas para os dois garotos e avançando em direção à guerra.

Percorreu grande parte do campo apenas correndo, se esquivando de esferas de energia e manifestações de cosmo. Com aqueles olhos era tudo mais fácil, correr se tornou algo normal para ela, como se fosse uma atleta profissional, como se fosse uma kunoichi. Deixava os braços para trás sem nem perceber: parecia que assim era muito mais fácil ganhar velocidade.

Snoof a seguia pelo céu, se esquivando das naves espaciais e dos dragões voadores que se atacavam. Para ele era tudo mais difícil, pois não tinha um sharingam, nem braços longos o suficiente para deixar para usar como impulso. Mesmo assim a seguiu como pôde.

—Para onde pretende ir? —perguntou ele com um berro para que Nana escutasse do meio da multidão.

—Vamos ao centro da batalha —disse ela. —Lá teremos uma visão mais ampla de tudo o que está acontecendo.

—Sim, e seremos alvos muito melhores!

—Isso não vem ao caso —Nana se esquivou de uma rajada de gelo vinda de algum lugar que ela não conseguiu definir e continuou a correr. —Temos que chegar até lá.

Avançou mais alguns metros quando alguns Arrankars entraram em seu caminho. Ficou surpresa quando sua zanpakutou surgiu milagrosamente em sua mão, como se a chamasse.

Chamar... Sim, ela sabia como chamar agora.

—Liberte seu poder, Exanozis! —pronunciou Nana. Sua espada brilhou e se desfez em poeira, um tipo de pó azul que se dissipou no ar. Depois de um tempo, esse pó se reuniu e se tornou uma ave. Em seguida outra. E outra.

Logo havia dez pássaros azuis ao redor de Nana, todos atacando os Arrankars com fúria. Ela ignorou as batalhas e prosseguiu com sua corrida desesperada, tentando alcançar seu destino mais rápido.

—Como você sabia o nome da espada? —perguntou Snoof.

—Eu não sabia! —sorriu Nana, saltando sobre um grande trasgo verde e o derrubando.

Mais a frente, um grupo de piratas a abordou. Os pássaros de sua espada haviam ficado para trás durante a batalha, na havia mais arma alguma. Ao menos era isso que ela pensava quando seus braços pegaram fogo e começaram a se esticar.

—Gomu Mera Mi... Fire Rocket!!! —exclamou ela, sem saber o que aconteceria.

Mas o resultado foi melhor do que o esperado. Sem perceber, seu corpo avançou como um foguete pelo campo de batalha, atingindo os piratas e muitas outras criaturas com uma rajada flamejante poderosa. Avançou muitos metros com esse movimento, se aproximando ainda mais do centro da batalha.

—Estamos perto —gritou para Snoof, mas ele não ouviu, pois estava se esquivando de algumas naves estranhas no céu.

Nana avançou o restante do caminho com sua velocidade Uchiha e enfim, alcançou seu destino. Agora vinha o segundo problema: o que fazer?

Não teve muito tempo para pensar. Estava cercada por cavaleiros, guerreiros, magos e muitas outras criaturas. Não tinha como escapar. Mas então algo estranho aconteceu.

Um poder superior começou a tomar conta do seu corpo. Era algo forte, algo brilhante, algo... Dourado? Sim, dourado. Uma armadura.

Rapidamente, uma armadura dourada começou a cobrir o corpo de Nana. Brilhava mais do que qualquer jóia que sua mãe tinha em casa(mesmo que essas eram bijuterias), mais do que qualquer coisa que ela já tinha visto na vida. A armadura completa tinha um par de asas nas costas, duas botas “estilosas” e um elmo que lembrava a cabeça de um dragão.

Nana sentiu o poder tomar conta de seu corpo. Snoof se aproximou temeroso de sua dona, e algo ainda mais estranho aconteceu. O corpo do boneco-macaco-voador-bebê começou a se ampliar e se tornou um grande robô, que atacou os alvos mais próximos. Enquanto isso Nana acumulava seu poder. Um poder maior do que qualquer outro que existiu ou existiria no mundo. O poder do coração de uma jovem, mais puro do que qualquer flor ou água.

