Comecei hoje um conto para a antologia Excalibur, da Editora Draco. Ainda não foi terminado, mas resolvi trazer um trecho para o blog, para atualizar as postagens que andam bem paradas. Espero que gostem!
Arthur
estava atirado no solo, um dos ombros sangrava.
A
armadura prateada tinha escoriações, marca de infinitos combates dos quais já
participara naquele novo mundo. Apoiado num rochedo de forma bizarra, Arthur
lembrava-se de seu tempo de rei, de Avalon, do medievalismo que deixara para
trás. Estavam no holocausto, numa terra que desconheciam, levados até lá pela
magia que jorrara do Santo Graal quando este fora encontrado.
Ali,
em sua linha de visão, havia um mundo tecnológico.
Cidades
e mais cidades se estendiam no horizonte, iluminadas por invenções que os
cavaleiros sequer sonhavam entender. Postes com globos de luz, veículos movidos
sem a necessidade de cavalos, água tratada por máquinas inteligentes, tudo era
tão estranho, e ao mesmo tempo tão fascinante! Não havia tempo para admirar, no
entanto. Estavam em guerra, uma guerra que possivelmente não teria fim sem
causar dor para ambos os lados. Arthur tinha em mãos uma lenda, e com ela
pretendia destruir o artefato sagrado que tanto procurara em sua vida.
Com
essa escolha, fora traído por cinco de seus melhores homens, cavaleiros e
amigos.
—Ainda
pensa neles, não é? —era Lancelot. Aproximava-se com vagarosidade, acompanhado
do velhaco feiticeiro Merlin, e ambos se sentaram ao lado do antigo rei. —Nos
traidores, naqueles bastardos.
—Eles
foram meus homens, Lancelot.
—Eles
foram meus irmãos, também. Foram cavaleiros, guerreiros pelos quais eu ousaria
sacrificar minha vida. Os salvei, e também fui salvo por eles, muitas e muitas
vezes. Não mais. Agora, são vilões, são perversos. Querem nos impedir, Arthur,
e isso eu não posso permitir.
Arthur
suspirou. Não era mais rei, nem mesmo tinha o orgulho e a firmeza de uma
realeza. Era um mortal, outra vez, e
hesitava como um.
—Estamos
do seu lado, meu amo —disse o feiticeiro.
—Você
não é um servo, Merlin.
—Para
mim, o senhor será sempre um rei. Tem em mãos uma das lendas, e ouso dizer que
seu próprio nome é uma lenda em nossas terras. Com a destruição daquela
maldição, teremos de volta nosso lar, nossas casas e famílias. Seremos livres
dessa prisão, livres para comemorar pela eternidade.
—Não
há o que comemorar. As perdas foram maiores do que vitória alguma pode ser.
—Arthur se levantou. Tirou sua espada da bainha, a lâmina dourada cintilou
junto da lua. Era linda, adornada com cristais e joias sem nome, tão brilhante
quanto o próprio sol poderia ser. —Faremos valer todos os sacrifícios, e então
baixaremos as armas. De volta ao nosso lar, hei de ser camponês, não mais
cavaleiro. Esta vida me trouxe honra, mas carregou-me para um mar de incertezas
e dores.
—O
senhor é um —
—Não
quero mais reinar, não quero comandar tropas. Quero viver aquilo que não pude
até então. Quero ser um homem sem títulos garbosos, sem nomenclaturas
especiais. Quero ser livre, livre da responsabilidade, livre das normas e das
decisões, pois esta é a maior liberdade que se pode alcançar.
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