quarta-feira, 21 de março de 2012

Crônica - Até o Fim

Olá, companheiros!
Hoje trago uma crônica para o blog, e devo dizer que, possivelmente, essa seja a primeira de muitas outras que ainda virão. Vamos ver se me identifico com o estilo e tudo mais, mas gostei de trabalhar nessa, provavelmente farei outras para testar novas formas de escrever. E, para mostrar que a sensação inovadora está no ar, essa crônica não é de ficção, estilo que tenho o costume de trabalhar. Claro que existirão outras do estilo, afinal, não podemos fugir das origens, hehe. Vamos à leitura?


Até o Fim

Ouvia o bipe das máquinas, sinalizando um coração a fraquejar.

Suas mãos estavam entre as minhas, tão quentes. Eu congelava no pavor. A pele empalidecida de minha amada, seus olhos chorosos, seu rosto de beleza tão ardente. Tudo estava lá, mas eu não estava. Não feliz, não companheiro. Não ao seu lado.

Ela partia; eu não conseguia me despedir.

No leito de seus últimos instantes, ela forçava um sorriso aconchegante. Achei-me uma má pessoa, mas não era capaz de sorrir, os lábios relutavam em me responder. Todo o corpo tinha vontades próprias. Saltar, correr, gritar; nada era feito. Assistia, pois os olhos assim me permitiram, e só. Assistia sua dor, sua ida. Assistia enquanto um pedaço de mim quedava no mais profundo dos abismos, de onde não mais poderia voltar.

Pensava em minha mãe, meu pai, meus irmãos, mas concentrava-me nela. Ela estava ali, ao meu lado, ferida. A culpa era minha. Eu era o motorista, eu era o irresponsável. A mente, um turbilhão, confusa no álcool e nos alucinógenos. A música alta ainda me aturdia. Os sentidos ousavam arriscar-se, estonteantes. Nada além de loucura, nada além de fantasia. A vida como um devaneio, uma mentira bem contada por um narrador, o mais longo dos contos.

Um conto que, como todos os contos, há de chegar ao final.

O aparelho silvou, a melodia era fúnebre. Incomodou-me os ouvidos, fez falhar a respiração. Desesperei-me, lutei comigo mesmo para que a alcançasse, uma última vez. Chorei, ou pensei em chorar; a dor eram cachoeiras em meus olhos. Ela soluçava. Ouvi gritos, a movimentação aumentou, pessoas desesperadas surgiram numa correria incomum. Dor, dor e mais dor, pois nada além havia. As pálpebras pesaram, sinistras.

Fechei os olhos, e soube de imediato que nunca mais tornaria a abri-los. Não era ela a se despedir; era eu. A vida me abandonava o corpo, a saudade perfurava minhas emoções como estaca. Quedava no abismo uma parcela daquela vida, mas não toda.

Ali, no leito da amável princesa adolescente, habitaria a semente daquela existência, para todo o sempre.

Até o fim.



Até a próxima!

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