Snoof segurou o máximo que conseguiu as naves e criaturas voadoras longe de Nana.

Foi o suficiente.

—Snoof, pode se tranqüiliza agora! —bradou Nana. —Vou cuidar disso tudo.

—Como quiser minha senhora! —disse Snoof, voltando à forma de macaco-voador.

Nana energizou todo seu poder nas mãos. Seria o golpe final, forte o suficiente pra destruir qualquer coisa, qualquer um daqueles malucos que lutavam sem sequer se conhecer, forte o suficiente pra destruir todos eles de uma só vez. Mas esse não era o plano de Nana.

—Acho que já está bom... —murmurou para si mesma. —Está na hora de acabar com tudo isso.

Nas mãos de Nana, um brilho forte surgiu. Mas ela não o dirigiu aos guerreiros. Ao invés disso, lançou-o ao céu. O brilho subiu alto no céu e explodiu em lindos fogos de artifício.

Ninguém mais lutava no chão. A guerra cessou. Todos observavam o espetáculo no céu.

—Por que estávamos lutando? —perguntou um dos cavaleiros, que Nana reconheceu como Shun.

—Não sei —respondeu um garoto de cabelos rosados e longos, Kurama.

—Acho que todos estávamos loucos —disse Terriermom, que havia parado de atacar o grande Venassauro na sua frente.

—Concordo —disse Matsumoto, que quase cortara a cabeça de Tsunade com sua espada.

—Mas agora todos voltamos ao normal —disse Gon, balançando sua vara de pesca no ar.

—Graças àquela garota —disse Ash, acariciando seu Pikachu.

—Sim... —disse Naruto. —Graças àquela garota... Konoha está a salvo! Ela é a nossa salvadora! Devemos tudo a ela! Um grito a Nana!

Houve um grito em coro e todos comemoraram. Em seguida, todos, sem nenhuma exceção, se curvaram diante de Nana, que não conseguiu segurar. Chorou.

Tentou puxar a camiseta para limpar as lágrimas, mas lembrou-se da armadura. Porém, quando percebeu, estava com sua roupa comum. Agora estava sentada no ponto de ônibus, no mesmo lugar onde tudo isso tinha começado.

Snoof estava em seu braço. Apenas um boneco sem vida.

Tudo voltara ao normal.

Nana pegou sua condução e voltou para casa. Estava cansada de tantas aventuras, e nem mesmo sabia se fora um sonho ou fora real. Deitou-se e dormiu rapidamente.

A noite passou incrivelmente rápido e, na manhã seguinte, Nana se levantou. Vestiu seu cosplay: uma blusa laranja coberta por uma espécie de manto verde e uma saia do mesmo tom de verde. Prendeu o cabelo com duas “xuxinhas” laranjas como sua blusa e se preparou para sair. Quase esqueceu Snoof, mas voltou para o pegar.

Naquele dia, tudo correu bem para Nana. Não sabia se era pela graça dos personagens agradecidos ou se foi realmente sorte, mas ela ganhou o concurso de cosplay em primeiro lugar. Muito mais do que isso foi chamada para desenhar mangás devido ao talento demonstrado ao desenhar seu cosplay. Já tinha um emprego garantido pelo resto da vida.

Nada poderia deixa-la mais feliz.

Anos se passaram e Nana virou uma famosa mangaká. Suas histórias eram sempre cativantes e continham mensagens melhores do que qualquer pessoa poderia imaginar. Cresceu e enriqueceu, mas nunca perdeu os velhos hábitos de criança. Um dia, apenas um dia, teve a impressão de ouvir alguém a chamando dentro de sua casa, mas não tinha ninguém. Apenas seu bom e velho companheiro Snoof, seu pokémon, seu “pet”.

“Mas que tolice”, pensou ela. “Bonecos não falam!” Então deu um sorriso malicioso para Snoof e deixou o aposento.

O macaco voador retribuiu o sorriso.

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